A PORTA NO ROCHEDO
Em meio a redemoinho de neve , o menino viu uma boca escancarada entre dois enormes rochedos e correu para lá.Os lobos estavam em seus calcanhares; sentiu o hálito quente, malcheiroso deles sobre suas pernas nuas quando se jogou para dentro da fenda negra que se abria à sua frente.Conan se espremeu através da abertura no mesmo instante em que o lobo que estava na frente pulava em cima dele.As mandíbulas famintas se fechavam no vazio;ele estava salvo.
Mas por quanto tempo?
Agachando-se,Conan tateou à sua volta no escuro , palmilhando o chão de pedra áspero , procurando qualquer objeto solto para jogar na horda uivante .Ele ouvia os passos deles sobre a neve fresca do lado de fora, arranhando a pedra com as garras. Assim como ele , os lobos resfolegavam.Eles fuçavam e ganiam, famintos por sangue.Mas nenhum deles conseguiu passar pela abertura, uma fenda escura , cinzenta na escuridão.E isto era muito esranho.
Conan se encontrou num estreito cômodo dentro da pedra , apenas iluminado por uma tênue claridade que vinha pela fresta .O chão irregular da cela estava coberto de resíduos trazidos pelo vento através dos séculos , ou carregados pelos pássaros e pelos animais: eram folhas secas , agulhas de abeto, galhos ,alguns ossos espalhados , pedregulhos e lascas de pedra .Não havia nada no meio desse lixo que ele pudesse usar como arma.
Esticando-se em toda a sua altura - já lguns cantímentros a mais do que há pouco tempo atrás-o menino começou a explorar a parede com a mão estendida. Em breve ele encontrou outra porta. Tateando, passou por essa entrada e seviu em meio a uma escuridão de breu, quando seus dedos apalparam letras entalhadas na pedra, de alguma língua desconhecida.Desconhecida, ao menos para um menino analfabeto que vinha das terras bárbaras do Norte, que desprezava o conhecimento da leitura e da escrita por considerar efeminadas essas habilidades civilizadas.
Ele teve de se agachar para passar pela porta interna, mas depois já havia altura suficiente para ficar ereto.Cansado, deteve-se a escutar.Embora fizesse silêncio total , algum sentido o alertava que não estava sozinho naquele local.Nada que pudesse ver, ouvir ou sentir o cheiro, mas a sensação diferente de alguma presença.
Seus ouvidos sensíveis, treinados para ouvir ecos na floresta, informaram-no de que esta câmara interna era bem maior do que a anterior.O lugar rescendia a poeira antiga e a excremento de morcegos.Sentia sob seus pés vários objetos espalhados pelo chão. Embora não pudesse vê-los, percebia que não era lixo da floresta , mas pareciam mais objetos feitos pelo homem.
Ao dar um passo rápido no escuro ao longo da parede, tropeçou num desses objetos, que se despedaçou sob o seu peso.Uma lasca de mdeira acrescentou mais um arranhão àqueles provocados pelos galhos de abetos e pelas garras dos lobos .Praguejando, levantou-se e tateou no escuro procurando a coisa que ele havia destruído.Era uma cadeira , cuja madeira estava tão apodrecida que se quebrara.Continuou suas explorações com mais cautela.Encontrou outro objeto maior, que ele reconheceu ser um corpo de uma caruagem.as rodas haviam desabado por causa dos eixos apodrecidos e assim o corpo jazia no chão em meio aos fragmentos dos eixos e pedaços de aros.
As mãos de Conan toparam com frio e metálico . Seu tato lhe dizia que era provalvelmente uma armação enferrujada da carruagem.Isto lhe deu uma idéia.Voltou tateando às cegas rumo ao portal interior , que ele mal conseguia distinguir nas trevas que a tudo envolviam .Apanhou do chão da antecâmara um punhado de material inflamável e várias lascas de pedra. De volta à câmara interior , fez uma pilha com o material inflamável e foi golpeando uma a uma as pedras no ferro.Depois de várias tentativas, encontrou uma pedra que soltou brilhante faíscas.
Em breve já ardia uma pequena fogueira fumarenta , que Conan foi alimentando com os pedaços de cadeira e com os fragmentos das rodas da carruagem.Agora podia relaxar , descansar de sua terrível correria através do país e aquecer seus membros enregelados.O fogo crepitante deteria os lobos , que ainda rondavam a entrada externa, relutantes em ir atrás dele na escuridão da caverna mas também não querendo desistir de sua presa.
O fogo emetia uma quente luz amarela que dançava pelas paredes de pedra grosseiramente lavrada.Conan olhou à sua volta .O cômodo era quadrado e maior do que tinha imaginado.O teto alto se perdia em sombras espessas , abarrotado de teias de aranha.Várias cadeiras estavam encostadas às paredes , junto com um par de baús abertos expondo seu conteúdo de roupas e de armas.A grande sala de pedra tinha cheiro de morte - de coisas antigas desenteradas há muito tempo.
E então seus cabelos se eriçaram , e o menino sentiu sua pele se arrepiar com a emoção do sobrenatural.Pois ali, num enorme assento de pedra, no canto mais afastado do salão, estava entronizada uma figura de um homem nú, com um espada desembainhada sobre os joelhos e uma cavernosa face fitando-a à luz bruxulante.
Logo que viu o gigante nu, Conan percebeu que ele estava morto- morto a muitos séculos.Os membros do cadaver estavam marrons e ressecados como varas secas.A carne sobre seu enorme tronco havia secado, encolhido e rachado, pendendendo em fragalhos das costelas nuas.
Isto, porém, não acalmou o repentino calafrio de terror que percorreu a espinha do jovem.Mais destemido que o normal na sua idade, pronto para enfrentar homens e animais na batalha, o menino não tinha medo nem da dor nem da morte nem de inimigos mortais.Mas ele era um bárbaro que vinha das colinas do Norte do interior de Ciméria.Como todos os bárbaros, ele temiaos terrores sobrenaturais da SEPULTURA e das trevas , como todos os seus pavores e demônios e as coisas montruosas e bamboleantes da Noite e do Caos Atávicos, com as quais o povo primitivo povoa as trevas além do círculo de sua fogueira.Conan até preferiria enfrentar os lobos famintos do que permanecer ali com o morto olhando para ele de seu trono de pedra, enquanto as chamas oscilantes davam vida e movimento à caveira ressecada e moviam as sombras em sua órbitas como se fossem escuros olhos chamejantes.
CONTINUA!!!
Um oforecimento: