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JANICE MARIA DA SILVEIRA

 

A RODA

Ouvi, de um deficiente, que "a Inclusão é uma utopia".
Entendo utopia como um sonho impossível de ser realizado.
Fui consultar o dicionário para ter certeza e, diante da definição que encontrei e de tudo que eu tenho visto e vivido nesses meus poucos anos como deficiente, posso afirmar que a Inclusão é um sonho perfeitamente realizável.

Mas eu confesso que não gosto do termo "INCLUSÃO"... para mim, o verbo INCLUIR, foi assumindo uma conotação meio... esquisita. Eu já questionei muito sobre esta realidade... observei... analisei... pensei... e vejo, como numa historinha infantil:
Uma enorme roda de adultos de mãos dadas... são pessoas não deficientes, que trabalham em favor da inclusão do deficiente na sociedade. De repente uma dessas pessoas larga a mão dos outros, ordena que o seu lugar seja guardado e sai da roda, vai lá fora, pega o deficiente e empurra para dentro, sem perguntar se ele quer entrar e se os outros, os normais... vao querer recebê-lo. Ninguém ousa dizer "não!", o que seria politicamente incorreto... mas não se sabe ao certo o que aquele deficiente tem... e daí ninguém ousa pegar na mão dele, o que seria uma atitude temerária. Então a pessoa que saiu da roda leva o deficiente até dentro dela e deixa-o lá... na berlinda e tão deslocado como um enfeite quebrado numa mesa de luxo... e a pessoa não deficiente volta para a roda, e os outros normais abrem a roda para recebê-la de volta com palavras elogiosas. E se o deficiente não observar as regras do "jogo", seu "castigo" será a exclusão...

Eu não quero ficar na berlinda! Eu não quero ficar deslocada! Eu não sou uma "gata espichada"... nem tenho "boca de jacaré" ou "saia remendada"! Eu quero participar! Quero que me dêem a mão! Eu tenho dificuldade motora, mas posso pensar... e mesmo que eu não pudesse pensar, eu poderia fazer outras coisas úteis... permitam-me ser útil como eu puder ser!

Visualizo a mesma cena e a pessoa que sai da roda pergunta se me aceitam e explica que não há perigo em me dar a mão, pois a minha deficiência não é contagiosa e eu sou, comprovadamente, uma pessoa bem educada. Depois ela vem até mim e pergunta se eu quero participar, pois minha vontade também é importante. E eu vou de mão dada com ela... A roda se abre... uma mão forte segura a dela e outra, a minha... dançamos e cantamos todos juntos. Não há mais berlinda nem castigo. Eu soube que até o nome do "jogo" mudou: agora se chama Integração.

Gostei mais assim... o verbo integrar sugere algo harmonioso e a plena aceitação da PPD que sou eu... por mais complicadas e estranhas que sejam as minhas Necessidades Especiais.
Eu não me sinto mais na periferia nem na berlinda... sinto que a retórica ficou mais coerente com a realidade.

Posso até sonhar com uma sociedade que aceite amanhã quem já faz parte dela hoje, mesmo que ela ainda não o aceite na roda por ser o seu lado visivelmente feio e defeituoso.

 

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