Visita de Estudo-Aula ao Vivo:
Rabaças, Floresta Laurissilva na Ponta do Sol
Rabaças: Onde o Homem ainda “não chegou”...

(Texto publicado no Jornal "O Corre-Caminho",órgão do Clube do Ambiente, n.º 0, Dezembro de 2000.)

No passado dia 2 de Dezembro, o Clube “O Corre Caminho” participou na caminhada à zona das
Rabaças, um dos poucos locais a Sul da Ilha onde existem vestígios da Floresta Laurissilva primitiva.
Este passeio aconteceu na data do
primeiro aniversário da elevação da Floresta Laurissilva da Ilha da Madeira a Património Natural da Unesco, coincidindo também com a data da elevação da Ponta do Sol a Vila. Esta iniciativa partiu dos responsáveis pelo projecto "Um olhar pela Ponta do Sol: Ontem..., Hoje..., Amanhã...”, tendo como orientador científico o Eng.º Henrique Costa Neves e como orientador da caminhada o Sr. João Gregório Júnior, da Lombada  - o sr. Navalha -, de 73 anos, que passou toda a sua vida trilhando as veredas e levadas dessa zona.
A caminhada iniciou-se pelas 9h00, junto ao Solar dos Esmeraldos, por um atalho da Levada do Moinho até apanharmos a Levada Nova. Seguimos por essa Levada até à sua origem, sítio onde a população da Lombada e do Lugar de Baixo sempre conseguiu defender das autoridades do antigo regime, no início da década de 60, o desvio da Levada para outros destinos. Esta luta desigual (conhecida por "Luta das Águas da Lombada") entre as armas e as vozes, fez com que muitas balas da polícia - numa acção orientada pela PIDE - tivessem ferido algumas pessoas, acabando por falecer uma jovem da Lombada, irmã das professoras Gabriela e Margarida Relva da nossa Escola.
Desse cenário de memórias tristes, seguimos para Norte, junto ao leito da Ribeira da Ponta do Sol, até chegarmos ao sopé de uma encosta que subimos, muitas vezes com o auxílio das “quatro patas”. Esta escalada tem um desnível de aproximadamente 500 metros e foi a parte mais perigosa de todo o percurso, não só pelo seu declive, mas também pelas muitas rochas soltas.
Atingida a Levada que rega a freguesia dos Canhas, que passa hoje através de um grande tubo enterrado, caminhámos cerca de mais quarenta minutos até chegarmos ao nosso destino: As Rabaças: “Onde o Homem Ainda Não Chegou" ...

Lá bem no alto, a Natureza reclama paz!
Escapando à intervenção do Homem e à sua exploração dos recursos naturais em parte devido ao difícil acesso, bem como o às condições climatéricas (nomeadamente a humidade), hoje ainda conseguimos ver nesse ponto plantas, tais como: o loureiro (Laurus azorica); o vinhático (Persea indica); o til (Ocotea foentens), o folhado (Clethra arborea) e o massaroco (Echium nervosum), entre outras espécies características da Laurissilva. Mesmo assim, a regeneração destas plantas toma-se por vezes difícil devido à existência de gado caprino e ovino que se alimenta das suas folhagens.
Mas as plantas que mais caracterizam esta zona são as rabaças, planta herbácea e indígena, semelhante à salsa no seu aspecto, muito abundante no local e que lhe confere o seu nome: As Rabaças.
Conseguimos observar três pombos trocazes (Columba trocaz), espécie de ave responsável pela regeneração de algumas das plantas da Floresta Laurissilva, ao alimentar-se das bagas dessas plantas e dessiminar a suas sementes através dos seus dejectos. Apesar da existência desta ave na zona, não existem sinais de regeneração da flora, pelo que é urgente preservar o pouco que existe.
Um outro sinal da ausência de poluição no local é a existência de muitos líquenes, (uma espécie resultante da associação entre uma alga e um fungo), ora nas rochas, ora pendurados em ramos secos das árvores.
Junto ao Túnel das Rabaças, o Sr. Eng. Costa Neves explicou-nos algumas destas coisas e referiu ainda que este túnel, atravessando por debaixo de todo o planalto do Paul da Serra, capta parte da água que se infiltra no solo, dando origem à Levada das Rabaças/Rabaçal.

Foi por esta última Levada que caminhámos cerca de três horas até à Boca da Encumeada. Atravessámos dois túneis, tendo um deles cerca de dois quilómetros de comprimento. Nesse túnel, observámos três trutas (Salmo trutta fario) isoladas.
Pelas 18 horas, chegámos à Encumeada, onde nos esperava a camioneta utilizada habitualmente para o transporte escolar, que nos conduziu até às nossas casas. Foi uma caminhada de 9 horas e de algum cansaço, dificuldades imperceptíveis e ultrapassadas devido ao entusiasmo pelas paisagens e belezas naturais da
Ilha.

Simplesmente inesquecível...
Lição ao vivo com o Eng.º Henrique Costa Neves
... por imagens como esta, valeu bem o esforço!
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A dura caminhada...