TRESLER
Que dia é hoje? Domingo, 28 de outubro de 2001.

                       http://www.tresler.cjb.net                          

Olá! Está é a edição número 28 do nosso fanzine eletrônico. Espero que você
goste (ou não). Olha o que temos no menu de hoje:

1. Editorial (Daniel Wildt)
2. Global Village (Ariadne Amantino - CARPE DIEM) 
3. Desilusões, recuperações e soluções (Daniel Wildt - BORN TO BE WILDT)
4. Ide em paz (Eduardo Seganfredo - DE NOVO, PÔ!)
5. Hoje não tem (Vincent Kellers - LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO)
6. A cidade na viagem do olhar (Almandrade - O PLUS A MAIS DE HOJE)
7. CRÉDITOS FINAIS

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======================== EDITORIAL (Daniel Wildt) =========================
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Antes  de mais nada, parabenizar dois amigos! César Henrique Costa e Sandro
Augusto  Cardoso  (seguindo  aqui  uma  ordem  alfabética),  que estavam de
aniversário neste sábado! Fica aqui um abraço do camarada Daniel Wildt.

Livros,  livros  e mais livros. Feira do livro em Porto Alegre! Como estava
quente  hoje!  E  olha  que  eram 19h passadas quando chegamos no centro da
cidade.  Chegamos  =  DanielWildt  +  namorada.  Bom, andamos por tudo, mas
nenhuma  cara  conhecida  no  meio  da multidão. Tudo  muito  bom, e eu que
tinha  entrado  sem  querer em uma super livraria na última terça-feira com
meu Visa  Electron, bom, acabei gastando algumas boas "balas", e fui para a
feira apenas com dinheiro para comprar dois livros. Logo no início da busca
encontrei  o  tão procurado "Prezados Ouvintes", do não menos prezado Mauro
Borba,  cara  muito  conhecido aqui no Rio Grande e locais onde a rádio Pop
Rock chega (http://www.poprock.com.br).

Como  saí  de Porto Alegre com sete anos de idade e só voltei quando estava
prestes  a  completar  14,  perdi muito da cultura musical da minha cidade.
Bandas  como Cascaveletes, TNT e outras, eu hein, nem sabia de nada. Sob um
céu  de  blues não era nada além de uma redundância usando uma bela mistura
com outro idioma. Hehe.

Ler  é  muito bom. Passado o trauma do Ensino Médio, onde o nosso gosto por
leitura  foi  sequestrado,  hoje  posso  dizer  que estou formando uma bela
biblioteca.  E  tem aquela propaganda sabe, do "é impossível comer um só!"?
Bem,  eu  sou  mais  ou menos assim com a literatura e com a divisão do meu
tempo  de  modo  geral.  EU  QUERO  FAZER  DE  TUDO! Escrever, ler, cantar,
estudar, namorar, trabalhar, malhar, cozinhar, enfim, ocupar o meu tempo da
melhor  maneira  possível.  E  com relação aos livros, esta é a minha atual
situação:

Atualmente estou lendo os seguintes livros:
 - Contos Cinematográficos (Carlos Gerbase)
 - Zen e a arte da manutenção de motocicletas (Robert Pirsig)
 - Notas de um velho safado (Charles Bukowski)
 - O Gerente Eficaz (Peter Druker)

E  aguardando liberação de tempo (ou quando não tenho vontade de ler alguns
dos acima citados, passo para um desses aí abaixo):
 - Poemas (Millôr Fernandes)
 - Prezados Ouvintes (Mauro Borba), que comecei a ler!
 - Contabilidade (Alvísio Greco)
 - Feitas para Durar (James Collins)
 - O Xangô de Baker Street (Jô Soares)
 - Ócio Criativo (Domenico De Masi)

Música da semana!
Rolling Stones - You Can't Always Get What You Want

Álbum da Semana!
Los Hermanos - Los Hermanos 

No  Tresler  de  hoje,  encontros de estudantes, um texto muito legal sobre
cidades,  lembranças  e  ciclos,  e  uma espécie de declaração de amor,  um
atestado  de  que  uma  pessoa  me faz ser uma pessoa melhor a cada dia que
passa. O amor é lindo.

