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IDEALIZADOR DA ONG Comida a R$1
Reportagem do Globo Repórter
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LINKS Legumes e frutos bem limpos. E deles, tira-se a casca. Lavam-se as folhas da hortaliça. Mas, antes, corta-se o talo.

E, agora, o que milhões de brasileiros não estão acostumados a fazer: os talos vão para a panela. E cascas para o liquidificador.

Como comer bem, gastando pouco e aproveitando essas coisas que se jogam fora? É aula que se aprende dentro de uma carreta, numa praça de Mauá, na Grande São Paulo.

A sala de aula móvel tem capacidade para 30 pessoas, cozinha completa, e uma lição que parece até impossível: preparar um café da manhã, um almoço e um jantar, tudo isso por apenas R$ 1.

O projeto surgiu de uma pesquisa feita pelo Sesi, o Serviço Social da Indústria, que ouviu trabalhadores de pequenas e médias empresas de São Paulo.

Ao todo, 62% deles comiam mal. Uma dieta com muita gordura, muita proteína, mas poucas vitaminas, minerais e fibras. O desafio, então, foi elaborar uma proposta saudável. E, ao mesmo tempo, barata.

"De que forma que as pessoas podem estar muito bem alimentadas gastando pouco? Isto é, de que forma, aproveitando o alimento como um todo. Muitas vezes, as pessoas desconhecem que a casca da abóbora pode ser consumida e tem tantos nutrientes quanto a própria abóbora, que a pessoa pode consumir o talo da salsa, que em termos de nutrientes tem até mais que o dobro que a própria folha da salsa", explica Tereza Watanabe, Diretora de alimentação do curso.
São 300 receitas surpreendentes e apetitosas. Algumas custam menos de R$ 0,50. E não se faz milagre na cozinha. Tudo o que normalmente se joga fora é rigorosamente aproveitado.

"Casca da banana também, casca da melancia, do abacaxi, todas essas cascas vocês podem utilizar", ensina Legiane Rigatoni, nutricionista do curso.
Na lição de hoje, os alunos aprenderam três receitas. A primeira é uma pizza de talos de brócolis, de oito pedaços, por R$1,15.

Depois de picados, os talos são refogados no alho. Em seguida, cozidos com pouca água.

"Se colocar muita água, cozinhar e eu jogar aquela água fora, a minha vitamina hidrossolúvel vai embora junto com a água", alerta a nutricionista.

A massa da pizza é preparada com molho de tomate, coberta com os talos de brócolis já cozidos, ovos, tomate e um pouco de mussarela. Talos de outros alimentos também podem ser usados.

"A gente pode utilizar o talo de agrião, o talo de espinafre, de beterraba. Na verdade, o talo que tiver em casa pode enriquecer. Pode-se até fazer vários talos juntos", diz Legiane.

Enquanto assa a pizza, a nutricionista prepara bolinhos de cascas e talos. Tudo muito bem lavado. São cascas de cenoura, berinjela, chuchu e talos de salsa e agrião. Os ingredientes também são refogados e cozidos.

E, depois, a massa é preparada com farinha, água, leite e arroz. Detalhe: recomendam-se sobras de arroz. Os bolinhos são passados na farinha de rosca e fritos. Valor do prato: R$ 0,96.

Mas a maior surpresa do curso foi a sobremesa: um bolo, quem diria,  feito com casca de banana! Valor: R$ 2,52. Cada pedaço sai por apenas R$ 0,13.

"As cascas da banana para a massa e a banana para a cobertura. Não é vantagem a gente utilizar as cascas e jogar a banana fora. Então, aqui nesta receita a gente consegue utilizar integralmente o alimento", ensina Legiane.

"Se dentro da casca, ela estiver com a aparência normal, então ela está própria para o consumo. Se ela estiver um pouquinho manchada, a gente retira a parte que
está manchada", avisa a nutricionista.

Para a casca não escurecer - ação do oxigênio, presente no ar - uma dica: suco de limão. O bolo leva gemas, leite, açúcar, margarina e farinha de rosca. O mais importante é bater tudo muito bem para esfarelar bem a casca da banana. A massa leva ainda claras em neve e fermento.

"A casca da banana tem propriedades que a própria fruta não tem. A maior propriedade da casca da banana, que a banana não tem, é a fibra. As fibras são importantes porque ajudam a reduzir os níveis de colesterol, glicemia no nosso organismo, além de ajudar no funcionamento intestinal, evitando ainda câncer de intestino", diz Legiane.

"Quando eu vejo um lixo cheio de casca de banana me dá muita dó. Não só casca de banana como outras partes, que não são consumidas. O lixo do Brasil é rico justamente por isso, porque tem muito nutriente no lixo", alerta a nutricionista.
É riqueza que se descarta. Ou que, pelo menos, muita gente descartava: 130 mil pessoas já tiveram essa aula, em 36 cidades paulistas
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