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VISITA DE ESTUDO
* SERRA DA ESTRELA
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Corina Simões |
9 a 12 de FEVEREIRO DE 2004 |
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Para saber mais

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Desta vez o nosso destino eram as
terras altas da nossa Serra mais alta, a bela Estrela.
Partimos expectantes, numa manhã
que se adivinhava soalheira, na mira de um passeio agradável, com muito frio à
mistura, mas também na ânsia de descobrir as lindas aldeias históricas, com seu
encanto e mistério.
Seia
(Terra de Sonho e Poetas)
A viagem decorreu num ambiente
alegre, e cerca das 15h00 chegámos à vetusta cidade de Seia, situada na encosta
poente da Serra, a 532 m de altitude.
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Seia * Vista geral * 1998 |
Seia * Vista geral em dia de nevão * 1998 |
Fomos directamente para o
Museu do Brinquedo,
instalado no Solar de Sta. Rita, onde seríamos recebidos pelo Sr. Presidente da
Câmara e sua Assessora para as actividades Culturais e Recreativas, Presidente
da Junta de Freguesia e pela Directora do Museu.
Iniciada a visita, que foi guiada
por Ana Fernandes, observámos na primeira sala, peças oferecidas por entidades
de todo o mundo: embaixadas, rotários, artesãos, regiões de turismo, câmaras
municipais e particulares. Cada continente está representado numa vitrina, que
expõe os brinquedos típicos dos respectivos países. São peças lindas e
preciosas. Na segunda sala, apreciámos os brinquedos mais variados, que
partilharam a infância de todos quantos
quiseram doá-los ao museu, para que
outros pudessem também desfrutar do seu encanto. A sala três é dedicada ao
livro, enquanto objecto lúdico. Através de placards e personagens que retratam
as histórias tradicionais, os visitantes vão entrando no mundo do sonho e da
magia. Existe ainda uma biblioteca para consulta sobre infância, brinquedos,
educação, literatura infantil e juvenil, e uma oficina onde se pode aprender a
fazer e a reparar brinquedos. No final da visita foi-nos gentilmente oferecido
um chá, assim como diversas recordações alusivas à cidade e ao museu.
Devo
frisar que no museu havia uma sala inteiramente dedicada a uma exposição
temporária, alusiva aos 70 anos da Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários de Seia (da qual, Luís Ferreira Matias, pai do nosso colega Rui
Matias, foi sócio fundador), e que exibia vários modelos de miniaturas de carros
de bombeiros, amavelmente cedidos por algumas entidades e coleccionadores
particulares, peças essas com grande valor estimativo e representativo.
Terminada esta primeira visita,
partimos a pé, à descoberta da cidade de Seia, que se nos apresentou prazenteira
e convidativa, com as suas belas e múltiplas cameleiras floridas.
Seia ergue-se a noroeste do maior
maciço montanhoso do país, estendendo-se pelos rios Mondego e Alva. A sua origem
é anterior à Nacionalidade, tendo sido fundada pelos Túrdulos entre 450 a 300
a.C.
Tomada pelos sarracenos em 715,
foi reconquistada por D. Fernando, o Magno, em 1055, ano em que se mandou
edificar o Castelo. Deste, só resta hoje o Terreiro Rochoso, sobre o qual está
implantada a Igreja Matriz, (que tivemos ocasião de visitar). Desconhecendo-se
com exactidão a data da sua construção, esta Igreja, sob invocação de Santa
Maria, era de estilo românico e foi devastada aquando das invasões francesas. A
sua reconstrução foi iniciada em 1843 e prolongou-se por cerca de 50 anos.
Possui, no seu interior, quatro imagens do escultor bracarense José Maria
Vieira.
No que se refere ao Centro
Histórico de Seia: na Praça da República apresenta-se-nos um Pelourinho com
estrutura e formas diferentes das originais. A base da coluna tem forma
circular, formada por três discos de pouca altura, que vão diminuindo de
diâmetro. O fuste é de encordoado bastante fechado e o capitel tem duas ligeiras
golas boleadas, onde assenta um prisma quadrangular, liso. Igualmente nesta
praça vimos a Fonte das Quatro Bicas, cuja base é um pentágono irregular, que
tem ao centro uma torre em forma de pirâmide, com as armas da vila, e onde
quatro torneiras espargem água, tanto de inverno como de verão.
