Que dia é hoje? Domingo, 28 de outubro de 2001. http://www.tresler.cjb.net Olá! Está é a edição número 28 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje: 1. Editorial (Daniel Wildt) 2. Global Village (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 3. Desilusões, recuperações e soluções (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT) 4. Ide em paz (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!) 5. Hoje não tem (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO) 6. A cidade na viagem do olhar (Almandrade - O PLUS A MAIS DE HOJE) 7. CRÉDITOS FINAIS =========================================================================== ======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) ========================= =========================================================================== Antes de mais nada, parabenizar dois amigos! César Henrique Costa e Sandro Augusto Cardoso (seguindo aqui uma ordem alfabética), que estavam de aniversário neste sábado! Fica aqui um abraço do camarada Daniel Wildt. Livros, livros e mais livros. Feira do livro em Porto Alegre! Como estava quente hoje! E olha que eram 19h passadas quando chegamos no centro da cidade. Chegamos = DanielWildt + namorada. Bom, andamos por tudo, mas nenhuma cara conhecida no meio da multidão. Tudo muito bom, e eu que tinha entrado sem querer em uma super livraria na última terça-feira com meu Visa Electron, bom, acabei gastando algumas boas "balas", e fui para a feira apenas com dinheiro para comprar dois livros. Logo no início da busca encontrei o tão procurado "Prezados Ouvintes", do não menos prezado Mauro Borba, cara muito conhecido aqui no Rio Grande e locais onde a rádio Pop Rock chega (http://www.poprock.com.br). Como saí de Porto Alegre com sete anos de idade e só voltei quando estava prestes a completar 14, perdi muito da cultura musical da minha cidade. Bandas como Cascaveletes, TNT e outras, eu hein, nem sabia de nada. Sob um céu de blues não era nada além de uma redundância usando uma bela mistura com outro idioma. Hehe. Ler é muito bom. Passado o trauma do Ensino Médio, onde o nosso gosto por leitura foi sequestrado, hoje posso dizer que estou formando uma bela biblioteca. E tem aquela propaganda sabe, do "é impossível comer um só!"? Bem, eu sou mais ou menos assim com a literatura e com a divisão do meu tempo de modo geral. EU QUERO FAZER DE TUDO! Escrever, ler, cantar, estudar, namorar, trabalhar, malhar, cozinhar, enfim, ocupar o meu tempo da melhor maneira possível. E com relação aos livros, esta é a minha atual situação: Atualmente estou lendo os seguintes livros: - Contos Cinematográficos (Carlos Gerbase) - Zen e a arte da manutenção de motocicletas (Robert Pirsig) - Notas de um velho safado (Charles Bukowski) - O Gerente Eficaz (Peter Druker) E aguardando liberação de tempo (ou quando não tenho vontade de ler alguns dos acima citados, passo para um desses aí abaixo): - Poemas (Millôr Fernandes) - Prezados Ouvintes (Mauro Borba), que comecei a ler! - Contabilidade (Alvísio Greco) - Feitas para Durar (James Collins) - O Xangô de Baker Street (Jô Soares) - Ócio Criativo (Domenico De Masi) Música da semana! Rolling Stones - You Can't Always Get What You Want Álbum da Semana! Los Hermanos - Los Hermanos No Tresler de hoje, encontros de estudantes, um texto muito legal sobre cidades, lembranças e ciclos, e uma espécie de declaração de amor, um atestado de que uma pessoa me faz ser uma pessoa melhor a cada dia que passa. O amor é lindo. Daniel Wildt =========================================================================== ====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ====================== =========================================================================== GLOBAL VILLAGE A Global Village é um evento típico da AIESEC. O que é AIESEC? A sigla significa Associação Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e Sociais. É basicamente uma organização estudantil que promove o intercâmbio de estudantes para fazer estágio remunerado no exterior. Mas voltando à Global Village, este é um evento típico da AIESEC porque é onde os estagiários vindos de outros países ou aqueles que já trabalharam fora e voltaram para o seu país mostram um pouco da cultura do seu país ou do país onde moraram durante o estágio. Quem estiver interessado em mostrar alguma coisa, organiza