Histórias de Amor

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Atualizações: 29/12/2001

Você sabe amar?

Eu estou aprendendo.

Estou aprendendo a aceitar as pessoas,
mesmo quando elas me desapontam.

Quando fogem do ideal que tenho para elas,
quando me ferem com palavras ásperas ou ações
impensadas.

É difícil aceitar as pessoas
assim como elas são,
não como eu desejo que elas sejam.

É difícil, muito difícil, mas estou aprendendo.
Estou aprendendo a amar.

Estou aprendendo a escutar,
escutar com os olhos e ouvidos,
escutar com a alma
e com todos os sentidos.

Escutar o que diz o coração,
o que dizem os ombros caídos, os olhos, as mãos irrequietas.

Escutar a mensagem que se esconde por entre as palavras
corriqueiras, superficiais;
Descobrir a angústia disfarçada,
a insegurança mascarada,
a solidão encoberta.

Penetrar o sorriso fingido,
a alegria simulada, a vangloria exagerada.

Descobrir a dor de cada coração.

Aos poucos, estou aprendendo a amar.
Estou aprendendo a perdoar.


Pois o amor perdoa, lança fora as magoas,e apaga as cicatrizes
que a incompreensão e insensibilidade gravaram
no coração ferido.

O amor não alimenta magoas com pensamentos
dolorosos.

Não cultiva ofensas com lástimas e autocomiseração.
O amor perdoa, esquece,
extingue todos os traços de dor no coração.

Passo a passo,
Estou aprendendo a perdoar , a amar .

Estou aprendendo a descobrir o valor que se encontra
dentro de cada vida, de todos as vidas.

Valor soterrado pela rejeição, pela falta de compreensão,
carinho e aceitação, pelas experiências duras
Vividas ao longo dos anos.

Estou aprendendo a ver,
nas pessoas a sua alma
e as possibilidades que Deus lhes deu.
Estou aprendendo.

Mas como é lenta a aprendizagem !

Todavia, tropeçando, errando, estou aprendendo...
Aprendendo a pôr de lado
as minhas próprias dores,
Meus interesses, minha ambição, meu orgulho
quando estes impedem o bem-estar

e a felicidade de alguém !

Como é duro amar! Eu estou aprendendo. E você?
SABES AMAR?


A morte do amor

    Todos os dias morre um amor.
    Quase nunca percebemos, mas todos os dias morre um amor...
    Às vezes de forma lenta e gradativa, quase indolor, após anos e anos de convivência. 
    Às vezes melodramaticamente, como nas piores novelas mexicanas, com direito a bate-bocas vexaminosos, capazes de acordar o mais surdo dos vizinhos.
Pode morrer em uma decepção já anunciada e prevista ou, às vezes, sem nenhum motivo aparente

    Morre sem um beijo de despedida, sem mãos dadas, sem troca de carinhos, sem abraços apertados, sem olhares compreensivos, com um gosto salgado de lágrima nos lábios.
Morre depois de telefonemas cada vez mais espaçados, diálogos cada vez mais resumidos, de beijos cada vez mais gelados...

    Morre da mais completa e letal inanição!!!

    Todos os dias morre um amor, embora nós, românticos mais na teoria do que na prática, relutemos em admitir.

    Pode morrer como uma explosão, seguida de um suspiro profundo (porque nada é mais dolorido que a constatação de um fracasso), de saber que, mais uma vez, um amor morreu.
    Porque, por mais que não queiramos aprender, a vida sempre nos ensina alguma coisa.
    Esta é a lição: qualquer amor pode morrer! 
    Todos nós podemos ser um assassino.
    E podemos agir como age um assassino: 
podemos nos esconder debaixo das cobertas, podemos nos refugiar em salas de
 cinema vazias, ou preferir trabalhar que nem um louco, ou viajar para "espairecer"...

    Existem também os amores que clamam por um tiro de
misericórdia: ainda estão juntos mas se comportam como um cavalo ferido, esperando ser sacrificado.

