USO DO FATOR TEMPO EM NEGOCIAÇÃO


CONCEITO DE TEMPO

As sociedades primitivas podem organizar-se por meio de simples noções de "antes" e "depois" da lua, das estações, do nascer ou do pôr-do-sol. Para as sociedades cultas, o conceito de tempo é cada vez mais complexo. O tempo é, cada vez mais, um fator que as empresas precisam gerenciar. Existem estudos sobre o tempo e movimento, tempo e mercado, just-in-time, e a idéia de que os produtos envelhecem ou amadurecem. O homem pensa quase que universalmente nas categorias de passado, presente e futuro, mas não dá a mesma importância a cada uma delas. A forma como pensamos no tempo está associado à forma como planejamos, elaboramos e condenamos nossas atividades em relação aos dos outros. É uma dimensão importante de como organizar a experiência e as atividades.

Existem pelo menos duas imagens que podem ser extraídas do conceito de tempo. O tempo pode ser legitimamente concebido como uma linha de eventos sequenciais, passando por nós em intervalos regulares. Também pode ser concebido como cíclico e repetitivo, comprimindo passado, presente e futuro através de seus aspectos comuns: estações e ritmos. Assim, em um extremo, temos a pessoa que considera o tempo como uma linha pontilhada com espaçamentos regulares. Os eventos são organizados pelo número de intervalos anteriores ou posteriores à sua ocorrência. Segundo o pensamento sequencial tudo tem o seu tempo e lugar. Qualquer mudança ou turbulência nessa sequência gerará incerteza na pessoa de mentalidade sequencial. Tente furar uma fila na Grã-Bretanha. Descobrirá que a seqüência organizada tem ferrenhos defensores. Todos esperam sua vez: o primeiro a chegar é o primeiro a ser atendido. Faz parte da "boa educação".

Eficiência é partir de A e chegar a B em linha reta, com o mínimo esforço e o máximo resultado. A falha nesse raciocínio é que as "linhas retas" nem sempre são a melhor forma de fazer as coisas; não consideram a eficácia das atividades compartilhadas ou das interconexões.

As estratégias, metas e objetivos são orientados ao futuro. As joint-ventures e as parcerias são acordos em relação a uma forma de engajamento conjunto no futuro. "Motivação" é o que podemos dar a uma pessoa hoje para que ela possa trabalhar melhor no futuro. O progresso, o aprendizado é o desenvolvimento pressupõe um aumento dos poderes no tempo, assim como o hábito de remunerar o pessoal de nível senior, mas pela experiência supostamente acumulada ao longo dos anos.

Uma visão do futuro é que o indivíduo pode direcioná-lo por meio das conquistas pessoais e do esforço direcionado internamente.

Todas as relações humanas duradouras combinam passado, presente e futuro com laços de afetividade e memória. A relação é sua própria justificativa e é desfrutada como uma forma duradoura de companheirismo que se estende tanto para o passado quanto para o futuro.

Nos países onde o passado tem maior importância e onde as orientações em relação ao tempo se sobrepõem, o status é provavelmente mais legitimado pela atribuição baseada em características duradouras como idade, classe, sexo, etnia e qualificação profissional. As qualificações adquiridas no passado, por exemplo, em universidades de prestígio, explicam a eminência atual e o futuro promissor, todos intimamente conectados e sincronizados.

O simples fato de os gerentes precisarem coordenar suas atividades empresariais faz com que se exija algum tipo de expectativa compartilhada em relação ao tempo. Assim como culturas diferentes têm premissas diferentes em relaçào a como as pessoas se relacionam umas com as outras, também encaram o tempo de forma diferente. Este trata da importância relativa dada pelas culturas ao passado, presente e futuro. Uma cultura orientada à conquista acredita que o futuro deve ser melhor que o passado ou o presente, já que é no futuro que as aspirações tornam-se realidade. Por outro lado, uma cultura orientada às relações vê o futuro como algo ameaçador, capaz de provocar a perda de seu prestígio? A forma como pensamos no tempo tem suas próprias consequências. É especialmente importante o fato de encararmos o tempo como sequencial, uma série de eventos consecutivos, ou sincrônico, com passado, presente e futuro inter-relacionados, fazendo com que as idéias sobre o futuro e as memórias do passado moldem as ações no presente.

 

SEQÜÊNCIAS PLANEJADAS OU CONVERGÊNCIA PLANEJADA?

Nas culturas organizadas de forma seqüêncial, o planejamento consiste principalmente em previsões, isto é, em estender as linhas de tendências existentes ao futuro e em ver essa extensão como "uma continuação". As estratégias compreendem escolher metas desejáveis e, em seguida, descobrir através de análise os meios mais lógicos e eficientes de alcançá-las. Normalmente, acredita-se que o presente e o futuro estão associados casualmente; portanto, as recompensas oferecidas hoje produzem as conquistas futuras, que produzem outras conquistas, que geram maiores recompensas. Os prazos são importantes, porque indicam o final de um elo de uma corrente casual e o início do próximo, além de manter o cronograma.

O planejamento varia consideravelmente nas culturas seqüêncial e sincrônica. No planejamento seqüêncial, é vital que todos os meios ou estágios estejam corretos e sejam concluídos dentro do prazo. Na Grã-Bretanha, uma pesquisadora italiana disse-me que "tudo precisa ser planejado do início ao fim. Quando o ambiente muda, então tudo precisa ser recalculado desde o início". Para os italianos, que são mais sincrônicos, as metas são o mais importante e, quanto maior o número de caminhos que se pode desvendar para realizá-las, melhor se pode enfrentar os eventos imprevistos, que bloqueiam um caminho ou outro.

O Mundialito de 1990 (Copa Mundial de Futebol) na Itália foi um exemplo interessante da organização italiana. O desafio era concluir os campeonatos em uma certa data, na qual as finais seriam disputadas. Para a aflição dos britânicos e de outros europeus, os italianos refariam periodicamente o programa inteiro para chegar ao resultado desejado. Entretanto, para surpresa dessas outras culturas, os italianos conseguiram. O planejamento dos Jogos Olímpicos de 1992 na Espanha foi bastante semelhante ao planejamento italiano.

Parece que os processos de planejamento seqüêncial não funcionam tão bem em ambientes turbulentos. São frágeis e facilmente abalados pôr imprevistos. O fato de que tendem a concentrar-se no futuro próximo atesta a vulnerabilidade de longas seqüências. Os planos sincrônicos tendem a convergir para metas predeterminadas, considerando fusões e conexões laterais entre tendências freqüentemente ignoradas pelo planejamento seqüencial.

Um último exemplo mostra que a abordagem sincrônica pode acelerar seqüências. Um hóspede estava deixando um hotel, e se colocou no final da fila, uma vez que só havia uma senhora desponível para fazer os procedimentos de partida. Ao chegar sua vez de fazer o check-out, a senhora no balcão pediu a chave eletrônica. Ela introduziu a chave no leitor eletrônico e perguntou se o cliente gostaria de ver a fatura primeiro. O cliente mal respondeu, e já recebeu o impresso, e imediatamente dirigiu-se para os hóspedes seguintes e pediu suas chaves. Quando o primeiro cliente percebeu, ela deu a fatura do hóspede seguinte. Ou seja, aquele "momento morto" para a leitura da fatura foi utilizado para atender parcialmente outro cliente. Essa abordagem aumentou a velocidade da seqüência total das pessoas fechando suas contas. O que é uma melhoria do atendimento.