Marketing e Recursos Humanos
Afirma Kotler: “Sob
orientação de marketing, todos os departamentos precisam pensar no cliente e
trabalhar em conjunto para satisfazer as necessidades e expectativas dos
clientes”. Sabemos que os “clientes” do Recursos Humanos são principalmente
os integrantes do corpo funcional da empresa, para onde são dirigidas ações de
vital importância, incluindo-se entre estas as de marketing interno,
fundamentais para a difusão dos valores e da missão organizacional. A
introjeção pelos colaboradores dos aspectos estratégicos e da filosofia que
norteiam o negócio, transparecerá no mercado através do contato com a clientela
externa. Contribuindo fortemente para a
imagem institucional, além de facilitar o agregamento de fornecedores alinhados
à maneira de empreender da organização.
Dada a importância das ações
orientadas para o público interno, entre elas as de endomarketing. Cabe o
questionamento sobre onde está a expertise necessária a condução deste
processo? Nos profissionais de Marketing ou de RH? Pressupondo para tal dedução
de competência e habilidade, a formação dos militantes e a habitual prática da
respectiva área que se costuma verificar na sociedade.
Uma das características
principais no trato das funções de RH: captar, manter, desenvolver e avaliar; é
a individualização. Ou seja: a necessidade de comparar as macros necessidades
da organização com as dos indivíduos ou pequenos grupos que a compõe. A
psicologia de massa, tão apropriada ao marketing de produto, neste particular,
cede lugar à psicologia do indivíduo, do subgrupo e de suas interações sociais
restritas ao ambiente do trabalho e ao familiar. O sujeito, deixando a posição
de coadjuvante de uma situação social mais ampla, e vinculando-se ao núcleo
determinante, muitas vezes como personagem central. A cena é íntima, não
estamos na hora das “tomadas” cênicas grandiosas. As grande-angulares fecham-se
sobre os atores principais, pois deles dependerá o sucesso da obra. Não se trata mais de “pesquisar o mercado” e
sim de adotar uma escuta ativa, diferenciada. Onde fatores impulsivos e
circunstanciais cedem espaço para a reflexão e o planejamento meticuloso e
orientado ao longo do prazo. Tampouco é tempo de “campanhas” (embora sejam
assim denominadas àquelas voltadas para o público interno) de convencimento
superficial e pouco duradouro e sim de conquista efetiva da colaboração de
empregados conscientes que avaliam permanentemente a relação custo/benefício de
permanecerem no quadro funcional. E não são apenas considerados valores
tangíveis, mas aspectos subjetivos como realização pessoal, dimensões ética, e
outros. O discurso é lógico, pautado no
real, a escuta é analítica e ponderante e a ação conseqüente é
predominantemente reflexiva do que impulsiva.
Não é o caso de por em prática o chamariz imaginário, a
que se refere Eugène Enriquez, “que tem por finalidade prender totalmente as
pessoas (com sua razão, sua paixão, seu imaginário, seu inconsciente) nas
malhas da organização, fazendo crer que se se identificarem a ela, se
renunciarem a seus próprios desejos, elas poderão receber em troca as satisfações
que merecem”.
Embora
campanhas publicitárias do tipo “Não esqueçam minha Caloi” sejam peças de
interesse pitoresco. O fato isolado de alguma criança solicitar uma bicicleta
de presente aos seus pais, por meio de inúmeros lembretes, estrategicamente
espalhados pelos lugares; denotaria talvez um distanciamento emocional e uma
falta de interação do grupo familiar, digno de um aconselhamento psicológico. O
mesmo se dá no ambiente laborativo onde o contato entre “fornecedor e
consumidor” (empresa e empregado) é infinitamente superior a algumas horas de
sondagem de opinião e a interação psicológica é extremamente forte. E onde, na
tentativa de persuasão, estão em jogo necessidades e desejos superiores ao de
uma criança em relação a sua bicicleta.
No ambiente interno, não é
indicado, nem suficiente a adoção de uma posição meramente amplificadora de
sinais advindos de instâncias administrativas superiores. Devem, sim, serem
desenvolvidos, detalhados e aplicados métodos que compatibilizem os interesses
dos clientes externos, dos empregados e da empresa, de forma eficiente e
duradoura. E, isto implica em flexibilidade e diferenciação das práticas e dos
instrumentos de comunicação utilizados na abordagem dos diversos segmentos
funcionais. Assim como o conhecimento aprofundado de suas necessidades e
satisfações, num fornecimento de feedback imprescindível para os ajustes de
curso das ações gestoras em andamento.
A visão de Peter Drucker sobre Marketing de que a meta
é compreender tão bem o cliente que o produto ou serviço se adapte tão bem a
ele que se venda por si só, aproxima a função de Marketing da de RH:
conhecer para satisfazer. Evidenciando-se então a importância da boa gestão do
clima organizacional, do coaching, da psiquiatria corporativa, da saúde
e segurança no trabalho, do processo seletivo bem conduzido, das vantagens e
benefícios adequados, etc...
A definição de marketing integrado, sobre a ótica do
relacionamento, que o marketing deve estabelecer, manter e ressaltar os
relacionamentos com clientes e outros parceiros, com lucro, de forma que os
objetivos das partes envolvidas sejam atendidos, isto é alcançado através da
troca mútua e do cumprimento das promessas, é coincidente com o almejado
pela boa gestão de RH que por sua vez visa também compatibilizar o bem estar
dos clientes internos (empregados e suas famílias) com o da organização. O que
em última análise deve decorrer (e ser também alavancador) do atendimento às
demandas dos clientes externos e se possível da superação para melhor de suas
expectativas. Satisfação esta (do consumidor) bastante vinculada à qualidade
funcional do processo como um todo.
O capital humano e o capital
do cliente, por serem bens maiores de qualquer empresa devem receber atenção
prioritária e a associação laborativa dos profissionais de Marketing e RH,
estes com sua experiência em psicologia organizacional, conhecimento da
clientela interna e aqueles com seu instrumental de comunicação, logística e de
conhecimento da demanda. E certamente trarão as vantagens competitivas tão
procuradas nos dias de hoje. Onde a “venda de soluções” customizadas a
consumidores cada vez mais exigentes, necessita de uma integração de todos os
procedimentos à estratégia organizacional, de forma a obter-se diferenciação,
qualidade, produtividade e competitividade. Uma vez que estas qualidades são
predominantemente fornecidas pelas pessoas que integram a empresa, e as pessoas
são o foco tanto do Marketing como da gestão de RH, nada mais natural que a
cooperação entre os dois ramos do conhecimento em busca de resultados que visem
a consecução da Missão empresarial. Objetivo que para ser alcançado necessita
cada vez mais da internalização de novos paradigmas, entres
eles o da multi e da
transdiciplinariedade do conhecimento profissional, necessárias aos
procedimentos organizacionais. E a percepção clara de que “gerir é
compatibilizar uma estratégia tanto no nível microssocial como no
macrossocial”.
Referências Bibliográficas:
Davel, E.; Vasconcellos, J. (Org.) Recursos
humanos e subjetividade. Ed. Vozes. Rio de Janeiro, 2000.
Galbraith, J. R.; Lawler III &
Associados. Organizando para competir no futuro. Makron Books. São
Paulo, 1995.
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