P - Nota-se de uns tempos para cá um interesse maior nas pessoas em
conhecer alguma coisa do Espiritismo. Como o Sr. ve essa situação?
      R - Eu creio que o número de adeptos da Doutrina Esp¡rita tem crescido
      em função das provas coletivas com que temos sido defrontados, acidentes
      dolorosos, provações muito dif¡ceis, desvinculações familiares
      tremendas, transformações muito rápidas nos costumes sociais e tudo isto
      tem induzido a comunidade a procurar uma resposta espiritual a estes
      problemas que vão sendo suscitados pela própria renovação do nosso
      tempo. Eu creio que, por isso mesmo, a Doutrina Esp¡rita tenha alcançado
      este campo de trabalho cada vez mais amplo, que considero tambem não
      como exito, mas como amplitude e responsabilidade para aqueles que são
      os companheiros da seara esp¡rita e evangélica.

 P - Como ficara a Doutrina Esp¡rita após a sua morte? O senhor acha que
ela ficara abalada? Quem podera substitu¡-lo?
      R - A Doutrina Esp¡rita estara tão bem depois da minha desencarnação
      quanto estava antes, porque eu não sou pessoa com qualidades especiais
      para serv¡-la. Eu sou um médium tão comum, tão fal¡vel como qualquer
      outro. Não me sinto uma pessoa necessaria e muito menos indispensavel.
      Outros médiuns estarão a¡ interpretando o pensamento e a mensagem de
      nossos amigos espirituais, e eu peço a Deus apenas que não me deixe dar
      "mancadas" em minha tarefa.

 P - Os esp¡ritas raramente dizem a palavra "pecado". Este não existe
para a Doutrina? Por exemplo, o sexo não seria um pecado?
      R - Quanto ao pecado, nós temos na Doutrina Esp¡rita a Lei de Causa e
      Efeito, que é a lei, como dizem os hindus, a lei do carma. Lei essa pela
      qual as nossas faltas serão reparadas por nós mesmos. Nós criamos os
      nossos próprios impedimentos. Por exemplo, se eu pratico suic¡dio nesta
      vida, naturalmente na próxima eu devo ressurgir num corpo com as
      caracter¡sticas de sofrimento que eu próprio terei criado para mim. De
      modo que nós não vamos dizer que não existe o conceito de pecado na
      Doutrina Esp¡rita, mas os esp¡ritas habitualmente não abusam dessa
      palavra porque nós não podemos desconhecer a misericórdia de Deus em Sua
      própria justiça. Se estamos ainda em uma fase de desenvolvimento e de
      evolução ainda razoavelmnete imperfeita, por que ‚ que a perfeição
      divina haveria de nos punir com castigos eternos, quando um pai humano
      promove sempre meios para que seu filho doente ou faltoso seja amparado
      com o remédio ou com o socorro psicológico? De modo que nós não
      consideramos o pecado como sendo uma afronta é bondade de Deus mas, sim,
      a falta que cometemos, uma afronta feita a nós mesmos, pois cada um de
      nós carrega em si a presença divina.

 P - E o sexo?
      R - Quanto ao sexo, nós todos estamos conscientes de que é tão
      importante um orgão genital como ‚ importante o orgão da visão, da
      audição. Por exemplo, se um homem estabelecer um processo de mal¡cia
      contra alguem, naturalmente que o culpado não é o olho desse homem, mas
      sim a sua mente que foi quem ideou a mal¡cia. De modo que, se o sexo tem
      alguma falha, esta falha esta em nossa mente, não no orgão que nos deu
      especialmente o privilégio do t¡tulo de filhos, filhos de mães sempre
      maravilhosas, porque nossas mães são sempre almas grandes, anjos humanos
      que nos acalentam nos braços e que nos abrem caminhos para a existencia
      humana. É pelo sexo  que a Divina Providencia nos deu este santuário.

 P - Se o Sr. tivesse que dar uma mensagem a uma criança, ou mesmo a um
filho, para que ele pudesse vencer espiritualmente na vida, o que diria?
      R - Se eu tivesse um filho (tive na minha vida algumas crianças que
      cresceram sob a minha responsabilidade), ensinaria nos primeiros dias da
      vida desse filho o respeito … existencia de Deus e o respeito … justiça
      e amor ao trabalho. E, em seguida, ensinaria que ele não seria, e não
      sera, melhor do que os filhos dos outros.

 P - No in¡cio de sua missão mediúnica, o senhor foi muitas vezes
incompreendido e até caluniado. Como faria uma analise disso, ja que hoje sua
imagem tem uma outra aceitação?
      R - Minha atitude perante a opinião pública foi sempre a mesma, de muito
      respeito ao pensamento dos outros. Porque nós não podemos esperar que os
      outros estejam ideando situações e problemas de acordo com as nossas
      convicções mais ¡ntimas. De modo que não posso dizer que sofri essa ou
      aquela agressão, porque isso nunca aconteceu em minha vida. Sempre
      encontrei muita gente boa. Vamos procurar um s¡mbolo: dizem que os
      ¡ndios gostam muito de simbologia por falta de termos adequados para se
      expressar. Como me sinto uma pessoa bastante inculta, eu gosto muito de
      recorrer a estas imagens. Vamos pensar que eu seja uma pedra que foi
      aproveitada no calçamento de uma avenida. Colocada a pedra no piso da
      avenida, naturalmente que essa pedra vai se sentir muito honrada de
      estar ali a serviço dos transeuntes e, naturalmente, que essa pedra não
      poder se queixar dos martelos que lhe tenham quebrado as arestas. Todos
      eles foram benfeitores.

