Método

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MÉTODO EM REENGENHARIA

por MARA REGINA CHUAIRI DA SILVA

 

O NOVO TRABALHO

A REENGENHARIA é um método de gestão empresarial que pretende incorporar de forma consciente e intencional as vantagens trazidas pela tecnologia da informação. Pretende assim romper com que está estabelecido na administração do trabalho e que é fruto das experiências da revolução industrial.

A linha de produção fabril, desde Smith até hoje, se baseia em uma forma de organização do trabalho que supõe a especialização no uso de determinadas máquinas / conhecimentos de forma sequenciada, ou seja, é necessário que uma dada tarefa especializada se realize para que outra lhe dê continuidade, até produto final. A partir de um plano racional de "construção" de um dado produto, o mesmo é seccionado em partes, que são atribuídas a diferentes especialistas, cabendo à hierarquia, a integração das partes. Note-se que esta forma depende da "certeza", ou seja, tem que se saber com exatidão como é o produto e todas as suas possibilidades de ocorrência, de forma que todos os gestos de sua construção estejam previstos, e possam então ser desmembrados e posteriormente agregados no produto.

Este formato, brilhantemente desenvolvido por Taylor - Ford, impregnou todas as formas de trabalho, muito além do mundo fabril, sempre se busca a racionalização pretendida pela linha de produção fabril.

Almeja-se construir uma organização que funcione como um relógio, como uma orquestra, tudo cronometrado. Não se pode esquecer, entretanto, que para concretizar esta vontade, seria necessário, ou que se fosse máquina, ou que houvesse uma partitura, isto é, a obra já teria que estar completa, escrita pormenorizadamente para cada um dos seus "operadores", e que se teria que ter um regente (um único regente) que marcasse o andamento, as entradas e saídas de cada um dos componentes, que previamente teriam que ter sido qualificados e treinados. Todas as certezas juntas e orquestradas.

O que a REENGENHARIA diz sobre isto: primeiro que o mundo mudou, o mundo das certezas não existe mais! Durante quanto tempo é possível sustentar o mesmo produto, ou o mesmo cliente, ou a mesma tecnologia? Hoje a certeza é a mudança. Uma descoberta feita hoje em Twaian pode, amanhã, se abater sobre todos os "concorrentes" de um dado segmento de mercado, portanto tudo que estava certinho, bem dividido e resolvido pode desabar num pequeno instante.

Segundo, que as regras de organização de Smith-Taylor-Ford estavam corretas para o mundo da revolução industrial (em qualquer de suas fases), mas que não são mais corretas para os que vivem a revolução técnico-científica. Porque adotar a sequenciação e a especialização quando é possível a simultaneidade e a quebra da parcialidade? Por exemplo, pensando na informação, antes era necessário a produção (um artigo, por exemplo), depois teria que ser armazenada / disponibilizada (publicado em uma revista), depois teria que se tornar acessível (numa biblioteca, numa livraria), para depois ser "consumida", reinstaurando o ciclo. Note-se como isto era fabril, uma sequência de atividades espalhadas em locais diferentes, realizadas por especialistas diferentes, com instrumentos, métodos diferentes. E hoje? todas estas atividades, e mais um monte delas, se realizam simultaneamente, numa mesma mídia/instrumento por não especialistas em nenhuma das "especialidades" antes previstas.

A rede informática é o "lugar / não lugar" onde a informação é gerada, processada, armazenada, passível de ser acessada. Há outra forma de pensar sendo construída, onde indivíduo / coletivo habitam o mesmo espaço real / virtual ( que também pode ser um não espaço já que não tem volume!).

E aí... não dá para pensar em fazer REENGENHARIA com métodos seqüenciais, lineares, a REENGENHARIA não pode propor a simultaneidade aos "outros" e ter um formato taylorista de produzi-la, este sem dúvida é o seu desafio, aquilo que são as características que pretende introduzir na empresa tem que ser sua própria forma de agir.

