2 - Informados de que o médium Chico Xavier estaria completando, em
1975, as suas "Bodas de Ouro" com a mediunidade, fomos procura-lo para alguns
apontamentos em torno da ocorrencia e o dialogo começou:
 

 P - Voce confirma a doação gratuita dos direitos autorais que lhe cabem?
      R - Sim.

 P - Voce não tem participação ou influencia na destinação desses livros?
      R - Nenhuma participação pessoal. Devo, alias, acentuar que todos eles
      foram confiados pelos benfeitores espirituais que os escreveram a
      instituições respeitaveis.

 P - Voce ‚ diretor da Comunhão Esp¡rita Cristã?
      R - Não sou diretor, mas apenas um companheiro de serviço espiritual,
      desde a fundação da nossa casa, que se encontra magnificamente
      administrada por nossa abnegada irmã Srta. Dalva Rodrigues Borges, que
      se faz acompanhar por devotados companheiros da causa esp¡rita-cristã.

P - Que nos diz das cidadanias honorarias que vem recebendo?
      R - Vou as solenidades referentes a elas, quando isso me é poss¡vel, ao
      modo de um caixeiro viajante que se incumbe de receber documentação da
      firma a que pertence. Em todas cerimonias de cidadania, com o amparo de
      Emmanuel, tenho procurado transferir as homenagens programadas aos
      companheiros esp¡ritas, reconhecendo que essas titulações pertencem a
      eles e não a mim. Nesse sentido, peço licença para lembrar uma trova que
      recebi do poeta desencarnado Milton da Cruz, muito apropriada ao assunto:

      "Para a jornada segura
       Não te esqueças, companheiro,
       Que todo lugar de altura
       Revela um despenhadeiro."

 P - Qual a sua impressão do encontro com Sua Excia. Reverend¡ssima, o
Sr. Arcebispo de Uberaba, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, na TV desta
cidade?
      R - Sempre consagrei o maximo respeito e entranhado carinho por Sua
      Excelencia, Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, nosso muito amado senhor
      Arcebispo de Uberaba, e encontra-lo pessoalmente foi uma elevada honra
      para mim. Minha veneração por ele aumentou profundamente ao encontra-lo
      em pessoa, e a presença dele foi para mim uma benção de Deus.

 Outras entrevistas:

 P - Por que, em muitos dos casos, após a morte, a fisionomia dos
desencarnados adquire uma expressão de suave paz?
      R - A maioria das criaturas, em se desencarnando, de maneira pac¡fica,
      isto é, com a paz de consciencia, quase sempre reencontra entes queridos
      que a antecederam na viagem da chamada morte f¡sica (...) e deixa no
      próprio semblante as derradeiras impressões de paz e alegria que o corpo
      consegue estampar.

 P - Sempre me pareceu que nós, a maioria das pessoas, desconhecemos a
imensa força do pensamento na formulação da existencia. O pensamento pode
reformular a vida de uma pessoa?
      R - Sem dúvida. Os benfeitores espirituais são unanimes em asseverar que
      toda renovação do esp¡rito, em qualquer circunstância, começa na força
      mental. O pensamento é a força criadora nas menores manifestações.

 P - Que lhe ocorre dizer …às pessoas que, embora se esforcem, não
conseguem se espiritualizar, porque se sentem cativas de remanescentes paixões
ou fortes algemas emocionais?
      R - Ainda quando nos sintamos encarcerados em idéias negativas que, ás
      vezes, nos colocam em sintonia com inteligencias encarnadas ou
      desencarnadas, ainda presas a certos complexos de culpa, conseguiremos a
      própria libertação desses estados, claramente infelizes, se nos
      dispusermos com sinceridade a varar a concha do nosso próprio ego¡smo,
      esquecendo, quanto ao aspecto inarminico de nossa vida mental, para
      servir aos outros, especialmente àqueles que atravessam provações e
      problemas muito maiores do que os nossos.

 P - Qual o melhor ant¡doto contra a falta de confiança em nós mesmos?
      R - Os amigos da Vida Maior nos ensinam que na prática da humildade, na
      prestação de serviços aos nossos irmãos da Humanidade, adquiriremos esse
      ant¡doto contra a falta de confiança em nós próprios, de vez que
      aprenderemos, na humildade, que o bem verdadeiro, de que possamos ser
      intérpretes, em favor dos nossos semelhantes, procede de Deus e não de
      nós.

