DE PERNAMBUCO PARA O MUNDO - ANTÔNIO NÓBREGA, UM BRINCANTE SOB O MARCO DO MEIO-DIA.
INTRODUÇÃO
O pernambucano Antônio Carlos Nóbrega nasceu em Recife, em 1952. Incentivado pelo pai, tornou-se um violinista, tendo participado de Orquestras até ser convidado por Ariano Suassuna para integrar o Quinteto Armorial. A partir daí, desenvolveu um estilo próprio, transformando-se num multi-artista, numa mistura de dançarino, ator, cantor, compositor, músico, acrobata, brincante e presepeiro.

Em 1976 iniciou sua carreira independente montando o seu primeiro espetáculo, "A Bandeira do Divino". De lá, passando pela criação da Escola Teatro Brincante, em São Paulo, até o "Lunário Perpétuo", seu ultimo espetáculo e CD, ganhou muito prêmios mostrando a cultura popular que talvez o próprio país desconheça.

As escolas de samba, que nasceram de um movimento que emanou do próprio povo, não raramente através de sua história, também mostraram a cara de um país desconhecido por muitos. Sendo o carnaval um dos momentos em que o popular invade as ruas, não há momento melhor para prestar uma homenagem a este grande artista.

Assim, o Grêmio Escola de Samba Virtual Estrela de São Fidélis vem homenagear Antônio Nóbrega que, através de sua obra, faz o país (re)conhecer a riqueza e a pluralidade da cultura brasileira.

Como a vida de um artista confunde-se com sua obra, não pretendemos mostrar ou contar de forma cronológica a vida de nosso homenageado, pois isso seria pouco diante de sua empolgante obra. O que se propõe é fazer uma viagem, percorrendo os cantos de nosso Brasil, não os cantos geográficos, mas os "cantos populares", com todos os sentidos que esta expressão nos dá.

Assim, de Pernambuco para o Mundo, descobriremos, levaremos e mostraremos, a cada passo, o nosso país verdadeiro, popular, mestiço e brasileiro, viajando através da obra de nosso homenageado, explorando e conhecendo as várias faces de nossa cultura popular. Sele a sua burra e embarque com a Estrela e Antônio Nóbrega, nessa viagem popular brasileira!

Com a palavra, o nosso artista.
ARGUMENTO
Salve essa casa, nobre morada, nova jornada vamos começar!

E pra quem escuta meu canto, aqui, em casa ou distante, chamo pra me acompanhar, os músicos, nesse instante.

Viva os percussionistas, pandeiristas e batuqueiros, os homens que tocam cordas esticadas, leves, finas, que harmonizam meu canto, voz que não desafina, com dedos debulham notas do bordão à corda prima.

Viva as flautas e flautistas, os sopristas, os pifeiros, quem tira som de canudos, de metais e bambuzeiros. Viva o homem do fole, nosso mestre sanfoneiro, animador de festejos por esse Brasil inteiro.

Nossa festa vai principiar! Bombo, tarol e ganzá vão tocar nesse terreiro. Com rabecas e violas, vamos render graças à vida nessa hora.

E dando início à jornada de toques, loas e canções, celebrando a alegria com o fervor das orações, licença peço para entrar em vossos bons corações.
Mas quem, quem vem, quem vem lá? Que cortejo é aquele, senhor?

Sou de casa, vim do Norte, sou bonito, original. Sou de paz, não sou de guerra, vim brincar o carnaval. Eu sou Paranã, sou Paranabuco, falando pro mundo eu sou Pernambuco, a ler meu Brasil aqui comecei.

E nesse passo eu vou, eu vou puxando o arrastão. De chapéu de sol aberto pelas ruas eu vou. Eu vou e venho para onde, não sei. Só sei que carrego alegria pra dar e vender.

Essa alegria que vem em mim parece que não terá fim. Mas, se um dia o frevo acabar, juro que vou chorar. Pode acabar a vergonha, pode acabar o petróleo, pode acabar tudo enfim, mas deixem o frevo pra mim.