O MÉTODO

Qual seria o formato de uma empresa reengenheirada? Grupos / equipes respondendo às demandas / alterações do ambiente, com respostas eficazes e eficientes, de forma íntegra e integrada garantindo assim o deslocamento como um todo da empresa no mercado / ambiente. Note-se o que está em jogo: unidade, deslocamento, respostas eficazes e eficientes. Tudo relaciona-se com o ambiente, uma empresa reengenheirada vive para fora não vive para dentro.

Suas características de funcionamento, quais seriam:
(1) absoluta conectividade com o que está "fora", sensores, radares, monitoramento, todas as formas de saber o que está se deslocando no ambiente ( clientes, fornecedores, concorrentes, tecnologia, etc.).
(2) absoluta conectividade interna, senão como manter a integridade?
(3) clareza em relação aos deslocamentos pretendidos e velocidade nas decisões / ações como condição de respostas eficazes e eficientes.

Como produzir isto, como envolver uma empresa num projeto de tal dramaticidade, onde as pessoas, equipes, grupos, dirigentes têm que estar capacitados a viver com a ambigüidade, com a incerteza, com o espaço vazio e nele escreverem decisões, ao invés de repetir tarefas (nobres ou não). Que elas aprendam a olhar para fora o tempo todo, ao invés de olhar para dentro?

REENGENHEIRAR a empresa é tudo, é simultaneamente desenhar o novo trabalho, horizontalizar as relações de trabalho, portanto, aproximar decisão e execução, redistribuir poder decisório e capacitar as pessoas que viverão a nova empresa. Não dá, como queria Taylor, para fazer uma coisa de cada vez, sequencialmente, senão estaremos abandonando a característica que ressaltamos como espetacular na revolução técnico científica.

PLANO DE TRABALHO

Aprendendo a olhar para fora - CENÁRIO - É o primeiro exercício a ser feito, a compreensão de que a empresa não é ilha, de que não está sozinha, e, mais importante, seu deslocamento se dá em um ambiente que também se desloca. Quais os seus principais acompanhantes nesta viagem, como se espera o avanço da tecnologia que é própria do seu negócio, quais serão seus principais concorrentes, lembre-se que o mundo ficou pequeno e o que acontece hoje em Tawain amanhã pode ameaçar/incrementar o seu negócio. (É bom não esquecer o Estado).
As alianças a serem traçadas, as políticas de aproximação / isolamento devem estar rascunhadas ao final desta etapa.
Quem participa da discussão inicial: o chamado comitê gestor do processo de reengenharia, que não se dispersará durante todo o trabalho, deve ser composto por pessoas da empresa que se avalie que estão dispostas a bancar a mudança. Este grupo estará sendo capacitado a ser o grupo dirigente da nova empresa.

Continuando a olhar para fora, no tempo, aprendendo a olhar o negócio - PERFIL ESTRATÉGICO - Qual a intenção da empresa, como define seu nicho de mercado, para que segmentos de mercado pretende formular políticas de conquista / atendimento. A empresa inventa o cliente, e o padrão de atendimento que ele passa a exigir. (Os bancos criaram os clientes que exigem atendimento à distância).
Em suma, a empresa tem que se balizar pelas modificações do ambiente que provoca com sua atuação. O que interessa é o que a empresa produz fora dela. A sua eficácia está na transformação que provoca nos outros: ambiente, políticas, mercado, cliente, fornecedores, concorrentes etc.
Os elementos para a formulação de políticas de conquista / atendimento de segmentos de mercado devem estar visíveis ao final desta etapa, as facilidades / dificuldades em cada um dos segmentos, bem como aliados e concorrentes em cada um dos segmentos. Não há nunca uma única política quando se quer lidar com diversos segmentos de mercado.
Quem participa da discussão: o comitê gestor do processo de reengenharia

Olhando para fora, precisando o negócio - IDENTIFICANDO OS PROCESSOS - o que denominamos processo nada, nada tem a ver com linha de produção fabril: processo é um caminho pleno de decisões, escolhas, estratégias, que para ser realizado exige informação e poder decisório distribuídos / compartilhados. Os processos de uma empresa são os trabalhos desenvolvidos e que provocam transformação no ambiente, ou seja, tem resultados específicos fora da organização. Não chamamos de processo qualquer conjunto / sequência de atividades, nem qualquer ordenação lógica de produzir resultados, os processos são transformações particulares, características que dão identidade às empresas. Faz-se um processo para garantir uma determinada ligação da empresa com o ambiente / mercado, para garantir sua eficácia: sobrevivência e expansão.
A identificação dos processos é o start da nova divisão / integração do trabalho na empresa. Simultaneamente os trabalhos estarão divididos / agregados pelos processos.
Quem participa da discussão: o comitê gestor do processo de reengenharia

