Caso de Negociação: O SAUDOSO SILVIO NORONHA

Prof. Roberto Minadeo




Jurujuba está a 167km de uma grande área metropolitana. Há dez anos atrás, a região era uma área estritamente rural. As duas principais comunidades eram Mônica, com 9.900 habitantes, e Cebolinha, com 15.700 habitantes, sede do município. Ao longo da última década, um crescimento significativo ocorreu no município, particularmente em torno dessas duas zonas mais importantes. A população de Mônica agora é de 18.690 habitantes; a de Cebolinha subiu a 24.580. O resto do município soma 12.400 moradores. Em linhas gerais, as escolas e os sistemas de água e esgotos cresceram abaixo do ritmo do crescimento populacional – especialmente fora desses dois núcleos principais. Apesar de certa qualidade de vida menor, a maior parte dos moradores concorda que o município se encontra em crescimento.

Porém, tem havido umas poucas reclamações de alguns de seus residentes. Historicamente, os cidadãos de Mônica tem sentido que Cebolinha sempre foi melhor tratada – dado que é a sede do município. Por exemplo, a recém construída escola de segundo grau do município está em Cebolinha. Recentemente as reclamações de Mônica se tornaram mais amargas, dado que sua população cresceu muito mais velozmente do que o restante do município. Existe também um descontentamento crescente no município com relação a aumentos de impostos.

O Prof. Sílvio Noronha era um dos pilares da comunidade de Cebolinha. Foi um residente de muitos anos em Jurujuba, e serviu como presidente de diversas organizações comunitárias espalhadas por todo o município. Quando faleceu, no início deste ano, deixou R$ 525 mil para a compra e construção de um parque. Suas únicas restrições foram que o parque deveria, tão logo fosse possível, servir como um lugar onde famílias inteiras poderiam recrear-se juntas enquanto gozavam da natureza, e que deveria satisfazer necessidades recreativas da comunidade que não estivessem sendo atendidas. O dinheiro não usado para a compra do parque deveria, de acordo com a vontade de Noronha, ser usado em melhorias no Cebolinha Futebol Clube. Seu sonho era a transformação dessa entidade em um clube-empresa, aos moldes da Lei Zico.

O Conselho Municipal foi informado de que não havia recursos adicionais do município disponíveis para a compra ou construção de um parque. Porém, nos anos futuros, um máximo de R$40 mil ao ano poderiam ser obtidos para a manutenção e melhorias no parque.

Situação Presente

Estamos no meio de março. A eleição é em 15 de Novembro próximo. O Prefeito se diz candidato à reeleição. O representante de Cebolinha é o candidato da oposição, e já está em campanha.

Temos sete grupos negociando:
· O Prefeito de Jurujuba.
· Uma corretora de imóveis, da própria cidade, que apresentou os dois primeiros locais para o novo parque.
· Uma corretora concorrente, do município vizinho, que apresentou os outros dois locais.
· O advogado que representa os interesses do doador.
· Um representante de Mônica.
· Um representante de Cebolinha.
· Um representante dos restantes moradores de Jurujuba.

LOCAIS POTENCIAIS PARA O NOVO PARQUE

1. Casa da Magali

Um ex-centro de convenções, esta área de 340 mil m2 inclui uma construção que poderia ser usada como centro comunitário, uma piscina de 20X12m, e três quadras de tênis. Diversos caminhos foram construídos entre suas árvores. Apesar de que a área está bem desenvolvida, existe um espaço que poderia ser convertida em seis quadras de tênis, uma quadra de vôlei, e um campo de futebol. Duas novas piscinas poderiam também ser adicionadas. O custo da conversão seria de R$ 75 mil, sem as piscinas, e de R$ 150 mil com elas. Está a um quilômetro e meio de uma estrada asfaltada, e essa estrada de acesso também é asfaltada. Água encanada, esgoto, telefone, e luz elétrica já estão funcionando.
· Preço de compra: R$ 570 mil
· Custo anual estimado de manutenção: R$ 50 mil
· Tempo de carro desde Cebolinha: 5 minutos
· Tempo de carro desde Mônica: 15 minutos
· O parque estaria pronto no Primeiro de Maio.

