Romantismo incorrigível
Luigi Baricelli não esconde a alegria que está sentindo por interpretar Valentim, de ‘A Padroeira’, o primeiro protagonista de sua carreira
[Fonte - TV Press]
Luigi Baricelli definitivamente não tem jeito de vilão. Seu rosto de traços delicados e os olhos entre a cor verde e azul dão o tom propício para o ator viver tipos francos e generosos. O discurso politicamente correto, o tratamento refinado e a postura mais do que polida também ajudam a fazer do paulistano de 29 anos o tipo ideal para interpretar o protagonista de ‘A Padroeira’, o intrépido Valentim Coimbra. "Ele é um romântico. Um doce guerreiro", define com a voz aveludada. Luigi, na verdade, não esconde a alegria que está sentindo por interpretar o primeiro protagonista de sua carreira. Principalmente porque foi o diretor Walter Avancini quem o convocou para a empreitada. Para o ator, que tem o diretor como o "mestre dos mestres", a proposta foi irrecusável. "Até agora estou de bobeira por ter ganho um protagonista em uma novela com o Avancini", afirma Luigi.
Na verdade, é difícil não notar a euforia do ator em protagonizar a novela de Walcyr Carrasco. Há poucos anos, encabeçar o elenco de uma produção global parecia um sonho distante para Luigi. Antes de voltar a se destacar na profissão como o romântico Fred de ‘Laços de Família’, o ator chegou a ficar um ano parado e pensando se realmente valia a pena insistir na profissão. O marasmo aconteceu após viver por quase cinco anos o professor de jiu-jitsu Romão, personagem da primeira leva de ‘Malhação’. Nesta época, também chegou a participar do quadro Caminhão do Faustão, do ‘Domingão do Faustão’. Ele viajava o Brasil inteiro entregando prêmios. "Se não fosse o convite do Maneco para ‘Laços de Família’, não sei o que estaria fazendo da vida agora", agradece. Luigi acredita que protagonizar uma novela que trata da história de Nossa Senhora Aparecida tem um toque inclusive de religiosidade. A avó de sua esposa fez uma promessa à santa para que o Fred de ‘Laços de Família’ trouxesse sorte ao ator. Desde então, Luigi só tem recebido notícias boas. O personagem Fred ganhou destaque, protagonizou o filme ‘Popstar’, de Xuxa Meneghel, sua esposa ficou grávida e ele foi chamado para seu primeiro protagonista na tevê. "Fui até Aparecida para agradecer. Fico muito emocionado com isso", revela com a voz embargada. P - Na época de ‘Laços de Família’, você comparou ter ganho o papel do Fred a um "bilhete de loteria premiado". Você compararia o personagem de ‘A Padroeira’ com o quê? R - Acho que ganhei na loteria duas vezes. Na verdade, não esperava viver um personagem como o Valentim, protagonista, e com uma dimensão ainda maior que a do Fred poucos meses depois de ‘Laços de Família’. De repente o Valentim caiu no meu colo e fiquei de bobeira. Porque já achava demais ter feito um personagem como o Fred, que tinha uma história linda e bom espaço na trama no Manoel Carlos. Desta vez, se for levar em conta que fui convidado pelo Walter Avancini para protagonizar uma novela dirigida por ele, aí sim chego a conclusão que ganhei na loteria duas vezes. É um orgulho para mim. P - Além de interpretar o maior papel de sua carreira, esta é a sua primeira novela de época. Você fica nervoso com tamanha responsabilidade? R - Não, porque todos os personagens, independente de tamanho, são importantes para mim. É tudo uma questão de composição. Então sempre estou buscando fazer o melhor e a cada dia me aperfeiçoar mais. É como na vida. A gente tenta acertar, mas pode errar também. Por isso, para mim o que importa é a evolução, acertando ou errando. Neste sentido, não existe personagem mais difícil que outro. É tudo questão de trabalho. No meu caso faço sempre com amor, tento ser o mais profissional possível e estar disponível. O trabalho é árduo de qualquer forma. P - Mas fazer um protagonista representa uma pressão maior... R - A diferença que sinto é dispor de menos tempo para se dedicar a cada cena. Em ‘Laços de Família’ ficava estudando dois ou três dias uma única cena. Agora não dá. Você não tem os diálogos também com tanta antecedência. Mas na medida do possível estudo as cenas tanto quanto antes. Para mim