um stand com fotos, informações, bandeiras, comida e bebida típica do país e tudo que estiver ao alcance. No Brasil, fomos a uma Global Village com diversos stands montados, principalmente, por brasileiros que moraram algum tempo no exterior. O movimento era grande. A quantidade de pessoas e informações também. Todos interessados em mostrar ou aprender algo sobre culturas diferentes. Quando falaram em Global Village aqui em Viena, já me interessei e alertei logo os outros brasileiros para fazermos algo de interessante para mostrar que a cara do nosso país não inclui simplesmente samba, futebol e floresta amazônica. No dia anterior, nos organizamos, fizemos dois cartazes com informações sobre o Brasil, negrinhos, doce de leite e, é claro, deixamos tudo preparado para a tradicional caipirinha, já tão conhecida dos europeus. Chegamos ao local do evento bem cedo para ter tempo de organizar tudo. Foi estranho porque não tinha ninguém lá, a não ser umas pessoas estudando e nos olhando com cara feia porque estávamos atrapalhando. Mas como tinham nos dito que era ali, fomos arrumando as coisas. Já era passada a hora marcada para o início e só estávamos nós lá. Mais tarde apareceram os representantes da Eslováquia, Venezuela e Colômbia. Teve ainda a Nova Zelândia com uma bandeira, uma camiseta e um livro sobre o país. E o nosso stand lá, ocupando duas mesas, quase tão grande quanto o nosso país em relação aos demais presentes. Nossa banca fez muito sucesso. Principalmente por causa dos negrinhos! Todos que chegavam ali queriam saber como eram feitas aquelas "bolas de chocolate maravilhosas" como eles chamaram. As fotos eles acharam maravilhosas e muitos dizem que parece um paraíso. O doce de leite também fez muito sucesso. Isso sem falar na caipirinha, que tem por tudo quanto é lugar aqui, mas é cara, e muitos não sabem que vem do Brasil. Limão aqui custa mais de 1 real cada um! Colocamos na parede alguns preços das coisas no Brasil, e muita gente disse que vai para lá porque é muito barato. Enfim, a AIESEC disse que o nosso era o melhor stand! Também, com cinco brasileiros participando!! Mas tem muito mais estagiários da AIESEC por aqui que simplesmente não fizeram nada. Posso contar pelo menos com uma da Austrália, uma da Polônia e uma da Latvia. Falei rapidamente com as duas últimas. Uma disse que não tinha tempo para isso, e a outra, que estava sozinha e é muito tímida. A princípio, sozinhos todos estão, foi apenas coincidência que temos uma delegação de brasileiros aqui. Vai saber... Na verdade, acho que a maioria deles não tem o espírito brasileiro (ou sul americano porque todos os latinos participaram) de se organizar e querer mostrar as coisas do seu país. Disseram que nós estávamos muito animados e que precisam de mais gente animada e a fim de fazer as coisas por aqui. Enfim, a Global Village resumiu-se a poucos países com presença esmagadora do nosso gigante país continente! Não ocupou nem a metade do espaço da que presenciei no Brasil, e não mobilizou nem metade do número de pessoas. E, se olharmos em volta, a diversidade cultural aqui, em termos de culturas internacionais, é bem maior e mais fácil de encontrar do que no Brasil. Na Global Village brasileira, quem organizou stands foram os estagiários brasileiros que tinham estado no exterior. Por isso lá tinha tantas banca de tantos países diferentes. Eram, na sua maioria, brasileiros mesmo. E dá-lhe Brasil!!! Ariadne Amantino =========================================================================== ===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) ===================== =========================================================================== DESILUSÕES, RECUPERAÇÕES E SOLUÇÕES Tudo preparado. Andrade falou que a pequena estaria me esperando naquela noite, que poderia ficar calmo que estava tudo encaminhado, era só eu chegar e matar aquela bola. Era o primeiro final de semana, depois que o ensino médio tinha entrado em férias. Bom, esqueci do fato que adolescentes bêbadas não fazem nada do que querem. Acabei filmando tudo, mas naquela noite não fiquei com a pequena. Como uma forma de ganhar popularidade junto à minha turma, sempre filmei nossos encontros e de uma forma ou de outra, eu era o centro das atenções. E foi assim até o final do segundo grau. Ah, eu já filmei coisas que me destruíram por dentro, sabe