Análise Fundamental da PTM.com em 5-1-2001
Esta é uma tentativa de calcular um valor aproximado para a
PTM.com. Devido à OPT em curso com a PTM, este valor não terá qualquer importância
para o futuro das cotações PTM.com, mas será ainda útil para uma avaliação da PTM.
Os page views nos portais e vortais da empresa (Rede Sapo em Portugal e Zip.net no Brasil)
estão em crescimento acentuado. Em Julho foram de 417 milhões e agora já devem ser
mais. Esses page views são aproveitados para receitas publicitárias, sendo que a taxa de
ocupação das páginas por banners é de 32% (o mesmo em Portugal e no Brasil). O preço
de cada 1000 page views (chamado CPM) ronda os 32 euros em Portugal e 6.8 euros no Brasil,
segundo a empresa (se você quiser lançar o seu e-business, já tem aqui um dado
importante).
Como, este ano, a média de page views por mês é de 40 M em Portugal e 280 M no Brasil,
e tendo em conta a ocupação média de 32%, isso dará receitas publicitárias dos
banners de 12.2 M euros este ano, próximo do que prevê a empresa, o que nos indica que
os cálculos que fizémos fazem sentido.
Vamos tentar prever essas receitas daqui a 3 anos. Como o tráfego Internet sobe muito
depressa (120% em 2000), vamos admitir que os page views sobem 60% em 2001, 30% em 2002 e
20% em 2003. Vamos supor ainda que a taxa de ocupação sobe de 32% para 60% (isto talvez
seja demasiado optimista) por haver maior confiança dos anunciantes na Internet. Nesse
caso teremos 100 Mpv por mês no Sapo e 700 Mpv por mês no Zip, em 2003. Vamos admitir
que o preço do CPM cai uns 20%, o que é razoável, pois haverá cada vez mais sites a
competir por anunciantes. Haverá assim um CPM de 25.6 euros em Portugal e de 5.44 euros
no Brasil. Assim, obteremos receitas dos banners de 9.18 Mc por ano, quase o quíntuplo
das actuais.
No prospecto da PTM.com, a Espírito Santo Research previa receitas publicitárias de 4.44
Mc em Portugal e de 26 Mc no Brasil. A nossa análise indica quase o mesmo em Portugal,
mas muito menos no Brasil, o que não admira, pois a análise da ESR era baseada nas
estimativas da Forrester, a empresa de research mais optimista sobre o B2B e B2C, à qual
recorreram centenas de promotores de IPOs em 2000.
Vamos considerar ainda 5.7 Mc de receitas de tráfego, de acordo com a ESR. Parece
razoável, pois o tráfego Net será mais de metade do total e as receitas da rede fixa da
PT estão hoje nos 460 Mc (é preciso ver que cada minuto de tráfego Net é muito mais
barato do que cada minuto de conversação, e que a quota de ISP do Sapo é muito menor do
que a quota da PT na rede fixa).
Vamos considerar 5 Mc de receitas de assinatura de pacotes especiais de acesso à Net,
como o ADSL. Parece mais realista do que a previsão da ESR de 10 Mc, pois hoje o Netcabo
nem deve chegar a 1 Mc, e a haverá mais ISPs a oferecer o ADSL.
Vamos aceitar a previsão da ESR de 4.5 Mc de receitas de Application Service Provider
(ASP). Afinal este é um negócio onde a Microsoft tem uma parceria com a PTM...
Vamos aceitar as receitas de e-commerce previstas pela ESR (derivam da exploração das
lojas online associadas aos vortais), ou seja, 2.51 Mc em Portugal e 2.16 Mc no Brasil.
Vamos considerar ainda mais 4 Mc de receitas diversas (possível, como comissões
recebidas de negócios em parceria).
Obtemos receitas operacionais de 33.8 Mc, das quais 23 Mc são em Portugal.
Aplicando uma margem EBITDA de 35% e amortizações de 2.66 Mc (previsão da ESR), obtemos
lucros operacionais de 9.17 Mc. Se a empresa mantiver o mesmo nível de juros de hoje, 1.1
Mc, isso dará 8.1 Mc de lucro antes de impostos ou 5.27 Mc de lucro líquido. Admitindo,
nessa altura, um PER de 20, obtemos um valor da empresa de 5.27 * 20 = 105.4 Mc, ou,
atendendo às 336.6 milhões de acções, de 1.56 euros por acção.
Esta análise tem muitas limitações, por estas estimativas serem todas pouco certas.
Podemos acrescentar mais alguns factores a ter em conta:
Factores positivos:
1) As receitas de e-coommerce poderão ser maiores, pois a empresa tem bons parceiros e o
e-commerce está em expansão.
2) O nosso cálculo dá receitas operacionais totais, para Portugal, em 2003, de 23 Mc. As
receitas operacionais de todo o grupo PT poderão ser, nessa altura, de 680 Mc. Assim, as
receitas da PTM.com são apenas 2.9% do total de telecomunicações do grupo, o que sabe a
pouco. Tal como os telemóveis se estão a revelar uma parcela crescente das receitas de
telecomunicações (podendo chegar aos 30% em 2003) talvez também as receitas de B2C (o
negócio da PTM.com) venham a ser uma parcela maior do bolo total.
3) O Brasil terá crescimento económico maior que o português, o que aumentará o poder
de compra e, logo, o valor do CPM recebido dos anunciantes. A nossa análise admitiu que
se mantinha a actual diferença de valor entre o CPM de Portugal e o do Brasil
(actualmente o primeiro é o quíntuplo do segundo).
Factores negativos:
1) A PTM.com poderá não aguentar a sua quota de ISP de 45% em Portugal, dada a
agressividade dos concorrentes. Também no Brasil, está a competir com a Terra e a AOL.
2) O passivo da empresa vai certamente aumentar, devido à necessidade de novos
investimentos. Na nossa análise considerámos apenas o passivo actual. Isso trará
redução de lucro.
3) Poderá ocorrer uma saturação do público pelo tipo de conteúdos dos vortais e
portais da PTM.com. Essa tendência já está a verificar-se, pois o número médio de
horas dispendido por cada cliente já está a diminuir. As pessoas poderão finalmente
cansar-se de ver o Pelé ou o Herman num quadradinho muito pequeno e de ter de clicar em
dúzias de botões para ver textos escritos. Pelo contrário, assuntos sérios como a
banca online, a corretagem online, o B2B serão grandes vantagens (mas esses não é a
PTM.com que explora). Nos gráficos da Forrester é que é sempre tudo a subir, não
contaram com o efeito saturação.
Com tudo isto, pode ser que a empresa valha consideravelmente mais ou consideravelmente
menos do que os 1.56 euros por acção que obtivemos.
Como a cotação estava próximo dos 5 euros e tecnicamente com tendência para descer,
com o Nasdaq novamente a descer, é possível que a OPT anunciada hoje, que
"cristaliza" a cotação, tenha sido motivada pelo desejo de não prejudicar
mais os pequenos investidores, pois mais poderia tornar-se demasiado escandaloso, o que
traria prejuízos na imagem pública de alguns grupos económicos. Já ganharam o
suficiente quando venderam, há meses, milhões de acções PTM.com a 8-9 euros (na altura
em que jornais e sites anunciavam que a cotação ia subir, mas "não deveria
ultrapassar os 11 euros".
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