Nasci no município de Brumado. Aos 16 anos (1966) fui viver em Caetité, pois a minha família, por necessidade, claro, emigrava, com certa freqüência, como se pertencesse à etnia cigana.
Juntamente a algumas vantagens, sobrava-nos (aos filhos) o prejuízo no desempenho escolar. As mudanças eram feitas em pleno ano letivo o que nos levava a recomeçar sempre o mesmo ano escolar a cada lugar que chegávamos. Prova disso era que aos 16 anos ainda freqüentava eu o 3º ano primário, na antiga Escola Normal de Caetité. Contudo, em Fevereiro de 1967, por sugestão de um professor de Educação Física do IEAT, Prof. Abelardo, preparei-me para os exames de admissão ao Ginásio (2a. época). Fui aprovado para a freqüência do 1º ano ginasial, porém tive de o repetir no ano seguinte visto não ter obtido notas suficientemente altas em História do Brasil que me permitissem passar para o 2º ano.
Estudei, portanto, no IEAT de 1967 a 1971, ano em que emigrei-me para o sul - São Paulo - e anos depois para a Europa.
Bem, tudo isso para dizer que durante o período em que estudei no IEAT fui presenteado com a honra e a grande satisfação de ter sido aluno da Profª Marion Gomes, vossa Mãe e Patrona da cadeira nº 23 da ACL. Creio ter sido em 1970 e 1971, uma vez que nos anos anteriores tivera sido aluno da Profª Irany de Castro Muniz Teixeira.
De modo geral, fui um bom aluno, mas o meu forte era a Língua Portuguesa. Hoje, considero que a Profª Irany construiu em mim o alicerce e a Profª. Marion edificou as paredes da minha aprendizagem. O teto, nunca o terei terminado, pois cabe a mim construir, num exercício constante e interminável, já que a língua é uma matéria viva, sempre em transformação.
Mas isso não me preocupa, pois é tão bom estar no cimo de paredes tão seguras, sustentadas por um sólido alicerce e ver o céu salpicado de estrelas! Devo, a ambas, o meu interesse pela Língua Portuguesa e a partir daí por outras que depois aprendi, o gosto pela leitura, pela poesia, pela literatura, pelas artes de um modo geral... e pelas estrelas. A Profª Irany e a Profª Marion não somente me ensinaram a técnica da Língua Portuguesa mas também o despertar da minha sensibilidade para as coisas belas que só os olhos do espírito conseguem enxergar. Em classe, eram verdadeiras mestras. Amigas dos alunos, não mediam esforços para que todos chegassem ao mesmo nível, respeitando, contudo, as limitações de cada um.
Os anos que no IEAT passei foram de enriquecimento incalculável. Os professores formavam um grupo coeso de invulgar qualidade. A Profª Marion cativava pelo seu conhecimento e pela maneira alegre, humorada e paciente com que nos tratava a todos, sem distinção.
Permito-me dizer que a Profª Marion levava para a sala de aula o seu amor de mãe e distribuía-o por todos nós, sem contudo alterar o amor que sentia pelos seus próprios filhos. Tive a graça de "beber" desse amor e por isso guardo tão gratas recordações.
A última vez que estive com a Profª Marion foi em Outubro de 1986. Vivia eu em Paris e fora visitar a minha família em Caetité. Num final de tarde dirigi-me à sua casa que faz esquina com a rua General Argolo e fiz-me anunciar.
D. Marion (como a tratava) mandou-me um recado a pedir-me para esperar porque estava a ver a novela. Acomodei-me no hall de entrada e esperei. De costas para mim, entretida com a novela, não percebera quem ali estava. Num dos intervalos, porém, olhara para trás e só então dera-se conta de quem a esperava. Reconhecera em mim o antigo aluno de 15 anos atrás. Com a sua costumeira forma gentil de ser e um sorriso grande veio ao meu encontro e trocamos um abraço. Meio sem jeito, desculpara-se por me ter feito esperar, pois imaginara que eu fosse "um vendedor de livros". Rimos bastante. A novela tomara segundo plano e D. Marion dedicou-me toda a sua atenção. Foi um belo reencontro!
(...)
Bem, acho que já me estendi demais. Corro o risco de estar a ser cansativo. Agora só me resta agradecer por esse presente e também por ter recebido, como vós, a semente do conhecimento, com a qual D. Marion, minha PROFESSORA e vossa MÃE nos presenteou. |