quando você está brincando com o foco manual e quando consegue enquadrar, vê o que não quer ver? Naquela época, até o dia do último churrasco, levei uma carga de desilusão causada por um nome, que também diz muito para um amigo meu. Ele sabe. Depois daquele último churrasco eu me libertei daquele amor platônico. Desde que me conheço por gente, sempre estou apaixonado por alguma menina. E na grande maioria das vezes de uma maneira platônica. Aos cinco anos de idade, sim, apaixonado. Tinha uma namorada. Este era platônico, pois era um amor puro, alheio a interesses ou gozos materiais, segundo uma das definições do dicionário. Quando cheguei no colégio novo, em São Paulo, depois de me mudar, aos 11 anos, idem. Só que eu me apaixonei por uma das meninas mais populares do colégio. Era minha colega, estudava na mesma sala que eu, duas cadeiras para o lado esquerdo e três para a frente, linda, mas ela andava com o pessoal da oitava série. Eu, ainda na sexta. Uma criança que adorava jogar videogame. Passado este tempo sofrendo em silêncio (o amor se perdeu entre outros pensamentos), no prédio onde morava tinha uma outra menina. Foi o amor platônico seguinte. Ela sempre me tirava do sério, e vice-versa. Era mais velha do que eu, quatro anos. Nunca aconteceu nada. Ela também nunca soube que eu era apaixonado. Uma vez fiz um desabafo, dizendo para a menina que gostava muito dela e que não aguentava mais brigar. Depois daquele dia nunca mais brigamos. Tinha acesso a belos sorrisos, mas nada mais que isso. Eu era criança, com corpo de adulto, uma criança de 13 anos e 1m88cm. Amor platônico na definição do dicionário, mostra um amor alheio a interesses ou gozos materiais, um amor ideal, um amor casto. Mais uma situação? Meu primeiro dia na faculdade. Claro que me apaixonei de cara, mas a menina tinha namorado. Fiquei naquela os dois primeiros meses de faculdade, quando descobri que ela estava na real interessada por um outro amigo meu. Meu nome do meio é sensibilidade. Me arrependo muito pela minha falta de iniciativa em muitas ocasiões envolvendo mulheres. Mas olha, posso dizer com certeza que o que é para ser, vai ser. Essa falta de iniciativa no caso específico da conquista, já me deu muita dor de cabeça e medo de rejeição. Eu era um cara muito reprimido. Ainda sou, sei disso, mas enfim, me viro como posso, mas sabe que lembro com muito orgulho de situações onde estava decidido do que queria. Só que isso não acontecia sempre. Na verdade não acontecia quase nunca, apenas quando eu estava "irritado" com algo. É que não era uma irritação, não sei bem o que era. Eu conseguia focar aquele sentimento interior para força de vontade, desenvoltura e uma capacidade estonteante de não conseguir me comunicar como gostaria. Mas eu sabia dançar. Me movimento muito bem. E com a música alta, você precisa de apenas alguns diálogos básicos, algumas trocas de olhar e olha só, você está beijando a menina. Foi mais ou menos como naquela noite, que eu não estava a fim de sair, mas tinha sido convidado. Meus amigos e amigas estariam indo pela primeira vez em um lugar que eu achava na época de colégio que era uma casa de putas mesmo. Eu resolvi ir dormir. Mas depois resolvi sair de casa. Era uma hora da manha passada quando cheguei no local. Fui sem óculos. Isso dificultaria a troca de olhares, mas não seria o fim do mundo. Eu não estava entendendo porque queria sair de casa, mas saí. Cheguei no local, uma casa antiga, pé direito bem alto. Comecei a procurar conhecidos e com facilidade os localizei na pista de dança. Dançamos um pouco, rock dos anos 80 e início dos 90. Foi demais, fazia muito tempo que não ouvia músicas que me fizeram crescer. Quando tocou No Sleep Til Brooklin, dos Beastie Boys por exemplo, achei que aquele chão ia cair. Depois de dançar bastante, fui tomar alguma coisa. Água sem gás. Certo, eu não sou de beber. Grande coisa. Na verdade, eu já tinha bebido bastante durante as semanas anteriores, e estava dando um tempo na bebida. Depois dei umas voltas pelo local, fiquei conversando com meus amigos e amigas, e depois comecei a me perguntar por que não estaria eu dormindo? Neste momento tive a certeza que queria ir embora. Sem dar até logo para o pessoal. Queria demonstrar minha insatisfação pelo local. Me levantei e comecei a caminhar para o caixa. Nisso tentei encontrar defeitos no local e