Harry
Potter e a Filha do Auror
by
Talita Teixeira
Capítulo 18 ~ A fuga
_
Poço de esquecimento? - perguntou Luna, confusa - o que é isso?
Porque ele disse que você já esteve em um antes, Severo?
Snape
voltou-se para a professora e falou, num tom gélido:
_
Porque eu já estive preso em um, minha cara...por Pablo Palomba, seu
pai... - concluiu, amargurado.
Luna desviou o olhar.
_
Eu...eu não sabia - disse, ainda amparando Hermione.
Snape
olhou para as paredes circulares e falou, no mesmo tom de amargura:
_
Encantar um poço com o feitiço do esquecimento para prender alguém
não é novidade, Senhorita Cortazar...foi invenção
dos aurores de Bartô Crouch...não podemos sair daqui por meio de
magia...porque simplesmente o feitiço impregnado no poço nos impede
de lembrarmos qualquer palavra, conjuração ou encantamento...
Então
Harry ajeitou melhor os óculos e concluiu que estavam em alguma espécie
de escoadouro muito amplo, cercado de aberturas estreitas com barras de ferro.
Olhou para cima e calculou a altura; não havia possibilidade de fugirem
dali, a não ser que criassem asas.
_
Estamos presos como trouxas...um dos piores castigos para um bruxo. - concluiu
Snape, amargo.
Alguns
minutos tensos de silêncio depois, Luna falou novamente:
_
E quanto a Hermione? vamos tentar reanimá-la!
Snape
aproximou-se da menina e a ergueu. Os braços de Hermione penderam molemente
para os lados e Harry reparou que havia sangue nos cabelos volumosos da amiga.
_
Granger deve ter batido a cabeça com força, nada mais. - disse
Snape, tentando parecer que pouco ligava, mas Harry percebeu uma nota trêmula
na voz do professor.
_
Ali! - Luna apontava para um canto onde uma água muito esverdeada escorria
lentamente da parede e deslizava para o chão.
Snape
deitou Hermione com cuidado no chão de pedra e Luna rasgou um pedaço
das vestes, molhando na água que gotejava da parede e limpando o ferimento
que a menina tinha na cabeça. Ninguém falava no que Avery tinha
dito.
Harry
observava, penalizado, Hermione voltar lentamente a si, tossindo e tremendo.
Então,
subitamente, o garoto lembrou-se de algo muito importante, e caminhou, desajeitado
até onde eles estavam:
_
Professor! - falou, esganiçado, enquanto Snape e Luna esfregavam os pulsos
e molhavam o rosto da menina - professor, onde o senhor disse que estávamos
mesmo?
Snape
virou-se para ele, com uma expressão feroz deformando-lhe o rosto:
_
Estamos no antigo sistema de esgoto de Hogwarts, Potter! - falou, ainda segurando
a cabeça de Hermione.
Luna
sorriu e olhou para Harry:
_
Porque Harry? Você teve alguma idéia para sairmos daqui?
Então
Harry considerou por breves segundos todas as informações que
sua mente processara com velocidade e falou, atropelando as palavras:
_
Meu padrinho...isto é, Sirius Black...e...e...Remo Lupin estão
escondidos talvez perto daqui...e, e Dumbledore tem o Mapa do Maroto, ele pode
ter descoberto onde entramos e ...
Snape
largou a cabeça de Hermione e se ergueu, raivoso:
_
Cale a boca, Potter! O diretor está viajando, empenhado numa missão
importante! - Luna olhou para ele com muita censura e aproximou-se de Harry.
_
Como você pode falar assim com o menino, Severo? - disse, descontrolada
- não vê que ele não tem culpa por estarmos nesse buraco?
Agora vamos todos tentar raciocinar sobre o que está acontecendo e tentar
sair daqui!
_
Acorde! Não vejo como podemos sair daqui, senhorita Cortazar! - falou
Snape, azedo, sacudindo a professora pelos braços.
Luna
desvencilhou-se de Snape e bateu os pés no chão com muita raiva:
_
EU JÁ DISSE QUE NÃO QUERO OUVIR VOCÊ ME CHAMANDO ASSIM!
- disse, tremendo.
Snape
ficou momentaneamente surpreso, e então virou-se de costas e começou
a caminhar pelo poço.
_
Eu acho...eu acho que sei como podemos sair daqui - e todos se voltaram para
Hermione, que sentava-se com uma certa dificuldade, esfregando a cabeça
com as mãos.
_
E qual seria essa solução mágica, Senhorita Granger? -
Snape perguntou, num tom frio. - Ou será que a senhorita não percebeu
que estamos num poço?
Luna
ajoelhou-se ao lado da menina e segurou-lhe a mão:
_
Fale, querida...não ligue para o professor Snape - disse, com brandura.
