Quarta feira, 31 de Julho

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    Lutero introduziu um espinho na religião,
quando aboliu a renúncia
e nos deu, em troca, a moralidade.
Ateus e materialistas podem ter éticas porém,
somente os que crêem no Senhor, podem ter religião.
    Os malvados pagam
o preço da santidade das grandes almas.
Pensem nisso quando virem um homem perverso.
Assim como o trabalho de um pobre homem
paga o luxo de um rico, do mesmo modo acontece
no mundo espiritual.
A terrível degradação das massas, na Índia,
é o preço que a Natureza paga pela produção
das grandes almas, como Mira-bay, Buddha, etc.


    "Sou a santidade do santo". (Gita)
"Eu sou a raiz; cada um a usa a sua maneira,
porém tudo é o Eu ".
" Eu faço todas as coisas, vocês são apenas a ocasião ".
    Não falem muito, porém sintam o espírito dentro de vocês,
então serão um *jnani*.
Isto é conhecimento; todo o resto é ignorância.
Tudo o que pode ser conhecido é Brahman.
Ele é tudo.


    *Sattwa* nos liga, fazendo-nos buscar felicidade
e conhecimento; *rajas* nos liga pelo desejo
e *tamas* nos liga pela percepção errada e pela preguiça.
Conquistem os dois inferiores por meio de Sattwa
e depois entreguem tudo ao Senhor e sejam livres.
    O bhakti-yoga realiza a Brahma muito rapidamente
e transcende às três qualidades.
    A vontade, a consciência, os sentidos, o desejo,
as paixões, tudo isso combinado
constitui o que chamamos de alma.
    Primeiro está o eu aparente- o corpo - depois
o eu-mental, que confunde o corpo consigo mesmo
(o Absoluto ligado por Maya) e, em terceiro lugar,
o Atman, o sempre puro, o sempre livre.
Visto parcialmente, é a natureza;
visto totalmente, a natureza inteira se desvanece,
e até a lembrança dela se perde.
Existe o mutável (mortal), o eternamente mutável,
(a natureza) e o Imutável (Atman).


    Estar sem esperança alguma é o estado mais elevado.
O que há que devemos esperar ?
Rompam os laços da esperança, apoiem-se
em seu próprio eu e permaneçam tranqüilos;
não importa o que aconteça;
entreguem tudo ao Senhor, mas sem hipocrisia.
    *Svastha*, a palavra sânscrita que expressa
*apoiar-se sobre o próprio eu*,
se emprega familiarmente na Índia para perguntar:
Você está bem ?  Você está feliz ?
Quando os hindus querem expressar *eu vi uma coisa*,
dizem: *eu vi o significado de uma palavra* (padartha).
Até o universo é o significado de uma palavra.


    O corpo de um homem perfeito, faz, mecanicamente,
o bem; só pode fazer o bem porque está totalmente purificado.
O impulso que dá e faz mover a roda do corpo,
é inteiramente bom.
Todas as tendências negativas foram queimadas.


