A ARTE DE SER DESPEDIDO

Dependendo da maneira como você reaja, o que é uma situação desagradável - mas superável - pode se transformar numa calamidade

Por Andrea Assef@email.abril.com.br

Quando seu chefe chama você para uma conversa reservada e, com ar grave e compungido, diz logo de saída que "sente muito", você está prestes a sentir a terceira maior dor que um ser humano é capaz de sofrer. Você vai começar aquela conversa funérea preocupado e terminá-la arrasado por um dos maiores impactos emocionais que podem acometer uma pessoa. De acordo com uma pesquisa feita pelos médicos americanos Thomas Holmes e Richard Rahe, essa dor só é superada, em primeiro lugar, pela perda de um filho. Em segundo, pela perda do marido ou da mulher ou dos pais.

É um sentimento devastador, capaz de provocar reações inesperadas, intempestivas - e freqüentemente desastrosas. Dependendo da maneira como a pessoa reagir, uma dor terrível mas superável pode acabar liquidando uma carreira. Os problemas que o demitido enfrenta podem se manter no tamanho normal ou ganhar proporções de calamidade a partir da reação àquela conversa desagradável descrita no início desta reportagem.

A questão é: como reagir quando se é demitido? Como se controlar para não piorar ainda mais uma situação já suficientemente ruim? Sim, a vontade é dar um tapa na cara do chefe. Um tapa estridente, para que todos no escritório ouçam. O.k., todo mundo ouviu. Agora você está preparado para pagar o preço do tapa? O pacote de saída que sua empresa lhe daria vai ser engavetado. Essa história vai correr. E quem é o chefe que vai contratar alguém que pode esbofeteá-lo na saída?

"Não importa o quanto enfurecido e irritado você esteja, não queime nenhuma ponte", diz a consultora americana Rosanne Beers, da Beers Consulting, de Iowa, nos Estados Unidos. Uma das especialidades de Rosanne é prestar consultoria a executivos que perderam seus empregos. "Quando a pessoa não sabe lidar com suas emoções e reage de forma violenta, normalmente acaba tendo de voltar atrás, pois vai precisar ter boas referências de seu ex-chefe para um novo emprego", diz Rosanne. "Não se esqueça de que você ainda está à mercê da companhia."

Não se pode dizer que ser demitido se tornou algo banal e vulgar. Seria um exagero. (E até uma ofensa para a dor de quem perdeu o emprego.) Mas aquele estigma que cobria o demitido nos tempos em que os empregos eram para sempre se esvaneceu nestes dias de enxugamentos em escala global. Isso porque o ato de demitir (e com ele o ato de ser demitido) virou um dos mais corriqueiros - ainda sempre dolorosos - do mundo corporativo.

Apenas um exemplo: em 1986, quando a Volkswagen e a Ford se fundiram e se transformaram na Autolatina, havia 75 000 funcionários na empresa (considerando-se as operações brasileira e argentina). Oito anos depois, quando as duas montadoras se separaram, apenas 54 000 tinham permanecido. Dos 2 200 gerentes que existiam no momento da união, sobraram 900 na desunião. Outro exemplo: em 1991, o banco Itaú tinha 50 000 funcionários. Hoje tem cerca de 36 000.

"Há 10 anos, a demissão estava ligada ao fracasso. Hoje ninguém tem a menor restrição em contratar alguém que tenha sido demitido", diz Carlos Faccina, diretor de recursos humanos da Nestlé. Um estudo da Drake Beam Morin, mais conhecida como DBM, a maior empresa de recolocação de executivos do mundo, revela que há 20 anos o profissional trocava de emprego apenas duas vezes, em média, em toda a carreira. Há dez anos já mudava quatro vezes. Atualmente são oito vezes. Na metade delas a troca de emprego é conseqüência de demissão.

SITUAÇÃO PENOSA - Hoje sabe-se que a perda do emprego não está necessariamente ligada a questões de desempenho. Uma pesquisa feita com 1 000 empresas americanas no ano passado mostrou que mais de 60% delas iriam demitir gente em decorrência de corte de custos ao longo de 1997. A demissão integrou-se no dia-a-dia das empresas. É uma coisa que pode acontecer com qualquer um. Bem, esta é uma maneira um tanto genérica de abordar o tema. Vamos personalizar a discussão. Você. Você saberia como agir se acontecesse com você? (Isso supondo que já não tenha acontecido.) O chefe chama você e...

