©Wolfgang Kurt Schrickel, 5/1/1999
http://www.oocities.org/WallStreet/Floor/2311
A criação destas cidades ensejou grande migração colonizadora, o acesso às terras pelos mais pobres e a criação de novas relações comerciais. E provocou um duplo movimento: aqueles que enriqueceram com o comércio e o artesanato reivindicavam direitos políticos, enquanto os pequenos camponeses e a mão-de-obra urbana desejavam uma revolução social. Legisladores como Sólon, encarregados de julgar os conflitos, redigiram leis escritas aplicáveis a todos. Entretanto, a insuficiência dessas reformas fez surgir uma fórmula política nova: em muitas cidades, um tirano era encarregado de toda a autoridade, para reequili-brar as instituições sociais.
Atenas viveu o seu apogeu entre os anos 479-431 a.C., provocando a reação de outras cidades gregas, sobretudo de Esparta, por meio de inúmeras guerras. Em 446 a.C. a paz dita dos Trinta Anos reconheceu de fato a divisão da Grécia em duas zonas de influência. Foi uma trégua curta, mas este período ensejou a expansão da civilização de Atenas, na época de Péricles, tornando-se a fase de maior esplendor da civilização grega clássica.
As guerras geraram inúmeros conflitos sociais nas cidades gregas, pelo choque entre a minoria de gran-des proprietários, comerciantes e manufatureiros, e o povo que, frequentemente, não possuia terras e ainda sofria a concorrência dos escravos no trabalho. Todos os filósofos da época sentiram a necessidade de reformar a cidade (Xenofonte, Platão, Sócrates). O indivíduo reivindicava seus direitos e sua liberdade contra a lei cívica. Este contexto revelou inegável a falência política do mundo grego. Os oradores, entre eles Isócrates, pregavam a necessidade da união e o fracasso das antigas alianças fez com que se pensasse que apenas um rei poderia agrupar as forças vivas do helenismo.
Entre 359 e 323 a.C. a Grecia ficou submetida à intervenção da Macedônia. Felipe II fez de seu reino uma monarquia centralizada, dotada de um exército nume-roso. Ele soube utilizar as discórdias das cidades para intevir na Grécia e dissolver o Império ateniense no norte do mar Egeu. Após a paz de Filocrates (346 a.C.), o conflito assumiu o aspecto de uma luta entre o rei e o orador ateniense Demóstenes, que organizou a defesa de Atenas e concluiu uma aliança com Tebas. Mas o esforço de guerra foi tardio e Felipe venceu em Queronéia (338 a.C.). A paz de 338 a.C. castigou Tebas duramente e privou Atenas de sua confederação. A Liga de Corinto deu à Grecia uma nova organiza-ção, em que as cidades deveriam viver em paz e aderir à Liga, cujo generalissimo (hegemon) era Filipe. Com sua morte em 336 a.C. houve ainda uma vez uma tentativa de revolta, que acabou por arrasar a cidade de Tebas. Na sequência dos fatos, Alexandre partiu de Atenas para libertar as cidades gregas e criar um mundo novo, cuja base foi a civilização grega. compilação da Grande Enciclopédia Larousse Cultural).
E o que isso tudo tem a ver com o Brasil? Tudo. Passados quase 2.800 anos, passamos da biga (veículo de tração animal da antiguidade) para o carro impor-tado de câmbio hidramático e ar condicionado. Subs-tituímos a escrita rudimentar pelo computador. Não temos mais as guerras entre cidades com lanças e armaduras. Hoje, mais sofisticada, ela é praticada pela retaliação tributária entre cidades e estados brasilei-ros, e entre os estados e a federação, colocando em cheque todo o ajuste fiscal negociado com o FMI. E em todo resto, a história da Grecia antiga também está mais viva que nunca. Vivemos, sim, tempos gregos. A história se repete.
No limiar do século 21 e de festejar 500 anos do des-cobrimento, o país tem seu primeiro presidente reeleito. É previsível o acirramento da queda-de-braço entre o Executivo e o Congresso na tramitação das leis indispensáveis à manutenção da estabilidade e a retomada do crescimento econômico.
Os juros estratosféricos elevam a inadimplência a níveis constrangedores e aniquilam a auto-estima do cidadão. A especulação financeira e a globalização dos mercados, ressaltam as vulnerabilidades dos paí-ses emergentes. O país continua na condição de refém dos capitais especulativos e organismos internacionais. A distribuição de renda é absurda. As invasões de terras e as chacinas continuam a ser toleradas. As aposentadorias dos funcionários públicos são absurdamente privilegiadas em relação ao cidadão comum, tornando incompreensível o art. 5° da Cons-tituição. Os ajustes essenciais da economia avançam a passos de tartaruga numa época de telecomunicações em frações de segundos. A carga tributária é inabsorvível pelo cidadão e pela micro e pequena empresa. As escolas privadas caríssimas e a escola pública ineficiente, oferecem níveis de ensino sofríveis (o Provão o demonstra sem meias-palavras). A rede privada de saúde é inacessível e a pública sucateada.
Exacerba-se o "salve-se quem puder". Permanece a impunidade. Aumenta o estímulo ao "espértu". Metade da PEA-População Economicamente Ativa não tem carteira assinada. A sonegação fiscal é desavergo-nhada e crescente. Ninguém sabe de quanto é o PIB de fato ou o custo da folha de pagamento do setor público em todos os níveis. Permanece a vocação de "empurrar tudo com a barriga", adiando soluções indefinidamente. Continua a faltar espírito cívico e profissionalismo (vários Governadores têm encontrado os computadores zerados, sem qualquer arquivo de informações da gestão anterior). E por aí vai.
Ainda se morre de sede e é necessário enviar cestas básicas aos conterrâneos nordestinos. Ainda se morre em filas de internação hospitalar ou de obtenção da aposentadoria. Ainda existem crianças sem escola. O salário mínimo é menor do que o mínimo em diversas localidades e ocupações. Crianças ainda trabalham quando deveriam estar moldando sua cultura e caráter na escola. Tudo isso é uma barbárie para uma propa-lada oitava economia do mundo.
Qual é o futuro previsível? O momento requer união e diálogo. São necessários compreensão, tolerância e renúncia. São inadiáveis o espírito cívico, a humildade, o despojamento e um pouco de amor ao Brasil. É imprescindível focalizar o todo e não apenas a parte. O Brasil precisa ser tratado no atacado e não negoci-ado apenas no varejo (os interesses puramente egoístas e individuais). É preciso coragem e determinação. O resto, o país faz por si. |