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Seia * Fonte das Quatro Bicas |
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Seia * Pelourinho |
Do seu passado, Seia guarda
monumentos, nomeadamente solares, que demonstram a sua grande importância
histórica. Um deles, a Casa das Obras, foi, no séc. XVIII, o antigo solar da
família Mendonça Arrais e Albuquerque, e onde se aquartelaram as nossas tropas
durante as Invasões Francesas. Este edifício alberga hoje os actuais Paços do
Concelho, e ostenta ainda as armas heráldicas daquela nobre família, e nas suas
linhas ressalta o traço pombalino.
Também no Centro Histórico fica a
Igreja da Misericórdia, datada de 1581 e seu lado a Casa do Despacho. A Igreja
possui uma janela joanina e a sua frontaria ostenta as armas reais em pedra de
Ançã. De grande valor artístico é o friso de oito figuras, representando o
Enterro de Senhor, todas em pedra de Ançã. Não nos foi possível visitar o seu
interior, porque, por ser segunda-feira, os monumentos se encontravam
encerrados.
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Seia * Paços do Concelho |
Seia * Igreja da Misericórdia |
Seia * Capela de São Pedro |
Seia * Igreja Matriz |
Encostada a esta Igreja, situa-se
a Capela de São Pedro, Monumento Nacional, que se pensa remontar ao séc. XII ou
XIII, restando do primitivo templo o portal e uma inscrição com caracteres
góticos. O estilo é autêntico românico, com laivos moçárabes, e se não fosse a
transformação que sofreu no séc. XVI, na abóbada, artesoados e mísulas, poderia
considerar-se um exemplo precioso dos templos do início da nacionalidade.
Integrado no conjunto
arquitectónico polarizado pelo Largo da Misericórdia, encontramos o Solar dos
Botelhos, um típico exemplar da arquitectura civil residencial, do tipo
manuelino. Podemos observar a sua janela manuelina, encimada pelo brasão da
família. No antigo solar dos Mirandas está instalada a Biblioteca Municipal.
Ao entardecer dirigimo-nos para
as instalações da Quinta do Crestelo, onde ficámos belíssimamente instalados.
Pelas 20h00 degustámos a nossa primeira refeição na Serra, a primeira de muitas,
todas deliciosas, saborosíssimas.
Serra da Estrela
(Lenda da Serra da Estrela)
Após uma noite repousante,
partimos, na manhã do dia 10, em direcção à
Torre! E sempre às curvas e subindo,
passámos pela Aldeia da Serra, prazenteira e disposta em socalcos. Espraiámos o
olhar e parecia que viajávamos de avião.... E subindo, alcançámos a Senhora do
Espinheiro, onde paira ainda a sombra de Viriato. Ali, ergue-se uma capela
românica, envolta em lendas antigas. As suas pedras enegrecidas confundem-se com
as rochas negras do planalto, e tudo é perfeito e enquadrado na austeridade do
ambiente..
Depois fomos em direcção do
Sabugueiro,
a povoação mais alta de Portugal ( 1100 m ), que afinal está no fundo de um
covão..., por isso começámos a descer e entrámos na aldeia, hoje dedicada ao
turismo, e talvez das mais visitadas de Portugal. Continuámos para o alto da
Serra, por uma estrada que é como uma serpente ondulante e atravessámos o rio
Alva pela sua ponte moderna de cantaria lavrada e avistámos a conduta que leva
as águas da Lagoa Comprida para as Centrais. Depois é o Penedo Gordo, logo o
Covão do Urso se desenha na beira da estrada..., e então já se viam os muros da
Lagoa Comprida. Das suas varandas pode observar-se uma vista deslumbrante de
serranias ásperas e a infindável planície aos pés da serra... Que pena São Pedro
ter-nos negado a brancura de um manto de neve para que o espectáculo fosse
perfeito!

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Torre * Serra da Estrela |
Torre * Serra da Estrela |
Sabugueiro em dia de neve |
Sabugueiro * Cabeça do Velho |
Sabugueiro * Vista Geral |
Mas a Torre esperava-nos, e
continuámos a subir, passando pela Fonte dos Perús e chegámos ao topo! Quando
saímos do autocarro, um vento gelado fez-nos tiritar sob os agasalhos, e
corremos para o conforto de uma casa aquecida, onde tomámos uma bebida quente e
comprámos lembranças para os nossos “amigos secretos” que, por serem secretos,
não vamos divulgar, para já.