Que fazer para não complicar consideravelmente uma situação que já é suficientemente penosa?

"Deixe o escritório com uma atitude positiva, pois você será sempre lembrado dessa maneira", afirma a americana Letitia Baldridge, autora de um guia de maneiras executivas consultado internacionalmente. Letitia ocupou quase três páginas do seu livro com conselhos sobre como reagir à demissão. Ela lembra que é um momento para o qual nenhum executivo foi treinado ou preparado. Na opinião dela, a demissão é um episódio estressante e terrível, mas todos nós temos as armas para sobreviver a ele. Basta saber usá-las.

Os americanos Willian J. Morin e James C. Cabrera, especialistas em recolocação de executivos, escreveram um livro sobre o assunto. O título: Como Sobreviver à Perda de um Emprego e Ser Bem-Sucedido no Encontro de Outro. No prefácio, Morin e Cabrera avisam que não há como escapar da dor e da raiva que acompanham a perda do emprego. "Mas você pode controlar e dissipar esses sentimentos e até transformá-los num triunfo pessoal e profissional", dizem eles. É preciso entender que a sua dor é única, só você sabe o que está sentindo. Mas a situação que você atravessa não é.

E então: o que fazer se você for demitido? Suponha a seguinte situação: você acaba de saber que foi demitido. E aí, você faz o quê? A resposta: nada. Coloque um zíper na boca. Respire fundo e apenas escute tudo o que o seu chefe tem para dizer. Ou pelo menos finja que está escutando, porque provavelmente a essa altura você vai estar numa outra órbita e não vai ouvir mais nada do que ele diz. Você vai sentir um aperto no peito, um buraco no estômago, uma zoeira na cabeça. "Na hora do baque, a sua reação vai ser proporcional aos seus sentimentos naquele momento", diz Victoria Bloch, diretora da DBM no Brasil. "Você pode dizer coisas que não diria 10 minutos depois." Coisas das quais talvez se arrependesse antes de chegar ao elevador.

Se você perceber que não há condição de continuar a conversa, peça uma reunião para o dia seguinte. Você precisa de tempo para se recuperar do golpe e colocar as idéias no lugar. O melhor a fazer pode ser sair do escritório. "Se você decidiu sair imediatamente, faça isso. Nem volte para a sua mesa, não converse com ninguém", dizem os consultores Morin e Cabrera. Após receber uma notícia dessas, você poderá suspeitar de que perdeu o controle da sua vida. Vá para casa, o lugar que será o seu porto mais seguro nesse momento. Ao voltar para a sua realidade, você vai começar a entender que o seu emprego é apenas uma parte da sua história. Lembre-se, você foi demitido do emprego e não da sua vida.

Letitia Baldridge tem conselhos práticos para quem acaba de perder o emprego. Suas recomendações às vezes não batem com as de Morin e Cabrera, o que demonstra sobretudo como é complicado este assunto. Os dois sugerem o silêncio depois da demissão. Letitia não. Para ela, a primeira coisa a fazer é contar a má notícia aos colegas do escritório. Mas em conversas reservadas. Nada de juntar um grupinho no meio do corredor e fazer um show do tipo "Esta é a minha vida". Se você, diz Letitia, passar as informações corretas, os rumores que cercam quase todas as demissões tenderão a se dissipar. Aproveite a conversa, sugere Letitia, para elogiar a turma da qual você se despede. "Diga o quanto você apreciou trabalhar com eles. Não seja tímido, demonstre os seus sentimentos. As pessoas gostam de demonstrações de carinho", afirma Letitia.

Mais uma recomendação de Letitia: escreva uma carta para o principal executivo da empresa, com cópias para os funcionários. Diga o quanto você apreciou trabalhar na empresa, ser membro desse time. "Mesmo que não seja verdade, vai ser melhor você sair com uma imagem simpática em vez de mostrar o rancor esperado por todos", diz Letitia. Ela sugere que você escreva também uma carta para cada um dos colegas com quem teve um bom relacionamento durante o tempo em que trabalhou na empresa.