Daniel Wildt

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====================== CARPE DIEM (Ariadne Amantino) ======================
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GLOBAL VILLAGE

A  Global  Village  é  um  evento típico da AIESEC. O que é AIESEC? A sigla
significa  Associação  Internacional de Estudantes de Ciências Econômicas e
Sociais. É basicamente uma organização estudantil que promove o intercâmbio
de  estudantes  para  fazer  estágio remunerado no exterior. Mas voltando à
Global  Village,  este  é  um  evento  típico  da  AIESEC  porque é onde os
estagiários  vindos  de  outros países ou aqueles que já trabalharam fora e
voltaram para o seu país mostram um pouco da cultura do seu país ou do país
onde  moraram durante o estágio. Quem estiver interessado em mostrar alguma
coisa, organiza um stand com fotos, informações, bandeiras, comida e bebida
típica do país e tudo que estiver ao alcance.

No  Brasil,  fomos  a  uma  Global  Village  com  diversos stands montados,
principalmente,  por  brasileiros  que  moraram  algum tempo no exterior. O
movimento  era  grande. A quantidade de pessoas e informações também. Todos
interessados em mostrar ou aprender algo sobre culturas diferentes.

Quando  falaram em Global Village aqui em Viena, já me interessei e alertei
logo  os outros brasileiros para fazermos algo de interessante para mostrar
que  a cara do nosso país não inclui simplesmente samba, futebol e floresta
amazônica.  No  dia  anterior,  nos  organizamos, fizemos dois cartazes com
informações  sobre  o Brasil, negrinhos, doce de leite e, é claro, deixamos
tudo  preparado  para  a  tradicional  caipirinha,  já  tão  conhecida  dos
europeus.

Chegamos  ao local do evento bem cedo para ter tempo de organizar tudo. Foi
estranho  porque  não  tinha ninguém lá, a não ser umas pessoas estudando e
nos  olhando  com  cara feia porque estávamos atrapalhando. Mas como tinham
nos  dito  que  era  ali,  fomos arrumando as coisas. Já era passada a hora
marcada  para  o  início  e  só  estávamos nós lá. Mais tarde apareceram os
representantes  da  Eslováquia,  Venezuela  e  Colômbia.  Teve ainda a Nova
Zelândia  com uma bandeira, uma camiseta e um livro sobre o país. E o nosso
stand  lá,  ocupando  duas  mesas,  quase tão grande quanto o nosso país em
relação aos demais presentes.

Nossa  banca  fez  muito  sucesso.  Principalmente por causa dos negrinhos!
Todos  que  chegavam  ali  queriam saber como eram feitas aquelas "bolas de
chocolate    maravilhosas"  como  eles  chamaram.  As  fotos  eles  acharam
maravilhosas  e  muitos dizem que parece um paraíso. O doce de leite também
fez  muito sucesso. Isso sem falar na caipirinha, que tem por tudo quanto é
lugar  aqui,  mas  é cara, e muitos não sabem que vem do Brasil. Limão aqui
custa  mais de 1 real cada um! Colocamos na parede alguns preços das coisas
no Brasil, e muita gente disse que vai para lá porque é muito barato.

Enfim,  a  AIESEC  disse  que o nosso era o melhor stand! Também, com cinco
brasileiros  participando!!  Mas  tem  muito mais estagiários da AIESEC por
aqui  que simplesmente não fizeram nada. Posso contar pelo menos com uma da
Austrália,  uma  da  Polônia e uma da Latvia. Falei rapidamente com as duas
últimas.  Uma  disse  que  não tinha tempo para isso, e a outra, que estava
sozinha  e  é  muito  tímida. A princípio, sozinhos todos estão, foi apenas
coincidência que temos uma delegação de brasileiros aqui. Vai saber...

Na  verdade, acho que a maioria deles não tem o espírito brasileiro (ou sul
americano  porque  todos  os latinos participaram) de se organizar e querer
mostrar  as coisas do seu país. Disseram que nós estávamos muito animados e
que precisam de mais gente animada e a fim de fazer as coisas por aqui.

Enfim,  a Global Village resumiu-se a poucos países com presença esmagadora
do  nosso gigante país continente! Não ocupou nem a metade do espaço da que
presenciei  no  Brasil, e não mobilizou nem metade do número de pessoas. E,
se  olharmos  em  volta, a diversidade cultural aqui, em termos de culturas
internacionais,  é bem maior e mais fácil de encontrar do que no Brasil. Na
Global  Village  brasileira,  quem  organizou  stands  foram os estagiários
brasileiros  que  tinham estado no exterior. Por isso lá tinha tantas banca
de  tantos  países  diferentes.  Eram, na sua maioria, brasileiros mesmo. E
dá-lhe Brasil!!!

Ariadne Amantino

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===================== BORN TO BE WILDT (Daniel Wildt) =====================
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DESILUSÕES, RECUPERAÇÕES E SOLUÇÕES 

Tudo  preparado.  Andrade  falou que a pequena estaria me esperando naquela
noite,  que  poderia  ficar  calmo  que  estava tudo encaminhado, era só eu
chegar  e  matar  aquela bola. Era o primeiro final de semana, depois que o
ensino médio tinha entrado em férias. Bom, esqueci do fato que adolescentes
bêbadas  não  fazem  nada  do que querem. Acabei filmando tudo, mas naquela
noite não fiquei com a pequena. Como uma forma de ganhar popularidade junto
à  minha  turma, sempre filmei nossos encontros e de uma forma ou de outra,
eu  era o centro das atenções. E foi assim até o final do segundo grau. Ah,
eu  já  filmei  coisas  que me destruíram por dentro, sabe quando você está
brincando  com o foco manual e quando consegue enquadrar, vê o que não quer
ver?  Naquela  época,  até  o  dia  do último churrasco, levei uma carga de
desilusão  causada por um nome, que também diz muito para um amigo meu. Ele
sabe.   Depois  daquele  último  churrasco  eu  me  libertei  daquele  amor
platônico.

Desde  que me conheço por gente, sempre estou apaixonado por alguma menina.
E  na  grande maioria das vezes de uma maneira platônica. Aos cinco anos de
idade, sim, apaixonado. Tinha uma namorada. Este era platônico, pois era um
amor  puro,  alheio  a  interesses  ou  gozos  materiais,  segundo  uma das
definições do dicionário.

Quando  cheguei  no  colégio novo, em São Paulo, depois de me mudar, aos 11
anos,  idem.  Só  que eu me apaixonei por uma das meninas mais populares do
colégio.  Era  minha  colega,  estudava na mesma sala que eu, duas cadeiras
para  o  lado  esquerdo  e  três para a frente, linda, mas ela andava com o
pessoal  da oitava série. Eu, ainda na sexta. Uma criança que adorava jogar
videogame.  Passado este tempo sofrendo em silêncio (o amor se perdeu entre
outros  pensamentos),  no  prédio onde morava tinha uma outra menina. Foi o
amor  platônico  seguinte. Ela sempre me tirava do sério, e vice-versa. Era
mais  velha  do que eu, quatro anos. Nunca aconteceu nada. Ela também nunca
soube que eu era apaixonado. Uma vez fiz um desabafo, dizendo para a menina
que  gostava muito dela e que não aguentava mais brigar. Depois daquele dia
nunca mais brigamos. Tinha acesso a belos sorrisos, mas nada mais que isso.
Eu era criança, com corpo de adulto, uma criança de 13 anos e 1m88cm.

Amor  platônico  na  definição  do  dicionário,  mostra  um  amor  alheio a
interesses  ou  gozos  materiais,  um  amor  ideal, um amor casto. Mais uma
situação?  Meu  primeiro  dia na faculdade. Claro que me apaixonei de cara,
mas  a  menina  tinha  namorado.  Fiquei naquela os dois primeiros meses de
faculdade,  quando descobri que ela estava na real interessada por um outro
amigo meu. Meu nome do meio é sensibilidade.

