Deleite e Desempenho

  

“A felicidade consiste em continuar desejando o que se possui.”

Santo Agostinho

  

        “Os sistemas de mensuração de desempenho institucional e individual afetam o comportamento de todos na empresa e são críticos para o sucesso da organização, como podem ser os principais responsáveis pelo fracasso do empreendimento”.

        Obviamente, remuneração abaixo da realidade do mercado e sistemas de avaliações injustos e mal elaborados, não atraem ou retêm talentos. Mas não se pode garantir que apenas um bom pagamento, benefícios e avaliações de cumprimento de meta operacional, vão fazer com que os objetivos estratégicos sejam constantemente alcançados. Trata-se de avaliar, também, os efeitos do clima organizacional sobre os participantes: seu reflexo nos resultados, e na atração e manutenção de pessoas valiosas para a organização. Tal aspecto deve ser considerado se quisermos obter a motivação e o entusiasmo necessários para o alcance dos tão almejados resultados contábeis. Resultados individuais e institucionais tais como: crescimento do aprendizado, pesquisa e desenvolvimento, índice de satisfação interno e externo, avaliação da imagem institucional e outros. Por serem às vezes de mensurações inexatas, nem por isto devem ser deixados de fora nas avaliações e buscados como fatores de desempenho necessários ao crescimento e a performance empresarial.

        A idéia de que o empregado está numa determinada empresa apenas para cumprir um horário e executar um conjunto de tarefas a fim de alcançar metas pré-definidas (muitas vezes sem a sua participação) é algo a ser abandonado quando se busca situar entre as organizações de alto desempenho. Trabalho envolvente e imaginativo, em ambiente alegre, realizado de maneira quase indistinta do lazer, são estímulos adicionais ao envolvimento de colaboradores. Especialmente porque: “empregados cada vez mais preparados e independentes – o que toda empresa de sucesso quer atrair – não se sentem desafiados e estimulados pelos indicadores de desempenho tradicionais”. Os sistemas de avaliação de desempenho, tanto individuais como institucionais, devem também aferir os níveis de satisfação emocional de seus empregados, de bem estar psíquico, de competência emocional de suas chefias e lideranças, de evolução do aprendizado, de orgulho de pertencer à corporação. São estes fatores, considerados softs, que devem integrar-se às ferramentas de mensuração de desempenho. E passarem a ocupar o centro das atenções dos estrategistas em recursos humanos e desenvolvimento organizacional.

        Indivíduos talentosos, versáteis e bem formados, sempre podem de maneira autônoma, proverem-se de sua subsistência, fazer fortuna ou manter os bens da família. E podem ainda escolher entre diversas empresas para trabalharem.  Quando escolhem alinhar-se à uma determinada organização o que estariam buscando? Talvez empresas como a Legent, sob a direção de Jere Stead, estejam no caminho certo quando adotam o modelo de “deleitar o funcionário”: se os funcionários trabalham, não só com satisfação. Mas com alegria, estão deleitados. E todos sabemos no que implica este “alto astral” dos empregados: clientes encantados (internos e externos). Tem razão quando afirma o legendário Jack Welch, ex-CEO do General Eletric, que além do fluxo de caixa, estão entre as três coisas mais importantes a se medir numa empresa: a satisfação do empregado e a satisfação do cliente. Esta última naturalmente decorrente da precedente.

        Christophe Dejours em seu livro o Fator Humano, ao referir-se à teoria da ação define três formas de agir: o agir instrumental orientado para um fim a ser atingido, submetido a uma racionalidade instrumental. O agir expressivo constituído pelas formas através das quais a ação deva ser posta em prática. E o agir moral-prático orientado para o entendimento, que suporta o objetivo do viver em conjunto e diz respeito à vida boa. É desse agir que trata a tradição filosófica a partir de Aristóteles (Ética a Nicômaco). (E nada mais ético, acredito, que a felicidade dos detentores do capital de uma empresa seja reflexo do bem-estar que possa estar produzindo para a sociedade e para os seus colaboradores). Entre os critérios de validação para estas formas de agir estariam a veracidade, a eficácia, a justiça, a equivalência, a autenticidade e a coerência expressiva. Critérios estes, ao meu ver, que devem basear qualquer sistema de mensuração de ações de uma organização.

 

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Referências Bibliográficas: 

Bruner, F. R. & Col. MBA Curso Prático. Rio de Janeiro, 1999. Ed. Campus.

 Dejours, C. O Fator Humano. Rio de Janeiro, 1999. Ed. FGV.

 ---------. Abdoucheli, E. & Jayet, C. Psicodinâmica do Trabalho. São Paulo, 1994. Ed. Atlas.

 Otero, R.B. Programação e Controle Gerencial. Rio de Janeiro, 2000. Apostila EBAP/FGV.