VALOR AGREGADO A SERVIÇOS E PRODUTOS DE INFORMAÇÃO

Doutor Gregório J. Varvakis Rados
Professor do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal de Santa Catarina.
Patrícia Valerim
Acadêmica do Curso Biblioteconomia da Universidade Federal de Santa Catarina
Bolsista de Iniciação Científica do Programa PIBIB/CNPq/UFSC.
Mestre Ursula Blattmann
Professora do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Universidade Federal de Santa Catarina
 

Resumo

As ferramentas gerenciamento de processos proporcionam o aperfeiçoamento das organizações, através do mapeamento de seus processos, identificando quais atividades agregam valor ao produto/serviço. Apresenta conceitos sobre valor agregado de serviços/produtos informacionais com vista a auxiliar no mapeamento dos processos de bibliotecas.
 
Palavras-chave: Produtos de informação - Valor agregado, Serviços de informação - Valor agregado, Valor agregado.
 

1 INTRODUÇÃO

A busca do aumento da qualidade passa pela identificação correta e precisa dos desejos e anseios dos clientes/usuários dos serviços/produtos. E por outro lado, a qualidade está diretamente vinculada à eficiência com que a organização utiliza seus recursos (humanos e materiais). Neste sentido, o gerenciamento de processos é uma ferramenta que agiliza a tomada de decisões aos processos críticos que requerem modificações, a fim de torná-los mais eficientes, incrementando a qualidade final dos produtos/serviços e/ou racionalizando a utilização dos recursos.

O Gerenciamento de Processos é o conjunto de pessoas, equipamentos, informações, energia, procedimentos e materiais relacionados em atividades para produzir resultados específicos, baseados nas necessidades e desejos dos consumidores.  Tudo isto num compromisso contínuo e incessante que é promover o aperfeiçoamento das organizações, trabalhando com atividades que agregam valor ao produto/serviço (Pinto, 199-).

Tal metodologia define, analisa e melhora os processos críticos das organizações apresentando para tanto três fases: fase 1 - Definição do processo; fase 2 - Análise do processo; fase 3 - Melhoria do processo.

O mapeamento dos processos críticos consiste em obter informações sobre o processo da organização descrevendo e classificando as funções por elas desempenhadas.  Deve-se documentar, de forma clara e completa, o processo de elaboração de um produto/serviço, como vem sendo executado, subdividindo-o, se necessário, em subprocessos, incluindo tempos e fluxos de informação/atividades, tempo de espera, movimentação e retrabalho, até o despacho para o processo seguinte (Pinto,199-).

Uma atividade agrega valor quando ela é importante para o processo e consequentemente o resultado do processo que é um produto/serviço, irá satisfazer o cliente. Bibliotecas trabalham com produtos e serviços  informacionais, resultado de um conjunto de atividades, que devem existir afim de agregar valor  a estes  produtos/serviços, objetivando a satisfação contínua do cliente.

A abordagem deste artigo pretende conceituar o que significa agregar valor a serviços e produtos informacionais, afim de auxiliar no mapeamento dos processos de bibliotecas e/ou centros de informações. Pretende-se enfocar através do questionamento sobre o que é valor, valor da informação, valor agregado a produtos e serviços informacionais, e como o cliente identifica o  valor agregado ao produto/serviço de informação.
 

2 VALOR

Ao mencionar a palavra valor, necessita-se conceituá-la, para evitar viés nas interpretações. Segundo definição encontrada no dicionário Michaellis (1998, p. 2174) valor agregado significa "algo com benefício extra para o usuário" enquanto valor de uso, significa "a utilidade de que provém do emprego de uma coisa ou parte dela".

O Glossário da Qualidade Total (1995) define que valor  é a característica que, agregada a um produto ou serviço, melhora a sua qualidade em termos de  uma ou mais das suas dimensões.

Fernandes (1991) define "valor é um atributo (não existe independentemente) que pode ser aplicado a quase tudo." Enquanto que preço é a quantidade de moeda determinada que pode ser trocada por  um bem ou serviço. E o custo é a quantidade de moeda despendida na produção ou execução do bem ou serviço.  Assim, pode-se dizer que "Valor tem três características próprias: é subjetivo; varia com o tempo e pode ser positivo ou negativo.  Manifestações positivas de valor são chamadas benefícios e negativas são 'perdas' ou 'danos'." (Fernandes, 1991, p. 167).  Portanto, pode-se afirmar que um conjunto de ações (atividades) pode agregar ou diminuir valor em serviços e produtos.
 

Aspectos sobre valor

Segundo Csillag (1995, p. 61), há mais de 2.000 anos, Aristóteles descreveu sete classes de valor: econômico, político, social, estético, ético, religioso e judicial. Quando concentra-se a atuação no valor econômico pode-se identificar quatro tipos de valor : Enquanto na Biblioteconomia, Fernandes (1991, p. 165) enfoca que o "valor é visto pelo lado moral, quando solicitada a explicar a alocação de recursos em bibliotecas, a comunidade bibliotecária "tende a responder em termos de valores morais, referindo-se à biblioteca como algo intrinsecamente bom, socialmente de muito valor, cuja produção, porém, é imensurável  economicamente."

