I – Chegada ao Brasil
A primeira notícia sobre o Escotismo publicada no Brasil foi no dia 1º de dezembro de 1909, no número 13 da revista Ilustração Brasileira editadano Distrito Federal, no Rio de Janeiro, e com circulação nacional. A reportagem tinha o título : Scouts e a Arte de Scrutar; ocupava três páginas eapresentava 7 fotografias. A matéria fora preparada na Inglaterra pelo 1º Tenente da Marinha de Guerra Eduardo Henrique Weaver, onde se encontravaa serviço. Teve, assim, a oportunidade de presenciar o nascimento do Movimento Escoteiro – Scouting for Boys, criado em 1907 pelo General InglêsBanden-Powell – B. P. Na época, juntamente com o Tenente Weaver, encontrava-se na Inglaterra numeroso contigente de Oficiais e Praças daMarinha – preparava-se para guarnecer os novos navios da esquadra brasileira em construção. Um grupo de suboficiais de entusiasmou com orevolucionário método de educação complementar imaginado por B-P. Entre eles estava o Suboficial Amélio Azevedo Marques que fez com que seufilho Aurélio ingressasse em um dos Grupos Escoteiros locais. Assim, o jovem Aurélio Azevedo Marques foi o primeiro Escoteiro Brasileiro ou,mais precisamente, o primeiro Boy Scout brasileiro.
Quando da vinda para o Brasil, os militares trouxeram consigo uniformes escoteiros ingleses, no valor de trinta libras esterlinas. O Encouraçado"Minas Gerais", navio onde estava embarcada a maioria dos militares interessados em trazer para o Brasil o Movimento Escoteiro, chegou ao Rio deJaneiro em 17 de abril de 1910. No dia 14 de junho do mesmo ano, na casa número 13 da Rua do Chichorro no Catumbi, Rio de Janeiro,reuniram-se, formalmente, todos interessados pelo escotismo e embarcados nos navios que haviam chegado ao Brasil. Naquele local foi oficialmentefundado o Centro de boys Scouts do Brasil. O evento foi informado aos jornais, os quais publicaram a carta recebida da Comissão Diretora. Acorrespondência enviada começava nos seguintes termos: À imprensa desta capital, brilhante e poderoso fator de progresso, campeã de todas as idéiasnobres, vem o Centro de Boys Scouts do Brasil, solicitar o auxílio de sua boa vontade, o esteio de que necessita para que em todos os laresbrasileiros penetre o conhecimento do quanto à Pátria pode ser útil a instrução dos Boys Scouts. Anexo a comunicação foi enviado documento quedescrevia as Bases do Centro de Boys Scouts do Brasil que assim começava:
1º - fica nesta data instituída uma sociedade de instrução, diversões e esportes para meninos, semelhante em tudo que for possível a dos "BoysScouts" da Inglaterra.
O tomo I – 1910 – 1924 Os primórdios
do Escotismo do Brasil da história do Escotismo Brasileiro, de autoria
do Almirante Bernard DavidBlower, editado pelo Centro Cultural do Movimento
Escoteiro em 1994, é a publicação de referência
para a obtenção de informações mais complexassobre
este assunto que está sendo abordado de maneira sucinta. Do mencionado
livro, ao final do capítulo II – Introdução no Brasil,
transcreve-se:infelizmente, por diversas razões, a existência
do Centro (referindo-se ao Centro de Boys Scouts do Brasil) foi efêmera;
entre essas razões estavam ofato que de os dirigentes do Centro
viajavam constantemente e mesmo por terem alguns sido transferidos para
unidades fora do Rio de Janeiro, alémda falta de conhecimento do
pais sobre o alcance da novel instituição concorrendo para
a freqüente ausência de seus filhos às atividades escoteiras
decampo. Segundo informações, já em 1914 não
mais existia o Centro. E mais adiante: No entanto, a semente lançada
ainda daria fruto como demostrao capítulo IV.
