Existe um sem-número de formas de se apreciar um crédito. Cada pessoa acaba por desenvolver o seu método pessoal. Contudo, entre todas as formas possíveis, certamente há os métodos que são eminentemente acadêmicos, há os essencialmente prolixos, há os pouco práticos e há os métodos que são, inegavelmente, errados.
Sem contar as ações instintivas, aquelas que ninguém nos ensina, mas que simplemente começamos a praticar desde tenra idade, toda atividade humana envolve dois componentes básicos: o Conhecimento e o Método.
Muitas vezes conhecemos algo, mas não sabemos como materializar esse conhecimento. Em outras palavras, sabemos o que é, mas não sabemos como fazer. E, com toda a certeza, muitas vezes temos uma situação contrária: fazemos algo, mas não sabemos, com muita clareza, porque estamos agindo daquela maneira. Nessa última situação, a nossa ação passa a ser meramente mecânica, sem maior embasamento conceitual. Infelizmente, esta forma de atuação não é suficiente para resolver todo e qualquer problema que tenhamos pela frente.
Pensemos por um instante num finissimo jantar, que serão servidos "escargots". Você sabe o que é um "escargot", nas nunca experimentou. Por um lamentável equívoco, ao arrumar a mesa, a copeira deixou apenas um par de colheres ao lado do seu prato, e os "escargots" serão servidos em sua forma clássica, ou seja, dentro da concha. Você não conseguirá, nunca, jamais, retirar o dito cujo de sua concha, valendo-se de uma, ou mesmo, das duas colheres. Simplesmente, falta-lhe aquele instrumento próprio para (finamente) extrair o molusco de sua concha. Você até poderá vir a degustá-lo. Bastaria quebrar a concha com a colher... Porém, além do barulho único que você irá provocar (o jantar é finíssimo!), você correrá o risco de errar na pontaria e a concha acabar voando para algum outro prato ou o cabelo da madame à sua frente, ou você irá acabar macerando "escargot" com a concha, cujo paladar não deve ser lá tão agradável. Falta-lhe o instrumento para aplicar o método mais adequado. Em outras palavras: há a forma simples e a forma difícil de se fazer as coisas...
Continuemos as nossas divagações, e pensemos por exemplo numa pessoa que sabe operar uma máquina de calcular HP 12-C. A calculadora tem as teclas [PV], [PF], [PMT], [i], [n], etc., as quais são normalmente pressionadas para a elaboração de cálculos financeiros. Após algum tempo, a pessoa fica condicionada, até, a pressionar as citadas teclas. Suponhamos que esta pessoa não conheça as fórmulas da matemática financeira em maior profundidade, e se veja na situação de efetuar um cálculo financeiro, porém sem contar com a sua íntima HP 12-C. Suponhamos que ele a tenha esquecido, que tenha acabado a pilha, ou coisa parecida, e que ele esteja no escritório do cliente, que não usa a HP 12-C, mas uma calculadora Texas ou Casio. E agora? Conseguirá ele efetuar o cálculo financeiro? É o caso em que a pessoa tem o método, mas não tem o conhecimento ou a base conceitual.
Há pessoas que, para extrair porcentagens, valem-se unicamente das teclas [%] ou [/\%], embora o cálculo possa ser feito apenas mediante uma conta de divisão, e interpretar a cifra decimal resultante, como um percentual, fazendo os devidos ajustes da vírgula. É uma questão meramente de método.
Tudo gira em torno do conhecimento e do método. Cada pessoa, ao acordar e se levantar da cama, vale-se de um método próprio e particular. Uns, ao abrir os olhos, ligam a luz; outros, ligam o rádio; outros, mais, desligam o despertador; outros, ainda, levantam-se apoiando primeiro o pé direito; outros, o pé esquerdo; alguns acendem o primeiro cigarro (que pena!); outros, desligam a TV! Com a Análise de Crédito não é diferente.
Ao longo da minha carreira profissional, à medida em que aprendía os segredos e "nuances" da análise de Crédito, acabei por constatar que fazía as apreciações de uma maneira sempre semelhante. O passo seguinte, foi o de sistematizar e aprimorar um método, simples e eficiente, porém com embasamento conceitual, ou seja "sabendo o que se estava fazendo".
Dada a sua aplicabilidade e eficiência, tenho procurado ensinar este método aos participantes dos cursos e seminários de crédito que tenho ministrado. E, tenho notado muitas vezes que pessoas, que não "conseguiam ver" quase nada sobre as principais variâncias de desempenho de uma empresa de um exercício social para outro, passavam a ter um visão completamente diferente, no curto espaço de poucos dias de prática.
A análise de crédito tem muito a ver com essa "capacidade de visualização". Não raro, pessoas têm sido arredias a analisar créditos, simplesmente porque não "conseguiam ver" os fatos históricos para, a partir deles, extrojetar o futuro. E quando passavam a "vê-los", simplesmente começavam a ter um posicionamento diferente sobre a matéria.
O fato concreto é que o método visa acelerar o processo de avaliação de créditos. Já em tempos passados, e muito mais agora, não é possível aceitar pacificamente que seja gasto muito tempo na análise de um crédito. É preciso oferecer respostas rápidas, porém seguras e embasadas. O MÉTODO: O método é composto de 8 etapas. Destas, 5 referem-se à avaliação de fatos, e 3 referem-se à avaliação de riscos ("Não existe risco no passado, apenas história; o risco está no futuro").
Vejamos as etapas:
Mediante a utilização do método, o analista tem a oportunidade de fazer uma avaliação sobre todas as áreas críticas do desempenho de uma empresa. Ele terá avaliado a estrutura patrimonial, os negócios do dia-a-dia, a habilidade da administração (gerência) em enfrentar problemas e conduzir os negócios de forma segura e prudente, e a capacidade da empresa de conter custos e gerar lucros. Tenho absoluta certeza em afirmar que, se o analista não puder formular a sua opinião sobre o crédito ao longo das primeiras 5 etapas, e num curto espaço de tempo, não será debruçando-se sobre as demonstrações por mais uma semana ou mês, que ele o fará.
A Análise de Crédito envolve uma "certa química", uma espécie de "amor à primeira vista". Ou acontece, ou não! O método objetiva auxiliar nesta "química". Tente aplicá-lo e você verá que as coisas ficarão bem mais claras. Para tanto, será obviamente fundamental que você tenha estudado ou revisto os conceitos sobre o IOG e o ROE, e não tenha fundamentais dificuldades em ler demonstrações financeiras, por uma total ausência de conhecimentos essenciais de Contabilidade.
Desejo-lhes sucesso na empreitada.
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