Andre Medeiros

 

A FANTÁSTICA MÁQUINA DE FAZER GOLS

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Quem, entre os amantes do futebol, não ouviu falar da famosa Seleção Húngara de 54? Foi um time insuperável e quase imbatível. Chegou a ficar 31 partidas seguidas sem derrota e marcou 27 gols em apenas 5 jogos na Copa de 54, na Suíça. Teve, porém, a infelicidade de perder a final contra a Alemanha Ocidental por 3x2. Sobre este jogo até hoje pairam certas dúvidas. Teriam os alemães jogados dopados, tal o inusitado ritmo que imprimiram ao jogo? Muito se especulou à época. O certo é que, na véspera da partida, os alemães beberam e se divertiram até altas horas da noite. O jogo começou com a Hungria assinalando logo de saída 2x0. Os alemães conseguiram virar o placar para 3x2, marcando o gol da vitória quase ao apagar das luzes. Esta foi a única derrota húngara na série de ouro de 50 jogos, um recorde jamais batido por qualquer outra seleção do mundo inteiro. Verdade seja dita: os magiares aparentavam uma auto-confiança que deve ter negativamente influido no desempenho do time. Foi uma pena… Poucos, em toda a história das Copas, mereceram tanto um título mundial quanto os húngaros, por tudo o que fizeram os comandados de Gusztav Sebes ao longo dos anos.

A base da seleção era o time do Honved (que, em húngaro, significa Exército, pois ao mesmo pertencia). Dos titulares desta seleção, 7 jogavam nesta equipe, entre eles os fabulosos Puskas, Boszkic, Kocsis e Czibor. A ascenção do Honved começou em 1949, com a convocação de Puskas e Boszkic. Conquistaram, a seguir, os títulos nacionais em 50, 52, 54 e 55. Com a invasão da Hungria em 1956 pelas forças do Pacto de Varsóvia, o time do Honved se dispersou, e, com ele, a seleção, indo seus jogadores atuar em várias equipes da Europa. A maioria jamais voltou a rever a pátria.

A seleção húngara conquistou invicta a Medalha de Ouro Olímpica em 1952 na Finlândia, com 5 vitórias: 2x1 na Romênia, 3x0 na Itália, 7x1 na Turquia, 6x0 na Suécia e 2x0 na final contra a Iugoslávia. Aliás, as goleadas sempre foram sua marca registrada. Na Copa de 1954, antes da fatídica final, derrotaram a Coréia do Sul por 9x0, a Alemanha Ocidental por 8x3, o Brasil por 4x2, em violenta e acidentada partida (batizada de A Batalha de Berna), encerrando com outro 4x2 sobre o grande time montado pelo Uruguai à época.

Um dos feitos mais famosos dos húngaros foi derrotar os ingleses em casa, goleando-os por 6x3. Foi a primeira derrota do English Team em Wembley. Na revanche em Budapest, os ingleses foram de novo massacrados por 7x1. Outras goleadas históricas: 6x0 na Polônia (em 51), 5x1 na Tchecoslováquia (53), 5x1 na Romênia (54), 7x3 na Suécia (55) e 9x1 na Finlândia (55), para citar apenas algumas.

As contagens elásticas foram um lugar comum nesta fantástica máquina de fazer gols. Em seu período áureo, de 1950 a 1955, os húngaros disputaram 50 jogos, com a impressionante estatística de 44 vitórias, 5 empates e 1 derrota (a da final da Copa de 1954). Marcaram 215 gols (média de 4.30 por partida) e sofreram 58 (média de 1.16). O time base da seleção era: Grosics; Buzansky, Lorant e Lantos; Boszkic e Zakarias; Budai, Kocsis, Hidegkuti, Puskas e Czibor.

A seleção húngara teve algumas características marcantes: começavam os jogos surpreendendo o oponente com uma verdadeira blitzkrieg. Era comum que lá pelos 20 min. do 1o tempo, já estivessem ganhando por 2, 3 ou 4x0. Outra marca particular era que seus jogadores não guardavam posição muito definida dentro de campo. Em alguns aspectos, anteciparam em 20 anos o Carrossel Holandês. Seus expoentes máximos foram os craques Boszkic, comandando e distribuindo o jogo no meio-campo; dois pontas velozes e hábeis, Budai (ou Toth) e Czibor lançando para a área, onde se encontravam 3 excepcionais goleadores: Puskas, o centro-avante Hidegkuti e, chegando de trás, o grande artilheiro Kocsis, que também recuava na sua função de meia de ligação. A defesa era um simples coadjuvante deste criativo meio-campo e da insuperável linha de frente.

