ENTREVISTA DE EMIR RIBEIRO AO JORNAL "A UNIÃO"

    
                                           Por Calina Bispo

EMIR RIBEIRO LANÇA AS NOVAS AVENTURAS DE VELTA

Precursor das HQs na Paraíba, quadrinhista faz lançamento de sua nova obra nesta segunda-feira, no Casarão 34

Emir Ribeiro – quadrinhista e precursor das HQs produzidas na Paraíba, lança nesta segunda-feira (6), no Casarão 34, a partir das 19h, seu mais novo álbum de Histórias em Quadrinhos. Intitulado VELTA – NOVA IDENTIDADE PARAIBANA, o lançamento estréia a nova aventura de sua personagem mais famosa.

Nascida em 1973, em um contexto político conturbado da história brasileira, Velta surgiu como um grito de protesto do autor, tanto em relação ao período ditatorial, quanto ao universo machista das HQs americanas. Foi publicada em nível profissional pela primeira vez no jornal A União, em 1975, onde estreou com uma tira diária (...).
Segundo seu criador, nesta nova história, a personagem amplia seus horizontes e sai em busca de sua própria identidade (...).
Ribeiro explica que Velta, na verdade, tinha uma vida “normal”, cheia de conflitos familiares que junto a outros fatores, contribuíram para a composição da personagem ao longo destes mais de 30 anos de existência. Velta passou por maus bocados antes de se tornar a Velta que já conhecemos e veremos neste novo trabalho, onde ela se assume cidadã paraibana e percorre cerca de 15 municípios do Estado. Claro que não faltam pitadas de ficção científica nessa história de “vida” da personagem (...).
Tendo João Pessoa como cenário principal para esta nova aventura, Ribeiro afirma que Velta está mais intimista, à procura de respostas existenciais, e para conseguí-las, ela faz uma viagem no tempo, revivendo assim, momentos dolorosos de sua vida. Eventos inexplicáveis contribuem para esses “flashes”.


CB - Antes de tudo, te digo que tenho um filme teu em casa. Um longa-metragem, nossa, em VHS. O homem da capa preta, acredita?! Vamos falar sobre ele também, lá na frente, certo?!
E
R – É o Desconhecido Homem de Preto, de 1989. Mas teve “A Volta do Homem de Preto”, de 1993. Vamos falar deles, sim.


CB -Vamos começar por Velta. Me fala dela, e dessa nova aventura, esse apelo que você faz...

ER - Velta é minha personagem mais conhecida, pois ganhou público rápido, já que foi a primeira que publiquei a nível profissional, inclusive em “A União”, quando estreou sua primeira tira diária em 01 de agosto de 1975. Essa nova aventura do álbum VELTA – NOVA IDENTIDADE PARAIBANA  traz a personagem para uma regionalização maior, na volta às suas raízes originais.


CB - Por que "nova identidade paraibana"? Que identidade é essa que você quer apresentar? Como ela surgiu e para que?

ER – Velta surgiu em 1973, no auge da censura e da ditadura militar, aparecendo como uma personagem rebelde que usava roupas sumárias, em afronta ao que era estabelecido na época. Outra contraposição foi em relação aos quadrinhos impostos pelo mercado, vindos dos Estados Unidos, sempre apresentando homens musculosos nos papéis de personagens principais, e sempre relegando a mulher a um segundo plano, apenas como coadjuvante.
Velta, portanto, surgiu para se contrapor a tudo isso.
No caso do novo álbum, a personagem assume sua identidade Paraibana de corpo e alma. Daí o título.


CB - Quem é a Velta, quando ela surgiu? Quais os objetivos dela?

ER – No roteiro, Velta se chama na verdade, Kátia Maria Farias Lins, uma adolescente com os hormônios em ebulição e reprimida por um pai conservador. Abduzida por um extra-terrestre inescrupuloso, é vítima de uma experimentação científica do mesmo, e se transforma numa loura de mais de dois metros de altura e com poderes. A fim de escapar do jugo paterno e ganhar dinheiro com isso, Kátia se tornou detetive particular, usando o nome de Velta.


CB - Esse roteiro que ela faz, qual o objetivo dele, o que mais se destaca?

ER – O roteiro deste novo álbum coloca Velta num caso pessoal, quando ela encontra um fenômeno espaço-temporal numa ilha da costa Brasileira, que a faz retornar ao passado, antes de sua mãe ser atropelada e morta por um irresponsável no trânsito. Aproveitando a ocasião, Velta faz tudo para evitar que sua mãe morra, e como a mesma é Paraibana, a capital das acácias é cenário para todo o desenrolar da trama. 