Me  arrependo  muito  pela  minha  falta  de  iniciativa em muitas ocasiões
envolvendo  mulheres.  Mas  olha,  posso dizer com certeza que o que é para
ser,  vai ser. Essa falta de iniciativa no caso específico da conquista, já
me  deu  muita  dor  de  cabeça  e  medo  de rejeição. Eu era um cara muito
reprimido.  Ainda  sou,  sei disso, mas enfim, me viro como posso, mas sabe
que  lembro  com  muito  orgulho  de  situações onde estava decidido do que
queria.  Só  que  isso não acontecia sempre. Na verdade não acontecia quase
nunca,  apenas  quando  eu  estava  "irritado"  com algo. É que não era uma
irritação,  não  sei  bem  o  que era. Eu conseguia focar aquele sentimento
interior  para  força de vontade, desenvoltura e uma capacidade estonteante
de  não  conseguir  me  comunicar  como  gostaria.  Mas eu sabia dançar. Me
movimento  muito  bem.  E  com a música alta, você precisa de apenas alguns
diálogos  básicos,  algumas trocas de olhar e olha só, você está beijando a
menina.

Foi  mais ou menos como naquela noite, que eu não estava a fim de sair, mas
tinha  sido convidado. Meus amigos e amigas estariam indo pela primeira vez
em  um  lugar  que  eu achava na época de colégio que era uma casa de putas
mesmo.  Eu resolvi ir dormir. Mas depois resolvi sair de casa. Era uma hora
da manha passada quando cheguei no local. Fui sem óculos. Isso dificultaria
a  troca de olhares, mas não seria o fim do mundo. Eu não estava entendendo
porque queria sair de casa, mas saí.

Cheguei  no local, uma casa antiga, pé direito bem alto. Comecei a procurar
conhecidos  e  com  facilidade  os localizei na pista de dança. Dançamos um
pouco,  rock dos anos 80 e início dos 90. Foi demais, fazia muito tempo que
não  ouvia  músicas  que  me  fizeram  crescer.  Quando  tocou No Sleep Til
Brooklin, dos Beastie Boys por exemplo, achei que aquele chão ia cair.

Depois  de dançar bastante, fui tomar alguma coisa. Água sem gás. Certo, eu
não  sou  de  beber.  Grande coisa. Na verdade, eu já tinha bebido bastante
durante  as  semanas  anteriores, e estava dando um tempo na bebida. Depois
dei  umas voltas pelo local, fiquei conversando com meus amigos e amigas, e
depois  comecei  a  me  perguntar  por  que  não estaria eu dormindo? Neste
momento  tive  a  certeza  que  queria  ir  embora. Sem dar até logo para o
pessoal. Queria demonstrar minha insatisfação pelo local.

Me  levantei  e  comecei  a  caminhar  para o caixa. Nisso tentei encontrar
defeitos  no  local  e neste percurso vi umas figuras estranhas e vi também
duas  meninas se beijando. Droga, como achar ruim um local onde lésbicas se
beijam enlouquecidamente? Foi isso que eu pensei também.

Cheguei  no  caixa.  Comecei a separar o dinheiro para pagar, separei minha
consumação,  e  ficava  me perguntando porque aquela pessoa na minha frente
demorava  tanto. Foi quando me virei para a esquerda, em direção a pista de
dança,  para  procurar  o  nada.  E quando estava retornando o olhar para a
direita, para o caixa, encontrei tudo. Dois olhos maravilhosos que entraram
em conexão com os meus de uma maneira que até hoje não sei explicar. Aquilo
não  poderia estar acontecendo. Desviei o olhar, achando que aquilo não era
comigo,  mas  quando  voltei  a  olhar ela também havia voltado e estava me
encarando.

Coloquei  a  consumação  no bolso. Coloquei meu dinheiro no bolso. Coloquei
uma  mão  no bolso. Saí da fila. Fiquei um pouco mais para a esquerda, onde
pude  ver  melhor os cabelos. E agora não me encantava apenas com os olhos,
mas  também  com sua boca e seu nariz. Que nariz. Que olhos. Ela não parava
de me olhar. E eu não conseguia parar de olhar da mesma maneira.

Precisava  de  uma  bebida. Fui novamente para o bar, para o lado oposto de
onde  ela  estava. E fiquei olhando, ela estava encostado no balcão do bar.
Ela  se  virou  para me procurar. Ficamos nos olhando, nos encarando de uma
forma  muito  louca.  Eu  estava  com muito medo. Do que não sei. Ficava me
escondendo  atrás  de  uma  coluna e volta e meia aparecia. Porque não sei.
Todo caso, aconselho você a não fazer isso, pois pode lhe custar caro. Pode
lhe  criar  um amor platônico. Tinha chegado em um ponto da minha vida onde
amores  platônicos  não  eram  mais  bem vindos. Mas eu continuava olhando.
Bebendo  minha água e olhando. Acabei de beber a água. E agora, o que faço?
Ela  se  mexeu.  Foi para o outro lado do salão, longe das amigas dela. Vai
Daniel.

Comecei a caminhar em direção a menina. Quando estava muito perto de chegar
para  conversar  com  ela,  apareceu  uma amiga minha, para avisar que eles
estavam  indo  embora.  Disse  tudo bem, dei três beijinhos e tchau! Ela me
perguntou  então  se  não  ia  cumprimentar os outros. AHH!! Aquilo não era
verdade,  eu  simplesmente  passei  pela  menina  para  dar tchau para meus
amigos. Na passada por ela eu ainda tento me lembrar se o "eu já volto" que
eu  falei foi apenas para mim ou se ela ouviu. Enfim, amigo que é amigo não
faz isso! Todo caso, agradei a todos, me despedindo com eduação e tal.

Voltei para o local onde ela estava encostada. Respirei fundo e iria falar:
- Olá,  eu  estava  indo  embora, mas nossos olhares se encontraram de  uma
forma que eu não sei descrever ainda, deve ser pelo mesmo motivo que muitas
pessoas  tem  dificuldade  de  descrever  o  amor,  pois  eu acho que estou
apaixonado  e quero um beijo teu agora menina linda, pois tua boca longe da
minha me faz pensar em como eu te quero.

É, mas eu consegui dizer apenas isso:
- Quer dançar?

Ela  ficou  me  fitando, olhando para os lados, pensativa, ela não esperava
aquela  pergunta e muito menos eu. Fiquei chamando ela em direção ao salão,
com  gestos  do tipo vamos?, estava pensando Meu Deus não era nada disso, e
então já perguntei:
- Não queres? Vem comigo, vamos?

Ela  fez  sinal  com a cabeça, um sinal positivo, e nos encaminhamos para a
pista de dança. E começou o show. Eu sempre dancei muito bem. Pelo menos eu
pensava assim. Ainda penso. Acho. Bom, trocamos informações básicas, do que
fazíamos,  trabalho,  se já tínhamos ido naquele local outras vezes, ela me
falou que estava comemorando o aniversário, mas eu perdi esta parte, estava
prestando  atenção  nos  olhos  dela.  Foi  quando  eu falei Teus olhos são
lindos! e ela respondeu com um sorriso que me fez viajar.

Quando achei que era o momento, eu falei, já sem medo:
- Queria te dar um beijo...
- Não queres mais?
- Quero... Posso te dar um beijo?
- O que queres que eu responda?
- É só não relutar.
- ... 

Se deu certo? Semana que vem comemoramos sete meses juntos. Te amo Márcia!

Daniel Wildt

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==================== DE NOVO, PÔ! (Eduardo Seganfredo) ====================
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IDE EM PAZ

Caminhei  vagarosamente  por  entre as árvores. A copa realmente densa, e o
dia  nublado  davam  uma  sensação de penumbra no lugar. Cheguei ao portão.
Estava  trancado  por  um arame erolado diversas vezes na tramela utilizada
como  fechadura.  Comecei  a desenroscá-lo com as mãos, mas não estava nada
fácil.  Considerei  procurar  uma  brecha  na cerca de bambu, mas o mato em
volta  me  desanimou. Lembrei da minha missão, respirando fundo e renovando
as  forças. E retomei o trabalho manual, até conseguir libertar a tramela e
abrir o velho portão.

