Bolsa A grande aventura
de André Kostolany
(
) Em Bizâncio, o centro
comercial da Idade Média encontravam-se já regularmente
comerciantes sírios,gregos e
judeus.Na costa do Bósforo dava-se o encontro com os
comerciantes ocidentais, onde se
discutiam as transacções com tapetes da Pérsia,sedas
da
China e peças de orivesaria da Ásia
Menor.
Nesse tempo
encontravam-se espalhados por toda a Europa os mercados
com as suas tendas
coloridas.Cada um oferecia os seus
próprios produtos.As mercadorias eram expostas perante
os olhos dos próprios compradores
para que estes pudessem escolher.Em Veneza, na
Ponte de
Rialto,em Florença,debaixo do Arco
da Ponte de Vecchio,e em Génova, na taberna do velho
porto, compravamse e
vendiam-se mercadorias de todo o mundo então
conhecido.Ao mesmo
tempo conseguiam-se informações
sobre colheitas,viagens de barco e bisbilhotices
políticas
«Que há de novo em Rialto?» era a
frase daquele tempo, como hoje se perguntaria «Que há
no
Índice Dow-Jones no telex da Bolsa
?».
Actualmente conhecemos
bastante bem as mercadorias.Não necessitamos de lhes
pegar e de
as pesar antes de nos resolvermos a
comprá-las.A mercadoria desapareceu e tornou-se um
objecto abstrato de um
contrato,estandardizado e tipicizado.Os sacos de cereais
e fardos de
tecidos descansam,bastante afastados
do comprador, nos armazéns.As grandes transacções
comerciais desta espécie modificaram
completamente o aspecto das feiras e mercados.
Vários locais de
reunião, regionais, tornaram-se cidades comerciais.Os
encontros passaram a
Ter lugar regularmente,e a ser
regulamentados pela lei; assim nasceram as Bolsas de
Mercadorias.Do mesmo modo que mais
tarde as Bolsas de Títulos,as Bolsas de Mercadorias
foram legalmente consolidadas.A ordem
dos negócios foi fixada , entretanto, de acordo com as
instruções do Governo ou baseada na
decisão unanime dos membros da Bolsa , e assim se
conservou até aos nossos dias.
Através do desenvolvimento do
comércio italiano, no Norte da Europa, criaram-se
novos estabelecimentos comerciais nos
Países Baixos.Na importante casa da família
Van der Burse, em Bruges, reuniam-se
os comerciantes de todas as partes da Europa,
para trocar mercadorias e
informações.Ia-se aos Bursa e assim passou-se a
« ir à
Bolsa ».Foi assim que o nome da
família Van der Burse, cujo brasão mostra três
sacos com dinheiro, entrou na
História.
Depois da conquista da
América, os negócios concentraram-se em meados do
século
XVI em Antuérpia , onde se
encontravam muitos negociantes dos países mais
importantes.Ouviam-se todas as
línguas do mundo.No ano de 1592 abriu a primeira
Bolsa e publicou-se o primeiro
boletim da Bolsa, uma lista das várias cotações.
A Bolsa deu à cidade o
seu cunho especial.Era uma colmeia nervosa e
barulhenta.Uma multidão magnífica
de cor, com fatos pitorescos, enchia as ruas a
todas as horas. Um poeta
comtemporâneo escreveu o seguinte :
«Era um mundo por si
mesmo, onde se ouviam todas as línguas dos confins da
Terra .»
Nesta nova Torre de
Babel as transacções corriam sobre esferas.Acontecia
cada vez
mais frequentemente que as entregas
de mercadorias eram adiadas para um prazo
posterior. Este foi o gérmen do
comércio a prazode mercadorias, que hoje floresce em
toda a parte (
)
Durante o século XVII condensou-se a
rede da actividade comercial.O seu centro
mudou-se de Antuérpia para
Amsterdão,que rapidamente se tornou o centro
comercial do século.Negociava-se já
com cartas de crédito,as antepassadas dos
títulos.Amsterdão foi já no
século XVII a primeira Bolsa de Títulos no moderno
sentido da palavra.
Os compradores e os
vendedores encontravam-se, quando o tempo estava bom,nas
proximidades da Neuen Brucke (Ponte
Nova) e trabalhavam activamente ao ar
livre.No inverno abrigavam-se na
Alten Kirche (Igreja Velha) dos rigores do
tempo,até que no ano de 1613 foi
posto à sua disposição um edefício próprio, que
serviu como amostra para posteriores
edifícios da Bolsa.
Bordados e pinturas
comtemporâneas, mostram-nos os homens da Bolsa de
então,enfronhados nas suas conversas
pelos cantos das galerias, que rodeavam os
encantadores pátios
interiores.Quando se pensa nas salas das Bolsas de hoje
com as
suas máquinas elactrónicas
matraqueando ,a diferença é considerave.
Tal como e descritono livro As
Bolsa de Valores em Portugalde Correia dos Santos
e José Costa Gonçalves ; A
origem das Bolsas ,tal como hoje as entendemos,remonta
ao final da Idade Média,se bem que
alguns autores considerem que certos mercados
da Antiguidade Clássica funcionavam
já como autenticas bolsas.
Em Portugal remonta ao reinado de
D.Dinis a criação da primeira Bolsa
portuguesa,entretanto desenvolvida
por D.João por D.João I entre 1385 e
1433.D.Dinis fundou ,então,uma Bolsa
em Lisboa e outra no Porto segundo o
historiador Fernando Lopes.
A Bolsa de Lisboa aparece
formalmente citada ,pela primeira vez,no reinado de
D.Afonso V quando por Alvará de 1439
determina que «se continuasse a fazer bolsa
no lugar onde era costume
havê-las».Sendo ao ar livre,só por Alvará de 16 de
Janeiro
de 1758 é mandada erigir pelo
Marquês de Pombal,no local onde esteve até
recentemente - pavilhão térreo do
torreão oriental da Praça do Comércio.
Já no presente século,em 1 de
Outubro de 1901 foi instituida a Bolsa de valores de
Lisboa cujo primeiro Regulamento foi
publicado em 10 de Outubro seguinte.
No Porto,as frequentes
desordens no reinado de D.Fernando determinaram o
abandono da velha Bolsa do Porto,que
por Carta Régia de 11 de Julho de 1387
,D.João I mandou reabrir a pedido do
Conselho de Homens Bons da Cidade do
Porto.
Esta instituição apresentava
,então caracteristicas bem diferentes das actuais ,sendo
vocacionada para a transacção de
mercadorias e respectivos títulos representativos.
A Bolsa do Porto criada por
Decreto de 29 de Janeiro de 1981,funciona em
instalações magestosas - o Palácio
da Bolsa -actual Bolsa de Derivados do Porto
;construida com um imposto lançado
sobre mercadorias entradas pela barra do
Douro.