Depois a descida, e de novo os
olhos se extasiavam com panoramas surpreendentes. Após uma breve paragem na
Lagoa Comprida e, na aldeia de Sabugueiro, seguimos para
Seia, onde
apanhámos o pequeno comboio citadino que nos conduziria ao Museu do Pão, para o
nosso apetecido almoço e visita guiada do mesmo.
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Serra da Estrela * Lagoa Comprida |
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Seia * Museu do Pão |
A constituição do museu é muito
recente, e deve-se à iniciativa de dois jovens irmãos que, contra tudo e contra
todos, sonharam e implantaram de raiz o edifício que hoje guarda as fases
sucessivas do fabrico do pão.
O almoço foi perfeito e servido
numa majestosa sala de refeições do museu, que é toda constituída por pequenas
obras de arte feitas em pão pelos seus artesãos. Após a visita ao museu, que nos
deliciou pela forma como nos foi apresentada, rumámos em direcção ao lugar
designado Senhora do Desterro, onde se encontra implantada uma das mais antigas
centrais hidroeléctricas da Europa cuja construção é do início do século XX
(1908). Aqui vai ser criado um núcleo museológico alusivo à exploração
hidroeléctrica. A seguir visitámos igualmente a nova central, onde nos foram
explicadas, pormenorizadamente, todas as fases da produção de energia eléctrica.
Terminada esta visita,
dirigimo-nos, em passeio pedestre, ao local onde se encontra um monumento
megalítico, que a natureza esculpiu, dando formas de uma cabeça humana, e a que
a tradição chamou “Cabeça da Velha”.Cansados
da caminhada (3 km a subir), regressámos ao autocarro e ao hotel.No dia 11,
pelas 9h30, estávamos de novo prontos para mais uma viagem, desta vez à
descoberta das aldeias históricas. Partimos, repousados e bem dispostos, e a
primeira paragem foi na aldeia de Melo, que foi fundada em 1204 pelo cruzado D.
Soeiro Raimundo que teria acompanhado em 1191, Ricardo Coração de Leão, Rei de
Inglaterra, na conquista da Terra Santa. Ali ganhou a alcunha de “Melo”, devido
a singulares actos de valentia, na conquista de um forte que se chamava
precisamente MELO. Regressado a Portugal, resolveu comemorar os seus feitos
valorosos, dando continuidade ao povoamento do lugar, já iniciado por D.Gonçalo
Mendes de Sousa, prior de Folgosinho, no reinado de D.Afonso II.
No século XIII a povoação é
concedida a Mem Soares, cavaleiro que aí edificou o seu paço, tendo, o seu neto
D.Mem Soares de Melo, sido Alferes-Mor de D.Afonso III.
O
Paço do Melo, cujo traçado
admiramos, pertence ainda hoje à mesma família e caracteriza-se no aspecto
arquitectónico, por uma conjugação de várias épocas cronológicas, sem expressão
estilista digna de nota. O imóvel terá servido de refúgio ao Bispo da Guarda
D.Mendonça Arrais, (natural de Seia e titular do Solar “Casa das Obras”, a que
nos referimos noutro local) que como tivemos ocasião de constatar “in loco” se
encontra sepultado, em campa rasa, na Igreja Matriz de Melo.
Como característica, esta Igreja
possui na frontaria, sobre uma porta de verga redonda, o brasão dos antigos
senhores da vila. Exibe um campanário do lado direito com uma torre sineira,
provida de dois enormes sinos de bronze e uma interessante gárgula de pedra, de
feição gótica. A sua fundação é muito anterior, mas a reconstrução desta Igreja,
consagrada a Santo Isidoro, teve lugar em 1668, conforme inscrição no
frontespício.
No seu interior sobressai um
altar em talha barroca, enquanto os restantes integram outros estilos. Na
sacristia apreciamos a imagem barroca de Santa Catarina, em madeira, (mais
antiga que a própria igreja) e a imagem de São Francisco de Sales, em mármore,
cuja época se desconhece, e ainda a imagem de São Brás, em madeira. Já no
exterior, chegámos ao Pelourinho do tipo manuelino de pinha cónica e que possui
um capitel decorado com motivo denticulado, remate com decoração geométrica e
cruz, em substituição da grimpa de ferro, e é, provavelmente, datado do séc.