II – Scout – Escoteiro; Boys Scouts – Escoteirismo, Escotismo?
Sem dúvida, os brasileiros que se
encontravam na Inglaterra ao final da primeira década deste século
tiveram dificuldades para traduzir os termosingleses "Scout" e "Scouting
for Boys" adotados por B-P quando criou o novo método educacional.
O tenente Weaver procurou encontrar, novasto vocabulário da língua
portuguesa, palavras que tivessem o mesmo significado; optou pela linguagem
escorreita, e empregou o verbo escrutar,que significa: "sondar, examinar
a fundo os corações, a consciência, prescutar, fazer
o possível para entrar no perfeito conhecimento das coisas;procurar
descobrir o que é oculto, encoberto; indagar". A origem é
latina, de "scrutare". Usou a grafia scrutar, vocábulo cujas iniciais
são as mesmasdo scout / scouting. Já os Suboficiais, que
haviam tomado a decisão de concretizar a implantação
do método criado por Baden-Powell tão logochegasse ao Brasil,
não se preocuparam em criar uma nova palavra e usaram o termo em
inglês ao designarem a instituição que fundaram no
Brasil.Na Itália, a versão do "Scouting for Boys" foi "Scoutismo".
Na maioria dos países de língua espanhola são usados
vocábulos ingleses. Em Portugal éusado o termo Escuta. No
Brasil, os vocábulos Escoteiro e Escotismo, com os mesmo significados
das palavras adotadas por B-P na sai língua,surgiram em 1914, quando
da Fundação Brasileira de Escoteiros – ABE, em São
Paulo como será apresentado no item IV. Só mais tarde
osdicionários brasileiros acrescentaram, no verbete Escoteiro, o
significado: membro de associação de meninos ou adolescentes
organizada segundo osistema de Baden-Powell. Até então, escoteiro
era quem viajava livre, desembaraçado, sem comitiva, sem bagagem;
e escotismo era a doutrina deEscoto, teólogo da doutrina de São
Tomaz. Ao final da década de 10, sob alegação de natureza
semântica, foi também adotado o termo Escoterismo,que caiu
em desuso pouco mais tarde.
Surpreendentemente, no Brasil ainda ocorre
a impropriedade na tradução das palavras scout e scouting
usadas por Baden-Powell, no tempo em queservia no Exército Inglês.
Na linguagem militar, o esclarecedor (em inglês o scout) é
o observador, o batedor, a quem cabe a difícil tarefa de esclarecer(scouting
for boys) penetrando no território inimigo, sem ser percebido, para
colher informações úteis ao planejamento das operações.
Assim,traduzi-los por escoteiros ou escotismo, resultará no disparate
de se produzir o termo Escotismo Militar!
III – Novas "Descobertas" – 1912 A 1915
Certamente, muitos brasileiros estiveram na Europa nos anos que se seguiram à criação do Escotismo em 1907. Há notícias de mais três deles que,ao conhecê-lo, empreenderam esforços para traze-lo para o Brasil:
1º - Dr. Márcio Cardim:- Percorreu a Europa a serviço do país. Em junho de 1910, na cidade de Delft, Holanda, encontrou Escoteiros e passou a seinteressar pelo Movimento. Quando em Londres, aprofundou os seus conhecimentos sobre o Escotismo, ocasião em que esteve pessoalmente comBaden Powell. Regressou em 1913 a São Paulo, onde residia, e iniciou uma campanha jornalística de divulgação do Escotismo no "Estado de SãoPaulo". Participou ativamente da fundação da ABE realizada em novembro de 1914.
2º - Sra Jeronima Mesquita: - Residia em Paris e, por conta própria, mandou imprimir muitos milheiros de folhetos de propaganda com traduçãodo código e juramento (Lei e Promessa como denominados mais tarde) e, ainda, tradução de trabalhos de B-P. remeteu-os para São Paulo ao Dr.Ascanio Cerqueira, a quem concitava para ali fundar uma associação de escoteiros.na primeira Diretoria da ABE, o Dr. Ascanio Cerqueira foi umdos Vice Diretores e, Secretários, o Dr. Mário Cardim.
