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H I S
T Ó R I A
A primeira referência
à palavra automóvel foi registrada em setembro de 1875, na França.
A locução "voiture automobile" (veículo que se movimenta
sozinho) - uma palavra composta pelo grego "autos" (por si só)
e pelo latim mobilis (móvel) permaneceu por muitos anos como
adjetivo, passando à categoria de substantivo por volta de 1890.
Apenas na virada do século, por comodidade, o termo foi abreviado
para "auto".
O primeiro evento reunindo "carroças motorizadas" foi
organizado em Paris pelo semanário "Le Velocipede", em
1887. Na verdade, acabou não sendo realizado pela absoluta falta de
participantes (apenas um competidor apresentou-se no grid na hora
marcada para início da prova). Em 1878 (Le Mans a Paris) e em 1980
(Paris-Lyon) houve também provas, nas quais os frágeis carros da época
se aventuravam por estradas íngremes e esburacadas.
A primeira corrida de fato foi disputada em 1894, com um percurso de
126 km entre as cidades de Paris e Rouen. A prova foi organizada pelo
periódico "Le Petit Journal" e estava aberta para
"carruagens sem cavalos" que deveriam ser "seguras e de
fácil controle, não podendo desenvolver velocidade perigosa".
No dia 22 de julho, 21 carros deram a largada. Quinze conseguiram
completar o percurso (entre estes seis Peugeots). O primeiro colocado
foi uma espécie de trator a vapor, conduzido por De Dion e Bouton,
infelizmente desclassificado pelos jurados, que o consideraram pouco
prático e perigosamente veloz (atingiu a "incrível" média
de 22 km/h). A vitória, então, ficou com os dois carros que o
seguiram na classificação: um Peugeot e um Panhard-Levassor, que
conquistaram os 5 mil francos de ouro por ter cumprido, do modo mais
adequado, os regulamentos da prova. A média de velocidade
desenvolvida pelos vencedores foi de 17 km/h.
Rapidamente as
corridas começaram a ganhar adeptos e os pioneiros se preocuparam em
construir carros cada vez mais velozes, utilizando as provas de
velocidade para testar novas tecnologias a ser posteriormente
utilizadas no carros de passeio. Em 1895, na Paris-Bordeaux (vencida
por um Peugeot Phaeton), o décimo colocado - outro Peugeot pilotado
pelos irmãos Michelin - experimentou pela primeira vez em um veículo
motor pneus de borracha com câmara de ar (a maioria dos carros
utilizava rodas feitas com pranchas de ferro ou de borracha sólida).
A corrida, que valia o fantástico prêmio de 31 mil francos de ouro,
foi vencida por Emile Levassor, conduzindo um Panhard 2 cilindros. Ele
completou o percurso em 48 horas e 48 minutos, parando apenas para
reabastecer. Levassor, porém, não ganhou o prêmio,porque seu automóvel
tinha apenas duas poltronas em vez das quatro exigidas pelo
regulamento.
No ano seguinte foi a vez do marquês de Dion surpreender com o
primeiro motor a explosão com ignição elétrica. O volante (por
iniciativa do francês Vaccheron), para substituir o comando de
alavanca também foi introduzido nesse ano.
Até o aparecimento das Mercedes, no início do século 20, as provas
automobilísticas foram dominadas pelos Panhard-Levassor, os mais avançados
do ponto de vista técnico. A empresa havia sido fundada em 1886 na
cidade de Ivry, na França, por René Panhard, construtor de máquinas
de serraria, e Émile Levassor.
Desde o início, a Panhard estava interessada em competições
esportivas. O primeiro carro da linha, equipado com um motor bi-cilíndrico
em V, estreou em 1891, percorrendo uma distância de 20 km sem parar
entre Ivry e Point du Jour. Depois da vitória na Paris-Rouen, a
Panhard se firmou como grande vencedora na virada do século, vencendo
a Paris-Marselha-Paris, em 1896, com um carro dirigido por Mayade, um
engenheiro da empresa; a Paris-Amsterdã (com De Chanon no volante) e
o Tour de France, com Knyff como piloto.
