cinema Por
que escrever sobre cinema no Brasil? A crítica cinematográfica brasileira encontrou em Glauber Rocha um defensor e produtor intermitente. Este trabalho pode ser comparado ao equilibrista que caminha sobre a corda bamba que é o filme. Fazer crítica é pensar cinema, apontar caminhos, suscitar questões. O perigo maior é cair no mundo das estrelas: ótimo, bom, ruim ou péssimo. Constantemente
a figura do crítico é repudiada por cineastas e estigmatizada como a de
um artista frustrado, que incapaz de realizar resolve criticar, no sentido
pejorativo, deus e o diabo. É certo que há muitos deste tipo por aí,
mas há piores ainda. Na
introdução de seu livro “Revisão crítica do cinema brasileiro”
(1963), Glauber Rocha destaca a especialização da maioria dos críticos
em cinema americano, “porque é mais fácil falar destes filmes sem
maiores preocupações culturais”. Da necessidade de subsistência do crítico
vem a “corretagem publicitária” entre jornal e determinada
distribuidora. O
último parágrafo pode soar como um último grito de um velho comunista,
talvez cinemanovista, contra a força do império norte-americano dentro
do Brasil, mas não. 40 anos depois de Glauber escrever seu livro citado
acima, duas das revistas semanais de maior tiragem, que carregam em si a
pretensão de dar um panorama nacional dos principais acontecimentos,
relegam o cenário cinematográfico brasileiro a apenas três filmes,
estrangeiros: “Freddy vs. Jason”, “As invasões bárbaras” e
“Driblando o destino”. As
revistas são Veja e Istoé, ambas em suas edições de 29 de outubro de
2003. Nada contra os filmes, que eu ainda nem vi. O problema maior é a
ausência de textos sobre fitas nacionais, em um ano em que a parcela da
participação destas no mercado é de aproximadamente 20% do total. E não
se pode alegar que não havia filmes nacionais em cartaz. Na semana destas
duas edições encerrava-se em São Paulo a 27ª edição da Mostra
Internacional, na qual dezenas de filmes brasileiros e internacionais
puderam ser vistos pela primeira vez. Neste
ponto retorno à pergunta inicial: Por que escrever sobre cinema no Brasil?
Teoria e prática são dois movimentos indissociáveis. Cito Glauber Rocha
novamente, não como este mito nem sempre conhecido em que se tornou, mas
enquanto exemplo máximo deste processo. O texto crítico observa, recorta,
discute e opina sobre um filme. Pode-se pensar que o público de uma
revista semanal não queira tal tipo de “aprofundamento”. Na verdade
esta alegação pressupõe um leitor superficial e incapaz de ver na arte
uma expressão e reflexo dos atuais contextos sociais, culturais e econômicos.
Críticas,
análises e estudos sobre filmes apontam novos caminhos e interpretações.
Assim, influenciarão diretamente os próximos filmes realizados que
despertarão novos estudo e textos e assim por diante. Se os leitores não têm acesso a críticas de filmes brasileiros e nem aos filmes em si, como afirmar que não há interesse pelo cinema feito no Brasil?
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