P - Como ficara a Doutrina
Esp¡rita após a sua morte? O senhor acha que
ela ficara abalada? Quem podera
substitu¡-lo?
R - A Doutrina Esp¡rita estara tão bem depois da minha desencarnação
quanto estava antes, porque eu não sou pessoa com qualidades especiais
para serv¡-la. Eu sou um médium tão comum, tão
fal¡vel como qualquer
outro. Não me sinto uma pessoa necessaria e muito menos indispensavel.
Outros médiuns estarão a¡ interpretando o pensamento
e a mensagem de
nossos amigos espirituais, e eu peço a Deus apenas que não
me deixe dar
"mancadas" em minha tarefa.
P - Os esp¡ritas raramente
dizem a palavra "pecado". Este não existe
para a Doutrina? Por exemplo, o
sexo não seria um pecado?
R - Quanto ao pecado, nós temos na Doutrina Esp¡rita a Lei
de Causa e
Efeito, que é a lei, como dizem os hindus, a lei do carma. Lei essa
pela
qual as nossas faltas serão reparadas por nós mesmos. Nós
criamos os
nossos próprios impedimentos. Por exemplo, se eu pratico suic¡dio
nesta
vida, naturalmente na próxima eu devo ressurgir num corpo com as
caracter¡sticas de sofrimento que eu próprio terei criado
para mim. De
modo que nós não vamos dizer que não existe o conceito
de pecado na
Doutrina Esp¡rita, mas os esp¡ritas habitualmente não
abusam dessa
palavra porque nós não podemos desconhecer a misericórdia
de Deus em Sua
própria justiça. Se estamos ainda em uma fase de desenvolvimento
e de
evolução ainda razoavelmnete imperfeita, por que ‚ que a
perfeição
divina haveria de nos punir com castigos eternos, quando um pai humano
promove sempre meios para que seu filho doente ou faltoso seja amparado
com o remédio ou com o socorro psicológico? De modo que nós
não
consideramos o pecado como sendo uma afronta é bondade de Deus mas,
sim,
a falta que cometemos, uma afronta feita a nós mesmos, pois cada
um de
nós carrega em si a presença divina.
P - E o sexo?
R - Quanto ao sexo, nós todos estamos conscientes de que é
tão
importante um orgão genital como ‚ importante o orgão da
visão, da
audição. Por exemplo, se um homem estabelecer um processo
de mal¡cia
contra alguem, naturalmente que o culpado não é o olho desse
homem, mas
sim a sua mente que foi quem ideou a mal¡cia. De modo que, se o sexo
tem
alguma falha, esta falha esta em nossa mente, não no orgão
que nos deu
especialmente o privilégio do t¡tulo de filhos, filhos de
mães sempre
maravilhosas, porque nossas mães são sempre almas grandes,
anjos humanos
que nos acalentam nos braços e que nos abrem caminhos para a existencia
humana. É pelo sexo que a Divina Providencia nos deu este
santuário.
P - Se o Sr. tivesse que dar
uma mensagem a uma criança, ou mesmo a um
filho, para que ele pudesse vencer
espiritualmente na vida, o que diria?
R - Se eu tivesse um filho (tive na minha vida algumas crianças
que
cresceram sob a minha responsabilidade), ensinaria nos primeiros dias da
vida desse filho o respeito … existencia de Deus e o respeito … justiça
e amor ao trabalho. E, em seguida, ensinaria que ele não seria,
e não
sera, melhor do que os filhos dos outros.
P - No in¡cio de sua
missão mediúnica, o senhor foi muitas vezes
incompreendido e até caluniado.
Como faria uma analise disso, ja que hoje sua
imagem tem uma outra aceitação?
R - Minha atitude perante a opinião pública foi sempre a
mesma, de muito
respeito ao pensamento dos outros. Porque nós não podemos
esperar que os
outros estejam ideando situações e problemas de acordo com
as nossas
convicções mais ¡ntimas. De modo que não posso
dizer que sofri essa ou
aquela agressão, porque isso nunca aconteceu em minha vida. Sempre
encontrei muita gente boa. Vamos procurar um s¡mbolo: dizem que os
¡ndios gostam muito de simbologia por falta de termos adequados para
se
expressar. Como me sinto uma pessoa bastante inculta, eu gosto muito de
recorrer a estas imagens. Vamos pensar que eu seja uma pedra que foi
aproveitada no calçamento de uma avenida. Colocada a pedra no piso
da
avenida, naturalmente que essa pedra vai se sentir muito honrada de
estar ali a serviço dos transeuntes e, naturalmente, que essa pedra
não
poder se queixar dos martelos que lhe tenham quebrado as arestas. Todos
eles foram benfeitores.
P - Poderia nos contar um
fato ou uma passagem de sua vida que lhe traz
melhores recordações
e que mais lhe tocou o coração?