Por que tudo isso? Para mostrar que você é bonzinho? Não. Para melhorar a sua situação. "Mantenha o seu bom humor, pois assim as pessoas vão querer continuar se relacionando com você e estarão mais dispostas a ajudá-lo", aconselha Letitia.

Ah, sim: não pense só em você. Pense também em sua secretária, que - pobrezinha, sem culpa de nada - está em apuros por sua culpa. (Calma: também não é culpa sua. Mas mesmo assim ela está em apuros.) Os bons modos executivos impõem que você faça tudo o que estiver ao seu alcance pela sua secretária ou assistente. Fale com o pessoal da empresa para tentar encaixá-la em outra vaga e faça uma maravilhosa carta de recomendação para ela.

NÃO TENTE BARGANHAR - E no dia seguinte ao anúncio de demissão? O que você faz? Após uma boa noite de sono (ou, mais provavelmente, de insônia), você vai estar um pouco mais acostumado com a idéia. "A partir desse momento, você tem que se convencer de que as pessoas não vão automaticamente discriminá-lo ou pensar que você é um incompetente porque foi demitido. É importante mostrar ao mundo (e a você mesmo) o quanto é resistente."

Em caso de dúvida sobre alguns aspectos de sua saída, volte ao escritório e tenha uma boa conversa com o chefe. Diga que quer uma conversa franca. Você precisa saber honestamente por que foi demitido, pois isso vai ajudá-lo na sua carreira dali para a frente. Não tente barganhar. Jamais peça para ficar até terminar um projeto e nunca diga coisas do tipo: "Demita fulano que é mais jovem que eu e não tem filhos".

Além de continuar demitido, você terá dificuldades, com expedientes como esse, em olhar para o espelho. "Não se humilhe, pois é uma decisão que não tem volta", diz Victoria, da DBM. Em seguida, peça para que ele repita novamente tudo o que dissera no dia anterior, principalmente a parte do seu pacote de saída. Anote todas as informações. Isso vai sinalizar que você tem consciência do seu valor e pretende negociar muito bem a sua saída. A empresa vai querer ver você longe o mais rápido possível porque você se transformou numa embaraçosa lembrança para todos do que pode acontecer com eles um dia. Mas isso não é problema seu. Não aceite a primeira oferta só para sair rápido de cena. Você não é um criminoso. Vá com calma.

Procure obter mais benefícios pela sua saída: ampliação do tempo de cobertura do plano de saúde, um valor maior na indenização, a possibilidade de ficar por mais algum tempo com o carro da empresa ou até mesmo com os serviços da sua secretária. "As chances de você melhorar o seu pacote de saída são enormes porque a empresa sempre pode mais do que está oferecendo", diz José Augusto Minarelli, da Lens & Minarelli, uma empresa de recolocação de São Paulo.

Após a conversa em que o chefe comunica a má notícia, é possível que a primeira pessoa que você veja pela frente seja um profissional de recolocação. Cada vez mais as empresas estão buscando a ajuda desses especialistas na hora de fazer uma demissão. Muitas vezes eles ficam de plantão na sala ao lado enquanto você está recebendo a notícia. Pode parecer uma atitude muito fria e calculada por parte do seu chefe. E é isso mesmo. Em vez de se melindrar com a atitude dele, tire o melhor proveito da situação.

"É bom ter alguém por perto quando você acaba de romper com toda uma história de vida", diz Victoria. É até melhor que se trate de uma pessoa estranha, pois você pode reagir do jeito que quiser. Victoria já esteve na sala ao lado de várias empresas e assistiu a todos os tipos de cena, da torrente de impropérios às lágrimas silenciosas. (Impropérios ditos diante de uma pessoa "neutra", como Victoria, são uma coisa. Ditos ao chefe são outra, infinitamente mais ameaçadora para a carreira de quem perde o controle.)