Nota: O atual prefeito é parente do dono da Casa de Magali.

2. Lago da Pamonha

Trata-se de uma área de 885 mil m2. O lago cobre 70% da área e proporciona o melhor local de pescaria do município. O resto da área poderia ser aproveitado para pequenos play-grounds, um espaço para refeições familiares ao ar livre, e apenas três quadras de futebol, e três de tênis, devido ao terreno ser um pouco acidentado. A adaptação custaria R$ 138 mil. Uma estrada de terra cerca o lago e está a 12km de uma estrada asfaltada. Há eletricidade, mas seria preciso fazer poços para que houvesse água, além de fossas sépticas pois não há rede de esgotos.
· Preço de compra: R$ 439 mil
· Custo anual estimado de manutenção: R$ 30 mil
· Tempo de carro a partir de Cebolinha: 15 minutos
· Tempo de carro a partir de Mônica: 20 minutos
· O parque estaria pronto em 7 de Setembro.

Nota: Um interessado nessa área é o proprietário do jornal local, que já detém uma vasta área ao lado, e que gostaria de ampliar sua propriedade.

3. Casa do Cascão
São 750 mil m2 de bosques intactos. Qualquer construção seria difícil devido ao terreno acidentado. Existem áreas planas para oito quadras de tênis e dois play-grounds. Talvez uma boa negociação com o IBAMA permitisse derrubar algumas árvores e fazer um campo de futebol, ou quadras para diversos esportes. Boa parte dos bosques poderia ser usada do jeito que está para espaço voltado a pic-nics, dado que uns poucos caminhos através dos bosques virgens já existem. Os custos de conversão seriam de R$ 120 mil, sem o campo de futebol, e de R$ 170 mil com ele. Está a 2km de uma estrada asfaltada, através de um acesso de terra batida. Seria preciso construir novas linhas de eletricidade, bem como proporcionar telefone, água e esgoto.
· Preço de compra: R$ 300 mil
· Custo anual estimado de manutenção: R$ 30 mil
· Tempo de carro a partir de Cebolinha: 20 minutos
· Tempo de carro a partir de Mônica: 20 minutos
· O parque estaria pronto em 7 de Setembro.

Nota: em algumas vezes, um riacho vizinho inunda uma pequena área inferior do terreno, e cobre parte da área destinada a pic-nics.

4. Retiro do Chico Bento

Consiste de 763.000 m2 de ar puro, em uma região paralela ao rio por um lado, e fortemente montanhosa pelo outro. A vista do rio e o fato da área ser intocada são os principais atrativos para que isso seja uma área de pic-nic. O terreno inviabiliza quadras de tênis, campos de futebol, piscinas, etc., apesar de que um pequeno play-ground poderia ser construído junto à área de pic-nic. Os custos de instalar eletricidade, água e esgoto, fazer melhorias de estradas, e construir estacionamentos, seriam de R$ 94 mil. Na parte alta poderia ser construído um restaurante e um mirante por adicionais R$ 70 mil. Uma estrada passa perto do terreno. Com uma pequena terraplenagem, e uma aprovação do IBAMA, pode-se obter uma área para duas quadras poli-esportivas, a um custo de R$ 40 mil.
· Preço de compra: R$ 315 mil
· Custo anual estimado de manutenção: R$ 20 mil
· Tempo de carro desde Cebolinha: 40 minutos
· Tempo de carro desde Mônica: 40 minutos
· O parque estaria pronto para o 15 de Novembro.

Notas:

1) O terreno pertence a uma fundação que necessita urgentemente desfazer-se do imóvel, para concentrar-se em suas atividades educacionais.

2) Dois terços da população de Jurujuba que não estão nem em Mônica nem em Cebolinha ficam bem próximas ao Retiro do Chico Bento.