![]() |
|||
![]() ![]() |
|||
Ele começa no pensamento do gosto de outra boca, escorre para a saliva, trinca os dentes no corpo. O beijo não começa na língua, mas no desejo da língua em outra língua. Começa no corpo, começa na pele, no intimo ritmo. O beijo não quer ser beijo, o beijo quer fugir da boca, alcançar o corpo, festejar a vida. O beijo que quer a boca quer o beijo que não vem da boca. A boca que quer o beijo quer o beijo do querubim de boca pintada. O querubim pinta a boca, deseja o beijo que vem do desejo, que se mistura no sêmen, corrente viva, o beijo. O beijo saliva na boca do querubim. O beijo molha o canto dos olhos cheios de lágrimas. O beijo molha os lábios molhados. O beijo redunda. O beijo se confirma quando escorrega pelo corpo. O corpo escorrega quando confirma o beijo. O beijo começa antes mesmo do barulho do beijo. O beijo existe antes da boca e em todas as bocas moram vários beijos: beijos secos, duros, molhados, beijos estalados, enlatados, eróticos, amassados. Beijos roubados moram em bocas abertas. Beijos abertos moram em bocas molhadas. Um beijo vale mais do que mil palavras e o desejo de um beijo vale mais do que um beijo que vale mais do que mil palavras. Expoente. Um beijo vale mais do que mil salivas, do que centenas de vivas. Um beijo bem dado é tão vasto, tão imenso, que só pode ser festejado com beijos.
Um beijo é um beijo é um beijo é um beijo e não há pedra no caminho que impeça um beijo de ser roubado