 P - Voce acredita que se nós, os terrestres, fôssemos mais evolu¡dos e
pac¡ficos, as humanidades de outros planetas já teriam entrado em contato
amplo conosco?
      R - Provavelmente, sim. Uma evolução espiritual iluminada pelo amor
      fraterno, consoante os ensinos de Jesus, devidamente praticados, nos
      colocaria em condições de receber os seres superiores de outros campos
      cósmicos do Universo para compreende-los e assimilar-lhes as lições de
      progresso que nos pudessem ministrar.

 P - Voce acha que o mal nunca vencerá o bem?
      R - O bem sanará o mal, porque este não existe:é o bem, mal
      interpretado. Muitas vezes aquilo que julgamos como mal, daqui a dois,
      quatro, seis anos,é um bem. Um bem cuja extensão não conseguimos
      avaliar. Portanto, o mal esta muito mais na nossa impaciencia, no nosso
      desequil¡brio quando exigimos determinadas concessões, sem condições de
      obte-las. De modo que o mal ‚ como se fosse o frio. Este existe porque o
      calor ainda não chegou. Mas chegando o aquecimento, o frio deixa de
      existir. Se a treva aparece ‚ porque a luz esta demorando, mas quando
      acendemos a luz ninguem pensa mais nas trevas. Não creio na existencia
      do mal em substancia. Isto ‚ uma ficção.

 P - Atualmente, fala-se muito nos contatos de seres extra-terrenos. O
senhor acredita na existencia de discos-voadores?
      R - Eu acredito que existem naves interplanetarias. Mas o assunto ‚ um
      tanto dif¡cil, porque pertence ao campo da ciencia.

 P - O que podera acontecer ao mundo se continuarem as atuais agressões
contra a natureza?
      R - Acontece que estamos agredindo, não a natureza, mas a nós próprios e
      responderemos pelos nossos desmandos. É importante pensar que se criou a
      Ecologia para prevenir estes abusos. Aqueles que acreditarem na Ecologia
      acima de seus próprios interesses nos auxiliarão nessa defesa do nosso
      mundo natural, da nossa vida simples na Terra, que poderia ser uma vida
      de muito mais saude e de muito mais tranquilidade se nós respeitássemos
      coletivamente todos os dons da natureza. Mas, se continuarmos
      agredindo-a demasiadamente, o preço ser pago por nós próprios, porque
      voltaremos em novas gerações, plantando àrvores, acalentando sementes,
      modificando o curso dos rios, despoluindo águas, drenando pântanos e
      criando filtros que nos liberem da poluição. O problema será sempre do
      homem. Teremos que refazer tudo, porque estamos agindo atualmente contra
      nós mesmos.

 P - Qual a sua opinião sobre o aborto?
      R - O aborto ‚ sempre lamentável, porque se já estamos na Terra com
      elementos anticoncepcionais de aplicação suave, compreens¡vel e
      humanitária, porque ‚ que havemos de criar a matança de crianças
      indefesas, com absoluta impunidade, entre as paredes de nossas casas?
      Isto ‚ um delito muito grave perante a Providencia Divina, porque a vida
      não nos pertence e, sim, ao poder divino. Se as criaturas têm
      necessidade do relacionamento sexual para revitalização de suas próprias
      forças, o que achamos muito justo, seria melhor se fizessem sem alarme
      ou sem lesão espiritual ou psicológica para ninguem.

 P - De vez em quando aparece alguem que, em virtude de algum problema
social mais grave - a violencia, por exemplo, - pede a pena de morte. O senhor
concorda?
      R - A pena deveria ser de educação. A pessoa deveria ser condenada mas ‚
      a ler livros, a se educar, a se internar em colégios ainda que seja,
      vamos dizer, por ordem policial. Mas que as nossas casas punitivas, hoje
      chamadas de casas de reeducação, sejam escolas de trabalho e de
      instrução. Isto porque toda criatura esta sentenciada a morte pelas leis
      de Deus, porque a morte tem seu curso natural. Por isso, acho que a pena
      de morte ‚ desumana, porque ao invés de estabelece-la dev¡amos
      coletivamente criar organismos que incentivassem a cultura, a
      responsabilidade de viver, o amor ao trabalho. O problema da
      periculosidade da criatura, quando ela ‚ exagerada, esse problema deve
      ser corrigido com educação e isso há de se dar no futuro. Porque nós não
      podemos corrigir um crime com outro, um crime individual com um crime
      coletivo.