neste percurso vi umas figuras estranhas e vi também duas meninas se beijando. Droga, como achar ruim um local onde lésbicas se beijam enlouquecidamente? Foi isso que eu pensei também. Cheguei no caixa. Comecei a separar o dinheiro para pagar, separei minha consumação, e ficava me perguntando porque aquela pessoa na minha frente demorava tanto. Foi quando me virei para a esquerda, em direção a pista de dança, para procurar o nada. E quando estava retornando o olhar para a direita, para o caixa, encontrei tudo. Dois olhos maravilhosos que entraram em conexão com os meus de uma maneira que até hoje não sei explicar. Aquilo não poderia estar acontecendo. Desviei o olhar, achando que aquilo não era comigo, mas quando voltei a olhar ela também havia voltado e estava me encarando. Coloquei a consumação no bolso. Coloquei meu dinheiro no bolso. Coloquei uma mão no bolso. Saí da fila. Fiquei um pouco mais para a esquerda, onde pude ver melhor os cabelos. E agora não me encantava apenas com os olhos, mas também com sua boca e seu nariz. Que nariz. Que olhos. Ela não parava de me olhar. E eu não conseguia parar de olhar da mesma maneira. Precisava de uma bebida. Fui novamente para o bar, para o lado oposto de onde ela estava. E fiquei olhando, ela estava encostado no balcão do bar. Ela se virou para me procurar. Ficamos nos olhando, nos encarando de uma forma muito louca. Eu estava com muito medo. Do que não sei. Ficava me escondendo atrás de uma coluna e volta e meia aparecia. Porque não sei. Todo caso, aconselho você a não fazer isso, pois pode lhe custar caro. Pode lhe criar um amor platônico. Tinha chegado em um ponto da minha vida onde amores platônicos não eram mais bem vindos. Mas eu continuava olhando. Bebendo minha água e olhando. Acabei de beber a água. E agora, o que faço? Ela se mexeu. Foi para o outro lado do salão, longe das amigas dela. Vai Daniel. Comecei a caminhar em direção a menina. Quando estava muito perto de chegar para conversar com ela, apareceu uma amiga minha, para avisar que eles estavam indo embora. Disse tudo bem, dei três beijinhos e tchau! Ela me perguntou então se não ia cumprimentar os outros. AHH!! Aquilo não era verdade, eu simplesmente passei pela menina para dar tchau para meus amigos. Na passada por ela eu ainda tento me lembrar se o "eu já volto" que eu falei foi apenas para mim ou se ela ouviu. Enfim, amigo que é amigo não faz isso! Todo caso, agradei a todos, me despedindo com eduação e tal. Voltei para o local onde ela estava encostada. Respirei fundo e iria falar: - Olá, eu estava indo embora, mas nossos olhares se encontraram de uma forma que eu não sei descrever ainda, deve ser pelo mesmo motivo que muitas pessoas tem dificuldade de descrever o amor, pois eu acho que estou apaixonado e quero um beijo teu agora menina linda, pois tua boca longe da minha me faz pensar em como eu te quero. É, mas eu consegui dizer apenas isso: - Quer dançar? Ela ficou me fitando, olhando para os lados, pensativa, ela não esperava aquela pergunta e muito menos eu. Fiquei chamando ela em direção ao salão, com gestos do tipo vamos?, estava pensando Meu Deus não era nada disso, e então já perguntei: - Não queres? Vem comigo, vamos? Ela fez sinal com a cabeça, um sinal positivo, e nos encaminhamos para a pista de dança. E começou o show. Eu sempre dancei muito bem. Pelo menos eu pensava assim. Ainda penso. Acho. Bom, trocamos informações básicas, do que fazíamos, trabalho, se já tínhamos ido naquele local outras vezes, ela me falou que estava comemorando o aniversário, mas eu perdi esta parte, estava prestando atenção nos olhos dela. Foi quando eu falei Teus olhos são lindos! e ela respondeu com um sorriso que me fez viajar. Quando achei que era o momento, eu falei, já sem medo: - Queria te dar um beijo... - Não queres mais? - Quero... Posso te dar um beijo? - O que queres que eu responda? - É só não relutar. - ... Se deu certo? Semana que vem comemoramos sete meses juntos. Te amo Márcia! Daniel Wildt =========================================================================== ==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ==================== =========================================================================== IDE EM PAZ Caminhei vagarosamente por entre as árvores. A copa realmente densa, e o dia nublado davam uma sensação de penumbra no lugar. Cheguei ao