Capítulo IX - Parte I - No reino de Martinica


   A porta tava destrancada. Ele tava cansado de ficar no quarto, lendo. Q mal havia em dar uma volta? Tomaria todo o cuidado pra não atrapalhar ninguém... Assim, saiu, disposto a explorar o Castelo da Primavera...

    Passava pelos cômodos, todos mt bem decorados, alguns em tons neutros, cores frias... Outros apresentavam cores fortes... Ficava algum tempo em cada aposento e saía... Parecia que as portas estavam à espera pra serem abertas...

- AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!

- Brian!!! Assim vc me mata do coração!!!

- Eu?! Vc é q tá parecendo um fantasma andando por aí, Kev!!!

- Deixaram as portas abertas e eu resolvi passear... E vc?

- As portas tb estavam abertas... Estranho... O q será q estão aprontando pra gente, primo?

- Vamos saber logo, logo... Talvez seja coincidência...

- Vc acredita nisso, Kev? Tenho lá minhas dúvidas... Acho q não existem coincidências na Martinica.

- Seja lá o q for, vamos continuar... Não podemos desperdiçar a chance. Qual porta?

- Bem, eu tô vindo da direita, podemos ir pra esquerda...

    Abriram a porta e saíram em um corredor repleto de quadros... Todas as soberanas da Martinica, imortalizadas em pintura. Foram observando um a um, até q chegaram ao último. Valentina usava um vestido azul-China, os cabelos estavam soltos e ela parecia encarar e desafiar quem a estivesse olhando.

- Sabe, ainda não cheguei a uma opinião formada sobre esta rainha.

- Nem eu, Brian...

- Ela dá a impressão de ser fria e implacável, de não se importar com + ninguém, além dela.

- Ela esconde mt coisa a respeito dela...

Brian olhou + uma vez pro quadro:

- Convenhamos, Kev, a rainha é do tipo q intimida.

- Concordo plenamente...

    Os primos olharam pela última vez pro quadro antes de abrir a outra porta do corredor.

    Agora estavam no pátio externo, era uma parte do jardim. Brian e Kevin encontraram uma cena q os deixou um tanto surpresos. Entre rosas e outras flores coloridas, Valentina brincava no balanço preso aos galhos de uma árvore. Ela balançava como se não houvesse ninguém a observá-la neste momento de descontração. Com um chapéu q protegia os cabelos presos em 2 tranças, usando um short azul q combinava com a camisa camponesa xadrez azul-claro e branco, ela não parecia ser a rainha q intimida a quem estiver por perto.

    Eles estavam cogitando sair dali antes q ela os visse.  Mas, um vento um pouco + forte aliado ao ato de ir-e-vir do balanço fez com q o chapéu dela voasse e caísse aos pés deles.

    Valentina parou de balançar e se voltou. Não pareceu surpresa por encontrar “os espiões”:

- Vcs podem trazer o meu chapéu pra mim, por favor? – ela percebeu o olhar q os dois trocaram e sorriu – Podem se aproximar, rapazes. Eu não ataco ninguém... gratuitamente.

    Brian apanhou o chapéu e os dois se aproximaram:

- Aqui está seu chapéu...

- Obrigada. – Valentina tirou um pouco de terra e recolocou-o – Vcs estão gostando do passeio? O castelo tem cômodos mt bonitos. Mas ainda prefiro a vista q tenho daqui. Não existe nada + lindo q o mar...

- Ele me parece um tanto imprevisível... Vc nunca sabe se ele vai estar calmo ou bravio no minuto seguinte...

    Valentina encarou Kevin:

- Os nativos te contaram o ritual? -  antes q ele respondesse, ficou em pé no balanço e pediu – Qual dos cavaleiros vai fazer a gentileza de me empurrar?

    Kevin puxou o balanço e começou a atender o pedido:

- Empurra com força, por favor...

- Ok... Q ritual?

- Não contaram a vcs?

- Não...

- É q todo bebê da família real qdo completa 3 meses de vida é jogado ao mar, em um ponto razoavelmente raso na praia aqui perto.