CB - Você foi a primeira pessoa a fazer quadrinhos na Paraíba. Me fala desse começo, como e quando foi, o que te estimulava, quais os primeiros personagens....

ER – Os anos 70 foram os melhores para os quadrinhos Paraibanos, principalmente pelo espaço dado pelos jornais, em tiras diárias e suplementos-tablóides dominicais (O Pirralho, que era coordenado por Wilma Wanda). Em A União, havia um grande incentivador: o saudoso Antonio Barreto Neto, quem primeiro me deu chance de publicar meus quadrinhos. Na seqüência das publicações, pude criar outros personagens, como o Cacique Tabajara ITABIRA, a ruiva-robô NOVA e o justiceiro HOMEM DE PRETO.
 

CB - Como era o consumo de quadrinhos na época em que você começou? Que tipo de HQs circulavam por aqui? Quem lia e colecionava HQ naquela época?

E – Nas bancas, havia o de sempre: quadrinhos estrangeiros traduzidos, que eram consumidos pela garotada – inclusive eu. Nos jornais, havia o espaço para a produção local, o que deu margem a surgir toda uma geração de quadrinhistas, por intermédio desse incentivo aos artistas da terra. Infelizmente, é coisa rara e praticamente inexistente, hoje em dia, e por isso não vemos novos valores se aventurando nesse ramo artístico.


CB- E o vídeo, Emir? Como você decidiu fazer o vídeo, as condições de produção, o que vc queria mostrar...

ER – É natural que um criador de personagem de quadrinhos queira ver suas produções transportadas para a tela - inclusive seus leitores. Tanto é que numa das enquetes do sítio www.bigorna.net , onde é perguntado qual criação Brasileira dos quadrinhos o público mais gostaria de ver no cinema, os resultados apontam uma maioria de 25% dos opinantes assinalando VELTA na resposta.
Há uns anos, pensei em fazer um filme com Velta, mas esbarrava na atriz ideal para o papel, além de efeitos especiais que seriam necessários. Por isso optei pelo uso do Homem de Preto no primeiro vídeo que produzi.


CB - Você tem outros trabalhos em vídeo? O que acha da adaptação do HQ para o vídeo?

ER – Sim. Houve um segundo filme, em continuação, como mesmo Homem de Preto, em 1993. De ambos os filmes, já tenho cópias em DVD.
No meu caso, como fui criador dos quadrinhos e
os adaptei para o vídeo sem interferência externa alguma, pude obter fidelidade à proposta do personagem. Acho que a experiência como diretor, produtor e ator foi ótima e deu-me uma visão mais abrangente, que pude levar para os quadrinhos.


CB - E hoje, o que mudou em forma e conteúdo, nas HQs? O mercado de consumo...

ER – Deixei de consumir quadrinhos, pois as bancas apresentam os mesmos e desgastados personagens que víamos na infância e adolescência, sempre com os mesmos apelos, os mesmos clichês. Cansei tanto deles que nem consigo mais assistir às suas adaptações cinematográficas. Por isso, não assisti nenhuma das novas produções de super-heróis estadunidenses que pontificam nos cinemas e locadoras.
Quando compro alguma coisa, é material nacional, e de qualidade. De outra forma, prefiro ficar sem ter o que ler e nem assistir.
Quanto ao mercado, é certo que está em queda, pois não está havendo renovação.


CB - Quanto às HQs paraibanas hoje, faça um traçado de quando você começou até hoje....

ER – A vantagem da minha época era o espaço concedido pelo jornais, que incentivava a produção local. Da mesma forma, era mais fácil se conseguir patrocínio de órgãos públicos para imprimir edições independentes. Hoje está tudo 100% mais difícil, e nenhum jornal publica material de quadrinhos Paraibanos. Portanto, a falta de canais de divulgação e publicação inibe a produção.


CB - O que desperta teu interesse nas HQs de hoje?

ER
– Um bom roteiro, construído com inteligência e apresentando novidades, e desenhos em estilo clássico e caprichado. Pena que esses itens são raros nas publicações de hoje. Por conta disso, deixei de consumir os quadrinhos que são expostos em bancas. Quando compro alguma coisa, é em livraria especializada, e geralmente são publicações de tiragem limitada e a preços meio salgados.


João Pessoa, Paraíba, Sábado, 04 de agosto de 2007

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