3º - Professor George Black:- Representou a Sociedade de Ginástica Porto Alegre – SOGIPA no Festival de Ginástica de Munique. Na sua passagempela Alemanha encontrou-se com a organização, métodos educativos e orientação dos jovens na formação das suas cidadanias, ministrados noGrupo de Escoteiros da Sociedade de Ginástica de Munique. Colheu subsídios e, ao retornar ao Brasil, em fins de 1913, fundou um Grupo Escoteirona SOGIPA. Em 1963 o Grupo passou a se denominar George Black que comemorou 85 anos de atividade em 1998!
O CCME- CENTRO CULTURAL DO MOVIMENTO ESCOTEIRO que, estatutariamente, se destina a fomentar o Escotismo, tem umprograma para editar a série "ESCOTISMO BRASILEIRO". Além do primeiro livro já editado e acima referido, seguem-se os demais quecorrespondem a cada um dos Estados da Federação. Espera-se que, na medida em que forem sendo publicados, sejam mais bem esclarecidas asminudências da História da Escotismo das Regiões Escoteiras que integram a União dos Escoteiros do Brasil. Nesta breve notícia sobre o início doEscotismo no Brasil, por vezes, são indicados pontos controversos ou insuficientemente esclarecidos. Há que se aguardar a chegada dos novosTomos, mesmo porque a História jamais poderá ser considerada como inteiramente esclarecida e escrita em termos definitivos. Presentemente, sãoescassas as informações disponíveis no CCME relativas às iniciativas para a criação de organizações escoteiras nos anos que antecederam a fundaçãoda ABE e que, à semelhança do Centro de boys Scouts do Brasil, tiveram vida efêmera. No período de 1912 a 1915, o Escotismo foi "descoberto"nos seguintes Estados:
1 – 4 de julho de 1912: - Criação da "PATRULHA DE TREINAMENTO" no Realengo, DF, RJ, sob os auspícios do Tiro de Guerra 112. Adireção era do Primeiro Tenente do Exército Antônio Freire de Vasconcellos tendo como auxiliares Gabriel Skinner, Lafayete de Oliveira e I.S.Campos. Quando for escrito o Tomo XX – História do Escotismo no Estado do Rio de Janeiro, essa notícia poderá ser ampliada.
2 – 13 de janeiro de 1913: - O Professor Curt Boett fundou em Blumenau, SC um Grupo Escoteiro. Quando for elaborado o Tomo XXV alusivo aoEscotismo em Santa Catarina, é de se esperar que esta notícia seja completada com mais dados.
3 – 1913: - " NOTAS DE UM ESCOTISTA – 1913-1928"
escritas por Benjamim Sodré, logo na primeira página, lê-se:
Encontrei na LivrariaBriguet um exemplar do "LE LIVRE DE LECLAIREAUR" de
Royet, edição de 1913. Lí-o com avidez e entusiasmei-me
vivamente peloMovimento alimentando desde logo a idéia da organização
de um Grupo no Botafogo. Em janeiro de 1913 Benjamim Sodré foi promovido
aGuarda – Marinha após concluir o curso da Escola Naval. Nas referidas
Notas afirmou: os estudos, o naufrágio do "GUARANY" (navio onde
estavaembarcado e que naufragou em outubro de 1913 quando participava de
exercícios da Esquadra produzindo a morte de 8 dos seus colegas
de turma)impediram-me de fazê-lo. Só em 1916 Sodré
pôs em prática os ensinamentos de Baden Powell entre os jovens
integrantes do DepartamentoInfanto-Juvenil do Botafogo Futebol e Regatas
onde era jogador famoso no time do Clube. Benjamim Sodré tornou-se
figura exponencial noEscotismo Brasileiro com participação
efetiva pôr mais de cinqüenta anos.
