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Tenho a teimosa convicção em considerar que o amor, uma vez acontecido, não diminui. Nunca! Ele se transforma no crescimento, no avanço, na compreensão e no conhecimento; como tudo na natureza! O amor não dói porque jamais machuca. O que dói é a sensação de perda na inútil tentativa de oprimir e sufocar a quem se pensa amar; pois quem ama não oprime nem sufoca: simplesmente deixa existir. Impossível aceitar que o amor finalize algum dia como algo repulsivo, amaldiçoado, feio, doloroso, próximo do desinteresse e da incompreensão. O amor não retroage da beleza, da satisfação, da completeza e da infinitude. No amor não há lugar para a repulsão, para o arrependimento, para as reclamações ou para os atos de tirania. O amor não pede desculpas; antecipa-se na prevenção do ferir. Amor não é necessidade, não é dependência, não é "querer amar" ou "não querer amar"; não é medo, subserviência, obediência ou autoritarismo; não é só desejo, embora dele não esteja muito afastado. Não é raiva, ressentimento, não é sufocação neurótica, desconfiança ou ciúme... O amor não é. O amor são... E qualquer outro sentimento que não siga essa naturalíssima fluição existencial será não importa qual, menos amor. Quem ama sabe!
Desde que tenho consciência de meus movimentos sinto-me guiada pelos rastros inconfundíveis do amor, abrigando-o nas artérias como se fora este mais um dos elementos essenciais para a alimentação de minhas células. Quase sinto seu aroma, vejo sua forma, pressinto sua presença... Recebo suas vibrações com tamanha intimidade e vindas de tantos ângulos dos ares que poderia considerar o amor como a própria massa geradora do planeta em que vivo, ou quase que como uma substância permanentemente expelida por todos os seres animados ou não.
E eram essas as estrelas que eu contemplava! As que despiam meus sonhos, celebravam meus passos, as que exprimiam a frequência e o rito de meus ideais... eram essas as cintilações que eu verdadeiramente preferia tocar. Brilhos atordoantes, viveza inabalável, insuspeitas luzes que tentava possuir e emanar das entrelinhas de meus diálogos, dos indisfarçados objetivos de minha aproximação com o semelhante. Essas minhas estrelas! fugentes, ousadas, reveladoras. Não tão populares e universalizadas, não tão esplendorosas no feitio quanto as tuas, mas que da mesma forma brilhavam atraentes, fugidias, enigmáticas, explodindo em meu interior um misto de desassossego e calma. Não as alcançava ou de todo as compreendia, e sequer cheguei perto da certeza de que nos momentos em que as exaltava, elas de fato existiam. Como tu com as tuas. O que não nos impedia de constantemente brincar com a virtualidade de nossos astros. Estendíamos os braços, caminhávamos hirtos em direção à mira que nos acenava, mantínhamos as esperanças de nossos dedos apontados para as luminosidades que urgíamos apalpar, ainda que por demais fatigados e infinitamente convictos de jamais poder tocá-las. Incendidos, mais do que teimosos, continuávamos. Esse o nosso único jeito de viver! aguerridos apaixonados, sem revinda, sem resguardo, gêmeos na utopia e na dor, parecíamos os mesmos seres existencialmente teleguiados perseguindo - sonambúlicos - a mesma potência radiante que nos inebriava. Acho que foi o que primeiro nos uniu. Pensamos estar atraídos pela mesma espécie de constelação. E talvez assim o fosse nos instantes sutis, reverenciosos, em que tão profundamente discorríamos sobre a luminescência que nos doutrinava. Olhando para o alto, voz afluente, engenhosamente prolixa, facies perplexo tomado de prazer ou de furor, declamavas os nomes das estrelas que te inspiravam, cantarolando em magnífico movimento um divino cerimonial de magia e fascinação. Beleza, poesia, felicidade... repetias influente e lúdica, gestos consoantes tremulando a carne pela viva crença nas palavras que pronunciavas, deusa constituída, poderosa criadora dominando a própria impossibilidade de tocar naquilo que batizava.