R - Peço permissão para contar um caso que para mim foi um
dos mais
expressivos, que mais parece uma história infantil. Eu estava em
Uberaba, há uns dois anos, esperando um ônibus para ir ao
cartório. Da
nossa residencia até lá tem uns 3 Km. Nós, com o horário
marcado, não
pod¡amos perder o ônibus. Mas, quando o ônibus estava
quase parando, uma
criança, de uns cinco anos, apresentando bastante penúria,
gritava para
mim, de longe. Chamava por Tio Chico, mas com muita ansiedade. O ônibus
parou e eu pedi, então, ao motorista: "Pode tocar o ônibus,
porque
aquela criança vem correndo em minha direção e estou
supondo que este
menino esteja em grande necessidade de alguma providencia". O ônibus
seguiu, eu perdi, naturalmente, o horário. A criança chegou
ao meu lado,
arfando, respirando com muita dificuldade. Eu perguntei: "O que
aconteceu, meu filho?" Ele respondeu: "Tio Chico, eu queria pedir ao
senhor para me dar um beijo". Esse eu acho que foi um dos acontecimentos
mais importantes de minha vida.
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4 - ENTREVISTA EM UBERABA NO DIA 17/07/1988:
P - Em seu primeiro encontro
com Emmanuel, ele enfatizou muito a
disciplina. Teria falado algo mais?
R - Depois de haver salientado a disciplina como elemento indispensável
a uma boa tarefa mediúnica, ele me disse: "Temos algo a realizar."
Repliquei de minha parte qual seria esse algo e o benfeitor esclareceu:
"Trinta livros prá começar !" Considerei, então: como
avaliar esta
informação se somos uma fam¡lia sem maiores maiores
recursos, além do
nosso próprio trabalho diário, e a publicacão de um
livro demanda tanto
dinheiro !... Já que meu pai lidava com bilhetes de loteria, eu
acrescentei: sera que meu pai vai tirar a sorte grande? Emmanuel
respondeu: "Nada, nada disso. A maior sorte grande ‚ a do trabalho com
a
fá viva na Providencia de Deus. Os livros chegarão através
de caminhos
inesperados !".
Algum tempo depois, enviando as poesias de "Parnaso de Além Túmulo"
para um dos diretores da Federação Esp¡rita Brasileira,
tive a grata
surpresa de ver o livro aceito e publicado, em 1932. A este livro
seguiram-se outros e, em 1947, atingimos a marca dos 30 livros.
Ficamos muito contentes e perguntei ao amigo espiritual se a tarefa
estava terminada. Ele, então, considerou, sorrindo: "Agora, começaremos
uma nova série de 30 volumes." Em 1958, indaguei-lhe novamente se
o
trabalho finalizara. Os 60 livros estavam publicados e eu me encontrava
quase de mudança para a cidade de Uberaba, onde cheguei a 5 de janeiro
de 1959. O grande benfeitor explicou-me, com paciencia: "Voce perguntou,
em Pedro Leopoldo, se a nossa tarefa estava completa e quero informar a
voce que os mentores da Vida Maior, perante os quais devo tambem estar
disciplinado, me advertiram que nos cabe chegar ao limite de 100
livros." Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram. Quando
alcançamos o número de 100 volumes publicados, voltei a consulta-lo
sobre o termo de nossos compromissos. Ele esclareceu, com bondade: "Voce
não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa. Agora, estou
na
obrigação de dizer a voce que os mentores da vida superior,
que nos
orientam, expediram certa instrução que determina seja a
sua atual
reencarnação desapropriada, em benef¡cio da divulgação
dos princ¡pios
esp¡ritas-cristãos, permanecendo a sua existencia, do ponto
de vista
f¡sico, a disposição das entidades espirituais que
possam colaborar na
execuxão das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre
apto
para as nossas atividades."
Muito desapontado, perguntei: então devo trabalhar na recepção
de
mensagens e livros do mundo espiritual até o fim da minha vida atual?
Emmanuel acentuou: "Sim, não temos outra alternativa !" Naturalmente,
impressionado com o que ele dizia, voltei a interrogar: e se eu não
quiser, ja que a Doutrina Esp¡rita ensina que somos portadores do
livre
arb¡trio para decidir sobre os nossos próprios caminhos? Emmanuel,
então, deu um sorriso de benevolencia paternal e me cientificou:
"A
instrução a que me refiro ‚ semelhante a um decreto de desapropriação,
quando lançado por autoridade na Terra. Se voce recusar o serviço
a que
me reporto, segundo creio, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos
ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles terão autoridade bastante
para retirar voce de seu atual corpo f¡sico !". Quando eu ouvi sua
declaração, silenciei para pensar na gravidade do assunto,
e continuo
trabalhando, sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que
passei a chamar de "Des¡gnios de Cima".
