© Wolfgang Kurt Schrickel, 31/8/1997
http://www.oocities.org/WallStreet/Floor/2311
Todos nós conhecemos e experimentamos (em nosso bolso) esse processo. Apenas para se visualizar o sucesso do Plano Real nesta área, basta comparar algumas cifras: a inflação brasileira, medida pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas, de Julho/94 a Junho/97 (36 meses) foi de 53,89%, enquanto a do mês de Março/90, medida entre 16/2 e 15/3 daquele ano, foi de 81,3%!!!
Seria uma pena destruir ou vir a perder esta fantástica conquista. Por isso mesmo, as reformas institucionais são tão importante e, verdadeiramente, inadiáveis. A história é implacável com os países que concentram o debate nacional na esfera deletéria das questiúnculas menores, não focalizando suas ações naquilo que é realmente prioritário e de longo alcance, vale dizer, reformas institucionais que consolidem modelos de crescimento econômico sustentado e aumento do padrão social de sua gente.
A medição da inflação brasileira sempre foi um tema extremamente complexo, intrincado e que desperta discussões apaixonadas. O país tem dimensões continentais, concentração da atividade econômica e da população em certas regiões, e metodologias diferenciadas para o cálculo dos diversos indexadores. Estas metodologias envolvem diferenças importantes no período da coleta dos dados (mês calendário x de 16 a 15), pêso dos componentes do indexador, regiões que são objeto da coleta dos dados, nível de renda das famílias, etc.
Seja como for, a economia é classicamente dividida em 3 segmentos fundamentais: setor primário (agricultura), secundário (indústria) e terciário (comércio e serviços), além do próprio Estado, e cada um tem sua influência sobre a inflação do país.
O Plano Real baseia-se em 3 âncoras principais: os preços dos artigos de primeira necessidade (produtos agrícolas - cesta básica), a política cambial (sobrevalorização do Real em relação ao dólar norte-americano) e a política de juros (nível de juros reais elevado).
Inflação do Plano Real - Julho/1994 e Junho/1997:
Os indexadores
Eventuais exageros ou questionamentos sobre a metodologia de cálculo do ICV (Dieese) à parte, é inegável que o quadro acima demonstra uma expressiva diferença entre a inflação medida na porta da fábrica e a inflação que afeta diretamente o bolso do consumidor. Se tomarmos o universo das famílias mais humildes (2 a 6 salários mínimos), nota-se que a diferença entre o IPA (FGV) e o IPC (Fipe) é de 43,73% durante os 3 anos de vida do Real.
Se o país passa a ter um nível de inflação de primeiro mundo, de apenas um dígito; se os preços não oscilam mais a níveis estratosféricos de um mês para outro; se a moeda, instrumento de troca e de reserva de valor, volta a ter efetiva importância no processo econômico; se hoje existe efetiva base de comparação de preços; se muitos preços baixam ou, no máximo, permanecem estáveis por muitos e muitos meses, porque então existe tanta apreensão quanto ao plano de estabilização econômica? Porque existem tantas pessoas que perdem seu emprego, não conseguindo se recolocar? Porque existem tantos empresários reclamando de dificuldades introduzidas pelo Plano Real? Em termos inflacionários, estamos vivendo “tempos suiços”, e ainda assim, nem todo mundo é feliz. Porque? O Setor Público:
Os preços agrícolas, aceitas as variações nitidamente sazonais, decorrentes dos mecanismos de oferta e demanda (chuva, seca, safra, etc.), têm se mantido bastante estáveis, de forma geral, durante os últimos anos, tanto que hoje é possível adquirir uma mesma quantidade de bens (até um pouco mais), com a mesma quantidade de moeda, que há 3 anos. Portanto, parece-me, não são os produtos agrícolas os vilões da inflação residual brasileira. Nunca se comeu tanta carne e frango (o ícone do Plano Real), nunca se consumiu tantos produtos lácteos supérfluos e achocolatados (iogures, bolachas, etc.) como ao longo dos últimos três anos.
O setor público, evidentemente, tem seu peso na geração da inflação residual do Plano Real. É conhecido o crônico déficit público, já há vários anos, e os desequilíbrios da Balança Comercial (importações x exportações) e do Balanço de Pagamentos. Nunca se arrecadou tanto (cerca de 30% do PIB) e, ainda assim, o déficit público é consistente e contínuo. O problema reside, de princípio, na pequena base tributária. Para uma população economicamente ativa de aproximadamente 65 milhões de pessoas, apenas 7,5 milhões são declarantes do Imposto de Renda, principal receita ordinária da União. Isto demonstra que 57,5 milhões não atingem sequer a renda mínima definida para a entrega da declaração anual de rendimentos. Em outras palavras, poucos pagam muito, o que é um estímulo à sonegação de forma geral.
