Começa a ser notória a falta de rigor objectiva e desconforto de alguns "Comentadores , Day-trader " , relativamente a conjuntura Macro-Financeira dos mercados de capitais a nível global.
É felizmente notória e também visível , a forma como alguma informação económica tradicional já compreendeu a conjuntura e procura esclarecer sem alarme e com rigor o difícil" Momentum " dos mercados .
O investidor registara a posteriori e como é habitual , quem no momento oportuno estava mais preocupado com receitas de exploração ou com informação credível e pragmática .
Vem no entanto o presente artigo de opinião focar um outro aspecto que julgo de importante utilidade reflectiva e ainda de maior utilidade patrimonial ; o investimento a " longo prazo " sob a forma de acções, e a forma como tem sido entusiasticamente exposto com frequência de forma elucidativamente dogmática e quase herética .
Desiluda-se
o leitor , se pensa que o vou refutar. Longe de min querer ser colocado
na fogueira da felizmente extinta , inquisição .
Vou
no entanto dar-lhe algum " peso e medida " , porque confundir princípios
estruturais de investimento oportunos , enquadrados no correcto ciclo de
mercado , com passividade inactiva , perante condicionalismos e desenvolvimentos
prováveis de alto risco patrimonial , serão por certo oportunos
para alguns , mas muito pouco oportunos para a maioria.
Para todos os entusiastas do " Longo Prazo , Cego " que neste momento estarão a afiar as facas , com as enumeras , exaustivas e até recentes comprovações estatísticas de que a observação do investimento passivo de longo prazo é a " melhor formula de investimento do mundo " ... desde já lhes digo o seguinte :
1º A única coisa que está provada é o que aconteceu nos últimos 70 anos . o que " acontecerá " nos próximos 70 , ninguém o sabe ... muito menos a estatística por razões sobejamente conhecidas.
2º Não existe um único investimento alternativo mensurável a que tal principio possa ser aplicado e se existe , faça o favor de demonstrar.
3º A maior parte dos testes realizados reproduzem a realidade de um mercado . Duvido da amplitude geral desse principio de forma extrapolada . E nem adiante que seleccionem as datas que mais lhes convém para demonstrar o contrario porque a realidade é diferente e até nem me impressiono com facilidades estatísticas analíticas não lineares ou lineares.
4º
As médias que servem para aferir o conceito são evolutivas
. Quer isto dizer que é necessário " ter lata " para
esquecer que a composição ponderada de um índice evolui
em função do peso de determinadas empresas que nascem , crescem
, decrescem e até morrem .
Se
nos anos 50 o que era bom para a GM era bom para o Mercado , actualmente
o que é bom para a Microsoft ...
5º
Por último , ... mas afinal , que raio de perspectiva de investimento
é esta em que com o património financeiro em devastação
ou risco, se fica impávido e sorridente .
É
realmente caso , para efectivamente perguntar ... mas afinal , está
a rir do que ?
6º
"Aqui ao lado ..." , em Hong Kong , Tóquio
ou na Coreia , por certo a teoria terá
neste momento muita saída ...
Mas
talvez nem valha a pena ir tão longe , bastando para tanto dar somente
uma espreitade-la nos Fundos A , B
, e C comercializados localmente e em que nos
quais , os subscritores devem estar alem de radiantes , extremamente entusiasmados
com a referida postura de Longo Prazo.
Ao longe ainda vejo fumegante aquele imponente barco apinhado de gente que se acotovela pelas salas e pelo convés.
Em 1992
quando a viagem começou ,éramos uns poucos ; visionários
e audases.Nessa altura toda a gente tinha medo do grande barco e quem nele
entrava era olhado com suspeição.
A tripulação
também era mais experiente e cortes.
Com o tempo
e o afluxo de clientela ,foi sendo substituida por marujos.A maior parte
vinda suponho , de barquinhos de recreio.
Foram no
entanto monumentais as farras e as festas iniciais de 1993 e 1994 .Em 1995
fizemos uma paragem.
O barco
depois de algumas reparações ,seguiu viagem . Em 1996
lá arrancamos de novo.
A tripulação
nesta altura aumentou ,sem perder a qualidade.O publico mais informado
,começou a afluir.
A viagem
tornou-se ainda mais interessante.Sucediam-se as festas e o convívio
era desportivo e saudavel.O mar era calmo e o tempo ameno.
Já
em 1997 o ambiente mudou de súbito e radicalmente . Apareceram muitas
promoções a bordo.Tambem se começou a incentivar massissamente
o público para aderir a viagem .Em 1997 a velha tripulação
também já tinha sido toda substituída . Do requinte
dos salões foram tirados todos os objectos que não permitissem
a entrada de mais e mais gente.Por esta altura todos tinham já perdido
o medo de marinhar.
Por entre
conversas eram também audíveis e visíveis ,grupos
de pessoas que se acotovelavam para ver e ouvir proeminentes senhores "vestidos"
de marinheiros .
As senhoras ,suspiravam e os cavalheiros acenavam concordantes com a cabeça.
Certo dia em finais de 1997 fomos contra uma escarpa. Houve certo alvoroço , mas tudo não passou de um susto . Alguns cheliques ,pequenos desmaios aqui e ali alguém a procura de bóias ,mas nada que rapidamente não tenha sido resolvido com palestras e comunicados de esclarecimento em que se dava conta de uma pequena falha técnica.
Mais tarde vim a saber que o comandante nesse dia estava com uma grande bebedeira e que tinha deixado ao leme um grumete .
Em 1998 a situação tornou-se insustentavel.Existiam filas de gente para tudo. Os divertimentos cada vez também eram menos. Era necessário criar mais e mais espasso.Por todo o lado , toda a gente opinava sobre o barco.Devia andar mais depressa,devia andar mais devagar ,devia parar ali,devia parar aqui .
Recordei
com nostalgia os convivas e companheiros de viagem de outros tempos , particularmente
três proeminentes financeiros aposentados.
Um andava
sempre a dizer que quando se tem um ganho inesperado ,deve-se parar para
pensar,interiorizar a nova condição e depois prosseguir.
O outro
que só lhe interessavam os lucros intermédios dos mercados
."Os grandes Ganhos " tinha por hábito deixa-los para os outros
.
O último
falava com frequência na Teoria da Útilidade.
-Se tiveres
de arriscar cem escudos para ganhar mil contos , arriscas.Se tiveres de
arriscar quinhentos contos para ganhar mil contos ,já deves pensar
duas vezes.
Foi por esta altura que decidi contar os salva vidas a bordo . Fiquei espantado porque também tinham sido suprimidos para aumentar o espaço.
Tendo sabido por intermédio de um velho e veterano maquinista que não dormia sem um colete ao lado ; desta "pequena paragem "nesta ilha, para meter "mais combustível" foi então que decidi sair.
Ao longe
ainda vejo o barco a afastar-se com enorme algazarra , muitos risos e burburinho.
A musica é farta e os novos viajantes acotovelam-se pelo convés
e pelas salas.
Na calma
da pequena ilha olho para um dos jornais do dia anterior.Em letras garrafais
estava escrito - " NESTE BARCO ESTA-SE MUITO BEM " - .
Lembrei-me
do " nosso " Camilo de Oliveira :
- ESTA-SE
,ESTA-SE ... Esssssssta-se .