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1. PAISAGENS
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Vila Deanteira coberta com neve - 15 de Fevereiro de 1983, dia de Entrudo:
Vista da aldeia a partir do Pombal de D.ª Georgina, Jardim Silva Carvalho
ainda em construção, Boneco de neve.
. Capela e Povo d´Alem, 1990
. À noite
O primeiro desenho foi feito pelo António em 9
de Agosto de 2003, quando tinha 6 anos... num dia de fogos terríveis em
várias zonas do país.
Nesses dias, nós gostaríamos de ter um carro de bombeiros em Vila Deanteira
para rapidamente apagar os fogos na minha aldeia.
O segundo desenho é o
nosso vale... desenhado e inventado pelo João em
18 de Julho de 2004, quando tinha 5 anos, quase 6. Em primeiro
plano, encontra-se a nossa casa, a meio, o ribeiro da Rainha e do outro
lado, a capela de S. Silvestre. E mais, muito
mais... mas só o João sabe explicar.
Sara Neves
Raposa na
noite da aldeia
Ouço uma raposa para os lados do Pinhal Manso.
As galinhas que se cuidem. Na semana passada causaram estragos na capoeira
de uns nossos vizinhos.
Oh... Afinal, são duas raposas. Não tardam a chegar-se à aldeia.
Os cães já estão em alvoroço.
Vou chamar os meus filhos para as ouvirem.
( Blogue Vila Dianteira - Domingo, 3 de Julho de 2005, 01:29)
No silêncio da
noite
Abro a minha janela. A frescura da noite chega até mim. No céu,
por cima da minha janela, domina Júpiter. Será mesmo Júpiter?
Silêncio. Os meus vizinhos deitam-se cedo. Amanhã será um dia duro, aliás,
como os outros dias.
Um melro agita-se nos salgueiros do ribeiro. Que chinfrineira de grilos! Ao
longe um canto suave, repetitivo... será um rouxinol? Penso que é... que
vergonha não o saber! Os cães ladram, à disputa, em cada canto da aldeia.
O gato da minha vizinha - gato francês, diga-se - passa na rua. Mal se digna
olhar-me. Ah... miou. Recolhe-se a casa, o malandro! Velho, muito velho
mesmo, mas não deixa uma gata sossegada.
Afinal o silêncio é relativo.
A minha casa serena. Está na hora de ir trabalhar...
( Blogue Vila Dianteira - Segunda-feira, 9 de Maio de 2005)
O
sol na magnólia
Acabou de chover torrencialmente.
Agora... o sol rompeu as nuvens negras e doura, com uma luz fantástica, a
casa onde nasceu Silva Carvalho, a casa do meu amigo S. Silvestre e,
sobretudo, a enorme magnólia que se encontra no jardim de uma casa
abandonada, do outro lado do ribeiro.
Olho, da minha janela, a magnólia -
Magnolia
grandiflora. É uma árvore magnífica, centenária, enorme.
Encontra-se em flor. Flores brancas e grandes...
Os donos partiram há muito para residir em Coimbra. A magnólia está só.
Que pena ela não ser minha! Ou melhor ainda, de um pintor!
(Blogue Vila Dianteira - Quarta-feira, 7 de Julho de
2004, 20:17)
Figuras de um sonho
Está uma tarde desagradável, cinzenta, fria e triste.
Uma chuva miudinha, tocada pelo vento, varre o largo em frente à minha casa.
Nos dias assim, sempre houve pessoas na minha terra a sair para a rua. Não é
porque tenham algo para fazer. Saem, simplesmente.
Nunca percebi bem porquê. Será que em dias assim a tristeza é maior dentro
de casa?
Há pouco passou uma senhora idosa; sem pressa; parou a falar com uma minha
vizinha que estava à janela.
Agora é um senhor já idoso e um rapaz na meia-idade, tio e sobrinho.
Chapéus-de-chuva abertos, apoiados nos ombros. Param sobre o pontão do
ribeiro. Olham para um lado, olham para o outro. A chuva fustiga. Ali estão
a conversar. Os chapéus tocam-se.
São figuras de um sonho.
( Blogue Vila Dianteira - Quarta-feira, 26 de Novembro de
2003, 16:34)
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2. FESTIVIDADES
CÍCLICAS
2.1. FESTA DE S. SILVESTRE
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Procissão de S. Silvestre -
Janeiro de 2001
.