é importante entender o objetivo de cada cena. E para isso, me pergunto sempre "quem eu sou", "o que vou fazer" e "porque vou fazer". É uma maneira de entender o que estou dizendo no texto. Porque o volume é bem maior agora. Tenho cenas, por exemplo, de três páginas. São textos grandes, embora o Fred também tivesse cenas enormes. Mas não penso em quantidade e sim em qualidade. E tenho dificuldade para decorar também. Por isso, preciso entender o texto. Me ligo nos detalhes, porque o ator não pode dizer o texto da boca para fora. Ele tem de ser aquilo. P - Você chegou a ter receio de encarar o exigente Avancini logo como protagonista? R - De forma alguma. O que faço profissionalmente é o que o Avancini preza. Sou dedicado e tenho força de vontade. Todas as manhãs chego brincando no Projac e respeito muito o tempo que temos para produzir. Além disso, chego bastante concentrado para interpretar o personagem e preparo o texto antes de gravar. Quando viro a roleta do Projac, estou totalmente dentro da história. Aliás, já saio de casa com o personagem. Além do mais, sempre chego uma hora antes do meu horário. São coisas que o Avancini estima e é isto que ele quer. Falavam que o Avancini era temperamental, mas até agora não senti. Parece que o que importa para ele é realizar um bom trabalho. Ele é o mestre dos mestres. P - É verdade que a avó de sua esposa fez uma promessa para Nossa Senhora Aparecida na época de ‘Laços de Família’ para você ter mais sucesso como ator? R - Realmente aconteceu. A avó da Andréa fez uma promessa para Nossa Senhora em 99, quando fui chamado para viver o Fred. Ela pediu para que o papel desse uma guinada na minha carreira. A partir de então só aconteceram coisas boas na minha vida. O Fred, em ‘Laços de Família’, foi um sucesso. A minha esposa ficou grávida de novo e em seguida recebi o convite do Avancini para protagonizar a novela. É uma emoção muito forte, porque as graças não param por aí. Já estava gravando ‘A Padroeira’, tive de fazer um esforço físico muito forte e senti uma contratura muscular na coluna cervical lombar. Chorei de dor. Era um princípio de hérnia de disco. Rezei muito para Nossa Senhora Aparecida me proteger e me dar forças para não ter de abandonar o trabalho. Lógico que procurei um ótimo ortopedista. Mas fiquei espantado com a minha recuperação, pois em quatro dias estava gravando e não senti mais nada. E foi muita coincidência ter justamente ganho um papel em uma novela que explica a devoção a Nossa Senhora Aparecida no Brasil. P - Os protagonistas de ‘A Padroeira’ saíram de ‘Laços de Família’. Você acredita que o Manoel Carlos tem este dom de fazer crescer a carreira dos atores que trabalham com ele? R - Sem dúvida. O Manoel Carlos gosta de dar oportunidades para os atores e isso foi fundamental para eu ter esta chance agora. E ele precisa de atores que dêem credibilidade para os personagens que ele cria. Várias pessoas que não eram protagonistas em ‘Laços de Família’ estão encabeçando projetos agora tanto na tevê quanto em teatro. Eu e a Deborah somos a prova disso. Tem ainda o Reynaldo Giannechini, que protagoniza a peça do Gerald Thomas, e o Cláudio Gabriel, que ganhou um ótimo papel em ‘A Padroeira’. Chego a conclusão que o Manoel Carlos tem uma certa genialidade em escolher o elenco para suas produções. Além do mais, a história do Maneco como profissional é um exemplo que deve ser seguido. P - Antes de ‘Laços de Família’ você chegou a ficar um ano sem atuar. Protagonizar ‘A Padroeira’ é dar a volta por cima? R - Olha, estou passando talvez pelo melhor momento da minha carreira. Mas nada assegura a estabilidade de emprego do ator. O ator vive este dilema todo o final de produção. O que vou fazer agora? Por acaso, estou contratado da Globo, mas nunca se sabe o dia de amanhã. As coisas foram acontecendo na minha vida. Eu até tentei parar, mudar de profissão, mas fiquei pensando: "Será que é isso mesmo que eu quero da minha vida?". Poucos dias depois, recebi o convite do Maneco. Então refleti e pensei: "Não vou desistir não. Vou ver qual é!". Hoje dou graças a Deus pela minha perseverança. Sem ela, não estaria protagonizando a novela da 18h da Globo.Cabelos, espada...