Ainda que os salários do setor público não tenham sofrido reajustes ao longo dos últimos dois anos, há um forte impacto deste componente nas finanças públicas. Em muitos Estados na federação os gastos com salários ultrapassa, em muito, o limite legal de 70% do orçamento. Em verdade, em grande parte deles, a receita está totalmente comprometida com o pagamento dos salários dos servidores, não restando muito para os investimentos prioritários e absolutamente indispensáveis (saúde, educação, transportes, segurança, saneamento, etc.). A situação se agrava em decorrência do Regime Jurídico Único, o conceito de isonomia (proventos iguais para cargos semelhantes) e pela deterioração da relação entre funcionários ativos e inativos. Há alguns anos havia um trabalhador “parado” (aposentado), para cinco “andando” (na ativa). Hoje, a relação já está em um para três, e em pouco tempo, sem que haja alterações no quadro, poderá atingir a relação um para dois, ou seja, haverá duas pessoas trabalhando para uma pessoa aposentada. Certamente, não será possível pagar esta conta. A reforma administrativa é, pois, imprescindível e inadiável. Ela deverá ser feita com equilíbrio e racionalidade, preservando os mais legítimos direitos, porém não poderá deixar de ser atacada de frente, com determinação e coragem.
Outro fator a estimular o déficit público é o conjunto de isenções, benefícios e incentivos fiscais promovidos pela União, Estados e Municípios (a chamada renúncia fiscal). Estes benefícios objetivam promover o desenvolvimento regional, estimulando certos setores econômicos, as microempresas ou compensar aquelas empresas ou organizações que tenham efetuado gastos, por exemplo, com saúde e educação, que são atividades de Governo em sua essência. Apenas a nível da União, a renúncia fiscal para 1997, segundo a Receita Federal, deverá atingir algo em torno de R$ 15,5 bilhões. Para 1998, estima-se, esta cifra deverá atingir R$ 17 bilhões. Para se ter uma idéia da magnitude deste montante, basta considerar que o orçamento do Ministério da Saúde para 1998 é de cerca de R$ 19 bilhões, ou seja, 90% do que será gasto com saúde no próximo ano, não será arrecadado em razão de isenções, benefícios e incentivos fiscais. A essas cifras devem, ainda, ser acrescidas as renúncias fiscais dos Estados e Municípios (basicamente, na forma de isenções de ICMS, ISS e IPTU), o que se convencionou chamar de “guerra fiscal”, com o que as unidades da federação procuram atrair investimentos (novas empresas) para sua respectiva região.
Talvéz, uma parte importante do déficit público seja causado pela multiplicação de municípios em nosso país, muitos dos quais não têm receita ordinária suficiente para sequer cobrir o custo da máquina administrativa. Em 1980, o Brasil possuia 3.990 municípios. Em 1995, este número já atingia 4.979. No início de 1997, o Brasil já contava 5.507 e em meados deste ano eles já eram 6.040. Trata-se de um acréscimo 51,4% em 17 anos, significativamente superior ao crescimento do PIB no período (38,6%). Visto sob outro ângulo, durante o período 1980-Jun/1997 foram criados mais de dois municípios por semana. Obviamente, cada novo município necessita de uma infra-estrutura mínima para seu funcionamento legal e efetivo (Prefeito, Vice-Prefeito, Secretários, Vereadores e funcionários da administração direta), o que implica em custos. Como cerca de 3.500 municípios não contribuem para a formação da receita da União, possuindo, em verdade, uma receita própria praticamente inexistente, fica com a União e os Estados o ônus do custeio destes municípios, via FPM-Fundo de Participação dos Municípios e outras dotações orçamentárias. Estima-se que os cerca de 1.334 municípios criados após 1988 geraram aproximadamente 480 mil empregos, já que cada nova cidade requer, em média, 360 cargos diretos. Acredito que a descentralização da administração é um processo extremamente salutar. Ninguém melhor do que a comunidade local pode compreender os problemas da região, suas potencialidades, suas prioridades e as formas para solucionar seus problemas mais emergentes. Porém, é preciso pagar a conta desta deescentralização...
