UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
Comunicação Social
Teorias da Comunicação - Prof. Eufrasio Prates


O Homem Balão

Ana Rita Murça

Iuri sempre foi um sonhador. Desde que nasceu não gostava da realidade. Vivia em seu mundo de sonhos.Às vezes, passava dias deitado na cama, fugindo das coisas reais que o cercavam. Era tudo tão sem graça que o dia para ele não tinha valor. Só a noite, quando podia deitar-se e voar para onde quisesse, era
interessante.

Já estava na puberdade quando aprendeu a odiar os homens. Ele não acreditava e nem tão pouco concordava em como aquele mundo podia ser tão cruel, quando deveria ser maravilhoso. "Porque existe a guerra, a miséria, a violência? Por causa da existência dos homens", pensava. Assim, começou a acreditar profundamente que a felicidade não seria encontrada neste mundo, mas sim, em outro plano, o céu. Além disso, em nada mais ele conseguia
pensar.

O tempo foi passando e a vontade de voar para o céu crescia de uma forma desesperadora. Não só apertava seu coração como também perturbava sua mente. Iuri mergulhou em depressão profunda. Agora, os sonhos tornavam-se pesadelos. Pensou em suicídio novecentas e noventa e nove vezes, mas desistiu em todas elas. Não tinha certeza se, depois da morte, teria consciência do que estaria se passando em sua nova vida no céu. Sendo assim, desperdiçaria sua única chance de encontrar a
felicidade.

Já não comia nada de tanta angústia e o aperto em seu peito era tão grande que não respirava direito. O ar, assim, começou a acumular-se em seu corpo. O jovem triste ficou tão leve, tão leve, que começou a flutuar. Para que não saísse voando, seus pais o amarraram em uma árvore. Eles não aceitavam que ele fosse um
sonhador.

Lá em cima, pensando (pois agora ele podia pensar, estava mais tranqüilo por estar perto de realizar seu sonho), Iuri por um momento ficou feliz, mas logo percebeu que cometera a maior burrice da sua vida: ele estava tão preocupado em não fazer parte dos mortais que não havia conseguido pensar em mais nada, quanto mais no principal, que era
como chegar lá no céu.

Agora, lá estava ele preso a uma árvore, sem poder fazer nada, entre o céu e a terra, nem um nem outro, no meio da realidade e do sonho. A angústia dentro do seu peito aumentou por perceber seu erro e a corda terminou por ceder,
arrebentando.

Iuri saiu voando, chegou bem pertinho do seu sonho, mas não conseguiu agarrar-se a nenhuma nuvem. Foi aí que ele parou de respirar e explodiu, virando ar
como as nuvens.


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