Na opinião de Minarelli, que também tem experiência em atender executivos assim que eles recebem a comunicação da demissão, o momento da catarse é aquele em que o demitido está diante do especialista em arrumar novos empregos. "Enquanto você estiver sozinho com o profissional de recolocação, aproveite para desabafar, dizer tudo o que pensa", diz ele.

Minarelli atua de acordo com a reação do demitido. Se a pessoa estiver muito ansiosa, Minarelli pode recomendar que saia de cena por uma semana e feche para balanço. Ela está precisando de um tempo para reordenar as idéias. Se o demitido estiver agindo de forma demasiadamente passiva, será instigado a reagir. A se mexer. Nada de descansar. É hora de voltar à ativa. "O nosso objetivo é colocar a pessoa de novo nos trilhos", diz Minarelli.

MAIORES BOBAGENS - Em algumas empresas não é o especialista em recolocação que entra em ação logo após a má notícia. É gente da casa mesmo. A Alcoa, por exemplo, estabeleceu uma entrevista de desligamento que acontece logo após a demissão. O teor da conversa, mantida em sigilo, é transmitido apenas ao diretor de RH e ao presidente da Alcoa. A idéia é saber mais sobre cada caso. "Se três pessoas de uma mesma área não sabem por que foram demitidas, existe algo errado. De repente é o chefe que deve ser mandado embora", diz José Taragano, diretor de RH e qualidade da Alcoa.

Morin e Cabrera acreditam que as primeiras 72 horas depois da demissão representam o período mais propício para que você cometa as maiores bobagens. Você, lembram eles, ainda vai estar de cabeça quente e sendo bombardeado por um turbilhão de emoções. Suas idéias poderão estar em pane. Com a palavra um expert em idéias em pane. "Não adianta ficar ruminando coisas do tipo 'onde errei' ou 'e se eu tivesse feito isso ou aquilo'", diz o psiquiatra Henrique Schützer Del Nero. "Essa visão paranóica vai atrapalhar a sua recuperação." Pelo divã do psiquiatra já passaram altos executivos que se encontravam destroçados por uma demissão. Um conselho de Del Nero: "Você precisa se sentir como um passageiro de um processo que não tem em você o culpado ou o inocente".

Esse é o momento de se concentrar e entender o que aconteceu com você. Não atenda ao seu primeiro impulso de sair correndo em busca de um novo emprego. Você vai estar tão atordoado que não terá condições de avaliar se o emprego é bom ou não. Vai querer agarrar a primeira coisa que vir pela frente. "Isso é como tentar montar num cavalo que acabou de derrubar você no chão", dizem Morin e Cabrera. O melhor a fazer, segundo eles, é parar, calcular o tamanho do tombo e checar os danos. Nesse momento, você tem duas prioridades: lidar com as suas emoções e enxergar o lado prático da sua sobrevivência dali por diante.

Vamos começar com o lado emocional. "Não pense que dá para esconder as suas emoções. Elas estarão estampadas na sua testa e não vão desaparecer se você simplesmente ignorá-las", dizem Morin e Cabrera. Vários estudos do Michigan Prevention Research Center, do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan, revelam que a perda do emprego é.

 

BOM HUMOR - "Cada pessoa tem uma capacidade própria de lidar com isso. Muitas vezes ela precisa de uma ajuda externa para superar o baque", afirma ele. Segundo Araújo, não é incomum o caso de executivos que passam a usar drogas ou abusar do álcool na tentativa de restabelecer o bom humor. E atenção, mulheres. Segundo Araújo, as mulheres, que já carregam uma carga de pressão por causa da jornada dupla e do sentimento de culpa em relação a deixar os filhos para ir trabalhar, têm uma chance de duas a três vezes maior de sofrer de problemas psicológicos ao serem demitidas.

Um presidente de uma grande corporação e um gerente médio reagem praticamente da mesma maneira à perda do emprego. Uma pessoa com apenas dois anos de empresa se sente tão chocada quanto a que estava há 20 anos no mesmo emprego. Essa é a conclusão de Morin e Cabrera após terem acompanhado cerca de 15 000 casos de recolocação ao longo de suas carreiras. Ou seja, a sensação de ter sido atropelado por um caminhão é a mesma para todos. A dor e o sentimento de frustração e de impotência são os mesmos para qualquer pessoa. O que muda de uma pessoa para outra é a reação.