Luigi Baricelli tem pelo menos três preocupações básicas para interpretar Valentim em ‘A Padroeira’. Tratar diariamente do cabelo, que ganhou um aplique pouco antes do início da novela, fazer exercícios de esgrima para lutar convincentemente com espada na pele do protagonista herói e manter a boa forma para conduzir os cavalos mais afoitos nas cenas de ação da novela das seis da Globo. O ator já havia tido uma pequena experiência de manejar uma espada no especial ‘D'Artagnan e Os Três Mosqueteiros’, no final de 1999. Luigi vivia o Duque de Buckin-ghan e confessa que teve poucas aulas de esgrima, já que o programa era para ser um seriado, mas se limitou a um especial. "Lutava muito mal se comparar como estou agora", garante o ator. Luigi também não esconde que precisou melhorar muito a sua montaria. Ele já andava a cavalo desde criança, mas não era nada excepcional. Segundo o ator, o que ele fazia era muito pouco para o que Valentim necessita nas inúmeras cenas que aparece geralmente com o inseparável cavalo branco. "O Valentim monta com sela, sem sela, galopa, faz curvas rápidas, empina... Por isso, noto que precisa existir este domínio do cavalo para que o personagem exista", afirma Luigi, com ar mais do que compenetrado. O ator inclusive tenta sempre dispensar os dublês nas cenas de mais ação e por isso tem de se sentir seguro. "Tento não voltar atrás. Só se a cena realmente oferecer perigo", frisa. Luigi aprecia também o fato de ter mudado completamente de visual para trabalhar em ‘A Padroeira’. Ele adora, por exemplo, não ser mais reconhecido como Fred nas ruas. "Teve um cara que veio me perguntar se eu tinha trabalhado em ‘Os Maias’. Achei ótimo, além de engraçado", lembra o ator. O importante para o ator é sempre se transformar para viver um personagem e se tornar uma pessoa nova para o público. "O gostoso de ser ator é o público te chamar pelo nome do personagem", alegra-se Luigi. Por isso, o ator não se incomoda com os dias que tem de usar um grande número de roupas, como camisetas, camisas, coletes e capas sobrepostas. Luigi lembra que no início das gravações chegou a se atrapalhar com tanto pano. "Precisei me adaptar. Me confundia para achar a espada, mas agora tudo bem", diverte-se.Projetos caseiros
Prestes a fazer 30 anos, Luiz Fernando Baricelli demonstra ser bastante maduro. O paulistano que trocou São Paulo pelo Rio há uns seis anos, se prepara para o nascimento de mais um filho com a esposa Andréa, que está grávida de seis meses. O casal, que mora no bairro do Leblon, Zona Sul do Rio, vive em um apartamento com mais dois filhos: Rúbia, de 10 anos, e Vittório, de 3 anos. Avesso a badalações, Luigi garante que quando não está trabalhando passa a maior parte do tempo em casa. Principalmente porque além de ficar perto da família, o clima de paz é perfeito para ele estudar os textos do Valentim. "O importante é saber administrar a carreira e a vida pessoal. O meu objetivo é viver bem e passo o tempo todo cuidando disso", garante o compenetrado Luigi. A preocupação com o próprio bem-estar levou Luigi a pensar no projeto de um portal ecológico na internet. O objetivo é ajudar a melhorar a vida dos outros. Preocupado com as questões ecológicas há muitos anos, o ator garante que sempre alertou para o perigo do desperdício de água no Brasil e a necessidade de um plano para obter outras fontes de energia elétrica. "Canto esta bola do apagão há anos. Era uma coisa óbvia", revolta-se. Por isso, Luigi quer fazer um portal com dicas básicas sobre turismo, reciclagem de lixo, desperdício e economia de energia. "Tem gente que não sabe nem o que é lixo reciclável, por exemplo", explica. Após encerrar sua participação na novela, Luigi também quer se aventurar em produção. Ele pretende produzir e atuar em ‘A Cartomante’, longa que será baseado na obra homônima de Machado de Assis. Desde a época de ‘Laços de Família’ ele está captando recursos, mas teve de parar com o chamado para protagonizar ‘A Padroeira’. "A novela é minha prioridade, mas tenho um imenso desejo de ver o Machado de Assis no cinema", afirma Luigi.