Tomados em seu conjunto, estes fatores agravam o déficit fiscal, gerando a consequente necessidade de sua cobertura por meio de empréstimos internos ou externos (dívida pública interna e externa) ou por novos mecanismos de arrecadação (criação de impostos e taxas ou elevação de alíquotas: IOF, CPMF, Imposto de Renda, depósitos compulsórios, etc.). Os empréstimos, via emissão de títulos, afetam diretamente as taxas de juros de mercado (juros primários), de vez que o Governo, para colocar os títulos no mercado, tem que oferecer taxas atrativas. Tanto estas taxas, quanto os impostos relacionados às transações do mercado financeiro, acabam por afetar o nível das taxas de juros da economia, tornando os empréstimos em geral extremamente caros, o que, em resumo, encarece o custo operacional das empresas. O Governo tem, pois, papel importante na formação da inflação residual do Plano Real.
O Setor Terciário:
Durante muitos e muitos anos toda a incompentência gerencial e o desapego a controles de custos podia ser varrida para debaixo do tapete. A cada aumento de custos e despesas, bastava fazer o repasse aos preços. Na balbúrdia da inflação de 25%, 40%, e até 80% ao mês, tudo era possível. Com medo de perder poder aquisitivo, e sem outras opções (mercado fechado, inexistência de produtos competitivos), o consumidor acabava por adquirir os bens e serviços que necessitasse. Ao longo destes anos todos o segmento terciário (Comércio e Serviços) criaram o péssimo hábito de embutir em seus preços margens verdadeiramente absurdas. Parece que tal cultura ainda não está definitivamente erradicada. Recentemente, ao ser indagado por um jornalista, um conhecido empresário, dono de uma das maiores redes de comércio do país, afirmava: “meu negócio não é transacionar com ações; meu negócio é comprar por 100 e vender por 200...(sic)”. É um péssimo exemplo. Quantos e quantos pequenos empreendedores não caem na armadilha de querer fazer a mesma coisa (com muito menos capital, poder de barganha, etc.), e “dão com os burros n’água”, isto é, quebram. É a conhecida “Lei de Gerson”, todos querendo levar vantagem em tudo...
Aliás, um parêntesis: é extremamente injusta a associação da chamada “Lei de Gerson” com o fantástico meia da extraordinária seleção tri-campeã mundial de futebol no México, em 1970. Acho, até, que ela nem deveria ter o seu nome, apesar daquele comercial de cigarros.
Voltando ao tema, o processo inflacionário, parece-me, é um processo “matemático-emocional-subjetivo-autoprotecionista”, o que se convencionou denominar de “efeito inercial da inflação” (a inflação passada gerando inflação futura). A inflação futura é um exercício de imaginação eminentemente pessoal. Cada um de nós, cada empresa, tem seu próprio Índice Geral de Preços, a inflação interna, e as expectativas são, obviamente, variáveis de pessoa para pessoa. No momento em que cada um de nós tem que fazer a previsão da inflação futura, introduz-se uma componente subjetiva, que é a ganância. Não sou contra a figura do lucro, pelo contrário. Acho mesmo que todo e qualquer bem ou serviço tem que ser compensado de forma adequada e justa. Salvo as ações e obras de benemerência, tudo tem um preço. A questão é saber, que preço?
Estou convencido, de há muito, de que o principal foco de inflação é o segmento Terciário da economia (Comércio e Serviços). Durante a vigência do Plano Real foram notados reiterados abusos com relação ao reajuste de preços deste segmento. O aumento de tarifas públicas, do preço dos aluguéis, das mensalidades escolares e dos honorários médicos, do preço dos restaurantes, da indústria têxtil e de vestuário, para citar pouco, comparativamente à inflação do período, foram uma grandeza. Neste setor ainda prevalesce, com muita ênfase, o conceito de levar vantagem em tudo, o “SCC-Se Colar, Colou...”.