XVI.(foto na capa).
À direita, vemos o edifício que
corresponde à antiga casa da Câmara e Cadeia, com dois pisos e uma arquitectura
popular. Na esquina vê-se, junto ao beiral, uma pedra de armas circular, com os
símbolos heráldicos da antiga vila. A vila do Melo tem por brasão o escudo das
armas reais de Portugal, colocadas entre duas árvores, cada uma com um melro em
cima.
Digna de nota ainda, a Capela da
Misericórdia, séc. XVI, onde é de realçar a janela da Casa do Despacho, na
esquina, com características filipinas e, no seu interior, um notável tríptico,
com as tábuas da Anunciação, da Visitação e da Adoração, atribuídas a autor da
escola de Viseu. Os painéis são ladeados por talha dourada, no estilo barroco.
E para finalizar a nossa visita à
aldeia de Melo, vimos ainda a casa onde nasceu o escritor Virgílio Ferreira, e à
qual, belas cameleiras profusamente floridas, conferiam um ar bucólico. De
seguida ainda visitámos o Museu Etnológico Melo, dedicado à área da carpintaria;
ali pudemos ver uma vasta gama de ferramentas que outrora foram fundamentais
para a construção de trabalhos diversos, assim como uma exposição de artesanato
em miniatura.
Partimos
então para a aldeia de Folgosinho,
que terá sido um castro lusitano e é a suposta terra de Viriato. A sua fundação
é de época desconhecida, mas o seu nome está associado a uma lenda (referida por
Leonel Abrantes, no seu livro “A Vila de Folgosinho”) que conta que D. Afonso
Henriques, numa das incursões por estas regiões, em perseguição dos últimos
sarracenos, ao chegar ao cimo do monte, com as suas hostes extenuadas, se sentou
sobre um rochedo, “O Castelo”, dizendo: “tomemos aqui um folegosinho...”
Ainda é bem visível a influência
dos povos romanos, através de um troço de calçada romana, conhecida hoje por
calçada dos Galhardos.
Observámos a igreja, Matriz,
monumento sem características de relevo, e também o Pelourinho que, destruído em
1864, devido a trabalhos de calcetamento das ruas, foi reconstruído mais tarde,
a partir de elementos gráficos do antigo monumento medieval.Não foram
incorporados elementos originais, conjugando, no entanto, as armas de Portugal,
as de Folgosinho, a Cruz de Cristo e a esfera armilar do capitel.
Ao cimo dum morro e por detrás da
Capela de São Faustino avista-se o castelo de Folgosinho, com uma torre sineira
e relógio.
Espalhadas pela Vila e conhecidas
pelos seus painéis de azulejos, encontram-se onze fontes de água pura e límpida.
Algumas possuem quadras ou simples versos de raiz popular.
Terminada mais esta visita, em
que nos sentimos parte de um passado remoto, partimos para fazer algo muito mais
prosaico e actual, como seja almoçar! Para tanto dirigimo-nos à aldeia da
Carrapichana onde, no restaurante Escorropich’Ana, aberto especialmente para o
nosso grupo, nos foi servido um almoço ao qual nem os maiores “gourmets” poriam
defeito: as belas entradas de chouriço vermelho, o de sangue, tão saboroso e as
alheiras e farinheiras fritas, seguidas de polvo na telha, tão macio e apaladado,
acompanhado com as típicas migas de couve, e depois cabrito assado também na
telha, com grelos azeitados e salpicados de broa desfeita... e os doces? Os que
degustei, eram uma loucura doce, que a cada colher que saboreava me
transportavam a mundo irreal. Uma verdadeira ambrosia! De salientar, e para não
esquecer, o doce de abóbora com noz, a acompanhar o típico requeijão. O prazer
de refeição e do alegre convívio foram perfeitos.
