cinema Raízes do Brasil – uma cinebiografia de Sérgio Buarque de Hollanda (Nelson Pereira dos Santos, 2004) A tarefa de
desvendar a figura de Sérgio Buarque de Hollanda (1902-1982) foi
cumprida de uma forma bela, talvez um pouco extensa, mas esclarecedora,
divertida e estimulante. Nelson Pereira dos Santos acrescentou a sua
carreira invejável uma obra de registro e resgate da própria história
do Brasil. Dividido
em duas partes, com 76 minutos cada, o documentário revela um pouco da
intimidade de Sérgio, assim como o mundo que o envolvia. Na primeira
parte o foco é a figura mais íntima: pai, avô, amigo. O grande pensador
do Brasil era um modernista por excelência. Atrás do semblante sério se
confundia uma personalidade divertida e gozadora. A casa da família
sempre foi ponto de encontro de amigos: poetas, músicos, boêmios. Ainda
na primeira metade do filme os familiares são entrevistados em momentos
de descontração: bares, almoço em família e passeios. Filhos e netos
lembram do escritório-biblioteca, lugar proibido, onde Sérgio trabalhava
intensamente em meio a livros espalhados. A
segunda parte é guiada pela leitura de “Apontamentos para a cronologia
de S.”: pequena biografia centrada em fatos escrita pelo próprio Sérgio
Buarque. As vozes de suas filhas são acompanhadas por imagens de arquivos
pessoais da família e cenas históricas do Brasil. É incrível perceber
como a vida pessoal e profissional de Sérgio se confunde com a história
do país no século XX. Alguns trechos de seu “Raízes do Brasil”,
publicado em 1936, são lidos pela neta Sílvia Buarque. A
idéia de fazer tal trabalho foi de Ana de Hollanda, filha de Sérgio, que
fez a proposta a Nelson Pereira em 2001. O roteiro, na verdade, um guia,
foi elaborado pelo diretor e por outra filha, Miúcha. A fotografia do
filme, registrada em digital, foi elaborada para ser o mais próximo do
natural, deixando assim os entrevistados bem à vontade. Fica o estímulo para conhecer a obra extensa do pesquisador e pensador Sérgio Buarque e também a vontade de ainda ver o Brasil desejado por ele: de dentro para fora, de baixo para cima. A onipresença determinante de Memélia - esposa, mãe, colaboradora, avó e defensora de uma memória – explica e justifica muito da vida e obra do marido. Talvez, neste momento em que ser internacional é um ditame, seja preciso (re)pensar o que é o Brasil e o que é ser brasileiro como Sérgio o fez.
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