MENSAGEM DO ARCEBISPO FARES MAAKAROUN AOS ICONÓGRAFOS
O ícone, espelho do invisível, é um
raio da Luz celestial iluminando a nova Jerusalém.
O ícone é a imagem da "Palavra que se fez carne e vejo morar
entre nós" (João 1,14). Nossa fé cristã pode
manifestar iconograficamente o mistério da Encarnação.
Graças a este Mistério Divino, a Igreja, Esposa do Senhor,
pede ao Espírito Santo que desça sobre ela e lhe ajude a permanecer
fiel a esse Mistério.
"Maranata, Vem Senhor Jesus" (1 Cor 16,22). Vós, que estais sentado
no alto com o Pai e que estais presente conosco, de modo invisível,
vinde e tornai-nos dignos, pela Vossa mão poderosa, para usar nossa
mão humana e pintar Vosso Rosto Luminoso, Vós que sois Luz
da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, enviai sobre nós Vosso
Espírito Santo e fazei-nos dignos desta Santa Obra Iconográfica.
A Igreja, iluminada pelo fogo de Pentecostes, não pode senão
refletir este esplendor divino que está no meio dela, pintar toda
a realidade Celeste, e assim, como a Sarça ardente, será sempre
mais luminosa, sem ser consumida, manifestando a riqueza da realidade da
Encarnação do Filho Unigênito de Deus Pai.
No Antigo Testamento era proibido pintar imagens ou esculpir estatuas: "Não
farás para ti imagens esculpidas, nem figura alguma do que existe
em cima, nos céus, ou embaixo, na terra, ou do que existe nas águas,
debaixo da terra..." (Ex 20,4) e ninguém podia ver o rosto do Senhor,
mesmo "Moisés cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus". Ver o Rosto
do Senhor era causa de morte: "Certamente vamos morrer, porque vimos a Deus"
(Juizes 13,22).
Mas, "quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido
de mulher, nascido sujeito a ele, e todos recebemos a dignidade de filhos...
tudo isso pela graça de Deus" (Gal 4,4-7). São João
Evangelista acrescentou: "A Palavra se fez carne e velo morar entre nós.
Nós vimos a sua Glória..." (Jo 1,14). "o que era desde o principio,
o que ouvimos, o que vimos com Os nossos olhos, o que contemplamos e o que
nossas mãos apalparam da Palavra da Vida... isso que vimos e ouvimos,
nós vos anunciamos... para que a nossa alegria seja completa" (1Jo
1, 1-5).
Que alegria nós temos hoje de poder pintar o Rosto deste Senhor, Os
episódios de sua vida, da vida de sua Mãe, cheia de Graça,
desta Mulher "vestida como o sol, tendo a Lua debaixo dos pés e sobre
a cabeça uma coroa de doze estrelas" (Ap 12,1), dos Santos e gloriosos
.Apóstolos, dignos de todo louvor, e de todos Os Santos e Santas,
membros do Corpo Místico do Senhor Jesus Cristo!
Nós todos, hoje, criados a imagem e semelhança de Deus, do
Pai, do Filho e do Espírito Santo, templos da Santíssima Trindade,
alimentados do Corpo puro e do Sangue Precioso do Cordeiro de Deus, e bem-amados
de Nosso Pai Todo-Poderoso... nós, não só podemos ver,
contemplar, apalpar a Jesus e participar da sua Ceia Mística, mas
também devemos ir a todas as nações, ensinar-lhes que
Deus é amor e que "Ele esta conosco, todos Os dias, até o fim
dos tempos" (Mt 28,20), para sermos as suas testemunhas em Jerusalém,
por toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra" (At 1,8).
Nosso dever hoje e' proclamar, o Santíssimo Nome do Senhor, para que
aquele que tem ouvidos para ouvir ouça; e de mostrar o brilhante Rosto
de Nosso Senhor Jesus Cristo, de nossa Santíssima e Puríssima
Mãe, a Virgem Maria, e de todos Os Santos revestidos do Cristo, para
que aquele que tem olhos para ver, veja, e mãos para tocar, apalpe,
e mente para contemplar, contemple... o Mistério de Deus e dos seus
Santos, nos ícones.
O ícone mostra ao homem como Deus o ama, transfigurando-o por seus
dons, convidando-o a se abrir à realidade espiritual, intimamente
ligado à economia da Salvação, irrigando-o pelo precioso
Sangue do Cordeiro e irradiando toda a Teologia, a verdadeira ciência
de Deus.
A presença dos ícones nos ajuda, a nós seres humanos,
cidadãos desta terra, a realizar nossa vocação crista,
de cidadãos da Jerusalém Celestial, a pôr de lado toda
preocupação temporal, a limpar nossos olhos, a purificar nossos
corações, a santificar nossas mãos, para que possamos
acolher, contemplar, admirar, apalpar e maravilharmo-nos diante da realidade
intima da Santíssima Trindade, da Theotokos e de todos Os Santos.
É bom rezar diante de um ícone dizendo:
"Ó Cristo, luz verdadeira que ilumina e santifica todos os homens
vindos a este mundo, que a luz de Vossa face brilhe sobre nós, ó
luz inacessível. Conduzi nossos passos, em direção da
realização dos Vossos mandamentos, pela intercessão
de Vossa Mãe Puríssima e de todos Os Santos".
Quem fala do ícone, fala do Oriente, de Antioquia, de Bizâncio
e da Rússia. Mas, hoje, o interesse pelo ícone chegou até
o Ocidente, até a América, até o Brasil, que está
muito ligado aos Símbolos e aos Mistérios: o ícone é
a representação visível do que é invisível.
Eu, que sou do Oriente, da própria terra da Encarnação
de Nosso Senhor Jesus Cristo, estou hoje olhando com admiração
este maravilhoso estudo da Teologia do ícone realizado aqui em São
Paulo, por meio do Padre Marcelo Sousa Bertani [Padre Dimitri - PA] e da
Irmã Maria Aparecida de Castro Labinas, que estão cuidando
também dos cursos de Iconografia no interior de uma Igreja de tradição
e de cultura oriental e bizantina: a Igreja Greco-Melquita Católica
Apostólica e Romana.
Hoje, gostaria de convidar cada pessoa, dizendo-lhe o que o Apóstolo
Felipe diz a Natanael: "Vem e vê" (João 1, 46): "Vem, e lê
este livro" e "Vem, e apalpa os ícones".
Termino com esta visão da Teologia Oriental:
Quem fala dos ícones, quem pinta os ícones, quem reza na presença
dos ícones, quem guarda um ícone na sua casa, esta rezando
sempre com todos Os Santos, vivendo sempre na presença da Santíssima
Trindade e da Theotokos, a Mãe de Deus, a Virgem Maria, e é
capaz de mostrar, em sua própria vida cotidiana a realidade do Cristo
encarnado e ser luz no mundo, cumprindo o mandamento do Senhor: "Assim brilhe
vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem
o vosso Pai que esta nos céus" (Mt 5,16).
Parabéns! E que o louvor seja sempre para o Senhor!
Sâo Paulo, 02 de outubro de 2001