Tornou-se oportuno ressaltar o fato de
uma Livraria brasileira, já em 1913, oferecer ao público
um livro sobre Escotismo, em versão francesa, o quecomprova a rapidez
de disseminação do movimento com cerca de quatro anos de
sua fundação.
4 – 1914: - Há notícia da organização de um Grupo Escoteiro no Ginásio Júlio de Castilhos em Porto Alegre, RS. A iniciativa foi da ProferroraCamila Furtado Alves e do Tenente do Exército Tancredo Gomes Ribeiro, havendo indícios de o fato haver ocorrido em 1910. Aguarda-se a ediçãodo Tomo XXII que irá tratar da História do Escotismo gaúcho para dirimir essa relevante dúvida.
5 – 23 de dezembro de 1914: - É instalado o GRÊMIO DOS BANDEIRANTES MINEIROS, na cidade de Rio Novo, a 45 Km. de Fora, sob adireção do Tenente Alípio Dias e inspiração do Professor Alípio de Araújo, literato e jornalista que defendeu essa denominação para traduzir BoyScout. Em 20 de junho de 1915 é fundado o GRÊMIO DE BANDEIRANTES DE JUIZ DE FORA, que se reunia no Tiro de Guerra nº 17, sob aPresidência do Dr. Benjamim Colussi. Espera-se que o Tomo XIV apresente mais detalhes sobre aquelas meritórias iniciativas.
6 – 1915: - Por iniciativa do Comandante Anfilóquio
Reis é criado um Grupo Escoteiro na 4ª Escola Masculina do
Distrito Federal, sob a direção deGelmirez de Mello, Chefe
Escoteiro que veio a ser um dos lideres do Escotismo do Mar e Dirigente
Nacional da União dos Escoteiros do Brasil –UEB.
IV – ESCOTISMO EM BASES SÓLIDAS
A fundação da ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE ESCOTEIROS decorreu da convergência de esforços
como anteriormente mencionado. Em 15de agosto de 1914 realizou-se a Sessão
Preparatória da Associação a ser criada em breve.
A reunião contou com nomes de destaque da vida política ecultural
de São Paulo, diretores de estabelecimentos de ensino como Colégio
Mackensie, Colégio Anglo Americano, Escola Americana, Ginásio
SãoBento, Diretor da Faculdade de Medicina, Secretários de
Justiça e de Segurança Pública do Estado. Alguns nomes
merecem ser citados: - Dr. MárioCardim, já mencionado anteriormente.
Homem de ação, tomou as providências necessárias
para a efetivação da idéia de criar a ABE; convidou
rapazesde 11 a 18 anos para imediato engajamento com o Escotismo e redigiu
os Ante-Projetos de Estatuto e Regularmento da nova instituição,-
Júlio deMesquita, Diretor do "Estado de São Paulo", que deu
apoio entusiasta à causa, - Dr. Ascanio Cerqueira que recebeu o
material informativo enviadode Paris pela Sra. Jeronima mesquita.
No dia 29 de novembro de 1914, no Skating
Palace, na capital pulista, numa assembléia pública a que
compareceram cerca de 600 escoteirosinscritos e mais as pessoas gradas
que parte na reunião do dia 15 de agosto, além de representantes
do Estado e do Município, Comando daReunião Militar e da
Força Pública e diversos Diretores de Estabelecimentos de
Ensino, foram lidos pelo Dr. Mário Cardim os Estatutos e oRegularmento
da Associação brasileira de Escoteiros, a seguir aprovados.
A ABE irradiou o Movimento para todo o
país, com representação em Minas Gerais, Paraná,
Espirito Santo, Paraíba, Amazonas, Ceará,Pernambuco, Rio
Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina; já em 1915
existia em quase todos os Estados.
Em 1915 o Deputado Federal por São
Paulo César de Lacerda Vergueiro, amigo do Dr. Mário Cardim,
apresentou proposta para reconhecer oEscotismo como de Utilidade Pública.