 P - Poderia nos contar um fato ou uma passagem de sua vida que lhe traz
melhores recordações e que mais lhe tocou o coração?
      R - Peço permissão para contar um caso que para mim foi um dos mais
      expressivos, que mais parece uma história infantil. Eu estava em
      Uberaba, há uns dois anos, esperando um ônibus para ir ao cartório. Da
      nossa residencia até lá tem uns 3 Km. Nós, com o horário marcado, não
      pod¡amos perder o ônibus. Mas, quando o ônibus estava quase parando, uma
      criança, de uns cinco anos, apresentando bastante penúria, gritava para
      mim, de longe. Chamava por Tio Chico, mas com muita ansiedade. O ônibus
      parou e eu pedi, então, ao motorista: "Pode tocar o ônibus, porque
      aquela criança vem correndo em minha direção e estou supondo que este
      menino esteja em grande necessidade de alguma providencia". O ônibus
      seguiu, eu perdi, naturalmente, o horário. A criança chegou ao meu lado,
      arfando, respirando com muita dificuldade. Eu perguntei: "O que
      aconteceu, meu filho?" Ele respondeu: "Tio Chico, eu queria pedir ao
      senhor para me dar um beijo". Esse eu acho que foi um dos acontecimentos
      mais importantes de minha vida.

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      4 - ENTREVISTA EM UBERABA NO DIA 17/07/1988:

 P - Em seu primeiro encontro com Emmanuel, ele enfatizou muito a
disciplina. Teria falado algo mais?
      R - Depois de haver salientado a disciplina como elemento indispensável
      a uma boa tarefa mediúnica, ele me disse: "Temos algo a realizar."
      Repliquei de minha parte qual seria esse algo e o benfeitor esclareceu:
      "Trinta livros prá começar !" Considerei, então: como avaliar esta
      informação se somos uma fam¡lia sem maiores maiores recursos, além do
      nosso próprio trabalho diário, e a publicacão de um livro demanda tanto
      dinheiro !... Já que meu pai lidava com bilhetes de loteria, eu
      acrescentei: sera que meu pai vai tirar a sorte grande? Emmanuel
      respondeu: "Nada, nada disso. A maior sorte grande ‚ a do trabalho com a
      fá viva na Providencia de Deus. Os livros chegarão através de caminhos
      inesperados !".
         Algum tempo depois, enviando as poesias de "Parnaso de Além Túmulo"
      para um dos diretores da Federação Esp¡rita Brasileira, tive a grata
      surpresa de ver o livro aceito e publicado, em 1932. A este livro
      seguiram-se outros e, em 1947, atingimos a marca dos 30 livros.
       Ficamos muito contentes e perguntei ao amigo espiritual se a tarefa
      estava terminada. Ele, então, considerou, sorrindo: "Agora, começaremos
      uma nova série de 30 volumes." Em 1958, indaguei-lhe novamente se o
      trabalho finalizara. Os 60 livros estavam publicados e eu me encontrava
      quase de mudança para a cidade de Uberaba, onde cheguei a 5 de janeiro
      de 1959. O grande benfeitor explicou-me, com paciencia: "Voce perguntou,
      em Pedro Leopoldo, se a nossa tarefa estava completa e quero informar a
      voce que os mentores da Vida Maior, perante os quais devo tambem estar
      disciplinado, me advertiram que nos cabe chegar ao limite de 100
      livros." Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram. Quando
      alcançamos o número de 100 volumes publicados, voltei a consulta-lo
      sobre o termo de nossos compromissos. Ele esclareceu, com bondade: "Voce
      não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa. Agora, estou na
      obrigação de dizer a voce que os mentores da vida superior, que nos
      orientam, expediram certa instrução que determina seja a sua atual
      reencarnação desapropriada, em benef¡cio da divulgação dos princ¡pios
      esp¡ritas-cristãos, permanecendo a sua existencia, do ponto de vista
      f¡sico, a disposição das entidades espirituais que possam colaborar na
      execuxão das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre apto
      para as nossas atividades."
       Muito desapontado, perguntei: então devo trabalhar na recepção de
      mensagens e livros do mundo espiritual até o fim da minha vida atual?
      Emmanuel acentuou: "Sim, não temos outra alternativa !" Naturalmente,
      impressionado com o que ele dizia, voltei a interrogar: e se eu não
      quiser, ja que a Doutrina Esp¡rita ensina que somos portadores do livre
      arb¡trio para decidir sobre os nossos próprios caminhos? Emmanuel,
      então, deu um sorriso de benevolencia paternal e me cientificou: "A
      instrução a que me refiro ‚ semelhante a um decreto de desapropriação,
      quando lançado por autoridade na Terra. Se voce recusar o serviço a que
      me reporto, segundo creio, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos
      ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles terão autoridade bastante
      para retirar voce de seu atual corpo f¡sico !". Quando eu ouvi sua
      declaração, silenciei para pensar na gravidade do assunto, e continuo
      trabalhando, sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que
      passei a chamar de "Des¡gnios de Cima".