O grande jogador e lider húngaro foi Ferenc Puskas, com sua canhota fortíssima e certeira. Puskas atuou 84 vezes pelo time de seu país, tendo feito sua estréia em 1946 contra a Áustria, partida em que marcou seu primeiro gol pela seleção. Fez 83 gols pela Hungria, com uma excelente média de 1 gol por jogo (exatos 0.99). Marcou 689 vezes em toda sua carreira, numa época em que as partidas eram muito menos frequentes do que hoje. Terminou seus dias de goleador na Espanha, onde a partir de 1958 jogou pelo Real Madri. Foi artilheiro do campeonato espanhol por quatro vezes consecutivas. Assinalou 511 gols em 533 partidas de campeonatos nacionais e internacionais (média de 0.95 gols por partida). Puskas era, curiosamente, um jogador baixinho e gordo, com uma barriga visivelmente volumosa. Só usava sua perna esquerda certeira e poderosa, e pouco cabeceava.

Outro fora de série foi Sandor Kocsis. Exímio cabeceador, possuia rara técnica e habilidade. Junto com Puskas, foi o grande artilheiro deste fabuloso time, tendo marcado 78 vezes em 68 jogos pela seleção (incrível média de 1.14 gols por partida). Terminou sua carreira no Barcelona da Espanha. Citemos ainda o excelente goleiro Grosics, o clássico meio-campista Boszik, o centroavante e artilheiro Hidegkuti e o rápido e hábil ponta-esquerda (e ponta-direita) Czibor.

Da mesma forma que o time do Honved, o sonho terminou com a invasão soviética na Hungria em 1956, de triste memória. O destino desta inesquecível seleção estava selado para sempre. A geração de craques espalhou-se pela Europa em diversos clubes. Finalizando, só nos resta relembrar as palavras eufóricas do locutor inglês em Wembley, antes dos fatídicos Hungria 6x3, ao se referir a Puskas e seus companheiros: "Look at that little chap. We’ll murder this lot" ("Olhem só aquele cara baixinho. Vamos exterminar este bando"). Mal sabia ele que, como de hábito, não daria outra: mais uma goleada da equipe húngara.

* * * * *

 

O ESQUEMA

 

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A série de ouro de 50 jogos da Seleção Húngara

 

Data

Adversário

Local

Resultado

04/06/50

Polônia

fora de casa

5x2

24/09/50

Albânia

em casa

12x0

29/10/50

Austria

em casa

4x3

12/11/50

Bulgária

fora de casa

1x1

27/05/51

Polônia

em casa

6x0

14/10/51

Tchecoslov.

fora de casa

2x1

18/11/51

Finlândia

em casa

8x0

15/06/52

Polônia

fora de casa

5x1

22/06/52

Finlândia

fora de casa

6x1

15/07/52

Romênia

Finlândia

2x1 (Olimp.)

21/07/52

Itália

Finlândia

3x0 (Olimp.)

24/07/52

Turquia

Finlândia

7x1 (Olimp.)

28/07/52

Suécia

Finlândia

6x0 (Olimp.)

02/08/52

Iugoslavia

Finlândia

2x0 (Olimp.)

20 /09/52

Suíça

fora de casa

4x2

19/10/52

Tchecoslov.

em casa

5x0

26/04/53

Austria

em casa

1x1

17/05/53

Italia

fora de casa

3x0

05/07/53

Suécia

fora de casa

4x2

04/10/53

Bulgária

fora de casa

1x1

04/10/53

Tchecoslov.

fora de casa

5x1

11/10/53

Austria

fora de casa

3x2

15/11/53

Suécia

em casa

2x2

25/11/53

Inglaterra

fora de casa

6x3

12/02/54

Egito

fora de casa

3x0

11/04/54

Austria

fora de casa

1x0

23/05/54

Inglaterra

em casa

7x1

17/06/54

Coréia do Sul

Suíça

9x0 (Copa)

20/06/54

Alemanha Ocidental

Suíça

8x3 (Copa)

27 /06/54

Brasil

Suíça

4x2 (Copa)

30/06/54

Uruguai

Suíça

4x2 (Copa)

04/07/54

Alemanha Ocidental

Suíça

2x3 (Copa)

19/09/54

Romênia

em casa

5x1

26/09/54

U.Soviética

fora de casa

1x1

10/10/54

Suíça

em casa

3x0

24/10/54

Tchecoslov.

em casa

4x1

14/11/54

Austria

em casa

4x1

08/12/54

Escócia

fora da casa

4x2

24/04/55

Austria

fora da casa

2x2

08/05/55

Noruega

fora da casa

5x0

11/05/55

Suécia

fora da casa

7x3

15/05/55

Dinamarca

fora da casa

6x0

19/05/55

Finlândia

fora da casa

9x1

29/05/55

Escócia

em casa

3x1

17/09/55

Suiça

fora da casa

5x4

25/09/55

U.Soviética

em casa

1x1

02/10/55

Tchecoslov.

fora da casa

3x1

16/10/55

Austria

em casa

6x1

13/11/55

Suécia

em casa

4x2

27/11/55

Itália

em casa

2x0

André Luiz Medeiros é
arquiteto e pesquisador
do futebol.

 

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