portão. Estava trancado por um arame erolado diversas vezes na tramela utilizada como fechadura. Comecei a desenroscá-lo com as mãos, mas não estava nada fácil. Considerei procurar uma brecha na cerca de bambu, mas o mato em volta me desanimou. Lembrei da minha missão, respirando fundo e renovando as forças. E retomei o trabalho manual, até conseguir libertar a tramela e abrir o velho portão. Ao entrar, a paisagem mudava ligeiramente. Havia uma espécie de corredor natural, formado por laranjeiras dos dois lados, cujos ramos se cruzavam numa altura de aproximadamente 2 metros. Olhando para a frente era possível perceber maior claridade ao fundo, o que sugeria uma clareira. Avancei. Pouco mais adiante, estendida entre os galhos das árvores, uma imensa teia de aranha, digna de filmes de terror. E aquela majestosa construção da natureza tinha uma dona tão exuberante quanto ela própria. Uma enorme caranguejeira pairava no centro da teia. Superado o calafrio, peguei a pá e abri uma passagem em um canto da teia, com os olhos atentos para a reação do aterrador aracníndeo. Felizmente, ele se recolheu para o canto oposto, o que me encorajou a transpor aquele obstáculo. Enfim, cheguei na clareira. Ali, dispostos aparentemente em um semi-círculo, jaziam as sepulturas. Cerca de seis bases de cimento formavam a meia-lua, enquanto mais umas 5 lajes alinhadas completavam o desenho. Os túmulos estavam tomados pelo mato, o que dava um aspecto de abandono ao local. Encontrei um bom ponto a frente das lajes e pus-me a cavar. A terra era compacta e difícil de revolver. Para meu espanto, depois de várias pazadas, percebi uma colônia subterrânea de formigas. Agora eu precisava cuidar para que elas não começassem a subir pelas minhas pernas. Além disso, a pá batia em algo mais consistente. Temi que fosse outra laje ou alguma ossada antiga. Por sorte, era apenas uma raiz desgarrada. Muito suor e tempo depois, a cova estava pronta. Voltei cautelosamente pelo mesmo caminho, temeroso pela possível presença de cobras ou outros perigos naturais. Peguei o corpo e entrei novamente no velho cemitério. Coloquei-o na cova, fiz mentalmente uma oração e cobri com a terra. Apoiei-me na pá e deixei a mente vagar. Ali estavam sepultadas muitas lembranças da minha infância. Os cães Pipo, Tuti, Tica, e outros que ajudaram na minha criação. Passaram-se na minha cabeça algumas das cenas de muitas alegrias, que aqueles pequenos animaizinhos proporcionaram em nossa família. Cada um indiscutivelmente do seu jeito, com a sua personalidade. Lembrei que eram estes memoráveis momentos que pagavam todo o trabalho envolvido em adotar um animal de estimação. Saí caminhando respeitosamente daquele lugar, sentindo que mais um ciclo se findava, que o que era da terra voltava para terra e o que era do espaço voltaria para o espaço, e que aquelas memórias era a parte que me pertencia e por isso permaneceriam comigo. Fechei o portão com a sensação de dever cumprido e certo de que estava mais rico do que nunca. Descanse em paz, velho cão Nenê. Eduardo Seganfredo =========================================================================== ======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ======== =========================================================================== HOJE NÃO TEM Hoje não tem coluna do Vincent. Todo caso, pensei, alias, pensei e estou executando a tarefa de colocar aqui uma letra de música. Essa eu sei que ele curte, e eu também acho muito legal. E também serve para dizer para a galera que gosta de Bad Religion, que eles estão voltando!! Olha o link esperto aí! http://epitaph.com/bands/index.html?Id=86635. E vamos a música! BAD RELIGION - "21st century digital boy" I can't believe it, the way you look sometimes, like a trampled flag on a city street, oh yeah and I don't want it, the things you're offering me, symbolized bar code, quick i.d., oh yeah I'm a 21st century digital boy, I don't know how to live, but I've got a lot of toys, my daddy is a lazy middle class intellectual, my mommy's on valium, she's so ineffectual, ain't life a mystery? I can't explain it, the things they're saying to me, it's going yayayayayayaya, oh yeah, I'm a 21st century digital boy, I don't know how to read, but I've got a lot of toys, my daddy is a lazy middle class intellectual, my mommy's on valium, she's so ineffectual, ain't