O Projeto resultou no Decreto do Poder Legislativo nº 3297 sancionado
pelo Presidente Wenceslau Braz em11 de junho de 1917 que no Art. 1º
estabelecia: - "São considerados de utilidade pública, para
todos os efeitos, as associações brasileiras deescoteiros
com sede no país.
Em 1915 é iniciada a publicação
do "JORNAL DA ABE" edição pela Associação.
Há que se destacar outra iniciativa
pioneira da ABE tomada em dezembro de 1914, logo após a sua fundação:
- a criação do ESCOTISMOFEMININO em São Paulo que
"deveria seguir caminho paralelo e independente do Movimento Escoteiro
do sexo masculino". Foi criado oDepartamento Feminino que contava com Mrs.
Kathen Crompton como Instrutora Chefe. Houve troca de correspondência
com a Gril GuideAssociation de Londres, presidida pela Sra. Baden Powell
que encaminhou para o Brasil o Manual das Gril Guides e outras publicações
técnicas. Ainiciativa foi coroada de sucesso, com filiação
em muitas cidades paulistas, bem como das ESCOTEIRAS DO ALECRIM no Rio
Grande doNorte.
No Tomo I da História do Escotismo
Brasileiro há um capítulo tratando especialmente de A MULHER
NO ESCOTISMO. O livro descreve,também, as circunstâncias em
que, na cidade do Rio de Janeiro, em 13 de agosto de 1919, foi fundado
o Movimento Bandeirante do Brasil que semnenhum vínculo institucional
com o Movimento Escoteiro.
Em 1916 é instalada a primeira Escola
de Chefes da ABE sob a direção do Coronel Pedro Dias de Campos,
que fez parte da primeira Diretoria daAssociação. No então
Distrito Federal, no Rio de Janeiro, o prefeito Azevedo Sodré, tendo,
em 1915, recebido os folhetos da ABE, introduziu ainstalação
do Escotismo nas Escolas Públicas.
Em 1917, sob o patrocínio da ABE,
foi realizado em São Paulo um Congresso Escoteiro, o primeiro do
Brasil. Dispõe-se de poucos dados sobreaquele evento; da mesma maneira,
aguarda-se a edição do Tomo XXVII alusivo à História
do Escotismo de São Paulo para enriquecer estainformação
tão relevante.
Incontestavelmente, a fundação
da ABE em São Paulo se constituiu no fato decisivo para a consolidação
do Escotismo no Brasil. Foi condiçãonecessária; mas
não foi suficiente para impedir o seu crescimento desordenado.
V – CRESCIMENTO DESORDENADO
A partir de 1915, em todo o Brasil, passaram
a despontar várias organizações escoteiras, algumas
delas influenciadas pela atuação da ABE; outrastantas, por
iniciativa própria. Há registro de:
1915: - Associação Pernambucana
de Escoteiros; Associação de Boys Scouts de vitória;
Comissão Regional de Escoteiros do Paraná; Associação
Paranaense de Escoteiros; Legião Amazonense de Escoteiros.
1916 – Grupo Escoteiro do Fluminense Football
Club no Rio de Janeiro com a marcante participação
da Sra. Jeronima Mesquita juntamente comGuilhermina Guinle e Arnaldo Guinle
e Marco Pollo. Os dois últimos escreveram e editaram, no mesmo ano,
O LIVRO DO ESCOTEIRO comintrodução de Olavo Bilac e Coelho
Neto, o que se constituiu no primeiro Manual Escoteiro editado no Brasil.
1917 – É fundada a Associação
Maranhense de Escoteiros, informação que poderá ser
ampliada no Tomo XI que irá tratar do Escotismo maranhenseem particular
e poderá revelar as circunstância em que foi tomada aquela
iniciativa.