Procissão de S. Silvestre -
4 de Janeiro de 2004
O
meu vizinho S. Silvestre
Além, do outro lado do ribeiro, mora o meu vizinho S. Silvestre. Uma luz de
fim de tarde doura-lhe a casa.
Vive na minha terra desde o século XVI.
Terá nascido numa das oficinas dos escultores de Coimbra, subiu de barco o
rio Mondego até à Raiva e depois, a partir daí, um carro de bois tê-lo-á
conduzido com mil cuidados até Vila Deanteira.
Na cabeça possui uma tiara de três coroas,
atribuindo-se às três coroas o significado da tripla jurisdição do papa:
sobre a Terra, sobre o Purgatório e sobre os Céus, como representante de
Cristo; na mão esquerda segura a cruz papal com três braços, que representam
as funções de padre, de doutor da Igreja e de pastor; a mão direita
prepara-se para abençoar e por isso tem somente dois dedos levantados - um
mordomo, com a alcunha de Carriço, dirigiu-se-lhe certo dia, com o cesto de
chouriças do peditório na mão, perguntando: - Meu divino mestre, quantas
chouriças precisais? (o meu vizinho, bondoso por natureza, manteve os dois
dedos no ar). Duas... não é verdade? Pois então nós iremos comer as outras.
Sai em procissão pelo final do ano e
percorre as ruas da aldeia; ruas que parecem longas, muito longas para os
homens que levam o andor - o santo é de pedra e deixa marcas mesmo nos
ombros mais calejados.
Já foi o protector dos meus pais, dos meus
avós, dos meus bisavós... e agora é o protector do pessoal cá de casa.
Um amigo meu não entende
como é que uma
pessoa como eu pode ajoelhar e rezar para uma pedra.
(Blogue Vila Dianteira - Sexta-feira, 25 de Julho de 2003)
2.2. QUEIMA DA COMADRE
Em breve...
2.3. PÁSCOA
Feliz Páscoa!
O Domingo de Páscoa acordou bonito, cheio de sol, na minha aldeia.
A
Páscoa é a festividade do ano que eu mais gosto.
Quando
eu era miúdo, a vida na minha terra, nos dias antecedentes ao de hoje, era
uma azáfama.
A
aldeia era primorosamente limpa. As casa levavam a limpeza do ano: soalho
bem esfregado, paredes pintadas e mudavam-se os papéis das cantareiras e dos
armários. Os fornos não tinham parança; à vez, as famílias faziam os seus
pães-de-ló - o melhor ia para a mesa de Páscoa. A rapaziada adorava - corria
de forno em forno para limpar os alguidares.
A Cruz
chegava à aldeia cedo. Vinha o padre, o irmão que levava a cruz, um ajudante
e dois rapazolas, um que levava a água-benta e o outro a campainha.
Os
nossos familiares, que viviam em outras aldeias da freguesia, juntavam-se
aqui para beijar
a Cruz.
Um
rancho de miúdos e graúdos corria de casa em casa.
Tudo se
conjugava para dar grande relevo ao dia.
Hoje é
tudo mais simples. É assim...
( Blogue Vila Dianteira - Domingo, 11 de Abril de 2004)
2.4. NATAL
O nosso Natal
Há pouco, à lareira, ao calor do cepo que vai arder durante toda
a noite, li "Um Natal" de Truman Capote. Os meus filhos gostaram.
Há, de
facto, muitas maneiras de se viver o Natal e é bom que estejamos preparados
para todas elas.
Este ano quebrou-se a tradição. Não lemos o "Natal" do Garrinchas. No
entanto os "Novos Contos da Montanha", de Miguel Torga, estiveram presente na
nossa noite de Natal, ao colo de um dos meus filhos. Este ano o Garrinchas
ouviu a história do pequeno Buddy. Achámos que era melhor assim, para não
ferir susceptibilidades.
Agora, que uma calma especial se instala em minha casa, que os meus filhos já
dormem, que o padre que os baptizou celebra a Missa do Galo na RDP 1, vou ler a
«Morgadinha dos Canaviais», de Júlio Dinis. Vou ler, na modorra da lareira,
mais uma vez, a visita da Morgadinha, em Noite de Natal, ao Tio Vicente. O
que é que querem? Eu gosto!