Cabe mencionar que o valor econômico do serviço e da informação deve ser claramente entendido pelos profissionais da informação, agregando valor aos produtos e serviços de informação, sob enfoque gerencial e de marketing.
 

3 VALOR DA INFORMAÇÃO

Na literatura o valor da informação pode ser encontrado nas entrelinhas sobre economia da informação. Fernandes (1991, p. 165) coloca que o termo economia da informação  apareceu na literatura econômica a partir de 1960.

Na Ciência da Informação ele surgiu na década de 80, inicialmente relacionado a estudo de avaliação e depois abordando custos e eficácia de serviços de informação, seguindo-se de discussões sobre valor da informação  para o usuário e a produtividade da informação no trabalho.

Seguindo o pensamento de Fernandes (1991, p.165-166) que diz ser necessário a definição de informação para o estudo da economia da informação, observa-se alguns conceitos citados  por ele, baseado em diversos autores:

Com base nestas definições, observa-se a existência de valor da informação, porém como citado anteriormente, o valor  somente será positivo quando os benefícios superarem os recursos utilizados. Portanto é fundamental que a organização esteja estruturada de forma a garantir que o mínimo de recursos a informação esteja disponível e acessível para seus usuários.

Oberthofer (1990) discute o valor da informação estando ela  associada a sua atualidade, quando coloca que "o processo de envelhecimento da informação é associado à perda gradativa de seu valor com a passagem do tempo: quanto mais velha a informação menos valor terá." Oberthofer acrescenta ainda que "...um documento não pode mudar, em princípio.  O que muda é sua validade quando comparada a conteúdos de documentos mais recentemente publicados, que podem transmitir um  novo estágio do conhecimento. Isto é, quando a informação mais antiga é substituída (contestada, ultrapassada ou absorvida pela informação mais recente)." (p. 121).

Um exemplo prático deste problema, mencionado por Oberthofer, por exemplo: quando usuários relutam em levar emprestado uma obra com uma edição inferior (edição 2, 1988), por saberem que a biblioteca possui a edição mais recente (edição 5, 1997), mesmo quando dito a eles que as informações são praticamente as mesmas, com ressalva a alguma correção e/ou acréscimos de notas. O usuário se sente prejudicado por pensar que está  consultando informações  erradas e/ou desatualizadas.

Outro exemplo, que pode reduzir o valor da informação é a demora na disponibilização de publicações, pois dependendo da linha de pesquisa de certos pesquisadores, eles necessitam do rápido acesso  aos conhecimentos mais recentes em suas áreas de atuação.

Portanto, atualmente o valor agregado à informação é a adequada seleção, objetividade e velocidade com que é disponibilizada, localizada e recuperada.
 

4 VALOR AGREGADO A SERVIÇOS/PRODUTOS DE INFORMAÇÃO

Valor agregado é o reconhecimento do benefício  alcançado pelo cliente versus o recurso empregado para realizar uma atividade ou ainda o incremento de facilidade para atender uma necessidade ou  resolver um  problema.

Figueiredo (1990) baseando-se em vários autores coloca que "...a situação de atribuir valor a produtos e serviços de informação é uma situação orientada pela necessidade." E acrescenta dizendo que "O valor da informação tem significado somente no contexto da sua utilidade para os usuários" (p. 124).

Observa-se no trabalho de Cianconi (1991) sobre administração dos recursos de informação, que agregar valor a serviços/produtos de informação consiste em  integrar recursos tecnológicos e humanos afim de melhorar o ciclo da informação: geração, coleta, organização, armazenamento, disseminação e uso; trazendo agilidade e eficácia ao mesmo.

Wormark e Jones (1998), colocam que agregar valor a serviços/produtos, significa mapear e analisar  seus processos, afim de identificar os que realmente são necessários à organização e aos clientes.   Àqueles que não criam valor devem ser reavaliados ou eliminados.  Consequentemente o ciclo da informação deve estar apoiada em um conjunto de atividades  agregadoras de valor.

Portanto as organizações que tem por objetivo "trabalhar a informação" para o usuário (cliente externo) são uma combinação de recursos e atividades executadas por bibliotecários e/ou profissionais da informação (clientes internos).  Estes participantes da cadeia de valor informacional  percebem de forma diferenciada o valor agregado.
 