Em 29 de janeiro de 1917 foi fundada a LIGA DE
DEFESA NACIONAL influenciada por Olavo Bilac, grande incentivador do Escotismo
ebatalhador pelo fomento do civismo no Brasil. Logo após a sua criação,
a ABE aderiu à Liga de Defesa Nacional que, em 17 de abril de 1917,
envioucorrespondência às Associações de Escoteiros
do Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Pernambuco pedindo-lhes que
essas Associações se filiassem àde São Paulo.
No ofício, a Liga de Defesa Nacional "comprometeu-se a fornecer
a todas as Associações co-irmãs todas as informações
necessáriasao funcionamento dos batalhões e enviando-lhes
todas as publicações que já está distribuindo
e vai distribuir". Foi aquela a primeira tentativa paracentralizar o Movimento
Escoteiro no Brasil evitando o seu crescimento desordenado.
Em 15 de novembro de 1917 foi criada a primeira
Tropa de Escoteiros Católicos do Brasil na Paróquia de São
João Baptista da Lagoa, no Rio deJaneiro, constituindo-se na Associação
de Escoteiros Católicos daquela Paróquia. Até então,
nas organizações escoteiras criadas no Brasil,incluindo-se
a ABE, era adotado o sistema leigo como regime em suas Tropas.
Em 1919 surgiu a segunda Tropa de Escoteiros
Católicos na Escola Popular de São Bento. Havia outras Tropas
em pespectiva de fundação, maisimperou o bom senso de não
criá-las sem que se pudesse contar com chefes competentes de modo
a só se criarem Tropas bem dirigidas. O Dr. E.Peixoto Fortuna participou,
com destaque, na criação daquelas duas Tropas. Como Presidente
da União Católica Brasileira, o Dr. Peixoto Fortunaresolveu
nela criar uma Escola de Instrutores que se instalou em 1º de agosto
de 1919. Ultrapassando as dificuldades inicias, em 1920 a Escola jáhavia
formado seis turmas, o que propiciou a criação da ASSOCIAÇÃO
DE ESCOTEIROS CATÓLICOS DO BRASIL, instituição quepaulatinamente,
tornou-se importante e cresceu em efetivo.
Ainda em 1919 a nova Associação
iniciou a edição do tabloide "O ESCOTEIRO". Os cincos primeiros
números eram de propriedade da casainstalada no Rio de Janeiro "LA
VILLE DE PARIS"; no cabeçalho, contava o seguinte: ÓRGÃO
DEDICADO À DIVULGAÇÃO DOESCOTISMO NO BRASIL – PARA
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. A loja Ville de Paris tinha uma Seção
de Escotismo "com uniformescompletos e todos os artigos necessários
aos Escoteiros". Em 1925, O ESCOTEIRO tornou-se o órgão oficial
da UEB.
Em 1921, aquela Associação realizou
um Jamboree intergrupos que se constituiu em assinalado triunfo para os
Escoteiros Católicos. Com o nome deASSOCIAÇÃO DE ESCOTEIROS
CATÓLICOS DO BRASIL teve seu Estatuto aprovado, em 11 de junho de
1921, pelo MonsenhorVigário-Geral do Rio de Janeiro. Logo depois,
a Associação filiou-se à Organização
Internacional, com sede em Londres, tornando-se, assim, aprimeira e única
Associação Escoteira brasileira reconhecida internacionalmente,
situação que, mais tarde, passou a ser desfrutada pela UEB.
Em 1922, Àquela Associação
filiou-se, na condição de co-fundadora, o Office Internacional
des Scouts Catholique, com sede em Roma, sob as vistasdo Papa e presidido
pelo Conde Mário de Carpegna, líder do Escotismo Católico
Internacional.