É bem verdade que o segmento Secundário (indústria), de forma geral, ainda tem muito a fazer para ganhar competitividade e, conseqüentemente, poder oferecer produtos melhores a preços menores. Muito já se fez nesta área. Basta notar os preços de eletrodomésticos que têm registrado quedas sistemáticas de preço. A indústria baseia-se fundamentalmente em economia de escala (quantidade de unidades produzidas/vendidas e diluição de custos fixos). Tanto a indústria, quanto a atividade agro-pecuária, tem determinados componentes relativamente fixos no seu ciclo operacional. Refiro-me ao processo industrial em si. Por mais que se ganhe em escala, que se terceirize atividades-meio, que se utilize modernas técnicas de produção (just-in-time, ABC-Activity Based Cost, ISO, etc.), que se aprimore a logística de compras e vendas, existe um componente do ciclo produtivo que é relativamente fixo: o tempo de produção do bem propriamente dito. É possível reduzi-lo, porém será impossível levá-lo a zero. O mesmo acontece na atividade agro-pecuária. Se o prazo de engorda de um plantel de suínos é, digamos, de 3 meses, não é possível fazê-lo em apenas um mês. Talvéz seja possível acelerar o processo através da moderna biotecnologia, porém existe um limite. Raciocínio análogo é aplicável às safras agrícolas. Tanto na indústria, como no setor agro-pecuário, o controle de custos das diferentes etapas de produção é um requisito essencial para a viabilidade do negócio.
O setor de serviços, por sua vez, é praticamente imune à globalização e à competitividade, por estar disperso geograficamente, envolver especializações particulares e por, não raro, esbarrar na divisa entre a economia de mercado e o cartel. A rigor, ninguém muda de médico ou de dentista por uma questão de preço, mas pela competência destes profissionais. A rigor, ninguém tira um filho da escola no meio do ano letivo, sob pena de ver o filho perder o ano. Não há como adquirir energia elétrica de outra concessionária, a não ser daquela que serve a região como um todo. O setor de serviços, sem dúvida, tem dado grande contribuição para a geração da inflação do Plano Real.
A atividade do Comércio fundamenta-se, a meu ver, tão somente na habilidade de gerenciar estoques: saber comprar e saber vender. No Comércio não existem todas as intrincadas etapas inerentes ao processo de produção de cada um dos componentes do bem final. Certamente, a gerência de uma empreendimento comercial, ainda que tenha os seus mistérios (o diferencial entre sucesso e fracasso), é tarefa muito mais fácil do que o de uma indústria ou atividade agro-pastoril.
Alguns exemplos:
Há poucos dias fui a um Shopping Center de São Paulo e, de repende, deparei-me em frente a uma papelaria. Logo à entrada do estabelecimento notei a “promoção” de cartuchos de tinta para impressora, vendidos a R$ 67,80. Perguntei qual era o preço fora da promoção. O vendedor informou que eram R$68,00 (bela “promoção” essa, de R$ 0,20, não?). Gracejos à parte, insisti no preço, ao que ele informou que o preço normal do cartucho era de R$ 78,00. É claro que não comprei o cartucho, nem o faria jamais a esse preço, eis que tenho encontrado este artigo, com alguma freqüencia, cotado por volta de R$ 40,00 a R$ 43,00. Será que se aquela papelaria estivesse vendendo o cartucho a R$ 45,00 ou mesmo R$ 50,00, eu não teria feito a compra, ainda que não precisasse do cartucho em caráter de urgência? Acredito que o fornecedor seja o mesmo (para quem vende a R$ 40,00 ou a R$ 78,00), porém a ganância do vendedor (margem pretendida) de um é muito maior do que do outro. Quantas vendas não são perdidas pelo exagero da ganância daquela papelaria do Shopping Center?
Aliás, como é possível “quebrar” uma papelaria (pedido de concordata), que apenas atua em Shopping Centers e pratica preços muito mais altos do que em qualquer outra parte? Ou, por outra, como é possível “quebrar” uma casa de artigos importados (vinhos, whisky, cognac, licores, caviar, salmão, queijos, ervas, geléias, etc.), cujos produtos são consumidos classicamente pelas classes A e B? É fácil: basta a papelaria, entre outras hipóteses, adquirir, digamos, 10 caixas de formulários. Como as autoridades costumam mudar formulários de um ano para outro (cor, novos campos, etc.), os formulários não vendidos ficam encalhados. E se eles forme impressos na frente e no verso, não servirão sequer para blocos de rascunho na papelaria. No caso da casa de artigos importados, basta importar “um navio de cerveja”. Como a cerveja tem prazo de validade, o que não for vendido vira encalhe. Além disso, os supermercados, que tem muito mais apelo mercadológico, pela gama maior de produtos que oferece, também passaram a importar cerveja, dificultando a vida das casas de artigos importados, que antes eram as únicas a oferecer este tipo de produto. Trata-se, pois, de uma mera administração de estoques.