_
Bem...eu li em Hogwarts: uma História, que o antigo sistema de esgoto
foi substituído por outro em 1463, devido a duas graves falhas na estrutura
central de escoamento...parece que descobriram que o solo não era apropriado,
porque logo abaixo dos túneis de escoamento...
_
...havia um lençol d'água que inundava o solo abaixo das pedras
- completou Snape, com um meio sorriso no rosto.
_
...isso...e a estrutura, com o tempo, ficou muito instável, e acharam
melhor substituir toda a rede de esgoto para o lado norte de Hogwarts.- terminou
Hermione, já recuperada e sorrindo para o professor.
_
E esses túneis - começou Luna, olhando de Snape para Hermione
- desembocavam onde? - apontou para as aberturas estreitas, atravessadas por
barras de ferro.
_
No lago em frente a Hogwarts, muito próximo de onde Hagrid busca os alunos
do primeiro ano para a travessia nos barcos. - Snape tinha um sorriso de fina
ironia no rosto.
Harry
então interviu:
_
Mas...e as grades? Como vamos passar pelas grades?
_
É simples, Potter...- começou Snape, num tom de voz desagrádavel
-...a segunda falha foi que construíram os túneis com um tipo
de rocha vulcânica que, com o passar dos anos, tornou-se porosa e vulnerável
às infiltrações...basta escavarmos um pouco, assim, que
as pedras logo irão ceder - e, com um pedaço da madeira da caixa
destroçada, forçou uma das pedras da parede, que esfarelou-se
diante dos olhos deles.
Então
todos os quatro pegaram ripas de madeira e começaram a raspar uma parede
logo ao lado das grades de uma das aberturas. Naturalmente, não teriam
tempo para escavar a parede inteira, mas poderiam abrir um buraco suficientemente
grande para todos passarem.
Não
sem esforço, as primeiras pedras cederam e se esfarelaram, e logo havia
uma abertura estreita onde Harry e Hermione poderiam passar primeiro, ainda
que com alguma dificuldade. Por sorte, eram magros.
_
Você primeiro, Potter. - disse Snape, e Harry pensou, por uma fração
de segundos, que o professor temia por sua segurança mais do que pela
dos outros.
Não
foi fácil para Harry passar, arrastando-se, pela abertura, e, embora
ainda estivesse com o robe sobre o pijama, ele sentiu a barriga e as costas,
que já estavam feridas, raspando nas pedras pontiagudas e esfarelentas.
_
Temos que abrir mais a passagem, está muito estreita! Vocês dois
não conseguirão passar! - falou Harry por detrás das grades.
_
Ajude Granger a passar, Potter. - Snape falou, num tom de urgência, e
Harry teve agora certeza de que o professor temia pelos dois.
_
Vamos, querida... - disse a professora Luna, enquanto Hermione ajoelhava-se,
trêmula, no chão, e esgueirava-se pela passagem. Harry puxou a
menina pelo outro lado, enquanto podia ouvir o casaco que ela vestia se rasgando.
_
Está muito escuro aqui, precisamos dos archotes! - falou Harry, voltando
às grades.
O
professor foi apanhar os archotes enquanto Luna, Harry e Hermione tentavam abrir
mais a passagem. Bastaria alargar um pouco a abertura para que os dois passassem
sem problemas, pois também eram magros. Snape, no entanto, voltou apenas
com um archote e o entregou para Harry:
_
Vá, Potter! Ache a saída do túnel! - ordenou, numa voz
imperiosa.
Luna
olhou para ele, surpresa, e Harry aproximou-se das grades, irritado. Lembrou-se
novamente de Cedrigo Diggory...não, bastara um só morrer por sua
causa, e o sentimento fora tão horrível que ele nunca mais queria
repetir:
_
Não! Não vamos sem vocês! - esganiçou-se ele - É
só escavarmos um pouco mais e...
Mas
o professor já o interrompia, numa voz fria:
_
Deixe de ser orgulhoso como seu pai era, Potter. Eu disse para sairem daqui
AGORA. Eu e a senhorita Cortazar iremos depois.
Harry
trincou os dentes com raiva. Hermione então arriscou-se:
_
Professor?...isto é...será perigoso para vocês se ficarem
aí...
Então
Snape virou-se para ela, e tinha a mesma expressão feroz de quando surpreendera
Lupin e Sirius na Casa dos Gritos, no terceiro ano deles em Hogwarts:
_
Senhorita Granger - falou, num tom gelado - Eu disse AGORA!
Hermione
recuou um passo e Harry pegou sua mão:
_ Vamos, Mione - e viraram-se, correndo, pelo túnel escuro, ainda a tempo de ouvirem as mãos nervosas de Snape e Luna recomeçarem a escavar.
Harry
e Hermione correram desabaladamente pelos túneis que serpenteavam e se
ramificavam a frente deles, até que a garota, exausta, tombou no chão.
