Análise da PT em 29-2-2000
No 1º semestre de 99 a PT teve 41.7 Mc de lucro. O aumento de facturação é impressionante em todas as áreas. O número de minutos de ligação subiu 15%, os acessos telefónicos são agora de 42 por 100 habitantes, a TMN aumentou 70% a sua base de clientes e 87% o volume de tráfego. A Telesp Celular aumentou o nº de clientes 50% (de 1.4 M para 2.1 M) e a penetração dos telemóveis no Brasil é muito inferior ainda à de Portugal.
 
A Internet já é responsável por 17% do tráfego da rede fixa e esse valor vai duplicar.
 
Os lucros obtidos com a rede fixa foram de 30.9 Mc, mas seriam 22% maiores se não fossem as despesas com indemnizações por despedimentos. A TMN rendeu 10.2 Mc, a TV Cabo deu 2.1 Mc de prejuízo e os outros negócios 2.6 Mc de lucro.
 
A rede fixa foi responsável por 68% das receitas, ou 218 Mc. Para 2000, vamos supor que o crescimento da conversação é de 20% (mais que em 98-99 porque a Internet está a crescer mais depressa), as tarifas descem 3% (mais ou menos o mesmo que em 99), e a concorrência tira 10% do mercado à PT (isto parece razoável; em Espanha foi 5%, na Alemanha e Inglaterra mais de 30%). Nesse caso as receitas da rede fixa serão 218 * 1.2 * 0.97 * 0.9 = 228 Mc. Se os custos com a rede fixa (187 Mc em Junho de 99) subirem de acordo com a inflacção, isso dará 192 Mc. O lucro da rede fixa será de 228 - 192 = 36 Mc. Anualizado dá 72 Mc.
 
A TMN poderá subir ainda uns 10% o lucro (é difícil subir mais pois no 1º sem. 99 subiu apenas 10% quando o tráfego subiu 87%), para 11 Mc, o que dá 22 Mc anualizado.
 
A Telesp deverá subir as receitas uns 40%, para 19.5 Mc (50% de subida em 99). Admitindo uma rentabilidade das vendas de 15% (a mesma da TMN) isso dará um lucro de 3 Mc, anualizado 6 Mc. Mas poderá ser muito mais.
 
Nos serviços de dados e às empresas, vamos supor que os lucros duplicam, ficando em 4 Mc, 8 Mc anualizados. Isto é possível pois o mercado está em grande crescimento e a concorrência não deverá tirar uma grande fatia ainda.
Assim o lucro esperado para 2000 (conservador), não contando extraordinários, será de 72 + 22 + 6 + 8 = 108 Mc.
 
É bom reconhecer que estes lucros poderão ser diminuídos pelo esforço de investimento em certas áreas, mas também poderão ser aumentados por várias razões: crescimentos acima do esperado, grandes melhorias no Brasil, a concorrência em Portugal não chegar aos 10% do mercado (em Espanha ficou apenas nos 5% ao fim de 2 anos).
 
Aplicando um PER de 20 (é conservador, isto corresponde a um valor mínimo num mercado estabilizado; talvez seja recomendável um PER assim, porque o valor da PT engloba alguns riscos: a concorrência de grupos tão fortes como a EDP, Telecel e Sonae, e os valores anormalmente altos da PTM que poderão baixar), obtemos um valor para a PT de 20 * 108 = 2160 Mc. Porém, este valor ainda não conta com as participações da PT Multimédia e PT Prime, nem com o excesso de valor possível da TMN. Vamos tentar calculá-los.
 
a) PT Multimédia
Como a PT Multimédia não dá lucros nem é possível prevê-los na velocidade de cruzeiro, vamos tentar orientar-nos pelas cotações bolsistas, considerar que o mercado tem parcialmente razão, ela vale bastante mais que o valor da OPV (27 euros), mas menos que a actual cotação. Estipulemos um valor de 100 euros por acção no futuro. Como a participação da PT é de 61.6 M de acções, o valor desta participação é uns adicionais 1230 Mc. Mais uma vez um valor conservador, pois a PTM está a 131 euros, poderá subir ainda mais na Bolsa, e a PT vai com certeza aproveitar para vender acções (já vendeu algumas a 115 euros).
 