Como consultor tenho tido a feliz oportunidade de viajar por todo o país. É um privilégio poder aprender a cultura e os costumes das diferentes regiões brasileiras. Pois bem, suponha que você queira fazer uma viagem a Fortaleza, e que você tenha feito a sua decisão de última hora, sem um prévio e longo planejamento anterior. Você faz as malas e vai ao aeroporto. Ao chegar ao balcão de qualquer companhia aérea, munido do seu talão de cheques ou cartão de crédito, você terá que pagar algo em torno de R$ 750,00 numa passagem de ida e volta entre São Paulo e Fortaleza. Chegando à capital cearense, você terá que tomar um taxi (R$ 20,00) até um bom hotel (de 4 estrelas). Aliás, não é exagero afirmar que todos os hotéis brasileiros tem uma estrela a mais, comparativamente ao padrão hoteleiro da Europa ou Estados Unidos. Por isso mesmo, a Embratur está reclassificando todos os hotéis do país. Você chega ao balcão do hotel, sem reserva prévia, solicitando um apartamento por 7 dias (6 noites), e notará que o preço gira por volta de R$ 120,00 a diária, incluído o café da manhã. Uma semana de hospedagem implicará num custo de R$ 792,00, incluídos os 10% de praxe. Como você terá que se alimentar, pelo menos uma vez ao dia, você gastará, digamos, R$ 20,00 por refeição. Numa semana serão outros R$ 154,00, já incluídos os 10%. Você não fez nenhum passeio de jangada, não foi ao Beach Park (fantástico!), não comprou nenhuma daquelas fantásticas rendas ou redes cearenses, nem tomou nenhuma caipirinha extra, limitando-se a ir à praia e andar a pé pelo calçadão. Pronto. Em uma semana você terá gasto R$ 1.716,00. Como pode uma agência de viagem oferecer um pacote de uma semana a Fortaleza, de avião, com translado, hospedagem com café da manhã, uma refeição diária e um passeio, por R$ 550,00/R$ 650,00? Qual é a mágica?
Conhecemos a sistemática de tarifas promocionais, sacrifício de margens das agências de turismo, etc.; porém, não deveria haver uma diferença tão acentuada entre os preços praticados ao turista da agência de viagens e o turista acidental. Não é a toa que cerca de 3 milhões de brasileiros viajam anualmente para a Disneylândia ou Paris, provocando um forte desequilíbrio na conta Turismo do país. A conta Turismo tem sido flagrantemente deficitária para o Brasil, o que é um contrasenso. O Brasil é simplesmente magnífico por fora (praias) e por dentro (interior). O país tem uma rede hoteleira, rotas aéreas, restaurantes, infra-estrutura de serviços e tudo o mais para ser uma nova Espanha na área do Turismo. O país precisa urgentemente enfatizar a sua vocação turística. Estamos evoluindo nesta parte, mas ainda falta muito...
A administração do ciclo operacional
O setor do comércio deve repensar seriamente a questão das margens praticadas. Não é mais possível praticar margens tão elevadas quanto nos velhos tempos. É tempo de se administrar com eficiência o Investimento Operacional em Giro (Working Investment). Este conceito de análise financeira foi introduzido pelo Chase Manhattan, no início dos anos 70, em seus cursos de formação gerencial. Durante os anos 80, em que a inflação era o mais perfeito álibi para as incompetências administrativas, o IOG talvéz tenha perdido algo de sua importância, já que tudo era repassado aos preços, de forma até inconsciente.
A lucratividade de qualquer empreendimento, num cenário essencialmente competitivo, decorre de duas variáveis: a Margem sobre as vendas e a Rotação dos ativos. Nem sempre a solução está na margem, mas sim na velocidade com que os estoques estão sendo escoados. É o princípio clássico do supermercado: ganha pouco em cada unidade, mas vende muitas unidades.
Todos nós, pessoas físicas, também temos nosso próprio IOG. O conceito não se aplica tão somente às empresas. No caso destas últimas, quem não souber administrar com eficiência o seu IOG estará fadado a perder vendas, o que resultará na perda de rentabilidade, enfraquecimento patrimonial e, por fim, bancarrota. Não há escapatória. Os episódios recentes da Casa Centro, Mesbla, Banco Nacional e Encol são por demais elucidativos, para citar apenas alguns casos de grande impacto na mídia e no mercado de forma geral.
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