EDUCAÇÃO - IGGe    Instituto Galileo Galilei para a Educação

Reportagem do jornal ''O Estado de São Paulo'' - 26/out/2000

Bird defende investimento em escola noturna

A meta é o atendimento da população de baixa renda, com reforço nos fins de semana

DEMÉTRIO WEBER

BRASÍLIA - Se quiser melhorar a qualidade do ensino médio e atender a população de baixa renda, o Brasil precisa investir nas escolas noturnas. A conclusão é de estudo conjunto do Banco Mundial (Bird) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgado anteontem, sobre a educação no País.

O motivo é simples: a maior parte dos alunos de ensino médio freqüenta escolas noturnas - geralmente após trabalhar durante o dia. No ano passado, eram 4,2 milhões de estudantes. Ou seja, 54,5% do total de 7,7 milhões de matriculados. Mais da metade (57%) dos secundaristas que estudam à noite trabalha ou está à procura de emprego, realidade que atinge 23% dos alunos diurnos, segundo dados do relatório.
"O governante que realmente quiser investir no ensino médio para beneficiar os mais pobres terá que melhorar a escola noturna", diz um dos autores de Educação Secundária no Brasil: Chegou a Hora, o especialista-sênior de educação do Bird, Alberto Rodríguez. O trabalho é assinado também pelo economista encarregado da Divisão de Programas Sociais do BID, Carlos Herrán.
Rodríguez ressalva que, em termos pedagógicos, os cursos diurnos são mais eficientes. Para ele, porém, o Brasil não tem, a curto prazo, como acabar com os cursos noturnos. Por isso, deve tratar de melhorá-los.
 
Adaptações - Os dois autores defendem a adaptação dos currículos à realidade dos estudantes do curso noturno, além de aulas de reforço nos fins de semana e a utilização de recursos de educação a distância.
"São alunos mais velhos, que trabalham e têm família para sustentar", observa Rodríguez, para quem a atuação de professores e os conteúdos ensinados devem considerar esses fatores.
"Se quiser melhorar o ensino médio terá de melhorar também o ensino fundamental e o superior", afirma Marcio da Costa, professor da Faculdade de Educação da UFRj. De acordo com ele, os alunos do ensino médio têm uma formação precária no nível fundamental e enfrentaram professores com formação universitária ruim. "Tudo está interligado", afirma o especialista.
A educadora Guiomar Namo, diretora da Fundação Victor Civita e membro do Conselho Nacional de Educação, acredita que só nas escolas em que há maior número de alunos no noturno porque eles trabalham de dia é que deveria haver maior investimento. Para melhorar o ensino, Guiomar sugere conteúdos mais flexíveis relacionados com o "mundo do trabalho" do aluno. Aumentar a quantidade de aulas, usando o perído das férias, é outra proposta da educadora.
O office boy Anderson Martins, de 18 anos, preferia estudar de manhã, mas teve de mudar para a noite desde que começou a trabalhar há dois anos. "Até hoje, não houve um dia em que tivemos todas as aulas", conta. Segundo ele, professores e alunos faltam muito. Já a vendedora Gisele Albuquerque, de 18 anos, que está na 3ª série do ensino médio numa escola estadual no Tucuruvi, diz que as aulas noturnas são mais "práticas". "Como os alunos são mais maduros, há mais discussões em classe."
As irmãs Cilza e Rebeca Martins, de 19 e 21 anos, não trabalham, mas estudam à noite porque não conseguiram vagas no período da manhã. "No noturno tem muita bagunça e os alunos só estão lá pra conseguir o diploma", reclama Cilza. (Colaboraram Roldão Arruda e Renata Cafardo).
 

Mãe reclama de notas altas do filho

Dona de casa pediu explicações à escola e ouviu que Dren não quer avaliação baixa

CRISTINA CHARÃO

O sistema de progressão automática da rede estadual provoca nova preocupação para pais e alunos: as notas altas no boletim. A dona de casa Elisa Toneto de Carvalho, por exemplo, briga desde o início do mês para que direção da Escola Estadual Dr. Edmundo Carvalho, na Lapa, explique como seu filho pôde ter conceitos C e B nos primeiros bimestres e agora, provas com nota zero. "Ninguém cai assim de rendimento", diz Elisa. "Ao ver as provas em branco, percebi que ele não tinha condições de tirar notas altas", afirma. "O que me disseram na escola foi que a Diretoria Regional de Ensino (Dren) não queria saber de nota vermelha."

Um dos resultados da progressão automática mais divulgados pelo governo foi a redução da repetência. Com o sistema de ciclos, a criança só pode ser reprovada no fim das duas etapas em que foi dividido o Ensino Fundamental (da 1ª a 4ª e da 5ª a 8ª séries).
Durante os períodos, o aluno pode até tirar notas insatisfatórias, pois vai automaticamente para aulas de reforço. Elisa reclama que, por conta das boas notas, seu filho, da 8ª série, perdeu a oportunidade de rever o que não aprendeu.
 
Orientação - A diretora da regional centro-oeste da secretaria, Arlete Scotto, diz que a metodologia dos ciclos tem tido sucesso "sem mascarar resultados". Ela não acredita que se possa manipular informações sobre o desempenho dos alunos. "Acho inadmissível que alguém diga ao professor que os dados têm de ser todos bonitinhos", afirma Arlete.
"Nossa orientação é que o professor procure adaptar seus métodos de avaliação para que não sejam tão perversos com o aluno."
Segundo Arlete, os relatórios enviados a ela pela escola, depois que a reportagem do Estado solicitou entrevista, mostram que o filho de Elisa apresenta problemas comuns de desempenho há tempos, mas alega que é um caso isolado.
Mas outros alunos do Edmundo Carvalho, que já foi escola experimental modelo na rede estadual, reconhecem receber notas finais que não merecem. Um grupo da 8ª série afirma que os professores já deixaram claro que há uma cota de repetência. "Um disse na sala de aula que só pode mandar cinco alunos para a recuperação de janeiro", diz J.C.S.
"Não mostro o caderno e quase nunca faço lição, mesmo assim a professora passou meu conceito de C para B", conta R.P.P., da 6ª série. Sua colega K.C.L., de 13 anos, diz: "Tirei NA (Não Atingiu) na prova e depois fiquei com B." R.P.P. acha que não deixou de aprender nada, mas os professores deveriam estar mais atentos.
Textos originais e na íntegra do Jornal ''O Estado de São Paulo''
Leia mais: reportagem de 28/set/2000 sobre os ciclos


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