Harry caminhou mais alguns passos, ainda segurando o archote, mas então
largou-o no solo úmido e, apoiando-se nos joelhos, voltou até
onde Hermione estava:
_
Vamos...Mione....- ofegava, exausto.
_
Eu...não...con...sigo...mais...Harry... - falou.
Ambos
estavam feridos e cansados, e Harry suspeitava que poderiam estar perdidos na
antiga rede de esgotos.
O menino ajoelhou-se ao lado de Hermione e tentou ajudá-la a levantar-se,
mas quando a garota apoiou-se em suas costas ele perdeu o equilíbrio
e caiu também, com um grito de dor.
_
O que...o que foi? - Hermione perguntou, preocupada.
_
São as minhas costas...acho que uma lasca de madeira me cortou... - falou,
tentando erguer-se.
_
Tire a camisa - Hermione falou, decidida, mas ainda ofegando - deixe eu ver
o ferimento!
Harry
sentiu seu rosto arder em fogo, e, apoiando-se nos joelhos, ergueu-se:
_
Não é preciso, Mione...eu...eu já estou bem! Além
disso, precisamos achar a saída do túnel, Snape e Luna podem
não ter conseguido sair de lá e...
_
Nada disso, Harry...tire a camisa AGORA! - disse ela, num tom de voz muito parecido
com o de Snape.
Harry
engoliu em seco e sentou-se no chão úmido ao lado de Hermione,
abrindo lentamente o robe e desabotoando o casaco do pijama. Esta parte foi
muito dolorida, porque as feridas já haviam grudado no casaco.
_
Harry...- disse ela, com uma voz preocupada - ...você se cortou feio...
E
então, a exemplo do que a professora Luna fizera, Hermione rasgou um
pedaço da camisola e molhou na água esverdeada que vertia gota
a gota das paredes, deixando o lugar muito úmido, e passou suavemente
nas costas feridas do garoto. A sensação era muito boa, ainda
que fosse mais psicológica do que real, e o menino sentiu que aqueles
estranhos pensamentos sobre ele e Hermione voltavam com toda a força
do mundo. Ao mesmo tempo, seu coração
batia apressado e ele sentia os músculos do baixo ventre se contraírem,
numa sensação muito estranha, dolorida e ao mesmo tempo boa.
_
Mione? - e ouviu sua voz soar muito indecisa - eu...hum...
_
O que é, Harry? - disse ela, ainda limpando os ferimentos nas costas
do menino.
_
Eu..bem... - e então parou de falar, erguendo-se imediatamente.
Passos
bem audíveis vinham apressados pelo túnel atrás deles.
Harry
agarrou a mão de Hermione com força e, deixando para trás
o archote aceso, o casaco do pijama e o robe, sairam correndo novamente.
Correram
pelos extensos túneis escuros, chocando-se contra as paredes, tropeçando
e derrapando, chapinhando na água que, fracamente, deslizava das paredes
e tornava o chão úmido.
Quando
dobravam um corredor completamente escuro, Hermione estacou e escorou-se em
uma parede. Harry largou sua mão:
_
N..não...não..pos..so..cor..rer...mais - e começou a chorar
e a ofegar, exausta.
Harry
tateou a parede onde ela estava e, sem querer, tocou no rosto da menina. Segurou-a
pelos ombros e aproximou-se tanto que podia sentir o hálito quente que
exalava da boca entreaberta da garota:
_
N...não.....chore...Mi...one...va..mos...descan...sar...está...bem...
Mas
Hermione ainda chorava e ofegava, e se abraçou em Harry.
O
contato com o corpo suado e trêmulo de Hermione reacendeu as constrangedoras
sensações que o garoto experimentara momentos antes, e então
uma vontade louca que ele sabia que era fruto da situação, e da
qual ele muito iria se arrepender depois, passou rasgando pelo seu cérebro,
e ele cedeu ao impulso e colou seus lábios nos de Hermione.
A
menina, pega de surpresa, não correspondeu, a princípio, ao beijo
de Harry; um segundo depois, no entanto, ela relaxou os lábios e cruzou
os braços sobre o pescoço do garoto. Harry ousou escorregar as
mãos para a cintura de Hermione. Seu coração batia muito
forte, e ele podia sentir que o coração dela também. Era
o momento mais intenso que já vivera com uma garota, e ele sentiu, muito
mais do que gostou, que a dor boa e estranha no seu baixo ventre se intensificara.
Alguns poucos minutos depois, Hermione colocou as mãos no peito de Harry
e o empurrou suavemente:
_
Mione...eu - começou Harry, sem se dar conta de que ainda tinha as mãos
na cintura da garota - ...eu...sinto muito...
Hermione
não falou nada, apenas segurou as mãos que Harry esquecera na
sua cintura e afastou-as.
_
Harry...não precisa se desculpar... - falou, um tanto constrangida.
Então,
de sombras muito próximas, eles ouviram:
_ Lumus!
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