Ao  entrar,  a  paisagem mudava ligeiramente. Havia uma espécie de corredor
natural,  formado  por  laranjeiras dos dois lados, cujos ramos se cruzavam
numa altura de aproximadamente 2 metros. Olhando para a frente era possível
perceber  maior  claridade  ao  fundo, o que sugeria uma clareira. Avancei.
Pouco  mais adiante, estendida entre os galhos das árvores, uma imensa teia
de  aranha,  digna  de  filmes  de terror. E aquela majestosa construção da
natureza  tinha  uma  dona  tão  exuberante  quanto ela própria. Uma enorme
caranguejeira pairava no centro da teia.

Superado  o  calafrio, peguei a pá e abri uma passagem em um canto da teia,
com os olhos atentos para a reação do aterrador aracníndeo. Felizmente, ele
se  recolheu  para  o  canto  oposto,  o que me encorajou a transpor aquele
obstáculo.

Enfim,    cheguei   na   clareira.   Ali,  dispostos  aparentemente  em  um
semi-círculo, jaziam as sepulturas. Cerca de seis bases de cimento formavam
a  meia-lua, enquanto mais umas 5 lajes alinhadas completavam o desenho. Os
túmulos  estavam  tomados  pelo  mato, o que dava um aspecto de abandono ao
local.

Encontrei  um  bom  ponto  a frente das lajes e pus-me a cavar. A terra era
compacta e difícil de revolver. Para meu espanto, depois de várias pazadas,
percebi uma colônia subterrânea de formigas. Agora eu precisava cuidar para
que elas não começassem a subir pelas minhas pernas. Além disso, a pá batia
em  algo  mais  consistente.  Temi  que  fosse  outra laje ou alguma ossada
antiga. Por sorte, era apenas uma raiz desgarrada.

Muito suor e tempo depois, a cova estava pronta. Voltei cautelosamente pelo
mesmo  caminho, temeroso pela possível presença de cobras ou outros perigos
naturais.  Peguei o corpo e entrei novamente no velho cemitério. Coloquei-o
na cova, fiz mentalmente uma oração e cobri com a terra.

Apoiei-me  na  pá  e  deixei  a  mente vagar. Ali estavam sepultadas muitas
lembranças  da  minha  infância.  Os  cães  Pipo,  Tuti, Tica, e outros que
ajudaram na minha criação. Passaram-se na minha cabeça algumas das cenas de
muitas  alegrias, que aqueles pequenos animaizinhos proporcionaram em nossa
família.  Cada  um indiscutivelmente do seu jeito, com a sua personalidade.
Lembrei  que  eram  estes  memoráveis  momentos que pagavam todo o trabalho
envolvido em adotar um animal de estimação.

Saí caminhando respeitosamente daquele lugar, sentindo que mais um ciclo se
findava,  que  o  que era da terra voltava para terra e o que era do espaço
voltaria para o espaço, e que aquelas memórias era a parte que me pertencia
e por isso permaneceriam comigo.

Fechei o portão com a sensação de dever cumprido e certo de que estava mais
rico do que nunca.

Descanse em paz, velho cão Nenê.

Eduardo Seganfredo

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======== LINHAS DE PENSAMENTO CAÓTICO & PARALELO (Vincent Kellers) ========
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HOJE NÃO TEM 

Hoje  não  tem  coluna do Vincent. Todo caso, pensei, alias, pensei e estou
executando  a  tarefa  de colocar aqui uma letra de música. Essa eu sei que
ele  curte,  e eu também acho muito legal. E também serve para dizer para a
galera  que  gosta  de  Bad Religion, que eles estão voltando!! Olha o link
esperto aí! http://epitaph.com/bands/index.html?Id=86635. E vamos a música!

BAD RELIGION - "21st century digital boy"

  I can't believe it,
  the way you look sometimes,
  like a trampled flag on a city street,
  oh yeah

  and I don't want it,
  the things you're offering me,
  symbolized bar code, quick i.d.,
  oh yeah

  I'm a 21st century digital boy,
  I don't know how to live, but I've got a lot of toys,
  my daddy is a lazy middle class intellectual,
  my mommy's on valium, she's so ineffectual,
  ain't life a mystery?