Oh, mãe de Deus, rogai por ele, Mãe de Deus. Rogai a Deus por ele. Divina Estrela, Esperança Nossa, Fonte de Amor, Jóia Mimosa, Orai por nós!
Nosso país tem tesouros, tem arcanos, tem mais de trinta mil anos de histórias pra contar. Então eu percebi que tinha de procurar descobrir e encarar minha terra e minha gente. E sem demora minha burra eu selei, pus um cabresto e montei e falei: vou viajar!

No meu galope, mais ligeiro pelo caminho eu percebi que sou Pataxó, Xavante e Cariri, Ianomâmi, sou Tupi, Guarani, sou Carajá. Sou Pancararu, Carijó, Tupinajé, Potiguar, sou Caeté, Fulniô e Tupinambá.

Eu vi nascer um mulato, um mameluco, vi nascer um cafuzo durante meu caminhar. Fui ter numa praia de areias branquinhas e, olhando a beleza das águas marinhas, cantei meu galope na beira do mar.

Pude relembrar encantos, de delírios tantos que não vão voltar: a ciranda dando meia volta e o pau no gato que eu atirei. Sabem que o cravo só brigou com a rosa por ser mais formosa, a bela do buquê?

Eu vi num mar de gente os andores navegando, santos de barro e resplendores de papel, ramos e palmas verdejando a rua inteira, e a padroeira a flutuar no céu. Decifrei astros e constelações, conduzi embarcações, atravessei até onde o sonho alcançava.
E caminhando com minha burra por esse Brasil imenso, sob as roupas de jagunço, corpo de mulher eu via. Cortei com minha peixeira todo mal que encontrei. E agora, só, no silêncio deste Sertão assombrado, a Serra calou-se no Poente ensangüentado.

Ainda me lembro do terror, da agonia, como um louco eu corria para poder escapar. Dia e noite, fome e sede e o açoite conheci. Eu vi Zumbi ser preso, ser torturado, violado e humilhado por querer se libertar.

E nessa pátria, no tempo do Brasil colônia, um filho de escrava negra, mulato, pobre e bastardo, virou mestre-entalhador que cheio de chagas e dor, passa a cumprir sua sina.

E nessa mesma pátria surge uma estrela solitária. Garrincha no nome, nas pernas garruchas, um anjo torto barroco a sorrir, com sangue Fulniô, pegadas toré, um arco no corpo, a flecha Mané.

Eu, vindante de um chão poento, para os meus olhos confusão pasmosa. Anjos Emissários falaram: "És tu o escolhido, Bispo do Rosário. Terás de fazer o teu inventário".
E refreando a pisada do meu trote vou findar o meu galope pra eu me desanuviar. Sem poder mais cavalgar, viajei no pé da idéia pra tecer este cantar.

Eu tive medo vi tudo cor da noite, um ente com uma foice querendo me degolar. Limpei a vista, vi uma cidade esquisita onde tudo é pelo avesso. Gente lá não tem valia, como bicho é tratada e só quem manda é a bicharia.

Me vi como palhaço numa terra de reis com coroas de ouro, com a arma erguida, ligando a motosserra, querendo vencer a guerra, buscando sempre mais. Eu de chapéu de palha, vestindo roupa colorida, plantando flor no serrado, pisando com pé na terra e querendo ganhar a paz.

Adormeci e despertei num disco voador. Até pensei que eu estava louco. Louco, qual nada, o sonho só começou.

Lá vem a Nau Catarineta que tem muito que contar. Há mais de um ano e um dia que vagavam pelo Mar: já não tinham o que comer, já não tinham o que manjar!

Foi tanta viagem, foi tanta aventura, foi tanta demanda, foi tanta odisséia... Eu posso jurar à distinta platéia que tudo isso foi a verdade mais pura. Também teve um pouco de história inventada...
Diante de tantas histórias, ritmos e delírios, em Tonheta me transformei, uma espécie de colcha de retalhos desses tipos populares que povoam as ruas e praças do meu país.

