literatura

Águas revoltas

O vidro da janela me protege da chuva

mas eu queria me molhar.

Por que o conforto não me compraz?

A luz da sala acesa

e eu almejo a escuridão da rua lá embaixo.

Dentro um silêncio, um apartamento.

O som da água revolta pelos pneus

dos carros me adverte.

A dedicatória do 'Fausto' de Goethe não me toca.

Minha cabeça roda e deseja falar.

Quero ouvir. Dia-logar!

Só uma droga lícita para me fazer dormir...

E as palavras que saem de mim

Que alívio, que cansaço.

Nem mesmo um sonho lívido me visita

Lá fora a água continua seu chuá...

Que delírio esse som:

Chuá...

Dormirei assim... chuá...

(05/03/2004)

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