b) PT Prime
Vamos supor que vale 100 Mc, o que parece muito conservador, a avaliar pelos valores de outras empresas que operam nesse subsector de negócio (Pararede = 100 Mc, Cofina = 50 Mc, SRD, Compta, etc).
 
c) TMN
Já considerámos a contribuição da TMN para os lucros da PT, que é de 22 Mc (esperado). Como aplicámos um PER de 20 para avaliar o 'bolo principal' da PT, a contribuição da TMN para esse valor foi de 20 * 22 = 440 Mc. Ora isto é muito pouco, pois sabemos que a Optimus, que tem 1/3 dos clientes da TMN (embora vá crescer mais) foi avaliada em 500 Mc e a cotação da Telecel é o que se sabe... Assim, parece razoável aumentar o valor da TMN para 900 Mc pelo menos (para ter valores consentâneos com as outras, mesmo já prevendo um crescimento maior na Optimus). Assim, o excesso de valor aqui é 900 - 440 = 460 Mc.
 
Vamos então somar as parcelas:
- (aplicando um PER de 20 às empresas do grupo que já estão a ter lucros em velocidade de cruzeiro, incluindo a TMN e Telesp): 2160 Mc
- Excesso de valor da TMN (preços de mercado): 460 Mc
- PT Prime: 100 Mc
- PT Multimédia: 1230 Mc
Total = 2160 + 460 + 100 + 1230 = 3950 Mc, ou atendendo aos 1045 M de acções, 18.85 euros por acção.
 
Este valor é conservador em todas as vertentes: a empresa poderá valer muito mais, talvez mesmo o dobro deste valor, se considerarmos os seguintes factores:
 
- primeiro, aplica um PER de apenas 20 aos lucros de 2000, quando o PER médio deste sector, tanto em Portugal como no estrangeiro, está muito superior
- segundo, avalia a PT Multimédia a 100 euros em vez dos 131 actuais e da possível valorização ainda maior
- terceiro, avalia a PT Prime em 100 Mc, quando em OPV, esta empresa poderá valer mais, já que empresas menos influentes como a Pararede e Cofina valem já, 100 Mc e 50 Mc respectivamente
- quarto, já conta com uma perda de 10% de quota de mercado, quando essa perda vai ainda nos 2.4% e, em Espanha, ao fim de 2 anos, foi de apenas 5%
- quinto, avalia a Telesp Celular por baixo; com a subida da Bolsa brasileira de 100% e o aumento do número de clientes da Telesp ao ritmo de 50% ao ano, o valor desta participação poderá aumentar brutalmente
- sexto, não conta com o explosivo aumento do tráfego devido à Internet, que poderá causar um aumento de tráfego global de mais de 20%. A descida de tarifas não parece problema: em 99 desceram apenas 3%, e a história demonstra que, quando as tarifas descem, as pessoas telefonam e navegam mais
- sétimo, não conta com o efeito psicológico das brutais mais-valias extraordinárias em 2000: vendas de acções PTM, OPV da PT Prime, ou outras; estas mais-valias poderão facilmente atingir centenas de milhões de contos
 
Por isso, o valor de 18.85 euros para a acção poderá ser grandemente excedido. No entanto há dois riscos no horizonte.
- A concorrência no sector poderá apertar. Belmiro de Azevedo já declarou que quer a Sonae como a *maior* telecom de Portugal, e avaliámos a perda de mercado da PT em apenas 10%... E Belmiro não costuma ser fanfarrão sem razão de ser, embora demore por vezes anos a concretizar.
- A PT Multimédia poderá *talvez* (só talvez) estar sobreavaliada, mesmo a 100 euros. Não que o esteja em relação às suas congéneres estrangeiras, mas talvez por todo o sector da Internet o estar, e vir aí um colapso mundial destas acções (muito analistas prevêem isso). Dado o contributo do seu valor para a avaliação que fizémos (1230 Mc), isto constitui um risco substancial. Mas a PT, se for inteligente, colmata isto vendendo na Bolsa mais acções.
Ponderando estes riscos, parece que a PT está correctamente avaliada a 18.85 euros. Num mercado em boom, irá facilmente muito acima deste valor, mas, depois da queda, deverá ficar não muito longe dele.