- Jogado ao mar? Um bebê? – Brian arregalou os olhos – Isso... isso é bárbaro! É monstruoso!

- Pra q fazem isso? – Kevin estava igualmente chocado.

- É um teste. O bebê tem q demonstrar as características básicas da família: espírito guerreiro e capacidade de superação. Se ele lutar pela vida, é retirado da água e reconhecido como um membro da família real... E quem nasce sem coragem e persistência, não merece viver...

- É mt cruel! – Kevin empurrava o balanço – Vc vai ter coragem de fazer isso com seu filho?

    Valentina nem pensou pra responder:

- Claro!!! É a tradição... Não sei pq vcs se chocam. É uma pequena forma de se entender a vida. Vc é jogado em situações q não sabe se vai sobreviver ou não, mas luta pra isso...

    Brian e Kevin continuavam estarrecidos diante da lógica neutra de Valentina.

- Eu nunca deixaria q fizessem isso com meu filho!!! – disse Brian.

- Nem eu. Pode justificar como quiser, mas eu não permitiria... Um bebê indefeso...

- Os bebês da família real não são tão indefesos assim, rapazes... Até hj todos os bebês sobreviveram. Ou do contrário vcs não estariam conversando comigo ou com a Florisbela. Nós passamos pela prova e sobrevivemos...

- É horrível... – a explicação dela ainda não convencera os dois – Não concordo...

- Não sei pq vcs se assustam. Existem coisas piores, deixar crianças com fome, sem estudo. Eu viajei pelo mundo. Vi coisas revoltantes. Aqui no meu reino não tem isso q vi. – Valentina sorria e, diante dos primos ainda espantados, começou a cantar – I believe I can fly. I believe I can touch the sky...

Mesmo surpresos, os dois se viram acompanhando:

- I dream about it every night and day... Spread my wings and fly away...

- Pensei q vc odiasse os EUA... – Kevin falou mt cauteloso – Como vc começa a cantar I believe I can fly?!   

- Não odeio tudo... Gosto daquilo q me faz feliz, incluindo aí músicas e cinema americano... Essa música eu vi num filme com um amigo canadense... Bonita, mt bonita... – disse ela, fechando os olhos...

- Space Jam. – esclareceu Brian.

- É, esse mesmo... Eu tenho uma videoteca, vcs nunca foram lá?

- Não...

-  Eu tinha dito q vcs podiam mexer lá, se quisessem... – o chapéu voou de novo – Como q a criadagem anda relapsa...

    Os dois se entreolhavam, ainda surpresos com a mudança brusca de assunto:

- Sabe o q eu gosto em vcs e nos seus amigos? – Valentina encarou Brian, q estava à sua frente - A capacidade de se chocar com os nossos costumes “bárbaros”...

- Vc gosta de chocar a gente? É um passatempo?

- Não faço isso de propósito, Kev. Estou simplesmente contando a verdade. – tentou descer do balanço e acabou se desequilibrando...

    ... Caiu nos braços de Brian.

- Vcs estão bem? – perguntou Kevin, se aproximando.

- Lindos olhos... – Valentina encarava Brian de tal forma q ele ficou vermelho – Lindos, mesmo! Eu adoro azul, é minha cor favorita, como já deve ter dado pra notar... Vc tem olhos  de gato. Me lembram...

    Kevin ajudou-os a se levantar:

- O q te lembram os olhos dele?

- Lembram uma pessoa q eu conheci q tinha os olhos do mesmo tom de seus olhos, Brian. Olhos mt lindos, como os seus... – Valentina pareceu sonhadora, mas foi só por um momento. – Venham comigo, vou levá-los à videoteca do castelo. Aí qdo vcs tiverem a fim, podem ir pra lá. Tem clássicos, tem comédias, dramas, ação, besteirol... – Valentina apanhou o chapéu – Aliás, vcs viram algum filme bom antes de virem pra cá? Estou precisando fazer umas novas aquisições... Tem filme lá q eu já sei os diálogos de cor...


Quem será que lembra Valentina? Será um antigo amor? Não percam o próximo capítulo de: