ORIGEM (cont.)
. E até o texto do padrão novo se mostra complacente quanto à tal realidade: "se um exemplar não estiver bem dentro dos parâmetros de tamanho descritos, não deve ser severamente penalizado. Há de se compreender que o Shar Pei perdeu seu talhe por volta de 1949."
Além do grupo de Shar Peis que caçava pequenos animais da região, como roedores e até mesmo rãs, havia um outro destinado à rinhas clandestinas, prática que atingiu maior popularidade entre as décadas de 60 e 70. Transformá-lo num ótimo cão de combate foi mais um motivo para a miscigenação. Houve muito Shar Pei acasalando com raças de luta, como o Buldogue Inglês, o Bullmastiff e Bull Terrier. Resultado: os filhotes que provinham daí, herdavam características desses cães. "A soma de todos os exemplares puros da raça, inclusive os que estavam nas regiões vizinhas à China, não chegava a cem", conta Lam.
Em 1974, o Shar Pei figurou no Livro Guiness dos Recordes como o cão mais raro do mundo. Um ano antes, alguns chineses, encabeçados por Matgo Law, de Hong Kong, lançaram um apelo de salvação à raça, publicado em revistas americanas: "quem sabe se conseguirmos enviar alguns dos nossos cães para o seu país, eles poderão, algum dia, se tornar tão populares como o Pequinês ou o Chow-Chow", escreveu ele. Deu certo. Vários criadores americanos mostraram grande interesse pela raça. Mas havia um problema. A maioria dos exemplares disponíveis era aquela vinda da consangüinidade e da mestiçagem. Portanto, não tinha as características originais do Shar Pei pré-revolução comunista. De acordo com Robert Horsnell, que mora na China e na época criava a raça, entre 1970 e 1976 foram enviados aos Estados Unidos cerca de 100 exemplares, poucos deles com o físico do tipo original. "Em 1974 consegui reunir apenas 6 exemplares puros para exportação",diz Horsnell, hoje membro do Hong Kong Kennel Club.
O padrão com data oficial de 1981, o que sofreu as alterações, foi na verdade redigido pelos criadores chineses na década de 70. Daí terem feito, hoje, tantas mudanças em suas descrições, já que refletiam direitinho as características da maioria dos cães existentes na época, que eram frutos de acasalamentos incorretos.

TIPO ORIGINAL
Em 1986, um grupo de criadores e amantes da raça, dirigido por Nelson Lam e aflito com os caminhos do Shar Pei que se distanciava cada vez mais do tipo original, fundou o Hong Kong Shar Pei Club. O objetivo da entidade era conscientizar as pessoas de como deveria ser um verdadeiro exemplar. Dois anos depois, em 1988, o clube lançava o novo padrão da raça, já exigindo as características do tipo físico original do Shar Pei. Apenas em 1994, a FCI o adotou. Lam lembra que reunir as informações necessárias que mais fielmente retratavam os Shar Peis originais para a elaboração do padrão, foi tarefa difícil. Exigiu muito tempo e pesquisa, principalmente junto aos criadores chineses, pois o material escrito sobre a raça mostrava-se insuficiente. Além disso, a comunicação era complicada, pois muitos criadores falavam dialetos diferentes.

TENDÊNCIAS
Hoje, segundo Lam e Horsnell, é possível encontrar exemplares do tipo original em Hong Kong e em alguns outros lugares da China. "Mas ainda não despertam tanto interesse na maioria dos ocidentais, que estão mais acostumados com o tipo bem enrugado e pesado, resultantes da consangüinidade e da miscigenação", comenta Horsnell. Por outro lado, diz Lam, desde que o padrão entrou em vigor, em 1994, cresce o número de criadores, sobretudo europeus, que se esforça em produzir exemplares mais parecidos com os originais. Conforme informou a Cães & Cia o presidente do clube do Shar Pei da França, Yves Surget, de cerca de um ano para cá, muitos criadores europeus têm se empenhado em buscar o tipo original, sugerido pelo novo padrão. "No entanto, como a iniciativa ainda é muito recente, a maioria dos exemplares na Europa ainda apresentam o tipo físico descrito pelo padrão antigo", afirma. Aqui no Brasil, a situação é semelhante. Ainda mais, porque mesmo que a maior parte dos criadores brasileiros siga as regras da FCI, há muitos cães importados dos Estados Unidos. Como se sabe, os EUA não seguem a FCI. Entre os americanos, o padrão não mudou. Lá, continua-se buscando uma altura menor, com ossatura pesada. A cabeça desejada pelo padrão é grande em relação ao corpo e na descrição do focinho permanece a analogia com o do Hipopótamo. A única mudança que começa a engatinhar nos rumos da criação do Shar Pei nos EUA é em relação a diminuir a quantidade de rugas. Segundo a criadora americana Joann Redditt, editora da revista The Barker, publicação oficial do Chinese Shar Pei Club of America e autora de três livros sobre a raça, a preocupação por parte dos americanos em não produzir exemplares com abundância de rugas é em função, principalmente, das complicações de saúde que podem acarretar e não do resgate ao tipo físico original.
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