( Blogue Vila Dianteira - Sábado, 25 de Dezembro de 2004)
A minha Noite de Natal
No início da noite o meu pai e os meus irmãos foram buscar um
grande cepo para acender a lareira. Eu e a minha mãe fizemos sonhos e
filhóses.
A nossa ceia foi o tradicional bacalhau com batatas e couves. A minha mãe
serviu a ceia numa grande travessa e comemos todos dela ao calor da
fogueira.
A seguir lemos o conto "Natal" de Miguel Torga, que fala dum mendigo chamado
Garrinchas. Este ano li-o eu e para o próximo ano será o meu irmão António
que anda no 1.º ano.
Ao fim da noite, pusemos uma das nossas botas perto da lareira e fomo-nos
deitar. Ao outro dia estavam as nossas botas cheias com presentes do "Pai
Natal".
As minhas prendas favoritas foram uma estola, uma pequena agenda electrónica
e um livro chamado "Portugal - História e Lendas" escrito por Ana Maria
Magalhães e Isabel Alçada.
Sara Neves, 9 anos
( Blogue Vila Dianteira - Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2003)
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3. MODUS VIVENDI
. Ao sol... preparando o Inverno!
. Ainda ao sol...
na «casa» construída pelo João!
No
silêncio da noite - O Homem veio ao mundo para...
Há pouco, ao calor da lareira, falámos de Belmiro de Azevedo, da
OPA sobre a Portugal Telecom, dos tempos difíceis que esperam os jovens, da
precariedade do emprego, dos dramas que isso acarreta, etc.
Nós temos na nossa cozinha uma lareira verdadeira, onde se fumaram muitas
chouriças, morcelas e farinheiras e onde colocamos lenha verdadeira a arder,
que enche de luz e calor o espaço envolvente.
Dissemos aos nossos filhos que o Homem não veio ao mundo para ser escravo do
trabalho. Como dizia o Professor Agostinho da Silva, o Homem veio ao mundo
para ser feliz e ter prazer.
Por isso gostaríamos que os nossos filhos fossem construindo a sua autonomia
em relação ao mundo capitalista e escravizador em que vivemos. Gostaríamos
que eles nunca viessem chorar para a televisão por terem perdido o emprego e
encarassem esse facto, se possível, como uma libertação.
Contámos-lhe como fomos criados e se vivia somente com o produto da terra. A Terra-Mãe é a mesma e está sempre pronta a fornecer-nos o essencial para a
nossa vida. De pouco mais precisamos. É preciso que, independentemente da
profissão que venhamos a desempenhar, conheçamos como a trabalhar para que
ela nos possa tornar autónomos.
( Blogue Vila Dianteira - Quarta-feira, 8 de Fevereiro de
2006, 00:10)
O meu livro da
2.ª classe
Este foi o meu Livro de Leitura da Segunda Classe.
Claro... lembro-me bem de o meu professor me
pedir para ler... e eu "naturalmente" comecei a ler a primeira lição: "Livro
meu muito amado". O mestre vindo da parte detrás da sala deu-me um estabefe.
Eu deveria ter lido o título, o nome dos autores, a editora e o preço! E não
é que eu dei-lhe, e dou-lhe hoje ainda, razão! E não abro um livro sem seguir à
risca o conselho do meu professor.
Lembro-me bem da "Carta do Paulo ao Duarte", do "Rato do Monte e o Rato do
Moinho", do "Coelhinho Branco" (- E eu sou a Cabra Cabrês que te salto em
cima e te faço em três), da "Lengalenga" do galo e da galinha, de "O Macaco
do Rabo Cortado", de "A História da Carochinha", de "Os Gatos Janotas", de
"Uma Sessão de Cinema na Escola" (ainda não tinha visto um filme
projectado), do "Piloto", de "O Amigo"... enfim...
Mas... lembro-me sobretudo das ilustrações de Maria Keil e de Luís Filipe de
Abreu.
De Luís Filipe de Abreu falarei numa outra altura.
Na verdade, Maria Keil foi para mim uma paixão à primeira vista. Muito eu
tentei copiar os seus desenhos. O problema era a concisão e simplicidade do
seu traço.
Nos anos seguintes procurei seguir a sua obra e adquirir os livros por si
ilustrados. No meu sótão, dos tempos de Coimbra, tinha na parede uma
reprodução feita por mim de um dos seus desenhos.