    "É, em verdade, um mau dia, aquele em que
não falamos do Senhor, e não o dia da tormenta".
    Só o amor pelo Senhor Supremo é o verdadeiro bhakti.
O amor por qualquer outro ser,
por maior que seja, não é bhakti.
O Senhor Supremo, significa aqui, Isvara,
cujo conceito transcende ao que vocês, no Ocidente,
chamam de Deus pessoal.
"Aquele de quem este Universo procede, no qual descansa,
e para o qual retorna, Ele, é Isvara, o Eterno, o Puro,
o Todo- Misericordioso, o Todo-Poderoso, o Sempre-Livre,
O Onisciente, o Mestre de todos os mestres, o Senhor,
que por sua própria natureza, é amor inexprimível".
    O homem não constrói um Deus do seu próprio cérebro,
porém, só pode ver Deus, à luz de sua própria
capacidade, e Lhe atribui o melhor que ele conhece.
Cada atributo é a totalidade de Deus
e isto, de que uma só qualidade representa o Todo,
é a explicação metafísica do Deus pessoal.
Isvara carece de forma e, no entanto,
possui todas as formas; carece de qualidades
e, no entanto, tem todas as qualidades.
Como seres humanos, devemos ver, forçosamente,
a trindade da existência: Deus, homem e natureza.
Não podemos evitar isso.
   Para o bhakta, porém, todas estas distinções
filosóficas são mera conversa inútil.
Pouco se lhe importam as discussões; ele sente, percebe.
Necessita o arrebatamento do amor de Deus,
e existiram  bhaktas que sustentaram
que isto é mais do que desejar a liberação,
e que disseram: "Não quero ser o açúcar;
me contento em gostar de açúcar ".
Eu quero amar e aproveitar o Amado.
    Na bhakti-yoga, o essencial é desejar Deus,
sincera  e intensamente.
Queremos tudo, menos Deus, porque os nossos desejos
ordinários, se dão por satisfeitos com o mundo externo.
Enquanto nossas necessidades estão circunscritas
dentro dos limites do universo físico,
não sentimos nenhuma necessidade de Deus.
Somente quando já recebemos rudes golpes
na vida e estamos desgostosos
com tudo o que há aqui, sentimos a necessidade
de algo mais elevado e buscamos Deus.
    Bhakti não é destrutiva;
ensina que todas as nossas faculdades
podem converter-se em meios para adquirir a salvação.
Devemos dirigí-las, todas, para Deus
e entregar a Ele esse amor, que é geralmente
desperdiçado nos fugazes objetos dos sentidos.
    Bhakti difere da idéia ocidental de religião;
em bhakti não se admite o temor nem a existência
de um Ser a quem propiciar ou aplacar.
Existem até bhaktas que adoram Deus
como seu próprio filho, para não guardar sentimento
algum de medo ou veneração.
Não pode haver temor no amor verdadeiro
e enquanto restar o menor medo,
bhakti não pode sequer começar.
Em bhakti também não cabe mendigar
ou comercializar com Deus.
A idéia de pedir algo a Deus, parece sacrílega
para um bhakti, que nunca pedirá riqueza ou saúde
e nem mesmo para ir para o céu.
    Quem deseja amar a Deus, ser um bhakta,
deve fazer um embrulho com todos esses desejos
e deixá-lo do lado de fora da porta, antes de entrar.
Quem deseja entrar no reino da luz,
deve embrulhar todo o mercantilismo religioso
e jogá-lo na rua antes de cruzar os portais.
Não é que vocês não possam obter o que pedem;
receberão tudo, mas o resultado é uma coisa
baixa e vulgar; uma religião de mendigos.
"Néscio é, em verdade, aquele que,
vivendo nas margens do Ganges,
cava um pequeno poço para conseguir água.
Néscio, em verdade, é o homem que chegando
a uma mina de diamantes,
se põe a procurar cacos de vidro".
As orações nas quais se pede saúde,
riqueza e prosperidade material, não são bhakti;
são a forma mais inferior de karma.
Bhakti é uma coisa mais elevada.
Estamos nos esforçando para chegar à presença
do Rei dos Reis; não podemos entrar vestidos de mendigos.
Se quiséssemos chegar à presença de um imperador,
seríamos admitidos com os farrapos de um mendigo ?
Seguramente não. Seu lacaio nos fecharia a porta.
Este é o Imperador dos Imperadores e nunca poderemos
nos apresentar diante dele, com andrajos de mendigos;
os mercadores nunca são admitidos ali;
a compra e venda, naquele lugar, é impossível.
Na Bíblia, vocês lêem que Jesus
expulsou os mercadores do templo.
    Assim, fica evidente que a primeira tarefa para chegar
a ser um bhakta, é despojar-se de todos
os desejos de céu e coisas assim.
Tal céu seria igual aqui, onde estamos;
como esta terra, só que um pouco melhor.
A idéia cristã de céu,
é a de um lugar de prazer intensificado.
Como pode isso ser Deus ?
Todo esse desejo de céu, é desejo de prazeres;
tem que ser descartado.
O amor de bhakta tem deve ser inteiramente
puro e desinteressado, sem buscar nada
para si mesmo, nem aqui, nem no futuro.
    "Abandonem todo o desejo de prazer e dor,
de ganho e de perda; adorem a Deus dia e noite;
nenhum momento deve ser vivido em vão".
    "Abandonem todos os outros pensamentos;
que a mente inteira adore a Deus dia e noite.
Sendo assim adorado, dia e noite,
Ele se revela e faz com que seus adoradores o sintam".