  I can't explain it,
  the things they're saying to me,
  it's going yayayayayayaya,
  oh yeah,

  I'm a 21st century digital boy,
  I don't know how to read, but I've got a lot of toys,
  my daddy is a lazy middle class intellectual,
  my mommy's on valium, she's so ineffectual,
  ain't life a mystery?

  i tried to tell you about no control,
  but now I really don't know,
  and then you told me how bad you had to suffer,
  is that really all you have to offer?

Daniel Wildt

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=================== O PLUS A MAIS DE HOJE (Almandrade) ====================
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A CIDADE NA VIAGEM DO OLHAR 

As  cidades  são  tristes quando uma curiosidade, uma presença, ou um lugar
não  aquece  a solidão de quem vive a abstração da vida cotidiana. Nada tem
sentido.  A  falta  sempre remete a uma espécie de deserto que desorienta o
viajante  solitário  de  seu próprio espaço. – Será que as cidades deveriam
ser  habitadas  por  imagens  que  desejamos e por imagens poéticas? “Mas o
desejo,  a  poesia, o riso fazem necessariamente a vida deslizar no sentido
contrário,  indo  do  conhecido  ao desconhecido”. (Bataille) – Enfrentar o
desconhecido  é  uma tarefa difícil para o homem, principalmente quando ele
vive em cidades hostis ao mundo do conhecimento.

A publicidade faz a imagem da cidade, como se a natureza fosse uma imitação
de  uma  outra  natureza. A arquitetura não é mais arquitetura, é imagem de
out-door.  A  festa  faz  o  paraíso urbano e uma música medíocre anuncia o
Carnaval,  esta  intervenção  autoritária que desapropria a vida da cidade,
para aqueles que não têm o direito de opinar contra a festa.

A  cidade é a multidão que troca de imagem segundo a moda. Mas tem a imagem
que  permanece  na memória, como objeto da paixão para o apaixonado. Pensei
em  Walter Benjamin e o Diário de Moscou: o olhar apaixonado de um filósofo
sobre  uma  cidade:  “Naquela  manhã  sentia-me  com uma energia e por isso
consegui falar de maneira sucinta e calma sobre minha permanência em Moscou
e  sobre  suas  perspectivas  imensamente reduzidas”. Uma relação de paixão
compartilhada com o conhecimento das imagens percebidas de uma cidade.

Da  janela,  contemplei  a  rua  como  um  voyeur  de cidade. O trânsito, a
publicidade,  a multidão, o centro histórico. Os monumentos e a arquitetura
eram  objetos  para  as câmeras fotográficas de turistas, como cenários sem
data.  Sem  a imaginação o passado é a imagem engraçada, um efeito especial
do  cotidiano, onde tudo é repetitivo. A história, neste caso, não passa de
uma mercadoria para um olhar carente de um lazer cultural. “A era faustuosa
da  imagem  e  dos  astros e das estrelas está reduzida a alguns efeitos de
ciclone  e  terremotos  artificiais, de falsas arquiteturas e de truncagens
infantis com que as multidões fingem deixar-se empolgar para não sofrer uma
decepção amarga demais” (Baudrillard).

Por  outro  lado,  a  singularidade de um espaço, de um monumento ou de uma
arquitetura  fascina  o viajante. É como as imagens poéticas que provocam o
desejo  de olhar e de viver um estado de deslumbramento. Mas as imagens não
são  totalmente transparentes que se revelam a qualquer olhar sem reflexão:
elas  provocam  a imaginação e exigem um olhar atento, com um repertório de
referências.  Isto  é, uma sensibilidade capaz de perceber nas imagens suas
histórias  e  suas  verdades, mesmo que seja uma sensibilidade marcada pela
paixão de uma imagem.

Almandrade 

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============================= CRÉDITOS FINAIS =============================
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Última atualização em 16 de dezembro de 2001
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