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      5 - ENTREVISTA PUBLICADA NO JORNAL "GOIAS ESPIRITA" DE JAN/FEV 1988:

 P - Têm surgido muitos médiuns e curadores por este Brasil afora, que
receitam remédios e até operam os doentes. Qual ‚ a maneira de se identificar
o verdadeiro do falso?
      R - Eu creio que isto deva ser fruto da educação do sertanejo, acreditar
      que, pagando bem, irá conseguir curas espirituais. O verdadeiro
      Espiritismo não pode cobrar, nem mesmo os remédios que receita aos
      doentes. Também sou contra essa estória de meter o canivete no corpo do
      outros, sem ser médico. O médico estudou bastante anatomia, patologia e,
      por isso, esta habilitado a fazer uma cirurgia. Por que eu, sendo
      médium, vou agora pegar uma faca e abrir o corpo de um cristão sem ser
      considerado um criminoso? Eu ja me operei 5 vezes, e vários médiuns me
      ofereceram seus serviços. O esp¡rito Emmanuel me disse: "Voce deveria
      ter vergonha até de pensar em receber este tipo de cura, porque todos os
      outros doentes vertem sangue, até tomam determinados remédios
      para melhorar. Como voce pretende se curar numa cadeira de balanço ?".

P - Diante disso, como fica o fenômeno "Zé Arigó" ?
      R - Quando eu estava para operar, da última vez, em 1968, de um tumor na
      próstata, Zé Arigó mandou me avisar que estava pronto para realizar a
      operação. Eu lhe respondi: como ‚ que eu ficaria diante de tanto
      sofredor que me procura e que vai a caminho do bisturi, como o boi vai
      para o matadouro ? E eu, sabendo disso, vou querer facilidades ? Eu
      tenho ‚ que operar como os outros, sofrendo com eles ! (...).

 P - Como conciliar os recursos da medicina terrestre, especialmente na
áea da cirurgia, com a correção de anomalias orgânicas em criaturas em
processos de resgates carmicos?
      R - Não importa que a cirurgia faça desaparecer anomalias inibidoras ou
      deformantes de implementos somáticos. O perisp¡rito conservará a
      deficiencia, que vai se projetar para reencarnações futuras, a não ser
      que o esp¡rito devedor se ajuste com a Lei da Justiça, cobrindo com amor
      a "multidão de pecados", segundo o Evangelho. A cirurgia corrige
      transitóriamente as deficiencias f¡sicas. O amor, trabalhando nos
      tecidos sut¡s da alma, purifica e redime para a Eternidade.

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      6 - PERGUNTAS FORMULADAS POR ESPIRITAS DE S. PAULO, R. DE JANEIRO, E
      BELO HORIZONTE POR OCASIAO DE UM ENCONTRO EM UBERABA, NO DIA 31/05/91:

 P - Chico, temos visto muitas crianças encaminhadas às reuniões de
tratamento desobsessivo. Que fazer diante deste problema cada vez mais
frequente?
      R - Os amigos espirituais nos tem falado, amiúde, a cerca da questão da
      criança em desequil¡brio, demandando larga dose de compreensão e carinho
      da fam¡lia a que pertença. Lembram-nos os nossos mentores que, em
      matéria de desajustes infantis, o remédio eficaz sera sempre o do
      acendrado amor dos pais no recesso do próprio lar. O amor em fam¡lia ‚ a
      construção da harmonia, com vistas ao futuro promissor de cada qual.
      Desajustes, muitas vezes, nada mais são que o reflexo da falta de amor
      nos lares, gerando perturbações. Ao tratarmos de questães como a
      desobsessão, os instrutores espirituais nos recomendam a utilização
      quotidiana do bom senso, nos indicando que a mente infantil não esta
      preparada para compreender os complexos fundamentais de uma reunião de
      desobsessão. Que provavelmente as crianças se impressionariam de maneira
      contraproducente se frequentassem estes serviços espirituais. Então,
      seus pais não estão com o tempo necessario de dedicação e amor para com
      as crianças dentro do próprio lar, se, por outro lado, não convém a
      mente infantil em desajuste frequentar as reuniões de desobsessão, logo,
      devemos suplicar a bondade infinita de Deus que inspire aos
      trabalhadores das casas esp¡ritas,  dedicados a evangelização infantil,
      que organizem em seus quadros de serviço reuniões apropriadas ao amparo
      e ao acolhimento de crianças desajustadas. Reuniões espec¡ficas para a
      mente infantil, que funcionariam vinculadas aos núcleos ativos de
      desobsessão do Centro. Reuniões intermediarias de socorro e
      esclarecimento evangélico. Esta colaboração poderia trazer muitos
      benef¡cios em favor da tranquilidade familiar.
 
 
 

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