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TELMA CASTELLO BRANCO


O REZADOR E A DOR DE DENTE

Ana queria conhecer melhor a vida do sertanejo nordestino, aprender mais sobre as técnicas de convivência com o semi-árido. Seu namorado, João, estava morando em um sítio no semi-árido cearense. Ana estava grávida e João queria casar. Decidiram experimentar uma vida em comum no sertão. O bebê nasceu e foi com vinte dias para a área rural da cidadezinha do interior do Ceará. Não tinha luz, nem água encanada. Mas havia lua cheia, muita conversa com os vizinhos. O lampião a gás iluminava o interior da casa, a geladeira era a gás, o ferro a carvão. Dormiam com cortinado por causa dos insetos. Tinha “papa-pimenta”, “potó” e até barbeiro. Ana, da cidade, aprendeu a conhecer todos esses insetos e, além disso, os tipos e comportamentos das cobras. Não era diferente de aprender a não morrer atropelada por carros e do medo de ser assaltada na cidade. O bebê, um menino, era amamentado pela mãe. Crescia junto com as crianças da comunidade.

Quando ficava triste e abatido, a mãe o levava para a rezadeira. Saía de lá bonzinho e animado! O pai cuidava dele junto com a mãe, trocavam fralda, brincavam no chão da casa, mostravam as plantas e os animais.

Um dia Ana amanheceu com muita dor de dente. Dois dentistas vinham duas vezes por semana atender aos clientes. A experiência anterior que Ana teve com um desses dentistas foi desastrosa. O serviço foi malfeito e teve que ir novamente ao dentista na capital do Estado. Resolveu ir a um rezador, um velhinho muito conhecido na região com suas rezas para veneno de cobra, dor de dente e outras dores. A reza foi feita e a dor, curiosamente, passou. Quatro meses depois, Ana viajou para Fortaleza e decidiu ir ao seu dentista. Quando o dentista tirou o raio x do dente que havia doído, percebeu que parecia inflamado. Perguntou se doía e Ana respondeu que não sentia nada. O dentista começou a mexer no dente e depois decidiu abri-lo. Não usou anestesia, pois Ana prosseguia dizendo que não sentia nada no dente. O dentista limpou o interior do dente que estava muito inflamado. O dentista muito admirado achava estranho Ana não sentir dor.

Ao final da consulta o dentista perguntou o que Ana havia usado no dente para não sentir dor. Ela respondeu que nada, apenas foi a um rezador do sertão. E o dentista exclamou: Pois manda esse rezador para cá, que vou economizar muito com a anestesia!

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