A primeira prova a estabelecer um limite de peso para os carros (entre
400 e 1000 kg) foi a Copa Gordon Bennet, disputada entre 1901 e 1905,
nos Estados Unidos. Cada país participava com três automóveis,
escolhidos pelo Automóvel Club nacional - em 1903 o belga Jenatzy
venceu com uma Mercedes-, que considerava a grande variedade de
motores existentes. Para os propulsores a explosão, o limite era
estabelecido pela potência, já que participavam carros de 24 cv
(como o Panhard) a 96 cv (como o Brassier).
A primeira fórmula oficial, com um limite máximo de peso de 1000 kg,
foi criada em 1906, sob o patrocínio da recém-criada Associação
Internacional dos Automóveis Clubes (antecessora da atual FIA). Estes
primeiros organizadores tiveram a precaução de criar regulamentos
flexíveis, para estimular projetistas e construtores. Nasceu assim o
conceito de fórmula, que indicou no futuro um padrão ou tema técnico
a desenvolver e que marcou a evolução definitiva do automóvel de
corridas. O valor da cilindrada como limite de fórmula, por exemplo,
começou a ser usado em 1914.
Em 1906 começou a ser disputada a famosa Targa-Florio, uma prova
criada por Vincenzo Florio, um milionário ex-piloto, no circuito de
Madonie. A prova oferecia prêmios em dinheiro que totalizavam 40.000
mil liras. Foi um acontecimento de grande importância pelo caráter
da competição: os veículos chegavam à Sicília de navio, vindos de
toda Europa.
William Vanderbilt foi outro dos mecenas das corridas no começo do século,
organizando as primeiras corridas em Long Island em 1905 e 1906, que
deram origem à clássica prova do oval de Indianápolis, em 1909. A
construção em 1907 da pista inglesa de Brooklands, com curvas em
relevé, foi o início da separação entre provas de estrada e as
pistas de velocidade. Até então, proibidos de utilizar estradas para
suas corridas, os ingleses realizavam suas provas na Irlanda.
O automobilismo
esportivo começou a apresentar estruturas mais sólidas depois da I
Guerra Mundial, quando foram construídos importantes autódromos.
Monza, construído em 1922 em apenas em 100 dias, foi o primeiro traçado
permanente da Europa continental.
Seguiram-se as pistas de Spa-Francorchamps, na Bélgica (1925), o
circuito de Avus, em Berlim (1926), Nurburgring (1927) e o circuito de
rua de Monte Carlo (1929). O intervalo entre as duas grandes guerras
foi fundamental para o desenvolvimento das corridas, seja na criação
de novas empresas dedicadas à fabricação como pelo aparecimento de
excelentes pilotos. Os italianos Tazio Nuvolari, Achille Varzi e
Antonio Ascari (pai de Alberto, futuro campeão da F-1), e , e os alemães
Rudolf Caracciola e Bernd Rosemeyer foram os grandes nomes da época,
mostrando novos estilos de pilotagem, mais refinados e com um rigoroso
respeito ao meio mecânico.
Na mesma época, apareceram no cenário automobilístico Enzo Ferrari
e Alfieri Maserati, ambos da cidade italiana de Módena, que se
tornariam verdadeiras lendas do automobilismo de competição,
primeiro como pilotos e posteriormente como construtores e chefes de
equipe.
Na metade dos anos 20 foi a vez do aparecimento da Mercedes-Benz no
cenário das corridas. A Mercedes venceu o GP da Alemanha com o modelo
Sport de 2 litros, projetando internacionalmente seu piloto, Rudolf
Caracciola, um alemão de pai italiano que se tornaria um dos grandes
pilotos do pré-guerra. Projetado pela Porsche, o veículo tinha motor
de oito cilindros em linha e dois eixos no comando no cabeçote, que
lhe proporcionavam uma potência de 160 cv.
As corridas de Grand Prix, que tinham uma fórmula estrita em quanto a
peso e tamanho, foram abandonadas em 1928. No seu lugar surgiram
corridas provas de Fórmula Livre, em que os pilotos, em vez de
contratados pelas grandes fábricas, corriam como independentes ou
associados a construtores especializados em carros de corrida, como
Alfa Romeo, Maserati e Bugatti. Esta última marca dominou as corridas
durante este período, com pilotos como o monegasco Luis Chiron. Em
1930 a Alfa Romeo decidiu criar uma nova seção para seu departamento
de competição, confiando a direção a Enzo Ferrari. Nascia a
Scuderia Ferrari.