Linhares da Beira
E no meio de uma esplendida
digestão, partimos para Linhares. Esta povoação fica situada a 810 m de
altitude, numa das faldas da serra. Foi fundada pelos Túrdulos cerca de 580 a
500 a.C. Com a conquista romana; Linhares passa a integrar o traçado das vias
romanas, restando ainda um troço da calçada Romana que ligava esta povoação a
Mangualde. O percurso que hoje se pode calcorrear, parte do largo da
Misericórdia e tem cerca de 1300 metros. Do período romano resta ainda um
imóvel, que foi mais tarde adaptado, já na época medieval: trata-se do FORUM,
uma bancada corrida, com uma pequena mesa descentrada, formada por três blocos
graníticos, construída sobre uma fonte de mergulho, de planta quadrangular. Este
Forum constitui um elemento raro de arquitectura civil administrativa e judicial
medieval, com a particularidade de ter sido aproveitada uma fonte de influencia
gótica, que apresenta uma abertura em arco quebrado e cobertura interna em
abóbada.
Depois de um período marcado por
alguma instabilidade, Linhares foi conquistada definitivamente aos mouros por D.
Afonso Henriques, que lhe concedeu foral em Setembro de 1169.
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Linhares da Beira * Janela Manuelina |
Linhares da Beira * Rua |
Linhares da Beira * Forum |
Linhares da Beira * Pelourinho |
E fomos então conhecer a riqueza
patrimonial de Linhares: além da calçada romana e do Forum, já mencionados,
visitámos a Igreja da Misericórdia, fundada em 1576, sobre a antiga igreja de
Santo Isidro, e onde se celebra actualmente Missa. Por detrás desta igreja está
a Casa Fortaleza que funcionou como hospedaria, hospital e orfanato, e que,
conta-se, terá sido a residência de D. Lopa. E um imóvel de planta quadrangular,
irregular, organizado em torno de um pátio descoberto: a entrada é feita por um
portal em arco pleno, encimado por nicho com imagem de Sto. António. No pátio
interior existe uma escadaria e balcão em granito que dão acesso ao andar
superior. Na fachada principal, rematada por uma cornija, podem observar-se duas
gárgulas com decoração antropomórfica e zoomórfica, que, na tradição popular,
protagonizam o Diabo e uma Cabra, personagens míticas de uma lenda antiga, de
que D. Lopa faz parte.
Mais além a Fonte Babosa (séc.
XVI) construída na parte de uma casa particular, apresenta, nos seus azulejos
decorativos, o brasão de armas da Vila de Linhares, seguidamente encontramos um
imponente edifico, agora em reconstrução, o antigo solar da Corte Real, em
estilo barroco, apresenta na fachada o escudo de armas da família e que,
conjuntamente com outro edifico antigo, o Solar Brandão de Melo, forma a Pousada
de Santa Eufémia. Este antigo solar foi provavelmente construído no séc. XIX e
apresenta elementos neoclássicos.
Subimos depois até à Casa da
Câmara que é agora a sede da actual Junta de Freguesia, e onde se podem ver as
armas reais do tempo de D. Maria I. O símbolo do foral atribuído a Linhares, o
Pelourinho, é de estilo Manuelino, séc. XVI, mais no acto, a casa
do Judeu de estilo manuelino, também, se insere no que era a antiga Judiaria da
aldeia. Nesta habitação é ainda possível ver um dos mais belos exemplares de
janelas manuelinas da aldeia. Acima, no largo de São Pedro, situa-se a casa do
Parapentista, alojamento de apoio à escola de Parapente. (Nesta aldeia de
Linhares, realiza-se anualmente o “Open de Parapente de Linhares da Beira”, que
tem lugar, por norma, no ultimo fim de semana de Agosto.)
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Linhares da Beira * Castelo |
Linhares da Beira * Capital do Parapente |
Linhares da Beira * Rua |
Continuando o nosso percurso,
depois da Casa do Parapentista, encontramos o Solar Pena Aragão ou Solar dos
Pinas, de estilo barroco, que ostenta, na fachada, o brasão da família. E
caminhando por pequenas vielas medievais, encontra-se o Largo da Misericórdia. A
Igreja Matriz, de Nª Sra. da Assunção, possui no seu interior, tábuas pintadas
que revestem as paredes, e que são atribuídas a Grão Vasco. Construída no séc.