5 FORMAS DO CLIENTE IDENTIFICAR O VALOR AGREGADO A PRODUTOS/SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO

O bibliotecário, normalmente visualiza todas as  sua atividades como agregadoras de valor aos diferentes clientes internos e externos. Contudo, pode se identificar incremento do valor agregado,  ao comparar uma atividade que antes era executada  com dificuldade, repetitividade, e que depois de analisada e re-estruturada, a tarefa tornou-se mais fácil e ágil de ser realizada.
Para esclarecer  este conceito, pode-se tomar como exemplo, a realização da catalogação manual (em fichas): desdobrando-as para indexar o documento em diversos assuntos, depois realizar a alfabetação (colocar as fichas em ordem alfabética); comparando com uma unidade de informação que utiliza dos recursos da tecnologia da informação, por exemplo, realizar atividades que possam ser executadas com alguns comandos dados ao computador, para a realização de um levantamento bibliográfico. Portanto, o valor agregado reconhecido pela organização (clientes internos), decorre muitas vezes da redução de tempo e maior precisão nos resultados obtidos.

Cabe ressaltar que a essência de qualquer serviço é resultado da qualidade de como foi desenvolvido/executado em todas as etapas do processo, garantindo credibilidade no processamento da informação (recuperação, disseminação, etc.).

Enquanto o cliente externo, ele identifica o  valor agregado nos serviços/produtos que responderem as suas necessidades informacionais, utilizando para tanto, recursos que possibilitem alcançar respostas que auxiliem na tomada de decisão, de maneira cada vez mais ágil, eficiente e com qualidade no atendimento quando da prestação do serviço.

O quadro comparativo abaixo mostra  serviços oferecidos normalmente em bibliotecas, principalmente universitárias, e exemplos de serviços  com maior valor agregado.

Quadro 1: Valor agregado a serviços de informação

 
Serviços de informação
Serviços de informação com maior valor agregado
Empréstimo domiciliar Possibilidade de renovação e reserva  do livro por telefone ou pela Internet, permitindo que o usuário não necessite deslocar-se até a biblioteca.
Comutação bibliográfica Viabilizando o envio do material via fax ou pelo correio eletrônico.
Levantamento bibliográfico Possibilidade de salvar em disquete o levantamento bibliográfico,  facilitando o uso (digitação).
Alerta bibliográfico Através do perfil do usuário em banco de dados relacional      (perfil do usuário X bases de dados disponíveis).      Possibilidade de enviar via correio eletrônico conforme      informações de interesse baseadas no perfil.
Lista de novas aquisições em papel.  Informações via correio eletrônico sobre as novas aquisições,       com base no perfil do usuário.
Relação de Websites Viabilização da compilação dos sites relevantes, ou seja, das      fontes de informação, tendo como base a mudança constante dos      endereços existentes na Web. 
 

6  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os centros de informações encontram-se num período de transição, sendo  fato corriqueiro para o  bibliotecário o convívio  com uma série de conflitos organizacionais e orçamentos reduzidos. Para que o bibliotecário assuma a posição de  gerenciador de recursos, sendo fundamental o  entendimento de como os processos de um sistema prestador de serviços de informação  funcionam, e as interligações existentes. O gerenciamento de processos pode funcionar para o profissional como uma ferramenta, que lhe auxilie na tomada de decisão ao confrontar  as necessidades dos clientes, com os dados gerados pelas atividades, identificando as que agregam valor. Consequentemente, pode o profissional da informação agir buscando eliminar custos desnecessários, otimizar atividades, aumentar qualidade de serviço, obtendo com isto, incremento de valor para os clientes externos bem como os internos.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CIANCONI, Gerência da Informação : mudanças nos perfis profissionais. Ci. Inf., v. 20, n. 2, p. 204-208, jul./dez. 1991.
CSILLAG, João Mário. Análise do valor : metodologia do valor. 4. ed.  São Paulo : Atlas, 1995.
FERNANDES, Pedro Onofre. Economia da informação. Ci. Inf., v. 20, n. 2, p. 165-168,  jul./dez. 1991.
FIGUEIREDO, Nice Menezes de.  Informação como ferramenta para o desenvolvimento. Ci. Inf., v. 19,  n. 2,  p. 123-129,  jul./dez. 1990.
GLOSSÁRIO DA QUALIDADE TOTAL. 2. ed. Belo Horizonte : Fundação Christiano Ottoni, 1995. p. 71 - valor
MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998. p. 2174 - valor
OBERTHOFER, Cecília Malizia A. Valor da informação : percepção versus quantificação. Ci. Inf., v. 20, n. 2, p. 110-129, jul./dez. 1991.
PINTO, Jane Lúcia Gaspar Coelho.  Gerenciamento de Processos. Curso de qualidade e gerenciamento de processos.  [Florianópolis] : CELESC, 199-.
WORMARK, James P., JONES, Daniel T.  A mentalidade enxuta nas empresas : elimine o desperdício e crie riqueza. Rio de Janeiro : Campus, 1998.
Publicado pelo Informativo CRB 14 / ACB, Florianópolis, v. 9, n. 1, p. 11-12, jan./mar. 1999.
Disponibilizado na Web em 14 de maio de 1999.
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Última atualização realizada em 05/08/1999 por Ursula Blattmann
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Disponibilizado em 14 de maio de 1999
 
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