Os primeiros anos da década foram inteiramente dominados pelas máquinas
italianas. A Maserati, fabricada na cidade de Bolonha, saiu na frente
vencendo quase todas as provas mais importantes com seu 26M oito
cilindros de 2.500 cc, fabricado exclusivamente para GPs em liga leve.
A supremacia técnica das máquinas de Alfieri foi ameaçada em 1931
pela concorrência da Alfa Romeo e da Bugatti. Fagioli, Biondetti e
Dreyfus abandonaram várias corridas por exigirem demais das 26M, não
obstante as vitórias de Tufanelli na Mille Miglia e de Ernesto
Maserati, em Roma. Para não perder a hegemonia nas pistas, a fábrica
se viu forçada a aumentar a cilindrada dos modelos de 2,5 litros,
aumentando o diâmetro do pistão de 65 para 69 mm e a potência em 20
cv. Com esta modificação, o carro conseguiu baixar em quase 10
segundos o recorde de volta do GP da França e ultrapassar a veloz
Mercedes 7 litros de Caracciola, numa corrida sob violenta chuva em
Nurburgring.
Em 1934, a Associação Internacional (AIACR) anunciou a criação de
uma nova fórmula, que limitava o peso dos carros a 750 kg, (excluindo
piloto, gasolina e graxa), sem entanto, restringir o cumprimento do
monoposto. Para competir em esta nova fórmula, a Alemanha de Hitler
decidiu patrocinar duas equipes para competir nos Grand Prix do
continente. As empresas eleitas foram a Mercedes-Benz e a Auto Union
(esta última criada a partir da fusão de quatro grandes fabricantes
alemães: Horch, Audi, DKW e Wanderer). O comando técnico destas
equipes foi confiado a dois fantásticos chefes de equipes: Alfred
Neubauer e Ferdinand Porsche, respectivamente.
Os carros prateados da Mercedes obtiveram a supremacia na segunda
metade dos anos 30, graças ao aumento de cilindrada dos motores de
oito cilindros, que lhes proporcionava potência de 452 cv. O modelo W
25 venceu em Trípoli, Eifel, França, Bélgica, suíça, Espanha (com
Caracciola no volante), Mônaco, e Avus, em Berlim, tendo Fagioli como
piloto. O domínio da marca (com Caracciola, von Brauchitsch e Hermann
Lang - este um ex-mecânico de Fagioli, como pilotos) estendeu-se até
o início das hostilidades da II Guerra Mundial, quando a fábrica
precisou concentrar seu esforço na construção de veículos
militares. Em 1951, a Mercedes voltou às pistas com carros de 1939,
pouco competitivos, que Fangio e Kark King pilotaram durante uma
temporada de corridas de exibição, na Argentina.
Depois de seis anos de guerra, a maioria das indústrias européias
estavam em frangalhos. Toda a indústria automobilística tinha sido
utilizada para produzir munição ou veículos bélicos.
Com poucos automóveis de corrida com capacidade de competir (em toda
Europa havia apenas algumas Maseratis e Alfas, incluindo um par de
158s que haviam ficado ocultas dentro de uma fábrica de queijos), a
atividade foi retomada em 1945. As primeiras três provas, foram
vencidas por Amedée Gordini (com um carro montado com peças
resgatadas de um bombardeio), Henry Louveau (com uma Maserati) e
Jean-Pierre Wimille (com uma Bugatti).
Em 1946, podiam ser consideradas como corridas de Grand Prix apenas
quatro provas. No ano seguinte, a Federação Internacional de
Automobilismo (FIA) foi criada para organizar o esporte em nível
internacional. Uma fórmula fixa foi adotada já para a temporada de
1947, permitindo uma cilindrada de 1.500 para motores aspirados e
4.500 cc para os turbos. As Alfas acabaram vencendo todas as corridas
programadas para aquele ano. Em 1948, Ferrari lançou seu próprio
carro (depois de sair da Alfa, antes da guerra, don Enzo deu a sua
palavra que a Scuderia Ferrari não competiria contra seus antigos
donos por quatro anos). O Campeonato Mundial de Pilotos foi finalmente
introduzido em 1950, com sete Grandes Prêmios no calendário.
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