Demonstrando maturidade, no número
de julho de 1920 do O ESCOTEIRO, editado pela Associação
católica, aventou-se o plano da realização deum Congresso
Escoteiro no rio de Janeiro, evento que foi realizado em 1922 e repetido
em 1923. Paralelamente com os Congressos, foram realizadosJamboree que
a Associação Católica considerou como tendo sido os
primeiros efetivados no Brasil. Foi editado o "LIVRO DOS CONGRESSOSESCOTEIROS
DO BRASIL – 1922-1923. PRIMEIRO E SEGUNDO JAMBOREE BRASILEIROS. THESES
E RELETÓRIOS". OTomo I da História do Escotismo Brasileiro
dedica o Capítulo VI aos CONGRESSOS E JAMBOREES realizados até
1924 e menciona os nomesdos membros dos Congressos, na maioria do Distrito
Federal, mas contando também com representantes da ABE de São
Paulo, Associação dosEscoteiros do Pará, Liga Amazonense
de Escoteiros, Associação de Escoteiros do Alecrim, RN.;
relaciona as moções, notas e propostas aprovadas eas Teses
apresentadas, com os nomes dos sues autores e dos dois relatores de cada
uma delas. Presidiu os dois Congressos o Dr. João E. PeixotoFortuna.
A idéia da realização
dos Jamborees foi levada em 1921 pelo chefe Gabriel Skinner. Continham
uma parte escoteira e outra esportiva e alcançarampleno sucesso.
A Igreja Metodista Americana do Rio de
Janeiro, em1916, fundou uma Tropa de Escoteiros com o nome "Union Church
Boy Scouts" que, em1920, deixou o patrocínio da Igreja; passou a
ser dependente e, no Conselho de Chefes realizado em 14 de maio de 1921,
ficou decidido mudar onome para "1st Rio Baden Powell Boys Scouts", e assim
se registrou no "Boy Scouts Association" de Londres. Passou então
a seguir rigorosamenteas normas do Escotismo inglês, sendo suas publicações,
uniformes e distintivos vindo da Inglaterra; aceitava jovens, não
só
ingleses, mas tambémde outras nacionalidades que falassem inglês,
em Niterói, então capital do antigo Estado do Rio de Janeiro,
havia uma Tropa filiada que denominava"1 st Nictheroy Baden Powell Group".
As Tropas funcionaram naqueles moldes até 1942, quando foi decretada
a nacionalização de todas as entidadesestrangeiras, ocasião
em que se associaram à Modalidade do Ar.
O Autor do Tomo I da História do
Escotismo Brsileiro, Almirante Bernard David Blower, residiu quando jovem,
em Niterói; ao final da década de30, foi Escoteiro do "1st
Nictheroy Baden Powell Group". Presentemente, aquele ilustre militar brasileiro
é o Presidente do Conselho Deliberativodo Centro Cultural do Movimento
Escoteiro.
VI – DESPONTA O REGENTE
No sentido figurativo, ao se iniciar a década de 30, havia considerável número de músicos, ou seja, de instituições escoteiras, firmementeempenhadas em executar as partituras que elas próprias haviam escrito. Faltava o Regente, com a batuta de Maestro, para definir o tom e Conduzí-losna execução da grande sinfonia escrita por B-P. naqueles anos, o Chefe Benjamim Sodré, o Velho Lobo, mantinha uma Seção sobre Escotismo naRevista infanto juvenil "O TICO TICO". Na edição do dia 32 de janeiro de 1924 publicou um artigo que refletia a conjuntura do Escotismo àquelaépoca, como se vê a seguir:
UM EXEMPLO A SEGUIR PELAS ASSOCIAÇÕES
DE ESCOTISMO NO BRASIL
O Escotismo pode-se considerar definitivamente
firmado entre nós. Já se passou, aquele período de
propaganda vivíssima em que era quase umdever só entoar loas,
e esconder os defeitos.Hoje pode-se sem perigo apontar os males. E esse
é o dever.
Entre nó quatro grandes associações
dirigem o movimento escoteiro nacional: a Associação Brasileira
de Escoteiros, com sede em São Paulo,Associação de
Escoteiros Catholicos do Brasil, a Comissão Centra de Escotismo
e a Confederação Brasileira de Escoteiros do Mar, com sede
noRio.
