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SONIA LYRA


Crítica do Livro

A experiência do Amor como caminho de maturação humana, perfaz o tema central da obra O Elixir Vermelho ...muitos falam de amor... Nela, a psicóloga Sonia Regina Lyra narra o caminho de realização pessoal de Renata C., denominado individuação, de acordo com a psicologia analítica junguiana. Individuação designa o movimento, no decorrer do qual, um indivíduo realiza o intento do seu desenvolvimento pessoal. O livro relata esta incansável jornada, que conduziu sua personagem central, mediante laborioso trabalho, seus sonhos e anotações, à consumação do referido processo. A tarefa pessoal de individuação de Renata aqui descrita, é essencialmente pertinente ao ser humano. A implicância desta tarefa, significou a busca da liberdade, auto-realização e crescimento e a liberação de todo o seu potencial criativo. A decisão de fazer o caminho de sua auto-realização interior, atendendo o apelo do Amado, tornou-se Renata, a condição da possibilidade de um encontro mais vivo, profundo e consciente com o fundamento do seu ser. Desde o princípio, a aceitação desta tarefa, não reverteu para Renata noutra coisa, senão num enveredar pela estreita e exigente trilha, pelos profundos e obscuros caminhos que a conduziram a uma possível experiência e ao aprendizado do Amor. Para Renata, o Amor, o Amado, se tornou princípio e fim. Qualquer empreendimento humano adquire sentido, somente estando na via do aprendizado do amor. Aprendendo a amar, a busca do Amado determinou para Renata um longo percurso em direção a si mesma. Amar foi um imprescindível encontro com seu ser. Aprender a amar é, ao mesmo tempo, um auto-conhecimento, é um caminho verso a plenificação do Si-mesmo, seu verdadeiro ser.

Voltar a atenção para si mesmo é condição para amar, certo de que o amor não habita outro lugar, senão a profundidade de cada um. Diferenciado das concepções, das experiências e expectativas comumente encontradas com relação ao amor – muitos falam de amor – a aceitação do projeto de encontrá-lo, acarretou para Renata a crucial renúncia de si mesma, o acolhimento da morte e o total esvaziamento do seu eu. Morrer se tornou condição efetiva para o encontro arquetípico do Si-mesmo. Amar se tornou para Renata, a libertação do amor de todas as paixões e projeções que contaminam a experiência do amor. Em outras palavras, a dissolução do eu foi o prenúncio de um grande crescimento, de uma regeneração e de um desenvolvimento mais pleno da consciência de Renata. A obra nos atesta enfim, que amar é buscar o crescimento, a origem pessoal, a própria realização humana. O livro traz uma série de sonhos que acompanham o itinerário percorrido por Renata. O decurso destes, reúne todo o processo, de modo que, ampliados e, simbólica e devidamente fundamentados, deixam entrever uma estruturação que obedece a um gradativo crescimento da maturação de sua personalidade. Pode-se identificar estágios deste processo. Tais estágios não são estanques, e sim simbólicos entre si. A amplitude, o alcance e a fundamentação simbólica dos sonhos, são provenientes da psicologia profunda, da cultura oriental e da alquimia – fonte esta com a qual Renata mais se identificou. Para caracterizar os passos dados, Sônia optou pela adoção da terminologia alquímica e convencionou de acordo com esta, denominar de Nigredo, Albedo e Rubedo - as fases concernentes ao seu processo interior.