    Existem também os amores-fantasma, aqueles que se recusam a admitir que já morreram.
São capazes de perdurar anos, como mortos-vivos sobre a Terra.

    Mas eu, desiludida, triste e quase já desistindo de acreditar no amor, pude ainda encontrar uma outra classificação: os amores-vencedores.
    Aqueles que, apesar da luta diária pela sobrevivência, das infinitas diferenças a serem superadas, das mágoas que às vezes acontecem sem querer, ressuscitam a cada momento e se revelam fortes, pacientes e esperançosos.

    Esses são raríssimos, e há quem duvide de sua existência, jurando que irão acabar a qualquer momento.
    São de uma beleza tão pura e rara que parecem lendas, impressionando a quem os observa incrédulos, sem entender como duas pessoas podem se amar tanto.
    

    Mas, no fundo, sei que estes não surgem como por acaso... 
O que se observa é que esse amor foi suado, cultivado, trabalhado, bem administrado nas centenas de situações do cotidiano.
    Não é um presente de loteria, de sorte, nem de magia.
    É simplesmente o resultado concreto daquilo que foi
um relacionamento maduro, seguro e crescente entre duas pessoas.

    E, assim sendo, renasce como um fenix a cada tentativa de morte.  Surgindo mais brilhante e forte, apresentando-se como indissociável da própria vida, que não mais poderia ser vivida sem ele.

Estou sentindo sua falta...


A BELEZA VERDADEIRA

            Quando você tem quinze anos, costuma ficar em frente ao espelho pesquisando cada pedacinho do seu rosto.  Entra em desespero porque acha que o seu nariz é muito grande ou porque mais uma espinha está surgindo.  Além de tudo, você se acha feia porque seu cabelo não é louro e o menino mais bonito da turma nunca notou sua existência.

            Alison não conheceu esses problemas.  Era bonita, simpática, popular e inteligente, além de ser a campeã de natação da escola.  Alta, com seu corpo esbelto, olhos de um profundo azul-piscina e lindos cabelos louros, mais parecia uma modelo do que uma estudante comum.  Mas, durante o verão, alguma coisa mudou.

            Um dia, ao enxugar o cabelo, ela notou uma falha no couro cabeludo.  Aquilo a intrigou, mas Alison achou que devia tr apertado muito o elástico no rabo-de-cavalo.  Logo se esqueceu do incidente.

            Três meses depois, uma outra falha no couro cabeludo de Alison.  E outra.  E mais uma.  Em pouco tempo, sua cabeça estava repleta de falhas de cabelo.  Os diagnósticos e os tratamentos se multiplicaram até se descobrir que Alison sofria de uma doença chamada alopecia e nada poderia deter o seu curso.

            Como Alison era muito querida, os amigos a apoiaram procurando lhe dar força.  Mas, certo dia, sua irmã menor entrou no quarto com uma toalha na cabeça para que a mãe a penteasse.  Quando a mãe desenrolou a toalha, Alison observou os cabelos espessos e luminosos da irmã caírem sobre os ombros e, pela primeira vez, chorou, dando vazão à tristeza que sentia.

            Naquele momento, Alison teve uma percepção profunda: havia uma escolha a fazer.  Ela não podia deixar que o problema com o cabelo a dominasse a ponto de tirar-lhe o gosto de viver.  Afinal, ela era muito mais do que o seu cabelo.  Alison decidiu assumir sua condição e procurar soluções.  Começou comprando não apenas uma, mas várias perucas de cores e tamanhos diferentes, que usava de acordo com a ocasião e com seu estado de espírito.  Num dia em que a peruca voou de sua cabeça pelo janela aberta do carro de uma amigo, ela conseguiu rir da situação.

            Quando a escola abriu as inscrições par ao campeonato de natação, Alison se preocupou.  Se não podia usar peruca na água, como competir?  "Por que isso?", perguntou seu pai.  "Por acaso você se esqueceu como se nada?" Ela entendeu a mensagem.  Depois de passar apenas um dia com uma touca desconfortável, Alison se encheu de coragem e deixou a careca à mostra.  Houve alguns olhares e comentários maldosos, mas a maioria das pessoas admirou o gesto de Alison e rapidamente ela se acostumou com sua nova aparência.  Voltou para a escola no outono - sem cabelo, sem sobrancelha, sem cílios e deixando a peruca esquecida no fundo do armário.

