©Wolfgang Kurt Schrickel, 11/1/1999
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Seja como for, o recém-eleito governador de Minas Gerais e ex-Presidente, Itamar Franco, cometeu uma gafe diplomática serissima ao declarar a moratória unilateral da dívida pública das alterosas, postergando os pagamentos à União por 90 dias. Tal gesto faz renascer a frase alegadamente proferida por De Gaulle e faz eclodir “forças nada ocultas” contra o Governo Federal, num confronto que não auxilia em nada o país rumo à estabilidade econômica e à reto-mada do crescimento auto-sustentado de que tanto precisamos.
Minas Gerais é um estado belíssimo, povoado por uma gente extremamente trabalhadora e hospitaleira. Sua economia é pujante, uma das mais importantes do país, e seu peso político no contexto nacional é inquestionável. Toda e qualquer eleição majoritária passa por Minas Gerais. Isto é sabido desde antes da política café-com-leite (São Paulo-Minas), da época de Juscelino Kubitscheck. Mas colocar Minas Gerais nos noticiários internacionais e provocar a queda das Bolsas de Valores de todo o mundo, do valor dos títulos brasileiros no exterior e provocar a fuga de dólares do país, em razão da moratória declarada por seu governador, não pode deixar de ser considerado como um lamentável equívoco estratégico. Minas não precisa deste tipo de "marketing".
Se a motivação para a medida foi eminentemente financeira, isto é, a simples falta de dinheiro para o pagamento da máquina administrativa, a medida mais recomendável teria sido a da negociação, como vem tentando o também recém-eleito governador do Rio de Janeiro, Garotinho. Certamente existem dezenas de outras alternativas antes do calote.
Desde meados da década de 80 (Plano Cruzado) o Brasil tem seguidamente experimentado a pura e simples ruptura de contratos celebrados legitimamente entre as partes. Isto só tem feito entulhar processos e mais processos no Judiciário, que simplesmente não tem os meios para julgá-los nos prazos esperados pelas partes. O efeito multiplicador da medida do governador mineiro é catastrófico, já que pode estimular o calote geral (nos setores público e privado). Isto já aconteceu muitas vezes no passado. Afinal, o exemplo que vem de cima acaba sendo praticado por quem está embaixo.
Se a intenção do governador Itamar Franco foi a de iniciar o processo da reafirmação de sua posição de oposição a FHC e ao seu governo (especificamente a equipe do Ministério da Fazenda), lançando-se numa pretensa vanguarda para as eleições de 2.002, convenhamos, ainda falta muito tempo até a sucessão presidencial, e muita água ainda rolará por debaixo da ponte, não? Qual o sentido de atropelar o processo 4 anos antes da época da sucessão presidencial?
Diz-se também que o Brasil é o país do futuro. Se a cada semana nos desviamos do nosso dever de casa (as reformas), continuaremos a ser o país do futuro até o fim dos tempos, uai.
Hoje, uma coisa é certa. O Brasil não é mais apenas o país do futebol e do carnaval. Perdemos a Copa para a França, num vexatório 3 a 0 e a França recebe 20 vezes mais turistas do que nós por ano. Hoje, cada fato ocorrido em nosso país, tem um forte impacto no resto do mundo. São os tempos da globalização. É fundamental agir com serenidade e reflexão. Na con-dição de ex-Presidente seria esperável uma visão de estadista do governador mineiro. Quanto a afirmação de De Gaulle, não sei, mas tenho a convicção de que a gente do Brasil é séria, e muito. Que prevalesça o bom-senso.
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