E como Tonheta, numa bufônica epopéia, percorri as estradas do mundo cantando o Brasil, que já começara a existir muito antes da chegada dos portugueses naquele belo, trágico e misterioso 22 de abril de 1500.

Com nossas histórias, fatos, mitos e peculiaridades, criando, ao longo dessa trajetória, de Pernambuco para o mundo, um intenso constante diálogo entre o festivo e o austerio, o risível e o épico, o dramático e o lírico, vou insistindo, que no caso do Brasil, a diversidade talvez seja a mais vigorosa maneira de afirmar a nossa unidade. É nela que habita o coração do povo que somos!
Agora, meus senhores, eu já estou de retirada, dou lembranças a todos. Vamos embora rabeca, meu ganzá e meu pandeiro, minha viola de prata, bandolim, meus companheiros. Com saudades me retiro, que eu não vim para ficar.

Adeus, boa sorte para todos, já vou me retirar. Adeus, palco! Adeus platéia! Eu vou para outro terreiro. Eu vou partir, mas eu levo lembrança e muita saudade.

Deixo os versos que escrevi, as cantigas que cantei, cinco ou seis coisas que eu sei e um milhão que esqueci. Licença, que eu vou rodar no carrossel do destino.
Fábio Reis da Costa
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Autor
DESENVOLVIMENTO
1º SETOR: LOA DE ABERTURA - Nessa loa de abertura, nosso homenageado pede licença aos Deuses do Samba para adentrar a Passarela Virtual. Saúda a todos, convoca os músicos para acompanha-lo nessa nova jornada e a todos para apreciar o desfile da Estrela de São Fidélis.

2º SETOR: E PERNAMBUCO ENTRA EM CENA -A jornada começa com o homenageado apresentando sua terra natal - Pernambuco. Maracatus, Cavalos marinhos, Frevos e Excelências vão montar, juntamente com outras manifestações populares um verdadeiro teatro das tradições pernambucanas.

3º SETOR: VIAGEM MARAVILHOSA BRASIL À DENTRO -Diante da riqueza cultural de nosso país, nosso homenageado decide descobrir e encarar a nossa terra e a nossa gente. Assim, parte Brasil à dentro deparando-se com sons e ritmos que o influenciam. Do caboclinho às toadas, das cantigas de roda aos ponteios, do coco aos galopes, os ritmos brasileiros ou abrasileirados, são terrenos férteis para criar, inovar, inventar, enfim, traduzir o Brasil que ele ouve e canta.

4º SETOR: HISTÓRIAS DE UM POVO BRASILEIRO - Mas não são somente ritmos que apaixonam o nosso artista. Continuando a viagem pelo Brasil, ele descobre ter muitas histórias pra contar. De Zumbi a Antônio Conselheiro, de Aleijadinho a Mané Garrincha, das obras de Ariano Suassuna às de João Guimarães Rosa, surgem cantos de vingança, amor, covardia, liberdade, delírio e dor, enfim histórias de um povo brasileiro.

5º SETOR: O ILUSIONÁRIO MUNDO FANTÁSTICO DA MENTE DE UM ARTISTA - Depois de viajar conhecendo o Brasil, é a vez de "viajar no pé da idéia" e da imaginação conhecendo o "mundo" criado pela mente de nosso artista. São as canções que falam de lugares fantasiosos, situações inusitadas, onde tudo pode acontecer.

6º SETOR: LUNÁRIO PERPÉTUO - Diante de tamanha riqueza cultural e criatividade, Antônio Nóbrega expressa de variadas formas a "singular heterogenia" do povo brasileiro. E é dela que surgem as personagens, como Tonheta, os espetáculos e a discografia que fazem nosso homenageado percorrer as estradas do mundo mostrando nosso país.

7º SETOR: O CARROSSEL DO DESTINO - Já acostumado a viver de palco em palco entre chegadas e partidas, finalizando o nosso desfile, Antônio se despede pedindo licença à platéia, desejando boa sorte a todos (na vida e no Carnaval Virtual). O futuro tem muito que contar, descobrir e mostrar, assim, Nóbrega sai de cena para rodar no carrossel do destino da vida.
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