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A minissaia




Contaram-me a história de uma certa menina, uma das primeiras mulheres a trabalhar em um local, onde inicialmente só trabalhavam homens.
Na época ela tinha 18 anos, havia cursado o Técnico em Química e fora contratada para fazer análise em produtos provenientes de gaseificação de carvão.
Pequenina, um metro e cinquenta e três mais ou menos, para não dizer um metro e meio. Cabelos pretos, curtinhos, olhos castanhos e espertos. Alegre, extrovertida, tinha sempre uma resposta para tudo e, às vezes, das mais atrevidas.
Ela chegou e logo foi fazendo amizade com todos, do peão ao engenheiro. Parecia que para ela não existiam tristezas, sempre tinha uma coisa boa para dizer.
Na hora do trabalho era muito responsável, mas fora disso, contava piadas, participava das brincadeiras, ouvia histórias e confidências, todos podiam confiar na sua discrição.
As outras mulheres que trabalhavam no mesmo local eram: uma engenheira, muito bonita por sinal , e a Dona Maria, uma senhora que fazia a limpeza e o almoço para a galera que trabalhava “no pesado”.
Talvez por esses detalhes, a Clara, vamos chamá-la assim, recebia todas as atenções, era muito elogiada e “paparicada”, e gostava muito, é claro.
Um certo dia, para provocar ou para testar seu potencial com o público masculino, a Clara veio de minissaia. Realmente ela tinha pernas muito bonitas. Não houve quem não comentasse.
Mas o dia foi passando e a novidade se incorporou a rotina.
Como ainda não existia refeitório, todas as tardes alguém pegava uma das Kombis, eram duas que traziam o pessoal da capital até a região metropolitana, e ia até o centro da cidade para comprar o lanche na padaria.
Nessa tarde em questão um dos colegas de Clara, com apelido de jogador de futebol, resolveu buscar o lanche. Mesmo não sendo exímio motorista, o moço tomou a iniciativa e, para completar convidou a Clara para acompanhá-lo. Não poderia perder a oportunidade de contar essa vantagem, o dia que foi com a Clara buscar o lanche e era o dia em que ela veio de mini-saia.
A Clara muito gentil aceitou, e lá foram eles.
Na ida tudo bem, mas na volta... o heróico motorista fez uma curva muito rápida e, no portão de entrada, derrapou na areia e capotou a Kombi que ficou virada com as rodas para cima. Os bancos caíram e o combustível começou a vazar.
Com o tremendo susto que levou, o rapaz até esqueceu da moça. Tratou de sair rápido e apavorado, admirar o incrível estrago que causou ao veículo.
Felizmente ninguém se machucou. Só a Kombi que amassou em todos os lados.
Muito prestativo, um rapaz que trabalhava num poste, concertando a linha telefônica, avisou aos colegas dos acidentados. Em minutos chegaram todos.
Ficaram surpresos ao ver que os colegas não tinham se machucado. Quanto a Kombi, tudo bem, tinha seguro.
Assim, o dia em que a Clara veio de minissaia ficou marcado para sempre. E todos contam a história dizendo que a minissaia da Clara era tão incrível que chegou a capotar uma Kombi.
Se é verdade, não sei.
Perguntem para a Clara.

Ana Mello
anaelyod@yahoo.com.br