Há dias, foi com muito prazer que visitei na
Biblioteca Nacional a exposição "Maria
Keil - ilustradora" que decorrerá entre 9 de Setembro e 20 de Novembro
de 2004. E lá estava o meu livro da Segunda Classe!
( Blogue Vila Dianteira - Terça-feira, 21 de Setembro de
2004, 22:33)
Para a escola
No velho casarão
do convento é que era a aula. Aula de primeiras letras. A porta lá estava,
com fortes pinceladas vermelhas, ao cima da grande escadaria de pedra, tão
suave que era um regalo subi-la. Obra de frades, os senhores calculam... Já
tinha principiado a aula quando a Helena entrou comigo pela mão. Fez-se um
silêncio nas bancadas, onde os rapazes mastigavam as suas lições e a sua
tabuada, num ritmo cadenciado e monótono, cantarolando. E ouviu-se então a
voz da Helena dizer para o Sr. Professor, um de óculos e cara rapada,
falripas brancas por baixo do lenço vermelho, atado em nó sobre a testa:
- Muito bons dias. Lá de casa mandam dizer que aqui
está a encomendinha.
Oh! Oh! A encomendinha era eu, que ia pela primeira vez
à escola. Ali estava a encomendinha!
- Está bem, que fica entregue. E lá em casa como vão?
E quando o velho professor me tomava sobre os joelhos,
a Helena enfiava-me no braço o cordão da sacola vermelha, com borlas, onde
ia metido nem eu sabia o quê. Meu pai é que lá sabia... E ali estava eu
entre os joelhos do Sr. Professor, com o boné numa das mãos e a saquinha
vermelha na outra, muito comprometido. A Helena, que sorria contrafeita,
baixou-se para me dar um beijo, e disse-me adeus.
Choraminguei, quis sair na companhia dela.
- Não, agora o menino fica - disse-me a Helena. - Isto
aqui é uma escola onde se aprende a ler. - E agachando-se, diante de mim: -
Olhe tanto menino, vê?
- Mas fica tu também... - disse-lhe eu então.
Nas bancadas houve hilaridade geral. O mestre teve de
intervir, iracundo:
- Caluda, sua canalha! Não vêem que está gente de fora?
Caluda, que vai tudo raso com bolaria!
Trindade Coelho (1861-1908) -
Os Meus Amores - Contos e baladas,
16.ª Edição, págs. 125 e 126, Portugália Editora, Lisboa, 1978.
Também eu não queria ir para a escola.
Ameacei. Havia de ir às castanhas do Malhão e os meus pais ainda me iriam
visitar à prisão!
Nem assim resultou. Manhãzinha, no primeiro dia de aulas, os meus colegas de
Vila Deanteira bem me chamavam em frente à minha casa. Não ia e não ia!
O meu pai teve de intervir. A minha mãe, para acalmar os ânimos, resolveu ir
levar-me. A escola era e ainda é em S. João de Areias e fizemos o caminho a
pé, uma parte dele ao colo de minha mãe. Ainda hoje sinto vergonha por isso!
O bom do Manel Gago, já então na 3.ª classe e meu grande amigo, esperou por
mim.
Ao chegar à escola, a minha mãe dirigiu-se à metade das meninas, onde
leccionava uma professora que, dizia-se, ensinava bem e era exigente. É
claro que ali só entravam alguns meninos e portanto a professora rapidamente
indicou a metade dos rapazes para onde eu deveria ir.
Já todos tinham entrado. Olhei para dentro da sala e era a confusão total.
Os alunos falavam alto e andavam de carteira em carteira. A minha mãe
entregou-me ao professor e eu, ainda com as lágrimas nos olhos, lá me fui
sentar na fila da 1.ª classe. O professor permitiu que o Manel se sentasse
(só nessa manhã!, deixou ele bem claro) na minha carteira.
Foi o primeiro acto de gratidão, de muitos, que devo a esse meu primeiro
mestre; deixava-nos andar à solta na sala e dava-nos "licença de lá ir fora"
em grupos de 7, 8 e mais, para fazermos as nossas "necessidades" no recreio
da escola (não havia casas de banho), e nós aproveitávamos para jogar uma
partidinha rápida de futebol.
A manhã desse primeiro dia foi passada a fazer um desenho. Uma pequena
ponte, num lado da qual se encontrava um moinho que por artes mágicas sugava
as águas que faziam mover as mós, e, do outro, um burro carregado com as taleigas de farinha e puxado pelo moleiro.
