Lisnave: fracasso da OPA poderá ser benéfico para accionistas
A OPA sobre a Lisnave fracassou. Das cerca de 985.000 acções sem voto
que a Navivessel se propunha comprar, apenas cerca de 50.000 foram transaccionadas na OPA.
A generalidade dos accionistas sem voto, portanto, não vendeu na OPA, o que já era
esperado, visto que tiveram a oportunidade de vender em sessões normais de Bolsa a
cotações sempre superiores aos 0.25 euros oferecidos na OPA. Este facto é de bom
augúrio para o futuro das cotações, desde que haja uma recuperação económica da
empresa.
Igualmente importante é o facto de dois accionistas de referência com voto (o Estado e a
Thyssen) não terem vendido. No prospecto que apresenta os resultados da OPA, pode ler-se
que, das acções com voto (que também eram objecto da OPA, juntamente com as sem voto),
890.000 não foram vendidas. Este número, 890.000, tem um significado especial, senão
vejamos: em 1997 o grupo Thyssen comprou 20% do capital da empresa e o Estado 5%. Como o
capital era de 3.560.000 acções, estes 25% dão, exactamente, 890.000 acções. O que
nos mostra que este lote é efectivamente constituído pelas participações do Estado e
da Thyssen, e que estas instituições não venderam na OPA. As suas posições
respectivas no capital da empresa já são agora menores (de 11,87% e de 2,97%
respectivamente) devido ao auemnto de capital de Novembro último de 3,56 para 6 milhões
de contos, subscrito integralmente pelo Grupo Mello. Resumindo, o facto de o Estado e a
Thyssen não terem vendido mostra-nos que não concordam com o preço de 0.25 euros, que
não estão ainda de saída, que provavelmente tentarão negociar a sua saída a preços
mais altos.
Este resultado mostra que a Navivessel não está ainda em condições de lançar uma OPA
compulsiva sobre o capital restante. Para o fazer teria que possuir mais de 90% do capital
e ainda há 11,87% na Thyssen, 2,97% no Estado e cerca de 15,5% na posse dos pequenos
accionistas, o que dá um total de 30,3% não detidos pela Navivessel. Portanto, OPA
compulsiva não haverá no curto prazo. Só poderá haver se, no decurso da próxima
operação harmónio, os restantes accionistas não subscreverem as novas acções ao
preço de 1000$ por acção. Mas isso parece inacreditável dados os montantes
baixíssimos envolvidos. Vejamos o caso da Thyssen: em 1997 investiu 712.000 contos na
Lisnave. No próximo aumento de capital, terá que subscrever 1 acção por cada 6
anteriormente detidas, o que dá apenas 118.666 acções ou 118.666 contos. É muito pouco
dinheiro para manter uma posição de referência num estaleiro mundial, pelo que qualquer
estratega da Thyssen se decidirá por esse investimento, enquanto houver possibilidades de
recuperação da empresa.
Por outro lado, todos os accionistas vão passar a deter acções com voto, o que também
é favorável aos pequenos accionistas. Por todos estes factores não é de excluir a
hipótese de uma subida nas cotações. Essa subida poderia ser mais forte se houvesse
boas notícias no plano económico. As boas notícias possíveis no horizonte são a
conquista definitiva do negócio dos submarinos, a continuação da tendência para a
redução do montante dos prejuízos trimestrais, uma nova intervenção estatal, ou a
entrada de um parceiro internacional. Há que estar atento a esses sinais.
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