Refletindo o espírito de pouca harmonia
dos brasileiros que vivem a brigar; essas associações se
correspondem, se entendem, mas não se ligam.
Sofre com isso o Escotismo, que se desenvolve
entre nós sem a precisa uniformidade, e sofre o nome do Brasil,
que de outro modo poderia figurarentre as grandes potências escoteiras,
cousa que não é de desprezar hoje, quando o escotismo tem
por mais de uma vez ocupado a atenção esugerido discussões
na Liga das Nações.
Um paíz possuir cem, duzentos mil
escoteiros deve ser, forçosamente, uma razão de consideração
no conceito demais. Nós caminhamos para essesnúmeros, mas
como nossos esforços são dispersos, aparecem sempre informações
parciais.
Tentativas têm sido feitas para reunir
as Associações, mas todas vãs, porque ora a vaidade
de domínio, ora pequeninas questões pessoaisconservam afastadas
forças preciosas que deveriam unir, valendo pelo dobro.
É, um dever de todos, deste o mais
pequenino escoteiro até ao mais importante Chefe, procurar criar
uma atmosfera de harmonia entre todas asassociações, para
que elas se liguem constituindo uma confederação geral que
possa representar o Escotismo do Brasil.
A seguir, Velho Lobo referiu-se ao exemplo
do Escotismo francês e concluiu: Isso viria resolver o nosso caso.
Nenhuma associação seria mais doque a outra, todas estariam
no mesmo pé de igualdade e, suprema aventura, alguém poderia
falar pelos "Escoteiros do Brasil", que já são tãonumerosos
mas que devem conservar-se mudos e desconhecidos porque são desunidos.
No dia 7 de setembro de 1924 o Padre Leovigildo
França, Vice-Presidente da Associação de Escotismo
Católicos, realizou interessante Conferênciasobre o Escotismo.
O ilustre Prelado fora o Chefe da Delegação que representou
o país no Grande Jamboree Internacional em Copenhague. SuaConferência,
ilustrada com projeções, deu uma impressão muito nítida
do que foi aquela grande concentração escoteira mundial.
O Velho Loboassistiu à Conferência e, comovido, afirmou: "Para
o futuro, o Brasil se deve representar, em qualquer reunião internacional,
não por umadelegação de uma de suas Associações,
mas por uma Delegação de Escoteiros do Brasil. A seguir renovou
o seu apelo feito em janeiro em "OTICO TICO" e remeteu cartas ou fez contatos
pessoais com os principais responsáveis pelas Instituições
Escoteiras convocando-os para se reuniremcom o fim de criarem uma Associação
Nacional do Escotismo Brasileiro. Com exceção do representante
da Associação Brasileira de Brasileira deEscoteiros, de São
Paulo, todos os demais atenderam ao convite. Passaram a se reunir, seguidamente,
na sede do Clube Naval, no Centro da cidadedo Rio de Janeiro. Dado o grande
interesse e a boa vontade de todos, a tarefa foi fácil e, em 4 de
novembro de 1924, foi fundada a UNIÃO DOSESCOTEIROS DO BRASIL –
UEB. Sua primeira sede provisória foi no Clube Naval.
A UEB iniciou sua vida pela justaposição
de Federações que praticavam o Escotismo por conta própria.
Haviam elas construído seus patrimônios,suas culturas próprias
e gozavam de plena independência. No primeiro Estatuto da UEB houve
a preocupação em preservar a autonomia de quedesfrutavam
as Federações. Foram necessários vinte e seis anos
para que, em 1950, se consolidasse a completa integração
do Movimento Escoteirono Brasil. No bojo da imprescindível reforma
foram extintas todas as federações, incluindo-se, obviamente,
as de Terra, Mar e Ar, e se desfez atradicional trindade encontrada na
natureza e que se refletia no Escotismo brasileiro; surgiram as modalidades
Básica, Mar e Ar.