Vim almoçar a casa já feliz. Nunca mais saí da "escola"!
( Blogue Vila Dianteira - Sábado, 28 de Agosto de 2004,
14:56)
Poda e empa
das minhas videiras
Acabei hoje a poda e a empa das minhas videiras.
É um trabalho duro, mas gosto de o fazer. A nossa vida passa-se em grande
parte fechada em casa, sentados em frente ao computador. Sabe bem ir para o
campo, trabalhar duro, descarregar as energias acumuladas.
O trabalho da última semana tem consistido em cortar as varas das videiras
que estão a mais e vergar e distribuir correctamente as varas escolhidas.
Trabalharam comigo dois rapazes da minha criação, aliás um pouco mais
velhos, e um rapaz mais novo, já de outra geração.
Os dois mestres são pessoas de poucas falas; concentram-se no trabalho e
reduzem a conversa ao mínimo. O mais novo, o ajudante, assobia, canta e fala
sozinho; é o foco de algumas piadas.
Há, no entanto, momentos em que se trabalha em silêncio. Cada um de nós faz
o trabalho que lhe compete e... recolhe-se em si próprio e pensa.
Eu sei em que penso. Mas em que pensarão os meus colegas? Olhava-os de
soslaio... compenetração total, em volta, só os ruídos da passarada.
São as várias dimensões da Vila Deanteira...
( Blogue Vila Dianteira - Sábado, 21 de Fevereiro de 2004,
23:23)
Vindima
Hoje
comecei a minha vindima.
Excepcionalmente, este ano vindimámos primeiro as uvas tintas.
As videiras tinham uma boa produção e as uvas estavam sãs. Prevejo uma boa
pomada!
Acabei agora de dar a 1.ª volta (uma ligeira calca).
Amanhã será a calca.
No Domingo a 2.ª volta. Na segunda de manhã uma 3.ª volta e à tarde tiramos
o vinho para as pipas.
Tudo é feito sem recorrer a maquinaria. Impera o método tradicional.
A fermentação já começou.
A bicharada que veio com os cachos de uvas - aranhiços, bichas-cadelas, etc.
- foge a sete-pés.
A parte da minha casa que se situa por cima da adega e do lagar é
assoalhada.
Estão mesmo a ver o que está a acontecer... esta bicharada penetra pelas
frestas e sobe cá para cima. É uma festa!
( Blogue Vila Dianteira - Sábado, 27 de Setembro de 2003)
As minhas videiras
Esta manhã curei as minhas videiras.
Trato-as bem porque gosto de
ter um bom vinho e de oferecer um copo a um amigo.
Hoje usei uma mistura de
fungicidas para o míldio, para o oídio e para a podridão. É uma luta
constante entre mim e os malvados dos fungos. Tenho-lhes dado uma coça.
Mas tive uma desilusão quando
cheguei perto das videiras. O sol intenso e o calor dos últimos dias
queimaram muitas das uvas.
Lembrei-me do camponês da
"Romagem dos Agravados" de Gil Vicente:
-
De que te queixas, vilão?
- De Deus, que é coisa provada
Que me tem grande tenção.
Vede vós? Eu, padre, digo
que chove quando não quero,
e faz um sol das estrelas,
quando chuva alguma espero.
Ora alaga o semeado,
ora seca quant´i há,
ora venta sem recado,
ora neva e mata o gado,
e a Deus tanto se lhe dá...
( Blogue Vila Dianteira - Sábado, 2 de Agosto de 2003)
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4.
GRANDES MOMENTOS
. Inauguração do busto a Silva
Carvalho - 11 de Setembro de 1983 (Fotografia de David
Pereira de Oliveira)
. Busto de Silva Carvalho,
1996
. Jardim Silva Carvalho e área
envolvente vendo-se ao fundo as carvalhas, 1996
.
Capela e Casa de Silva Carvalho
enquadrando as carvalhas e os cedros em 1996
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5.
REFLEXÕES
Já estou na minha
terra!
Chegámos!
Já tinha saudades da minha aldeia. Não consigo passar os meus anos longe
dela!
A minha ligação a esta terra sempre foi muito forte e de facto este
território sempre constituiu para mim uma Mãe-grande.