XII, sofreu remodelações no séc. XVII sendo que, dos elementos românicos, restam
poucos vestígios. O estilo barroco patente ficou a dever-se a remodelação
operada. Os retábulos são em talha dourada e polícroma, de influência
maneirista. Na capela-mor, o investimento decorativo é mais profuso,
salientado-se o tecto de caixotes formado por trinta painéis pintados com
figuras de Santos e as dez tábuas pintadas que revestem as paredes, são
atribuídas à escola de Grão Vasco.
Subindo ao balneário, fica a
capela de Santa Eufémia, um local de romaria de pastores. Depois seguimos em
direcção ao castelo de Linhares, um dos ex-libris da aldeia, construído em 1291,
no reinado de D. Diniz e supostamente sobre as ruínas de um antigo castro
pré-romano da Idade do ferro. O castelo ocupa um cabeço rodeado por penedos
graníticos escarpados. Depois de entrarmos dentro das muralhas desta antiga
fortaleza, valeu a pena subir a uma das torres, para ver o pitoresco relógio ali
existente. Partindo da fonte à frente do castelo, podemos descer até ao largo da
Misericórdia, por uma pequena rua estreita, onde se vêem algumas casas cujas
paredes são penedos, que lhe dão um ar muito curioso e dão o nome à Travessa dos
Penedos.
Aqui terminou o nosso roteiro de
algumas aldeias, todas elas extremamente pitorescas, carregando séculos de
História.
Regressámos a Seia para a nossa
noite de despedida.
Depois do jantar teve início a
brincadeira, (da autoria do nosso colega António Dias) de desvendar o nome dos
nossos amigos secretos. Todos leram as mensagens que tinham enviado, no maior
secretismo, durante os três dias de viagem e trocaram-se pequenas lembranças
compradas aqui e acolá. A animação musical com que a Instituição Hoteleira nos
brindou aos serões foi óptima e aproveitada por todos na maior boa disposição.
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Viseu * Vista Geral * Pintura de Abel Manta |
Brasão de Armas |
Viseu * Sé Catedral |
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Viseu
No dia 12 pela manhã, preparados
para o regresso, ainda fizemos uma variante ao programa instituído, e partimos
em direcção à bela cidade de Viseu, para mais tarde recordarmos mais um almoço
convívio no restaurante típico “O Cortiço”, onde todos saborearam a boa e
apreciada cozinha portuguesa da região da Beira Serra. Mas antes do almoço ainda
fizemos uma visita à ala Norte da igreja da Misericórdia, onde se encontra,
provisoriamente, a colecção principal do Museu Grão Vasco. Trata-se de um
conjunto notável de pinturas de retábulo, fundamental ao processo de
entendimento do que foi um dos períodos mais brilhantes da história da pintura
portuguesa. Este período associa-se em exclusivo ao percurso artístico de Vasco
Fernandes, o pintor que desenvolveu a sua actividade em Viseu, de 1501 a 1542, e
que ficou conhecido no decurso dos séculos, graças a um percurso impar de
glorificação lendária, pelo designativo Grão Vasco.
As pinturas em causa não são
apenas o resultado do desempenho individual do célebre Grão Vasco, mas também da
colaboração episódica, ou mais ou menos constante, que manteve com outros
pintores e do desempenho individual do artista que foi o seu parceiro principal,
o visiense Gaspar Vaz, activo entre 1514 a 1569.
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Museu Grão Vasco * Adoração dos Reis Magos |
Museu Grão Vasco * S. Pedro |
Museu Grão Vasco * A Virgem |
Este conjunto de trabalhos assume
uma dimensão ilustrativa do que foram os horizontes geográficos, estéticos e
iconográficos da pintura portuguesa no período que corresponde aos reinados de
D. Manuel I e D. João III.
Pudemos então apreciar o
Retábulo de Capela-mor da Sé de Viseu da autoria de Vasco Fernandes e Francisco
Henriques, com fortes influencias da pintura dos Países Baixos Meridionais.
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Comboio * Linha do Vale do Vouga |
Igreja |
Serra da Estrela * Penhasco |



E cumpridos os nossos objectivos,
partimos de regresso a Portimão, onde chegámos cerca das 22h00 após uma viagem
perfeita em todos os sentidos, que nos foi proporcionada pelo Instituto de
Cultura de Portimão e magistralmente organizada e guiada pelo nosso colega Rui
Matias, beirão dos quatro costados (e com muito orgulho!)
Portimão, 2004
Corina Simões
Para saber mais