Assim, caracteriza o primeiro estágio de Renata, a Nigredo, como um tempo de total escuridão. Trata-se do primeiro encontro do ego com seu Fundamento. Nigredo diz portanto, da identificação do ego com a prima matéria. Os sonhos que retratam o primeiro estágio, revelam o ego de Renata contaminado com paixões violentas e impulsivas, sendo o amor experimentado como uma delas. É o contato de Renata com a sombra, os conteúdos reprimidos da alma. Nesta fase, vige a indecisão, a dispersão do eu, dissipado pelas projeções. A realidade é contemplada de tal forma que o eu reflete-se afastado do seu Fundamento, e o eu experimenta a si mesmo dividido do seu verdadeiro ser. Submeter tal material ao processo alquímico, significa dispor-se ao esforço de afastar o eu deste estado, com o objetivo de libertá-lo. Purificar o amor deste estado primitivo, proporcionou para Renata longos e doloridos conflitos, dor, lágrimas, morte e sofrimento. Para tanto, Renata travou uma dedicada luta consigo mesma, empenhada completamente nesta tarefa. Amar tornou-se o mesmo que solidão, renúncia, confronto, espera – virtudes heróicas – que lhe reservaram um grau mais desenvolvido de consciência e uma superação de um tal estágio.

A partir daí, os sonhos apresentam Renata sendo conduzida a um novo estágio, um outro nível de consciência. O confronto outrora estabelecido consigo mesma, experienciado como dor, angústia e sofrimento, conduziram Renata lentamente para a Albedo, o segundo estágio. Qualifica e caracteriza este estágio, o discernimento que vai emergindo na relação com a realidade. As coisas começam a ser elas mesmas, como também o amor. Renata vivencia o surgir de um novo eu, mais forte, límpido, resistente e desenvolvido. Advém o consolo, como resultante da acomodação do seu mundo interior. Renata sente suas agitações internas cessarem, à medida que se tornam conscientes. Os instintos e as paixões perdem força. Renata pondera. Aprende a refletir. Se num primeiro passo seus valores e convicções foram desfacelados, ressurgem eles agora, novos e reformulados. As opiniões sobre a verdade nascem doutra origem. Renata já é revestida de uma atitude sensível. Amar soa para Renata como a capacidade de viver cada coisa, cada instante... seu momento.

O estágio final do processo de Renata, é a coroação da sua obra. É a Rubedo, a consumação. Nada mais é tido como oposição em seu interior. A experiência vivida, fez com que o ego se reencontrasse novamente com o seu Fundamento, porém de forma singular e consciente. O eu emergente, maduro e adulto, concebe o Fundamento encontrado de si mesmo, como o grande regente de todas as coisas, principalmente de sua vida. Livre de tudo o que a aprisionava, o eu aprende a amar com liberdade, com desapego, sem posse. O eu se abre receptivo a vida, acolhedor. Renata não sente mais o peso das obrigações e não concebe nada como imposição. Tudo é vivido a partir da dimensão da liberdade, de um eu liberto, livre de suas amarras. Tudo suporta. Aprender a Amar, e buscar do Amado, consiste no deixar cada coisa ser como ela é, nela mesma. É a perfeição. Para Renata, é a chegada do Outro, pura dádiva da vida. É O Elixir Vermelho prometido. A espera terminou. O caminho foi percorrido. A suave presença do outro é para Renata, um Companheiro inseparável...

Percorrer o caminho e os passos de Renata, que deram origem ao livroO Elixir Vermelho, é um desafio. A autora e o conteúdo da obra oferecem ao leitor uma oportunidade única para um frutífero encontro pessoal. Imersos num paradigma histórico no qual palavras como Encontro, Amor, Cuidado, Sentido e Realização Pessoal – há muito já esquecidas – convidam-nos a despertar para nossa realidade mais verdadeira, que é o cultivo do nosso mundo interior. Longe de apresentar o amor como subterfúgio, convenção ou compensação passageira, a obra apresenta o confronto real de uma pessoa consigo mesma. Na obra, a fascinante persistência de Renata, seu percurso e sua perseverança, suscita outras aventuras para o homem de hoje, especificamente para aqueles, a quem viver significa lançar-se ao desconhecido de si mesmo, em busca de um tesouro bem guardado, disponível unicamente ao coração intrépido, que corajosamente dispõe-se a transformação radical de sua personalidade. O livro O Elixir Vermelho acena para o amor como algo de total exigência. Evidencia que, com relação ao amor, amar é tarefa de todos, seu aprendizado, decisão de muitos; todavia, a Salvação por Ele operada, é privilégio de poucos.


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