life a mystery? i tried to tell you about no control, but now I really don't know, and then you told me how bad you had to suffer, is that really all you have to offer? Daniel Wildt =========================================================================== =================== O PLUS A MAIS DE HOJE (Almandrade) ==================== =========================================================================== A CIDADE NA VIAGEM DO OLHAR As cidades são tristes quando uma curiosidade, uma presença, ou um lugar não aquece a solidão de quem vive a abstração da vida cotidiana. Nada tem sentido. A falta sempre remete a uma espécie de deserto que desorienta o viajante solitário de seu próprio espaço. – Será que as cidades deveriam ser habitadas por imagens que desejamos e por imagens poéticas? “Mas o desejo, a poesia, o riso fazem necessariamente a vida deslizar no sentido contrário, indo do conhecido ao desconhecido”. (Bataille) – Enfrentar o desconhecido é uma tarefa difícil para o homem, principalmente quando ele vive em cidades hostis ao mundo do conhecimento. A publicidade faz a imagem da cidade, como se a natureza fosse uma imitação de uma outra natureza. A arquitetura não é mais arquitetura, é imagem de out-door. A festa faz o paraíso urbano e uma música medíocre anuncia o Carnaval, esta intervenção autoritária que desapropria a vida da cidade, para aqueles que não têm o direito de opinar contra a festa. A cidade é a multidão que troca de imagem segundo a moda. Mas tem a imagem que permanece na memória, como objeto da paixão para o apaixonado. Pensei em Walter Benjamin e o Diário de Moscou: o olhar apaixonado de um filósofo sobre uma cidade: “Naquela manhã sentia-me com uma energia e por isso consegui falar de maneira sucinta e calma sobre minha permanência em Moscou e sobre suas perspectivas imensamente reduzidas”. Uma relação de paixão compartilhada com o conhecimento das imagens percebidas de uma cidade. Da janela, contemplei a rua como um voyeur de cidade. O trânsito, a publicidade, a multidão, o centro histórico. Os monumentos e a arquitetura eram objetos para as câmeras fotográficas de turistas, como cenários sem data. Sem a imaginação o passado é a imagem engraçada, um efeito especial do cotidiano, onde tudo é repetitivo. A história, neste caso, não passa de uma mercadoria para um olhar carente de um lazer cultural. “A era faustuosa da imagem e dos astros e das estrelas está reduzida a alguns efeitos de ciclone e terremotos artificiais, de falsas arquiteturas e de truncagens infantis com que as multidões fingem deixar-se empolgar para não sofrer uma decepção amarga demais” (Baudrillard). Por outro lado, a singularidade de um espaço, de um monumento ou de uma arquitetura fascina o viajante. É como as imagens poéticas que provocam o desejo de olhar e de viver um estado de deslumbramento. Mas as imagens não são totalmente transparentes que se revelam a qualquer olhar sem reflexão: elas provocam a imaginação e exigem um olhar atento, com um repertório de referências. Isto é, uma sensibilidade capaz de perceber nas imagens suas histórias e suas verdades, mesmo que seja uma sensibilidade marcada pela paixão de uma imagem. Almandrade =========================================================================== ============================= CRÉDITOS FINAIS ============================= =========================================================================== Este fanzine maluco que você recebe por email todo domingão se chama Tresler. Um grupo de amigos escreve histórias para o seu deleite. Se você quiser entrar em contato conosco, visitar o nosso Site (você pode ler os números anteriores do nosso fanzine eletrônico), se cadastrar ou descadastrar, enfim, utilize os emails/urls no final da mensagem. Tresler Team: Ariadne Amantino (ariadnedbka@yahoo.com) Daniel Wildt (dwildt@oocities.com) Eduardo Seganfredo (edu.zu@ig.com.br) Vincent Kellers (vkellers@terra.com.br) Colaborador da edição de hoje: Almandrade (almandrade_x@ig.com.br) Visite o Site do nosso e-zine (edições antigas e outras coisas mais!): http://www.tresler.cjb.net Para entrar em contato com o e-zine, mande um email para: treslerbr@yahoo.com.br Para receber o nosso e-zine mande um email para (DIVULGUE!): tresler-subscribe@yahoogroups.com Para não receber mais o e-zine, mande um email para: tresler-unsubscribe@yahoogroups.com