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5 - ENTREVISTA PUBLICADA NO JORNAL "GOIAS ESPIRITA" DE JAN/FEV 1988:
P - Têm surgido muitos
médiuns e curadores por este Brasil afora, que
receitam remédios e até
operam os doentes. Qual ‚ a maneira de se identificar
o verdadeiro do falso?
R - Eu creio que isto deva ser fruto da educação do sertanejo,
acreditar
que, pagando bem, irá conseguir curas espirituais. O verdadeiro
Espiritismo não pode cobrar, nem mesmo os remédios que receita
aos
doentes. Também sou contra essa estória de meter o canivete
no corpo do
outros, sem ser médico. O médico estudou bastante anatomia,
patologia e,
por isso, esta habilitado a fazer uma cirurgia. Por que eu, sendo
médium, vou agora pegar uma faca e abrir o corpo de um cristão
sem ser
considerado um criminoso? Eu ja me operei 5 vezes, e vários médiuns
me
ofereceram seus serviços. O esp¡rito Emmanuel me disse: "Voce
deveria
ter vergonha até de pensar em receber este tipo de cura, porque
todos os
outros doentes vertem sangue, até tomam determinados remédios
para melhorar. Como voce pretende se curar numa cadeira de balanço
?".
P - Diante disso, como fica o fenômeno
"Zé Arigó" ?
R - Quando eu estava para operar, da última vez, em 1968, de um
tumor na
próstata, Zé Arigó mandou me avisar que estava pronto
para realizar a
operação. Eu lhe respondi: como ‚ que eu ficaria diante de
tanto
sofredor que me procura e que vai a caminho do bisturi, como o boi vai
para o matadouro ? E eu, sabendo disso, vou querer facilidades ? Eu
tenho ‚ que operar como os outros, sofrendo com eles ! (...).
P - Como conciliar os recursos
da medicina terrestre, especialmente na
áea da cirurgia, com a correção
de anomalias orgânicas em criaturas em
processos de resgates carmicos?
R - Não importa que a cirurgia faça desaparecer anomalias
inibidoras ou
deformantes de implementos somáticos. O perisp¡rito conservará
a
deficiencia, que vai se projetar para reencarnações futuras,
a não ser
que o esp¡rito devedor se ajuste com a Lei da Justiça, cobrindo
com amor
a "multidão de pecados", segundo o Evangelho. A cirurgia corrige
transitóriamente as deficiencias f¡sicas. O amor, trabalhando
nos
tecidos sut¡s da alma, purifica e redime para a Eternidade.
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6 - PERGUNTAS FORMULADAS POR ESPIRITAS DE S. PAULO, R. DE JANEIRO, E
BELO HORIZONTE POR OCASIAO DE UM ENCONTRO EM UBERABA, NO DIA 31/05/91:
P - Chico, temos visto muitas
crianças encaminhadas às reuniões de
tratamento desobsessivo. Que fazer
diante deste problema cada vez mais
frequente?
R - Os amigos espirituais nos tem falado, amiúde, a cerca da questão
da
criança em desequil¡brio, demandando larga dose de compreensão
e carinho
da fam¡lia a que pertença. Lembram-nos os nossos mentores
que, em
matéria de desajustes infantis, o remédio eficaz sera sempre
o do
acendrado amor dos pais no recesso do próprio lar. O amor em fam¡lia
‚ a
construção da harmonia, com vistas ao futuro promissor de
cada qual.
Desajustes, muitas vezes, nada mais são que o reflexo da falta de
amor
nos lares, gerando perturbações. Ao tratarmos de questães
como a
desobsessão, os instrutores espirituais nos recomendam a utilização
quotidiana do bom senso, nos indicando que a mente infantil não
esta
preparada para compreender os complexos fundamentais de uma reunião
de
desobsessão. Que provavelmente as crianças se impressionariam
de maneira
contraproducente se frequentassem estes serviços espirituais. Então,
seus pais não estão com o tempo necessario de dedicação
e amor para com
as crianças dentro do próprio lar, se, por outro lado, não
convém a
mente infantil em desajuste frequentar as reuniões de desobsessão,
logo,
devemos suplicar a bondade infinita de Deus que inspire aos
trabalhadores das casas esp¡ritas, dedicados a evangelização
infantil,
que organizem em seus quadros de serviço reuniões apropriadas
ao amparo
e ao acolhimento de crianças desajustadas. Reuniões espec¡ficas
para a
mente infantil, que funcionariam vinculadas aos núcleos ativos de
desobsessão do Centro. Reuniões intermediarias de socorro
e
esclarecimento evangélico. Esta colaboração poderia
trazer muitos
benef¡cios em favor da tranquilidade familiar.