A Grande Viagem 1/5/98
" Quem não sabe , acredita ... ? "
21/6/98

Começa a ser notória a falta de rigor objectiva e desconforto de alguns "Comentadores , Day-trader " , relativamente a conjuntura Macro-Financeira dos mercados de capitais a nível global.

É felizmente notória e também visível , a forma como alguma  informação económica tradicional já compreendeu a conjuntura e procura esclarecer sem alarme e com rigor o difícil" Momentum " dos mercados .

O investidor registara a posteriori e como é habitual , quem no momento oportuno estava mais preocupado com receitas de exploração ou com informação credível e pragmática .

Vem no entanto o presente artigo de opinião focar um outro aspecto que julgo de importante utilidade reflectiva e ainda de maior utilidade patrimonial ; o investimento a " longo prazo " sob a forma de acções, e a forma como tem sido entusiasticamente exposto com frequência de forma elucidativamente dogmática e quase herética .

Desiluda-se o leitor , se pensa que o vou refutar. Longe de min querer ser colocado na fogueira da felizmente extinta , inquisição .
Vou no entanto dar-lhe algum " peso e medida " , porque confundir princípios estruturais de investimento oportunos , enquadrados no correcto ciclo de mercado , com passividade inactiva , perante condicionalismos e desenvolvimentos prováveis de alto risco patrimonial , serão por certo oportunos para alguns , mas muito pouco oportunos para a maioria.

Para todos os entusiastas do " Longo Prazo , Cego " que neste momento estarão a afiar as facas , com as enumeras , exaustivas e até recentes comprovações estatísticas de que a observação do investimento passivo de longo prazo é a " melhor formula de investimento do mundo " ... desde já lhes digo o seguinte :

1º A única coisa que está provada é o que aconteceu nos últimos 70 anos . o que " acontecerá " nos próximos 70 , ninguém o sabe ... muito menos a estatística por razões sobejamente conhecidas.

2º Não existe um único investimento alternativo mensurável a que tal principio possa ser aplicado e se existe , faça o favor de demonstrar.

3º A maior parte dos testes realizados reproduzem a realidade de um mercado . Duvido da amplitude geral desse principio de forma extrapolada . E nem adiante que seleccionem as datas que mais lhes convém para demonstrar o contrario porque a realidade é diferente e até nem me impressiono com facilidades estatísticas analíticas não lineares ou lineares.

4º As médias que servem para aferir o conceito são evolutivas . Quer isto dizer que é necessário " ter  lata " para esquecer que a composição ponderada de um índice evolui em função do peso de determinadas empresas que nascem , crescem , decrescem e até morrem .
Se nos anos 50 o que era bom para a GM era bom para o Mercado , actualmente o que é bom para a Microsoft ...

5º Por último , ... mas afinal , que raio de perspectiva de investimento é esta em que com o património financeiro em devastação ou risco, se fica impávido e sorridente .
É realmente caso , para efectivamente perguntar ... mas afinal , está a rir do que ?

6º "Aqui ao lado ..." , em Hong Kong , Tóquio ou na Coreia , por certo a teoria terá neste momento muita saída ...
Mas talvez nem valha a pena ir tão longe , bastando para tanto dar somente uma espreitade-la nos Fundos A , B , e C comercializados localmente e em que nos quais , os subscritores devem estar alem de radiantes , extremamente entusiasmados com a referida postura de Longo Prazo.
 

21/6/98
José A.B.Machado
 
 
A Grande Viagem
1/5/98
Sai do barco num pequeno ancoradouro de uma ilha quase deserta.A direita só praia e Sol e as minhas malas
cheias de "recortes" e recordações.

Ao longe ainda vejo fumegante aquele imponente barco apinhado de gente que se acotovela pelas salas e pelo convés.

Em 1992 quando a viagem começou ,éramos uns poucos ; visionários e audases.Nessa altura toda a gente tinha medo do grande barco e quem nele entrava era olhado com suspeição.
A tripulação também era mais experiente e cortes.
Com o tempo e o afluxo de clientela ,foi sendo substituida por marujos.A maior parte vinda suponho , de barquinhos de recreio.

Foram no entanto monumentais as farras e as festas iniciais de 1993 e 1994 .Em 1995 fizemos uma paragem.
O barco depois de algumas reparações ,seguiu viagem . Em 1996  lá arrancamos de novo.
A tripulação nesta altura aumentou ,sem perder a qualidade.O publico mais informado ,começou a afluir.
A viagem tornou-se ainda mais interessante.Sucediam-se as festas e o convívio era desportivo e saudavel.O mar era calmo e o tempo ameno.

Já em 1997 o ambiente mudou de súbito e radicalmente . Apareceram muitas promoções a bordo.Tambem se começou a incentivar massissamente o público para aderir a viagem .Em 1997 a velha tripulação também já tinha sido toda substituída . Do requinte dos salões foram tirados todos os objectos que não permitissem a entrada de mais e mais gente.Por esta altura todos tinham já perdido o medo de marinhar.
Por entre conversas eram também audíveis e visíveis ,grupos de pessoas que se acotovelavam para ver e ouvir proeminentes senhores "vestidos" de marinheiros .

As senhoras ,suspiravam e os cavalheiros acenavam concordantes com a cabeça.

Certo dia em finais de 1997 fomos contra uma escarpa. Houve certo alvoroço , mas tudo não passou de um susto . Alguns cheliques ,pequenos desmaios aqui e ali alguém a procura de bóias ,mas nada que rapidamente não tenha sido resolvido com palestras e comunicados de esclarecimento em que se dava conta de uma pequena falha técnica.

Mais tarde vim a saber que o comandante nesse dia estava com uma grande bebedeira e que tinha deixado ao leme um grumete .

Em 1998  a situação tornou-se insustentavel.Existiam filas de gente para tudo. Os divertimentos cada vez também eram menos. Era necessário criar mais e mais espasso.Por todo o lado , toda a gente opinava sobre o barco.Devia andar mais depressa,devia andar mais devagar ,devia parar ali,devia parar aqui .

Recordei com nostalgia os convivas e companheiros de viagem de outros tempos , particularmente três proeminentes financeiros aposentados.
Um andava sempre a dizer que quando se tem um ganho inesperado ,deve-se parar para pensar,interiorizar a nova condição e depois prosseguir.
O outro que só lhe interessavam os lucros intermédios dos mercados ."Os grandes Ganhos " tinha por hábito deixa-los para os outros .
O último falava com frequência na Teoria da Útilidade.
-Se tiveres de arriscar cem escudos para ganhar mil contos , arriscas.Se tiveres de arriscar quinhentos contos para ganhar mil contos ,já deves pensar duas vezes.

Foi por esta altura que decidi contar os salva vidas a bordo . Fiquei espantado porque também tinham sido suprimidos para aumentar o espaço.

Tendo sabido por intermédio de um velho e veterano maquinista que não dormia sem um colete ao lado ; desta "pequena paragem "nesta ilha, para meter  "mais combustível" foi então que decidi sair.

Ao longe ainda vejo o barco a afastar-se com enorme algazarra , muitos risos e burburinho. A musica é farta e os novos viajantes acotovelam-se pelo convés e pelas salas.
 
Na calma da pequena ilha olho para um dos jornais do dia anterior.Em letras garrafais estava escrito - " NESTE BARCO ESTA-SE MUITO BEM " - .

Lembrei-me do " nosso " Camilo de Oliveira :
- ESTA-SE ,ESTA-SE  ...  Esssssssta-se .
 

Votos de Feliz Viagem
José A.B. Machado


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