Quando vivi longe da minha terra e me surgiam problemas, corria para cá...
não era só para as saias dos meus familiares... para perto das pessoas com
quem brincara em pequeno... era também para este território... para estas
árvores, para perto destas penedias, para estes espaços físicos, junto dos
quais, por inexplicável força telúrica, me sentia protegido...
Por isso... gosto tanto da minha aldeia e tudo o que faço por ela, faço-o
para pagar o conforto espiritual que me tem dado...
(Blogue Vila Dianteira - Segunda-feira, 16 de Agosto de 2004,
22:04)
Herdei três livros
O
meu pai deixou-me o "Dicionário de Língua Portuguesa" de Francisco Torrinha,
numa edição de 1932.
A minha mãe deixou-me "A Morgadinha dos Canaviais" de Júlio Dinis e o "John,
Chauffeur Russo" de Max du Veuzit.
O dicionário ainda o utilizei durante anos.
Os romances li-os e reli-os: "Ao cair de uma tarde de Dezembro, de sincero e
genuíno Dezembro, chuvoso, frio, açoutado do sul e sem contrafeitos sorrisos
de primavera..." e "No pátio lajeado de um grande palácio da Avenida Marceau,
em Paris, estava parado um luxuoso auto, de cor sóbria e linha
impecável...".
Os meus filhos vão herdar as paredes que me envolvem cheias dos livros que
tenho vindo a comprar. Todos foram namorados antes de virem cá para casa.
Por cada "amigo" que acrescentava à minha biblioteca pensava: - Que sorte
vão ter os meus filhos! Já possuirem à nascença todas estas preciosidades!
Mas agora já não tenho a certeza de que é mesmo assim...
A minha filha prefere "os seus livros"! Os que lhe oferecem e os que ela
compra com as suas economias.
Mas eu até tenho uma belíssima colecção de livros infantis... Nem ainda os
tentou ler!
Quantos livros afinal, de facto, lhe deixarei? A ver vamos.
(Blogue Vila Dianteira - Quinta-feira, 22 de Janeiro de 2004,
23:40)
Maldade
A
sorte é madrasta para algumas pessoas.
Na minha terra lembro-me de algumas vidas sempre se confundirem com o
trabalho.
Partiam cedo para o emprego. No Verão já levavam pelo menos uma hora de
labuta no campo. No Inverno saíam noite escura, pela chuva, pela geada, pelo
frio de rachar.
Marcavam as horas da minha terra. Ao ouvirem-se determinados passos, um
barulho característico de bicicleta ou de motorizada, já se sabia quem
partia e que horas eram...
Eu enroscado no aconchego da minha cama assistia a tudo.
Era assim a vida dos adultos!
Hoje, essas pessoas entraram na reforma.
O que deveria ser um período de descanso, de dedicação aos seus mimos
agrícolas, aos netos, a si próprios... acaba por transformar-se em período
de doença, de sofrimento e de morte.
É uma grande maldade.
E nestas alturas apetece-me chamar nomes a quantos santos há, até ao meu
vizinho S. Silvestre.
(Blogue Vila Dianteira - Terça-feira, 16 de Dezembro de 2003,
23:11)
Vazio
Abate-me
muito o falecimento de alguém da minha terra.
Apetece-me ficar só... com os meus
pensamentos.
Quando era miúdo corria as casas da
minha aldeia que fervilhavam de vida. Todos me
acolhiam como se fosse lá de casa.
Agora custa-me ver partir mais uma
pessoa.
Encontrar-nos-emos um dia. Haverá uma
mesa muito comprida onde estarão todos os meus amigos e eu servir-lhes-ei um
bom vinho do Dão e um bom presunto que hei-de levar cá de baixo.
Tenho a certeza que isto acontecerá.
(Blogue Vila Dianteira - Segunda-feira, 28 de Julho de 2003)
Já estou na minha
terra!
É
uma alegria quando deixo a IP3 em direcção à minha aldeia.
Chega-me logo um cheirinho... (igual ao do Jacinto, de "A Cidade e as
Serras" de Eça de Queirós, lembram-se?).
A estrada, desde o alto da Formiga, é ladeada por árvores centenárias que
nos cumprimentam à chegada. Algumas já são saudade, morreram por doença ou
por malvadez humana.
Chego ao coração de Vila Deanteira - o Jardim Silva Carvalho. Estou em casa!
(Blogue Vila Dianteira - Domingos, 31 de Agosto de 2003)
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