Há o caso, por exemplo, da secretária de uma grande companhia multinacional, com sede em São Paulo, que não conseguia aceitar o fato. Depois de demiti-la, o chefe disse que ela poderia ficar na empresa até encontrar outro emprego. Ela ficou seis meses. Foi uma situação constrangedora no escritório. Todos os dias ela aparecia na empresa, se sentava à sua mesa e agia como se estivesse realmente trabalhando. A situação chegou a um tal ponto que a empresa decidiu mudar todo o layout do escritório mas manteve o espaço dela no mesmo lugar, completamente deslocado do novo cenário - assim como a própria secretária. Ela precisou de um acompanhamento psiquiátrico para superar a crise.

Outro caso quem conta é a dupla de especialistas americanos Morin e Cabrera. Um alto executivo que trabalhou para uma companhia durante 20 anos foi demitido numa sexta-feira e colocado num avião rumo a Chicago, onde receberia o aconselhamento de uma equipe da DBM. Na segunda-feira seguinte ele não apareceu no escritório da empresa de outplacement. Foram encontrá-lo no quarto do hotel com a aparência de quem não havia tomado banho e com a barba por fazer. Ele estava sentado numa cadeira, em posição fetal, em estado de choque. Ele era um profissional competente e talentoso, mas precisou de seis meses para recuperar sua autoconfiança. Dois anos depois estava no comando de uma grande companhia.

A especialista americana em recursos humanos Donna MacDougall Ferris, autora de um guia sobre a busca de emprego, se baseou em pesquisas da psiquiatra Elizabeth Kubler-Ross para estabelecer oito estágios emocionais pós-demissão. O primeiro deles é a recusa em admitir o quanto isso afeta a sua vida. Essa recusa levada ao extremo se transforma na negação do fato em si, como aconteceu com a secretária descrita acima. Depois vem a frustração, que vai crescer se você continuar sentindo que a sua vida está fora de controle. Não deixe isso acontecer, tome as rédeas da situação.

Em terceiro lugar, surge a raiva. Você poderá sentir raiva da empresa, do chefe, dos colegas. "Não se reprima. Dê-se o direito de sentir isso", diz Donna. "Provavelmente você ficará mais aliviado e logo essa raiva vai passar." No quarto estágio você passa a se questionar sobre coisas que acha que deveria ter feito e não fez. Após isso vem a sensação de apreensão em relação ao futuro. "Esse estágio é um dos mais delicados, pois você terá de se controlar para não entrar em pânico", afirma ela.

QUESTÃO FINANCEIRA - O melhor a fazer é não superdimensionar as coisas. Lembre-se que o bicho tem o tamanho que você o desenha. O sexto estágio vai ocorrer quando você realmente entender o que está acontecendo. Aí vem a depressão. Essa é a hora do luto e da dor. Não se preocupe, você vai sair dessa. Trate de se alimentar direito, fazer exercícios e manter um pensamento positivo. Depois vem a aceitação da situação. Agora, você estará preparado para o último estágio, quando você volta a enxergar um futuro cheio de oportunidades. "Pronto, você está novamente com o controle da situação. É só seguir em frente", afirma Donna.

As primeiras 72 horas são fundamentais para que você atravesse aquele duro percurso que vai da dor da perda à visualização de uma saída para o problema. É tempo suficiente para você perceber que o mundo não acabou porque você foi mandado embora do emprego. Você precisa estar com a mente tranqüila para poder cuidar de um tópico vital: a questão financeira.

O salário de cada mês sumirá por uns tempos. E então? Primeiro conselho: não minta. Conte para a família a história como ela é. Sendo sincero, diz a consultora americana Rosanne Beers, você terá mais apoio da família na hora de cortar despesas. Outro conselho de Rosanne: faça um planejamento financeiro como se você fosse ficar um ano sem trabalhar. Provavelmente você não vai ficar tanto tempo assim fora do mercado. Mas, se você fizer os cortes no orçamento com isso em mente, você terá um fôlego maior e ficará menos angustiado se a sua recolocação demorar mais que o esperado. E ouça mais esse conselho de Letitia: "Não pare de se divertir. Mesmo se você tiver que reduzir os seus gastos, convide as pessoas para ir à sua casa para comer uma pizza após um filme".

Se você acha que estará protegendo a sua família ao preferir se isolar num canto da casa em vez de abrir o seu coração e dizer tudo o que sente, você está inteiramente errado. O clima pesado vai estar no ar e a melhor maneira de amenizá-lo é falar sobre o assunto com as pessoas mais chegadas. Não esqueça que elas também estão assustadas com tudo isso e cabe a você serenar os ânimos. "Procure não deixar a sua família deprimida com os seus pensamentos negativos momentâneos, pois ela é o seu bem mais valioso", diz Letitia. Reparta as suas emoções com essas pessoas e você provavelmente se surpreenderá com a força que irá encontrar dentro de casa. "Conhecemos vários exemplos de casais que fortaleceram ainda mais a relação durante uma crise causada pela demissão de um deles", dizem Morin e Cabrera.

Se você tiver filhos pequenos, dê uma atenção especial a eles. As crianças vivem num mundo de fantasia em que as coisas podem atingir proporções muito maiores do que a realidade. Todas as dúvidas delas devem ser esclarecidas. Explique a elas que não existe um culpado para o que ocorreu pois as crianças também têm uma certa tendência em se sentir culpadas pelas coisas ruins que acontecem com os pais. "A criança deposita toda a segurança nos pais. Se ela não entender bem o que está acontecendo pode achar que vai perder tudo o que tem de uma hora para a outra", diz Rosanne. Talvez seja o caso até de informar o coordenador pedagógico do colégio para que ele acompanhe mais de perto as atitudes dos seus filhos nesse período.

Quanto aos amigos, cabe a você decidir quais deles quer por perto. Talvez você tenha que procurá-los, pois muitos poderão se sentir constrangidos com a situação. Ninguém sabe o que dizer nessas horas. Você deve quebrar o gelo. Com certeza, eles só estarão aguardando o seu sinal verde para se aproximar e dar todo o apoio do mundo a você.

MARKETING PESSOAL - Não se isole. Nessas horas, todos precisam das pessoas que fazem parte dos bons momentos de sua vida. Hoje foi com você, amanhã poderá ser com um deles. Todos estão, de certa forma, no mesmo barco. E é assim que você deve pensar em relação às pessoas que irão cruzar no seu caminho durante essa fase difícil. Tenha sempre em mente que o mundo não está contra você. Por isso, não fique o tempo toda na defensiva. Cada vez que você for apresentado a alguém, a segunda ou terceira pergunta que ouvirá será: onde você trabalha? Pelo menos é assim que 99,9% das pessoas no mundo iniciam uma conversa. Ou seja, não é nada pessoal. Por isso, responda à pergunta com a maior naturalidade do mundo e continue o papo.

Você sempre se formulará a seguinte questão: eu poderia ter evitado essa demissão? Isso ninguém sabe. Até porque cada caso é um caso. O que você poderia é estar mais preparado para essa possibilidade. Não só a da perda do emprego como a da busca por um novo posto de trabalho. "Desenvolva uma base de segurança para sobreviver à demissão", afirma Minarelli. Ele está falando da palavra do momento: empregabilidade, o conjunto de competências e habilidades necessário para garantir a sua colocação dentro e fora da empresa. "O que existe hoje é a segurança de ser empregável", afirma ele. Os instrumentos essenciais da empregabilidade: idiomas, cursos, MBAs, marketing pessoal etc.

E o que se aprende nesse processo todo? "Pela primeira vez na sua vida, você teve a oportunidade de parar e pensar o que você espera de um novo emprego e vice-versa", dizem Morin e Cabrera. A despeito de toda a dor, você provavelmente estará melhor do que era. Talvez tenha enxergado falhas e deficiência que jamais perceberia se estivesse na segurança de seu antigo emprego. E o melhor de tudo é que você aprendeu que existe vida após a demissão.