            Como sempre planejara, ela se candidatou a representante da escola e acrescentou ao seu discurso de campanha slides de líderes carecas, como Gandhi.  Todos os alunos riram muito da idéia.  No primeiro discurso após a vitória, Alison dirigiu-se à audiência contando seus planos como representante e respondendo a perguntas.  Ao final acrescentou:

            "Gostaria de compartilhar uma experiência muito particular.  Todos presenciaram o problema que tive que enfrentar e agradeço do fundo do coração o apoio e a força que me deram. Eles foram fundamentais para que essa experiência promovesse uma descoberta da maior importância na minha vida: de que a beleza se encontra numa dimensão muito mais profunda do que o nosso aspecto exterior.  Não vou negar que sinto falta do meu cabelo e que às vezes sofro com a sua perda.  Mas quero lhes afirmar com toda a sinceridade: sou grata por ter descoberto que o amor é o valor essencial e que depende exclusivamente de mim desenvolvê-lo.  Obrigada, meus amigos."

            Todo mundo vibrou e aplaudiu.

            E Alison, linda, popular e inteligente, ainda por cima campeã de natação e agora representante da escola, com seus olhos azul-piscina, do algo da tribuna, sorriu e agradeceu.

Alison Lambert com Jennifer Rosenfeld
(Histórias para aquecer o coração 2 - ed. Sextante)


"NAMORADOS"  (Carlos Drummond de Andrade)

"Quem não tem namorado é alguém que tirou ferias remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lagrimas, nuvem, quindim, brasa ou filosofia.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é difícil,
mas namorado mesmo, é muito difícil.
Não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer
proteger e quando se chega perto dele treme, sua frio e quase
desmaia pedindo proteção.
A proteção dele não precisa ser parrida, decidida ou bandoleira:
Basta um olhar de compreensão ou mesmo de afeição.
Quem não tem namorado não é quem não tem um amor:
É quem não sabe o gosto de namorar.
Se você tem 3 pretendentes, 2 paqueras, 1 envolvimento e 2
amantes, mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, de cinema depois
das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar
sorvete de lagartixa e quem ama sem alegria.
Namorar não é apenas quem faz pactos com a infelicidade, é fazer
pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas, de carinho
escondido na hora em que passa o filme, de flor caçada no muro e
entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius, Chico
Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou
descobre meia rasgada, de ânsia de viajar junto para a Escócia,
Europa, Oriente ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado,
tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem
não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra
juntos, quem não gosta de falar do próprio amor, nem ficar horas e
horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobados
de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não descobre a criança própria e a do amado
e sai com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do
Milton Nascimento, bosques enluarados, luas de manhã ou musical da Metro.
Quem não tem musica secreta com ele, quem não dedica livros, não
e corta artigos, quem não se chateia com o fato de o seu bem se paquerado.
Quem ama sem gostar, quem gosta sem curtir, quem curte sem aprofundar.
Quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de
semana, na madrugada ou no meio-dia do dia de sol em plena praia
cheia de rivais; quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar,
quem vive cheio de obrigações, quem faz sexo sem esperar o outro
ir junto com ele, quem confunde solidão com ficar sozinho e em
paz; quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre
e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medos, ponha a
saia mais leve, aquela de chita, passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com flores,
com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração
acelerado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com o gosto de caqui e sorria lírios para quem passe
debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos
Beba licor de contos de fadas. Ande como se o chão estivesse
repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de
borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases
sutis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele
pouquinho necessário para fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.

Enlou-cresça!"


"Só se arrependa do que não fez, nunca que do que já foi feito.
Se você tem um
sonho, lute por ele mesmo que os outros o digam impossível. 
O futuro pertence
àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos."


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