Construindo a nova empresa - DETALHANDO / IMPLEMENTANDO OS PROCESSOS - Começamos com as saídas... a partir daí, invenção, criatividade, rompimento com a tradição, vamos inventar o melhor caminho para produzir estas saídas, utilizando-se todo o arsenal trazido pela revolução técnico-científica, com a maior conectividade possível, com o melhor partilhamento de informação / decisão possível. Vamos construí-lo com todos os parâmetros de eficiência a partir da nova base técnica. Ou seja vamos exercitar horizontalização, decisão e execução como partes da mesma atividade, distribuição de poder decisório, trabalho coletivo, responsabilidade por resultados completos, formação de equipes etc.
Todo este exercício deverá ter uma âncora (não âncora) a simulação. Troca-se a maquete pela maquete virtual, onde é possível experimentar / manipular / desfazer / refazer antes de construir.
O detalhamento dos processos seguirá sempre a mesma lógica: que atividades devem ser realizadas para se obter a consecução dos resultados externos, que conhecimentos devem estar presentes, que informações devem estar disponibilizadas, que tipos / naturezas de equipes devem ser compostas para responder por cada uma das atividades, como elas se relacionam, partilham informação / decisão, até a escolha das pessoas para compor as equipes.
A idéia é a da responsabilidade por resultados completos, nenhuma equipe terá que cumprir tarefas, mas sim comprometer-se com a consecução de um dado resultado. É como numa corrida de revezamento, só se passa o bastão quando um resultado completo já foi obtido.
Esta imagem do bastão é elucidativa, na verdade trata-se da identificação dos pontos de interface entre uma atividade e outra, que são também os pontos de controle, o qual passa a ser entendido como parte do próprio processo e não algo extemporâneo, submetido a outra lógica que não a do próprio processo.
Quem participa da discussão / ação: Comitês específicos para o delineamento de cada um dos processos, a medida que em seu detalhamento forem identificadas atividades, poderão ser criados sub-comitês para seu desenho etc.
Este é um apontamento claro de onde / quem são os novos pontos de poder na empresa. Estará se exercitando simultaneamente a distribuição de poder decisório.
Haverá voltas para discussão / aprovação do desenho / detalhamento dos processos junto ao Comitê gestor do processo de reengenharia.
Sem dúvida também a questão da motivação estará em jogo, será que haverá algo mais motivador do que projetar o próprio trabalho, estabelecer suas marcas de controle / qualidade / eficiência?
Sem dúvida esta forma traz importantes consequências sobre a forma de administração de pessoal, antes de "pertencer" a um cargo, ou a uma especialização, as pessoas passam a fazer parte de equipes, onde suas potencialidades e limitações são combinadas com as dos demais, gerando um novo ser coletivo.

O PAPEL DA CONSULTORIA

A consultoria não tem qualquer intenção de ocupar qualquer parcela do poder que é da própria empresa contratante. Seu papel é de instigador / provocador / consolidador de informações, opiniões, decisões dentro do método proposto.
Tem, entretanto, um compromisso permanente com a própria lógica da REENGENHARIA na busca da nova forma de fazer, possibilitada pela revolução técnico científica, portanto a consultoria trabalhará sempre sobre base informatizada, exercitando com todas as pessoas o uso das lógicas / instrumentos, trabalhando coletivamente, com conectividade e em tempo real.
Mais, a consultoria poderá ainda participar de atividades de capacitação / difusão como cursos, seminários etc, desde que sejam veículos da novas formas de pensar / fazer.

Por
MARA REGINA CHUAIRI DA SILVA
FACE PARTICIPAÇÕES E ASSESSORIA LTDA.

 

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