 P - Qual a posição do Espiritismo, hoje, quando a Igreja amplia
violentamente a evangelização com a visita do Papa a várias regiões do mundo?
      R - Nó, brasileiros, temos para com a Igreja Católica uma d¡vida
      irresgatável, porque por mais de 400 anos nós fomos e somos tutelados
      por ela na formação do nosso caráter cristão. Quando nos lembramos que
      os primeiros missionários entraram pela terra brasileira adentro, não
      com lâminas ou objetos de guerra, mas com a cruz de Cristo, nós nos
      enternecemos profundamente e compreendemos que a nossa d¡vida é imensa.
      Se o nosso povo esta tributando as homenagens merecidas e justas ao
      Papa, que nos visita em missão de Deus, nós devemos estar satisfeitos e
      rejubilar-nos com essas manifestações, porque isso mostra que nosso povo
      é reconhecido a uma instituição que nos deu e dá tanto. Hoje, podemos
      ser livres pensadores esp¡ritas, espiritualistas, evangélicos, podemos
      matricular nossos corações nas diversas escolas que são derivadas do
      próprio cristianismo, mas não podemos esquecer aquele trabalho heróico
      dos primeiros tempos, dos primeiros séculos. A Igreja até hoje tutela a
      comunidade brasileira com muito amor.

 P - O povo tem hoje uma certa incredulidade diante das definições
tradicionais do céu e inferno. Na sua visão, como eles seriam?
      R - Dentro da visão esp¡rita-cristã, céu, inferno e purgatório começam
      dentro de nós mesmos. A alegria do bem praticado ‚ o alicerce do céu. A
      má intenção já ‚ um piso para o purgatório e o mal devidamente efetuado,
      positivado, já é o remorso que é o princ¡pio do inferno.

 P - Deve-se aceitar a lei do carma passivamente ou temos condições de
modificá-la, talvez, para uma condição melhor?
      R - Aquilo que ficou estabelecido como sendo nossa d¡vida ‚ uma
      determinação que devemos pagar. Se comprei e assumi a d¡vida, devo
      pagar. Éo que consideramos destinação,é o carma. Mas isso não impede a
      lei da criatividade com a qual nós podemos atuar todos os dias para o
      bem, anulando o carma, chamado de sofrimento. Vamos supor que uma
      criatura esta doente e precisa de uma intervenção cirúrgica. É o caso de
      perguntarmos: ela deve ou não se submeter a intervenção cirúrgica, o que
      tem todas as possibilidades de exito? Ela deve sim, deve preservar o seu
      próprio corpo,é‚ um dever procurar a medicina e se valer do socorro
      médico para reabilitação do seu próprio organismo. Então, a¡ esta uma
      resposta a esta questão. A misericórdia de Deus sempre nos proporciona
      recursos para pagar ou reformar os nossos t¡tulos de débito, assim como
      uma organização bancária permite que determinadas promissórias sejam
      pagas com grande adiantamento, conforme o merecimento do devedor. Assim
      como temos grande numero de amigos avalistas a nos tutelar nos bancos,
      temos tambem os esp¡ritos extraordinários que são os santos, os anjos,
      os nossos amigos espirituais que pedem por nós, que auxiliam, que nos
      dão mais oportunidade para que a gente tenha mais tempo. Por isso que a
      pessoa deve cuidar bem de seu corpo, porque ele ‚ enxada com qual a
      criatura esta semeando e lavrando o terreno do tempo e das boas ações.
      De modo que existe o carma, mas existe tambem o pensamento livre, porque
      nós somos livres por dentro da cabeça.

 P - Existe alguma maneira de uma pessoa desenvolver a sua mediunidade
sem precisar frequentar um Centro ou mesmo aprofundar-se na Doutrina?
      R - Nós temos, por exemplo, o esoterismo em determinadas doutrinas
      espiritualistas com processos semelhantes aos da ioga, pelos quais a
      criatura se aperfeiçoa nas suas faculdades ps¡quicas e consegue ser, por
      exemplo, um intérprete do mundo espiritual sem as caracter¡sticas do
      médium esp¡rita-cristão propriamente considerado. Mas nos moldes em que
      me vi na necessidade de encontrar um socorro para os meus problemas
      psicológicos e espirituais, não vejo outras entidades no momento capazes
      de, do ponto de vista popular, trazer para o nosso coração tanto
      benef¡cio como um Centro Esp¡rita Cristão, orientado com segurança por
      amigos de Cristo e de Allan Kardec, capazes de ponderar as
      responsabilidades que eles assumem. De modo que eu me sinto uma pessoa
      feliz com o tratamento da mediunidade na estação em que trabalho e me
      encontro, mas cada qual tem o seu próprio caminho. Eu não desconheço que
      toda religião tenha os seus processos de apoio para a sublimação de seus
      adeptos, e respeito todas elas.

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