AMÁLGAMA
Homem
de terra, de argila e de farinha
de
raízes no solo e muitas fontes
o
mesmo sol que te satura me mora nas entranhas
o
mesmo fio que te liga à terra me fez de presa.
A
mesma carne, a tua, é fraca em mim
em
mim que já sou feita de tuas ânsias
de
tuas névoas, de teu suor e teu conflito.
O
mesmo cheiro de tuas partes em minhas mãos resiste
ao
vento de poeira. Às estações e ao isolamento.
Já
não sou tua, é certo. Talvez eu nunca fosse,
talvez
tivesse sido, talvez um dia eu seja.
Talvez
te habito em sonhos recônditos
talvez
nem te dês conta.
Talvez
já nem percebas. Talvez ainda não saibas.
É
tão vasto o sortilégio. Tão infinitas
as
marcas de teus pés no meu passado
de
tuas mãos pelo meu corpo.
Homem
de pedaços. De sulcos cavados na pedra
Talvez
eu seja o rio que te corre por cima
são
águas minhas as que te corroem
e
te deixam em sedimentos,
São
seixos teus que carrego no meu leito
são
partes tuas as que me dão forma.
É
barro teu o que me turva.
Homem
de asas. Companheiro,
é
através de teus sentidos o meu contato.
A
minha noite tem a tua cumplicidade.
A
tua serpente possui o meu veneno.
O
mesmo sangue. É inútil que te afastes.
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