O sexo é nômade garimpeiro,
luz que perfura montanhas,
preso apenas à raiz
do desejo.
E quer, ah... como quer,
o calor áspero da face
no bico dos seios,
um longo e imprevisível
arrebatamento
de um falo sem fronteiras,
mar que se desaba
de açoites sobre a areia.
Fadado ao desatino
o sexo molha
a si mesmo
na chuva meteórica
do ímpeto.
Vadia vulva
treme, pulsa
onde íntimos relâmpagos
pulsam.
No céu da boca,
em pensamento,
a língua lambe seu ventre,
carne cozida lentamente
nos lábios.
Sem toque, sem carícias...
o amor é riqueza fria,
pedra preciosa
que o corpo ardente
e o espírito que nele
se aquece
desprezam.
Sem sexo,
tudo o mais é histórico,
cáustico, cansativo.
Impermeável à pele,
a alma encolhe, escurece.
A sabedoria, o eterno, o intraduzível
está no fogo-fátuo do cio.
Simples e belo
é ser animal,
emprestar-se ao alheio, apossar-se, temporariamente, do alheio
sem pudor, sem súplicas,
sem esperar consentimento.
E ao impacto fulgurante
de uma vontade assistida
chamar-se-á persíades,
porque deixa rastros de estrelas,
a luz estilhaçada do gozo
na poeira cósmica da vida.
Porém, uma dor sobressalta meus sonhos:
Se é tão intenso e fascinante, o simbólico fenômeno,
por que esperar, por que demora tanto
(uma vida, centenas de dias)
para acontecer?